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Confinamento e anti-humanismo, por Gustavo Gollo

Instaurada a hipocondrização da sociedade, procede-se agora à etapa de exclusão. Restaurantes foram reabertos, mas com poucos lugares e um enorme distanciamento entre as mesas, embora o cozinheiro chegue sempre em um ônibus lotado. Academias de ginástica também reabrem, mas agora com agendamento de horários e salas sub-ocupadas, assim como as lojas, ambas sob medidas incongruentes, como o desligamento do ar-condicionado, independentemente da existência de ventilação local. A exigência do uso de máscaras persiste para que ninguém se esqueça de que são novos tempos em que as pessoas devem se manter distantes entre si. Afastem-se!

Tais medidas são necessárias, informam-nos os meios de comunicação, para combater o vírus letal que nos ameaça, esquecendo sempre de mencionar que a letalidade do vírus gira em torno de 0,2%, enquanto as  medidas de confinamento foram idealizadas para  resistir a epidemias 50 vezes mais mortais, de 10%.

Informam-nos também que o confinamento geral da população deve ser instaurado para impedir o aumento da letalidade em decorrência do abarrotamento de hospitais, o que possivelmente aumentaria a letalidade do vírus em uns 20%, ou seja, de 0,2% para 0,24%.

É fato que variações mesmo tão irrisórias nas taxas de mortalidade, quando aplicadas a grandes populações, resultam em enormes mortandades. Atentemos, no entanto, que precauções ainda maiores aplicam-se aos remédios propostos (ou impostos), como o confinamento, aplicado à totalidade da população, contingente maior que o que contrairia a doença.  Caso o efeito colateral do remédio resulte em risco mais grave que o da própria doença deve, naturalmente, ser evitado.

Temos tratado o confinamento como se se tratasse de remédio sem nenhum efeito colateral. Um efeito colateral significativo consiste na redução de nossos níveis de vitamina D, que resulta em redução na imunidade. Efeito ainda mais drástico é a perda de imunidade decorrente da vivência prolongada em ambiente asséptico. Sabemos que os índios têm baixíssima imunidade a nossas doenças, em decorrência do isolamento em que vivem. A vida nas cidades exige que nossos sistemas imunológicos se mantenham em guarda. Assim como os músculos, o sistema imunológico se fortalece exercitando-se constantemente. O confinamento geral está jogando a população mundial em um nível de imunidade baixíssimo, pagaremos o preço para voltarmos ao normal. Sem imunidade, logo estaremos sob ameaça de inúmeras novas pandemias; teremos caído numa armadilha. Estamos fazendo como a rainha vermelha e seus súditos que não podem parar de correr para permanecer no mesmo lugar, mas parece estarmos correndo para trás.

Também temos esquecido da depressão, suicídios, assassinatos, tensões e demais mazelas acentuadas pelo confinamento. Quanto tempo levará até que as mortes causadas pelo confinamento superem as decorrentes do vírus?

Não se trata de perguntar “se” o confinamento causa mais mortes que a doença, mas quanto tempo leva para que o confinamento acabe se tornando mais letal que a doença.

Queremos acreditar que as medidas a que nos submetemos justificam-se pela mortandade decorrente da eclosão de um vírus. O pacote, no entanto, estava pronto à espera de pretexto que o “justificasse”, embora idealizado como resposta a vírus muito mais mortais.

Não gostamos de saber que fomos enganados, mas, ou erramos estupidamente ao impor medidas que só seriam justificáveis contra vírus muito mais letais, ou caímos numa cilada.

Mas, que propósito poderia haver na instauração de medidas tão despropositadas?

Há já algum tempo, andam-nos bombardeando com propaganda anti-humanista  responsabilizando a humanidade por todos os males do mundo: somos uma espécie terrível, a pior de todas, e devemos ser contidos o mais rápido possível, ou destruiremos tudo ao redor, reza a cartilha dos anti-humanos, baseada na imagem de si mesmos.

Tendo promovido tal campanha, procedem agora ao confinamento das pessoas, sob a fiscalização delas próprias. O distanciamento entre as pessoas facilitará o convencimento da necessidade da exclusão de muitos e da subsequente redução populacional. O afastamento entre as pessoas garantirá que nos falte espaço.

Que isso seja loucura, todos concordamos.

Em vista disso, torço para que tal loucura seja apenas minha, e que não estejamos sendo sarcasticamente adestrados para implementarmos, nós mesmos, o plano anti-humano, mas prefiro ficar atento.

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