O perfil de João Gilberto no Facebook acaba de divulgar a seguinte nota:
VejaRio. uma ver.gonha. menti.rosa. não.rea.lizou entrevistas. repi.to ado.ro o cae.tano. meu a.migo. à ele. aos caymmi. à quem de.vo. res.peito. minha des.culpa. pela impren.sa. ver.gonho.sa. que viv.e. ten.tan.do. me por. em apu.ros. com os. que.ridos. carinho. respeito. joão.
Sofia Cerqueira
Às vésperas de completar 79 anos e realizar uma rara temporada de shows nos Estados Unidos, João Gilberto fala sobre suas disputas com as gravadoras, as decepções com o Brasil e sua devoção à ioga e à meditação
Dario Zalis |
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Ouvir João Gilberto ao telefone é uma experiência fascinante. A voz baixinha, quase sussurrada como no jeito de cantar que o tornou mundialmente conhecido, de repente se eleva abruptamente em momentos de entusiasmo. A exaltação acontece ao discorrer sobre problemas do país, ao rebater a fama de perfeccionista, em comentários sobre a seleção brasileira, em sua fixação por luta livre, ao recitar um poema de Carlos Drummond de Andrade ou simplesmente ao contar suas visitas a um templo hinduísta, em Los Angeles. Em alguns raros momentos, muda de novo e ganha um tom áspero, irreconhecível e surpreendente. Isso ocorre, por exemplo, quando fala da disputa que trava com sua antiga gravadora, a EMI Music, em que acusa a multinacional inglesa de ter distorcido e adulterado suas primeiras gravações para relançá-las em uma coleção batizada de O Mito. Em síntese, trata-se de alguém imprevisível, que pode surpreender o interlocutor a todo instante. Contrariando a lenda de que economiza nas palavras, ele gosta de falar — sempre pelo celular. Passeia por assuntos que vão desde as últimas notícias dos telejornais, a crença em carma, o interesse por horóscopo, a curiosidade em torno de paranormais até os combates de vale-tudo, sua atração preferida na televisão. Adora enaltecer as qualidades da ioga e é capaz de recitar de cor um longo pensamento do guru indiano Paramahansa Yogananda (1893-1952). Expressa-se com extrema lucidez na maior parte do tempo, alternando um humor ferino com uma doçura quase de criança. Em outros momentos, o discurso revela-se difuso, como quando discorre sobre uma suposta conspiração dos Rolling Stones para manter seus discos fora do mercado.
Dentro de duas semanas, João Gilberto deixará o apartamento em que vive sozinho no bairro do Leblon para subir ao palco do Carnegie Hall, em Nova York. A apresentação acontece no dia 22 em meio ao CareFusion Jazz Festival. Nos dias 25 e 29, ainda tem mais dois concertos agendados, em Boston e Chicago, respectivamente. Serão os primeiros shows desde 2008, quando se comemorou o aniversário de cinquenta anos da bossa nova, gênero musical diretamente associado ao seu estilo de cantar, inaugurado com a gravação de Chega de Saudade, em 1958. É também uma rara ruptura na rotina de isolamento monástico em que se enclausurou. Hoje, seu contato com o mundo externo é mínimo. Passa o tempo tocando o violão, mantido sempre a dois passos de distância, e vendo televisão. Suas refeições são encomendadas nos restaurantes dos arredores e entregues pelo sistema de delivery, com a porta entreaberta. Nem sempre foi assim. Até o início dos anos 90, gostava de tirar o Monza cinza-grafite da garagem e dar longos passeios de carro durante a madrugada. O crescimento da violência urbana o levou a abandonar o hábito. Outra mudança foi o surgimento de um incapacitante medo de avião que o obrigou a diminuir consideravelmente as viagens pelo mundo. A reclusão acabou por reforçar ainda mais a fama de excêntrico, obsessivo, esquisito e, principalmente, brilhante. A seguir, o leitor encontrará a opinião do músico, e sua maneira peculiar de expressá-la, sobre os mais diversos temas. São conversas realizadas ao longo dos últimos seis meses, entremeadas com depoimentos de amigos e pessoas próximas ao gênio, que completa 79 anos na próxima quinta-feira (10).
Perfeccionismo “Não sei se eu sou assim. Não tem essa história de som perfeito. O que tem é você fazer uma coisa, vir um sujeito e desfazer. E aí você não gostar do que o cara fez. Então você é chamado de perfeccionista. Certa vez estava gravando um disco na Polygram (João, lançado em 1991), na Barra, e dizia: ‘Puxa, está diferente’. E eles diziam: ‘Não está, é a mesma coisa’. Gravava, no outro dia estava mudado. Bom, eu peguei o maestro Guerra-Peixe (César Guerra-Peixe, que morreu em 1993, aos 79 anos) e fomos à gravadora num dia bem cedinho. Escolhemos as músicas. No outro dia tinham mudado. O disco saiu do jeito que não é. Ficou como na América se diz, sem a mordida. Tira a garra, o que pega. Eles sabem muito bem mexer no negócio, não fica nada, não transmite. Aí viro exigente.” O violão Insônia |
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