A crise da música erudita paulista

Da Folha Online

Maestro John Neschling é demitido da Osesp

O maestro John Neschling foi demitido ontem da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. No ano passado, depois de intensa pressão do governador José Serra, que queria tirá-lo do cargo, Neschling comunicou ao conselho da Fundação Osesp que não renovaria seu con­trato. Na ocasião, no entanto, fi­cou combinado que o maestro permaneceria à frente da Osesp até o fim de 2010, como previa seu contrato. A situação, no entanto, ficou insustentável. Neschling, que chegou a chamar Serra de “menino mimado” e “autoritário” logo no começo do governo, continuou a dar entrevistas espinafrando com o governador e com o secretário da Cultura, João Sayad, mesmo depois de ter sua saída definida. A gota d’água foram as críticas que ele vinha fazendo publicamente à decisão do conselho de formar um comitê para a escolha de seu sucessor. Neschling foi comunicado oficialmente hoje.

Comentário

Pelo menos no campo da música erudita, a gestão Serra está procedendo a um desmonte cultural em São Paulo. E conseguiu colocar contra si maioria esmagadora da comunidade da música erudita.

Dia desses conversava com velho colega da Escola de Comunicações e Artes da USP. Quando a Universidade Livre de Música Tom Jobim conseguiu se reestruturar – me disse ele – ficou bem à frente da Escola Municipal de Música. Em seguida, houve uma reação da Escola, estabelecendo-se uma competição virtuosa. Percebia-se isso pelo nível dos alunos que passavam no vestibular da USP.

Quando a OSESP (Orquestra Sinfônica de São Paulo) explodiu, continuou, os alunos passaram a estudar quatro horas diárias, porque havia perspectiva pela frente, de uma orquestra de padrão internacional.

Segundo ele – que está desde os anos 70 no setor – jamais a música erudita de São Paulo experimentou salto igual. Ele endossa muitas das críticas feitas ao maestro Nescheling, de temperamento difícil, personalismo. Mas o fato concreto, me dizia ele, é que colocou a música erudita de São Paulo no mapa do mundo. E não se pensou nisso quando se decidiu por seu afastamento.

O primeiro baque foi a destituição da OSCIP responsável pela Universidade Livre de Música e a divisão da ULM por outras entidades. Agora, a destituição de Neschling.

Gosto do Sayad, fui membro do Conselho da ULM, mas sem ter uma participação mais ativa, pedi demissão quando senti a guerra da Secretaria com a OSCIP, a seu pedido passei dicas e idéias para membros da sua equipe.

Mas tenho a impressão que meteu os pés pelas mãos. Era até compreensível que não se quisesse um vice-rei à frente da OSESP. Mas o voluntarismo de Serra ajudou a acelerar esse desmonte.

Trecho da carta de demissão, assinada por Fernando Henrique Cardoso:

Por LPorto

O que fizeram com o maestro é anti ético, fora o desrespeito com o grande profissional..

Link da entrevista, estopim para a demissão, segundo o presidente do conselho Fernando Henrique. Clique aqui.

É claro que o maestro não deu esta entrevista a toa.

Ele veio responder a esta, que o Presidente do conselho não comentou na carta de demissão. Clique aqui.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Mouro,
    Neschling pode ser
    Mouro,
    Neschling pode ser tudo que dizem de "cara do mal"...
    mas, sou assinante da OSESP há 5 anos..
    NUNCA tinha visto osquestra brasileira no nível da OSESP.

    Eu, lamento profundamente que a política interfira na cultura dessa forma..
    Que entende Serra de música???
    Querer que eles toquem na virada cultural sem condições mínimas???

    NUNCA antes nesse país a OSESP foi o que foi - de bom - vamos ver com a saída dele...

    Sou assinante esse ano - novamente - vamos ver..

    Se não acho que as coisas devam ser personalizadas em um mito (Neschling), nãovejo NINGUÉM à altura técnica/política musical dele..

  • Eu posso estar falando uma
    Eu posso estar falando uma grande besteira, mas o Joao Sayad, secretario da cultura e o mesmo que foi Ministro do Planejamento (86) e secretario municipal das financas (Marta)? Ue, que que ele entende do "riscado"?

    Bem, se o maestro chamou o Serra de "mimado" e "autoritario" ele merece todo o meu respeito. Digo mais, foi de uma educacao primorosa. Eu usaria outro tipo de palavriado pra descrever este economista fracassado que se julga muita coisa.

    E nao e so a Cultura que vive desmanche. A pesquisa, o ensino (cade as duas professoras na sala de aula?), o transporte publico e a seguranca estao no mesmo caminho. E o anti-Midas. O lendario grego, onde punha a mao tudo virava ouro. Ja o governador, onde poe a mao a coisa vira ......

    Se este homem for eleito presidente, eu sugiro a todos que sigam o conselho do Tom Jobim "a melhor saida e o aeroporto", porque o governo deste incapaz vai ser um desastre.

  • Nassif. Você é mineirinho,
    Nassif. Você é mineirinho, não se mete nessa encrenca de paulista em busca do poder. Olha a cabeça de FHC, de Serra, de Alkmin, de Jânio, de Maluf, de Dória.

    Eles não te cansam?!!!!

  • Lembram da carta de demissão
    Lembram da carta de demissão do Emanoel Araújo da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, quando o Serra ainda era prefeito? http://www.mapadasartes.com.br/setoresnn.php?artig=1&texid=9

    Será que muito do que o EA apontou na carta, mostrando a relação de Serra com as questões culturais, não é a causa desse desmonte da música erudita? O nível governamental é outro, mas a maneira de lidar com a questão pode muito bem ter continuado a mesma.

  • Esse comportamento do Serra
    Esse comportamento do Serra tá ficando assustador. Tá parecendo a Flora que começou boazinha e aos poucos foi revelando a vilanzona que tinha escondida lá dentro. Primeiro vai ao lançamento do livro do porteiro do bueiro, depois manipula prá TV Cultura sacanear o Nassif, agora demite o responsável por colocar a OSESP no mapa mundi musical. Imagina esse cara na presidência!

    Xô, vade retro!

    Estou começando a gostar da Dilma.

  • Serra é um "coroné" num
    Serra é um "coroné" num estilo piorado ao do finado ACM. A negociação de Serra é a porrada. Preferentemente abaixo da Lunus, aliás, abaixo da cintura. Tá gastando o dinheiro de São Paulo pra comprar coronés pelo país inteiro, especialmente nordestinos, radialistas, jornalistas(?)... o diabo. Vai acabar como o Maluf em 1985, já que, mesmo com todas as porradas e atitudes "no limite da responsabilidade" está esquecendo de "combinar com os russos". E vai deixar São Paulo mais uma vez quebrado. Só os celerados anti-petistas a qualquer custo é que não enxergam isso. Não dá pra ententender um político que se quer liderança nacional querendo aplicar a lógica dos generais do AI-5; que não negocia com respeito aos outros. "É um castigo", como diz o Ciro Gomes.

  • Quer dizer que o "menino"
    Quer dizer que o "menino" mimado e autoritário não gosta de ser chamado de mimado e autoritário? Isso é coisa de menino mimado e autoritário...

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