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A efervescência da Bahia tropicalista

(Comentário ao post Ecos dos anos 60: o Tropicalismo)

Nassif,

Acho interessante dar continuidade ao post “Tropicalismo”, para acrescentar algumas informações.

A Bahia sempre possuiu uma grande matriz cultural, inclusive consegue manter até os tempos atuais as ricas manifestações da “cultura de raiz”.

No início da década de 60 o então reitor da Universidade Federal da Bahia, Edgar Santos, promoveu  uma revolução nas artes, trazendo para compor o quadro de professores a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, o músico alemão Hans-Joachim Koellreutter, o antropólogo e fotógrafo francês Pierre Verger, o músico suiço Walter Smetak, a bailarina polonesa Yanka Rudzka, o filósofo português Agostinho da Silva, entre outros.

Esses renomados pensadores se juntaram aos nativos como o geógrafo Milton Santos, o artista plástico Mário Cravo, o crítico de cinema Walter da Silveira, do já baiano-argentinoKarybé, o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, do diretor de teatro Martim Gonçalves e tantos outros brasileiros.

Nesta época Salvador que geograficamente é uma cidade pequena, tinha uma população em torno de trezentos mil habitantes. Desta forma o entorno de todos os locais do movimento cultural distava menos de cinco kilômetros o que facilitava a convergência dessa massa de intelectuais.

Caetano Veloso e Gilberto Gil chegam, neste período, à Salvador, vindos de cidades do interior de riquíssima diversidade. Caetano Veloso passa a sua infância e adolescência na cidade onde nasceu, Santo Amaro da Purificação, onde o sincretismo religioso, a cultura negra, indígena e portuguesa se mesclam, formando o “samba de roda”, tombado pela UNESCO, os famosos candomblés da região e tantas outras manifestações culturais.Gilberto Gil, embora nascido em Salvador, passa a sua infância e adolencência em Ituaçu, cidade da Chapada Diamantina, também de rico patrimônio artistico e onde nasceu o também compositor e cantor Moraes Moreira.

Neste clima efervescente de Salvador é que surge um novo movimento que visava romper as amarras de uma cultura, embora muito rica, provinciana. Os espíritos inquietos dos jovens artistas se apresentam. Surge Gláuber Rocha criando o “cinema novo” que revoluciona todos os fundamerntos da arte cinematográfica. É inaugurado o Teatro Vila Velha formado por um grupo de dissidentes da Escola de Teatro da UFBA., liderados pelo diretor João Augusto, pelo ator Othon Bastos e outros brilhantes. A idéia era criar um espaço alternativo, de contra-cultura, de contestação, que albergava vários movimentos sociais e quartel general de lutas estudantis.

A inauguração é com o show “Nós, Por Exemplo”, formado por nada menos que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé, entre outros.

Assim começa o Tropicalismo, que, embora com propostas semelhantes ao movimento de 20, “Semana da Arte Moderna”, igualmente “antropofágico”,  se distancia em outros aspectos.

http://assisprocura.blogspot.com/

Luis Nassif

Luis Nassif

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