João Araújo pesquisa as possibilidades da viola na música brasileira, por Augusto Diniz

João Araújo pesquisa as possibilidades da viola na música brasileira

por Augusto Diniz

O músico, produtor e gestor cultural, João Araújo, com vários projetos voltados à valorização da viola, representados em seus 13 CDs e 5 DVDs lançados, além de campanhas específicas, conta seu trabalho de transcender a viola muito além de um elemento musical caipira.

“Há algum tempo avalio que há bastante resistência do meio, em parte por ignorância, muito por preguiça e falta de interesse e conhecimento, em querer manter a viola apenas como ‘caipira’”, expõe. O músico mineiro entende que a viola pode ganhar interesse até internacional.

“Penso que a viola é um grande tesouro que podemos explorar. Ela só existe aqui e em Portugal, de onde veio”, cita. “Com a evolução das pesquisas sobre a viola, descobri e conclui que ela é um dos mais importantes instrumentos musicais da nossa cultura”.

Ele lembra que, por sua iniciativa, a viola foi reconhecida esse ano como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, e está em estudo para ter esse mesmo reconhecimento em caráter nacional pelo Iphan – há, inclusive, uma campanha nas redes sociais “Viola: Nosso Patrimônio”, para que isso ocorra.

Um dos principais registros fonográficos de João Araújo é o DVD “Pesquisa Viola Urbana 1”, um dos trabalhos lançados dentro de seu projeto Viola Urbana, gravado ao vivo em Belo Horizonte (MG) em 2008 (e lançado dois anos depois). O bem produzido DVD, com vários convidados, é um dos grandes momentos para entender a musicalidade e a beleza da composição tendo a viola como base musical.

Ele relata que após se tornar músico profissional, no início dos anos 2000, surgiu um convite para desenvolver um projeto via lei de incentivo. Por conta disso, o músico achou mais coerente registrar uma história de viola.

“Mas de uma viola que eu não via ninguém contando: uma viola que estava presente em grande parte de trabalhos da MPB há anos, de um repertório que me agrada muito e que nos locais onde tocava sempre tinha um grande retorno de público”, diz.

Ele definiu esse estilo como “MPB regional” que, segundo João Araújo, “atinge tanto o público da MPB quanto o da música caipira, com pouco espaço na grande mídia, por ter raízes culturais regionais”.

Em 2004, o músico, após pesquisas com viola, lançou o primeiro CD. “Foi aí que fiz essa opção”, afirma. Assim, nasceu o projeto “Pesquisa Viola Urbana”.

De acordo com João, o projeto se baseia no estudo, desde a afinação da viola (Rio Abaixo, a afinação mais antiga, das Folias de Reis e similares) até a sonoridade “Viola Urbana” que “é a viola em uma textura misturada ao bucólico, ao barroco, ao erudito e, sobretudo, à diversidade rítmica característica do Brasil. Nada de baixo, bateria, teclados etc.”.

Com o sucesso relativo desse primeiro trabalho, vieram outros registros nessa linha musical. Daí, surgiu a produção do DVD “Pesquisa Viola Urbana 1”, com uma banda com dois violeiros, duas violonistas-cantoras e dois percussionistas. “Inovei ainda inserindo quatro números com acompanhamento de ‘quarteto de arcos’ (dois violinos, viola erudita e cello)”, comenta. O resultado é um painel muito rico musicalmente.

Depois vieram mais registros e outro DVD em 2015, dentro do projeto Viola Urbana. Dessa vez, teve a participação de uma orquestra jovem com cerca de 30 componentes, nove convidados e números com dança, ritmos e trajes típicos de diversas regiões.

No fim, o projeto Viola Urbana lançou quatro CDs e dois DVDs. “A pesquisa sobre a viola não parou, repertório e ideias também não faltam. Mas só faria (novo registro) se fosse com patrocínio completo, pois não há como investir no atual momento do mercado”, revela.

O músico João Araújo também lançou outros trabalhos, em dupla (com Geraldo Vianna, Téo Azevedo e Cecília Barreto, por exemplo) e temáticos, como “Imaginário Roseano” (2008), no qual homenageia Guimarães Rosa, e “Lagoa do peixe” (2013), um instrumental de ritmos gaúchos.

“Os trabalhos convergem no sentido das inúmeras possibilidades onde a viola pode estar inserida, mas cada um tem sua justificativa, seu momento”, expõe.

O mais recente, o CD “João Pança”, que é baseado no seu livro lançado em 2012, com histórias sobre seu avô, tem metade instrumental de viola e outra metade cantada.

João Araújo é o próprio produtor de seus trabalhos, com várias iniciativas, inclusive de produção de registros de outros músicos. Seus projetos envolvem recursos próprios e apoio de leis de incentivo.

Trata-se de um modelo de produção musical irreversível, mas ainda pouco absorvido por uma parcela expressiva de músicos. O site Viola Urbana, acessável aqui, dá uma ideia das possibilidades nesse campo – sem abandonar as raízes culturais.

Redação

Redação

Recent Posts

Justiça determina novo prazo para prescrição de ações de abuso sexual infantil

Em vez de contar a partir do aniversário de 18 anos da vítima, prazo agora…

3 horas ago

O que diz a nova lei para pesquisas com seres humanos?

Aprovado pelo Senado, PL segue para sanção presidencial e tem como objetivo de acelerar a…

4 horas ago

Da casa comum à nova cortina de ferro, por Gilberto Lopes

Uma Europa cada vez mais conservadora fala de guerra como se entre a 2ª e…

4 horas ago

Pedro Costa Jr.: Poder militar dos EUA não resolve mais as guerras do século XXI

Manifestantes contrários ao apoio dos EUA a Israel podem comprometer a reeleição de Biden, enquanto…

5 horas ago

Economia Circular e a matriz insumo-produto, por Luiz Alberto Melchert

IBGE pode estimar a matriz insumo-produto nos sete níveis em que a Classificação Nacional da…

6 horas ago

Os ridículos da Conib e o mal que faz à causa judia, por Luís Nassif

Conib cismou em investir contra a Universidade Estadual do Ceará, denunciada por uma postagem na…

7 horas ago