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Nina Becker: a cantora que entristeceu

Caro Nassif,

na realidade, o caminho da Nina Becker foi justamente o oposto do que você descreveu. Ela ficou primeiramente conhecida pelo trabalho na Orquestra Imperial e, em 2010, lançou seus dois primeiros trabalhos solo, os albuns Azul e Vermelho. 

Veja, por exemplo, http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/741953-melancolica-nina-becker-faz-estreia-solo-com-azul-e-vermelho.shtml

Melancólica, Nina Becker faz estreia solo com “Azul” e “Vermelho”

Projetada como vocalista da Orquestra Imperial, a megabanda que há quase uma década junta no mesmo palco duas dezenas de estrelas da nova e da velha geração da música brasileira, ela estreia no próximo mês como artista individual. Lança, ao mesmo tempo, os álbuns “Azul” e “Vermelho”.

Coprodução de Maurício Tagliari, Carlos Eduardo Miranda e a própria cantora, os discos expõem faceta melancólica da personalidade de Nina que os fãs dos carnavalescos shows da Orquestra jamais suspeitariam existir.

Aqui, a sonoridade é, sobretudo, a ausência de som. Vale mais o sussurro que o grito, o silêncio que o ruído.

“Sou assim, vazia mesmo”, diz. “Na Orquestra, tive que me adaptar a uma coisa totalmente diferente do que sou quando estou sozinha.”

 Pedro Carrilho/Folhapress 

A cantora e agora compositora Nina Becker, 35, no apartamento em que vive com o namorado

Nina nem queria ser cantora. Trabalhava com publicidade quando, em 2002, começou a frequentar os primeiros –e ainda vazios– shows da Orquestra.

Soube em uma dessas apresentações que Thalma de Freitas, então a única vocalista do grupo, viajaria por alguns meses à Europa. Então, se ofereceu. E foi aceita.

Largou a publicidade em busca de mais tempo para dedicar à música. Para pagar as contas, abriu um ateliê de costura. Mas o negócio tomou proporções maiores do que se imaginava.

“Tive de trabalhar em linha de produção, acordar cedo e virar empresária. E minha ideia não era essa. Revi, refleti. E encaixotei o atelier.”

Ficou só com o trabalho da Orquestra e, desde então, animou oito edições do Baile dos Namorados, carro-chefe na agenda do grupo, e um sem número de carnavais.

Compositora

Mas nem um pingo dessa alegria tem eco agora, nos dois trabalhos solo.

“Vermelho” foi gravado no esquema “ao vivo no estúdio” em apenas quatro dias.

O instrumental nas dez faixas é feito pelo Do Amor, grupo de rock que tem entre os integrantes dois músicos da BandaCê, de Caetano Veloso. Marcelo Callado, o baterista, é namorado de Nina.

“Azul”, ao contrário, demorou mais de três anos para ficar pronto. Conta com o mínimo possível de instrumentos em cada faixa e tem poucos músicos atuando.

Companheiros da cantora na Orquestra, Nelson e Rubinho Jacobina, Moreno Veloso e Domenico Lancelotti são os autores de várias faixas.

Mas boa fatia do repertório foi composta pela própria Nina, que se descobriu compositora quando teve que ficar de molho por seis meses graças a uma hérnia de disco.

Produziu tantas canções que já tem material para novo álbum. Só ainda não decidiu a cor que ele vai ter.

E um bom artigo do Rômulo Froes sobre os dois discos: http://www.overmundo.com.br/overblog/o-azul-e-o-vermelho-de-nina-becker-1

O AZUL E O VERMELHO DE NINA BECKER

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Artigo sobre os discos de estréia de Nina Becker: Azul eVermelho

Azul e vermelho são cores primárias. São assim classificadas por serem cores puras, que não se podem decompor por não serem derivadas de outras cores. As cores que derivam do azul, por sua temperatura, são consideradas frias e estão associadas a sentimentos mais rebaixados. As cores derivadas do vermelho nos remetem ao calor, transmitem excitação. O disco que Nina Becker lança agora tem duas partes, duas faces estampadas no título de cada uma, Azul e Vermelho. Dessa mistura parte sua música.

Nina desenvolveu sua carreira à frente da Orquestra Imperial. Para quem espera o alto volume sonoro, o convite à dança e o clima de festa característico do grupo, irá se surpreender com seu primeiro disco solo. Ele é incrivelmente vazio. Há nele muitos e diversos instrumentos em arranjos inventivos, mas a intenção é outra. Mais rebaixada, mais íntima. A impressão é de que estamos diante de um ensaio, onde as idéias musicais estão ainda sendo avaliadas e discutidas por Nina e sua banda. Tamanha é a aproximação que se tem com o disco que parece possível sugerir algo, um instrumento de sopro, um piano quem sabe. Mas ao realizar na cabeça tal arranjo é que se percebe o quanto ele está pronto, sem arestas. Justo. 

Longe de uma equalização pop, cada elemento da canção se singulariza: harmonia, ritmo, melodia, letra. Todos guiados por seu canto, que parece nunca cessar. Mesmo nos momentos sem letra, nos intermezzos instrumentais, Nina improvisa melodias. Seus lalalás e nãnãnãs são como acalantos que embalam as canções até seu fim, sem se desgrudar delas, talvez com medo de perdê-las. Não por acaso as canções em sua maioria adquirem andamentos muito lentos. Em Janela(Nina Becker/Domenico Lancelotti) na sua versão Azul(há uma outra versão no disco Vermelho) é amparada pela guitarra. Tocada em reverso, ela segura a melodia, que parece voltar ao início num moto contínuo. Desacelera a canção. Nina pode passar mais tempo com ela.

Este movimento que se repete ao longo do disco, se por um lado pode levar a um esvaziamento das canções, na medida em que provoca uma certa indiferenciação entre elas, por outro, uma sensação de vertigem provocada por ele captura nossa atenção. Em tempos de audição picotada, não é pouco nos vermos paralisado diante de um disco. Reflexo da enorme maturidade que Nina exibe em sua estréia. Sua interpretação de Lágrimas Negras(Jorge Mautner/Nelson Jacobina) no exato registro da antológica gravação de Gal Costa, por exemplo, ao mesmo tempo que denuncia uma origem, tem a ousadia de permitir a comparação com o mito. Nos lembramos e nos esquecemos de Gal.

O Azul e o Vermelho de Nina becker guardam a ambivalência de nossa música. Entre a propalada alegria e nossa profunda melancolia, propõem um meio tom. Matizado pela sombra, pelo silêncio e pela solidão.

Romulo Fróes

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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