Peggy Lee, a voz sensual do jazz

Enviado por Mara L. Baraúna

                    

Peggy Lee (Jamestown, Dakota do Norte, 26 de maio de 1920 — Bel Air, Los Angeles, 21 de janeiro de 2002), nome artístico de Norma Deloris Egstrom. Descendente de noruegueses e suecos, reconhecidamente a mais sensual das vozes femininas da grande canção norte-americana.

Ficou sem pai nem mãe aos 4 anos: a mãe morreu e o pai, que era ferroviário, casou novamente, mas depois saiu de casa, deixando a filha aos cuidados de uma madrasta que a agredia fisicamente.  

Em 1983, com 62 anos, quando estreou na Broadway com o musical autobiográfico, Peg, uma das músicas falava daqueles tempos brutais – One Beating a Day, um das 22 canções que ela co-escreveu.

Aos 18 anos, Norma quis tentar a sorte em Hollywood. Até chegar lá foi parando um pouquinho em cada cidade intermediária, mas acabou voltando e ficando no Estado de Dakota do Norte, em Fargo. A rádio local ofereceu-lhe um contrato e providenciou a mudança de nome.

Mais tarde, Peggy conseguiu um emprego no clube Doll House, em Palm Springs, na Califórnia. Ali, começou a estabelecer o estilo. O clube era barulhento. Outras cantoras tentariam cantar alto, jogar a voz acima do alarido dos frequentadores. Peggy Lee fez o oposto. Maior o barulho, mais baixa sua voz. Sua biografia oficial diz que ela conseguia calar os faladores. Mas nem assim ela aumentava o volume. Ficou sendo uma cantora de voz baixa, sua marca, para sempre.

Benny Goodman a descobriu para um mundo mais sofisticado em 1941. Gravou com ela Why Don´t You Do Right – e Peggy Lee virou estrela. Sua chance chegou a ela se tornou a voz da mais importante banda do swing.

Cantora, atriz, compositora. É dela parte da trilha sonora do filme Johnny Guitar, de Nicholas Ray; são dela as canções da animação A Dama e o Vagabundo, de Walt Disney. Além de compor as canções, junto com Sonny Burle, Lee também foi a voz das personagens Querida e dos gatos siameses Si e Am.

É dela, também, em parceria com Duke Ellington, a canção I´m Gonna Go Fishing, tema central da magnífica trilha sonora de Anatomia de um Crime, a obra-prima de Otto Preminger. Quem assina a parte instrumental e toda a música incidental é Quincy Jones, com quem estabeleceu colaboração intensa. Mas é dela a canção central.

Peggy Lee, Nat King Cole, Stan Kenton e Les Paul (o que deu nome ao modelo da guitarra Gibson – em dupla com Mary Ford) haviam salvo a gravadora Capitol. O maior sucesso da casa era Nat King Cole mas, em 1942, Peggy havia vendido mais de 1 milhão de exemplares do disco que trazia Why Don´t You Do Right.

Em 1943, casa-se com o guitarrista Dave Barbour, com quem grava ainda num ambiente muito jazzístico. São desta época importantes êxitos como “It’s A Good Day” (47) e “Mañana” (48), escritos pelos dois. Adoravam-se, mas Barbour, alcoólatra, pediu a ela que fosse embora, ou ele a destruiria, como se destruía.

Separada de Barbour, teve alguns casos amorosos, mas, em 1965, resolveu casar novamente com Barbour, o grande amor de sua vida, que estava havia mais de dez anos sem tocar em bebida. Ele teve um ataque cardíaco e morreu antes da cerimônia.

O sucesso só fez crescer. Autodidata, Peggy tocava diversos instrumentos (chegou a tocar bateria, numa gravação com todo mundo deslocado – Barbour no trompete, Paul Weston na clarineta e Billy May no trombone).

Nos anos 50 e 60, na Decca e na Capitol, Peggy Lee gravou álbuns absolutamente primorosos.

The Man I Love marcou a volta de Peggy Lee à gravadora Capitol ,em 1957, depois dos cinco anos que ela passou na Decca – com orquestra regida por Frank Sinatra.

Nos anos 70, sofreu, tal como tantos outros a desorientação resultante do desaparecimento, quase por completo, do seu público: os seus álbuns ligados ao pop-rock são os menos recomendáveis duma carreira de mais de 50 anos.

Mas nos anos 80, Lee voltou a gravar, optando agora pelo jazz, e os seus álbuns são notáveis, pois revelam desde logo a qualidade que só poucos conseguem ter: o domínio total cantando baixinho, fazendo de cada inflexão uma coisa importantíssima, de cada nota uma ocasião para revelar um sentimento.

Peggy Lee foi antes de mais a grande intérprete de Fever.

Sofrendo de diabete e problemas glandulares que a engordavam enormemente, retirou-se de cena para voltar em 1989, quando lançou o disco Peggy Sings the Blues.

Em 1990, Peggy foi premiada com o Pied Piper Award concedido pela Sociedade Americana de Compositores, Autores e Editores (ASCAP).

Venceu uma batalha judicial contra a gravadora Universal, por direitos não recebidos. A Justiça americana deu ganho de causa a ela (e aos outros autores da ação). Em seu filme de 1952, A Dama e o Vagabundo, a produtora contou com a voz da cantora Peggy Lee, que acertou um contrato com a quantidade habitual deroyalties pelas vendas ao público (entradas e projeções). O problema chegou três décadas depois, quando começaram a vender o filme em VHS e não a pagaram nada, com a desculpa que a tecnologia de vídeo caseiro não existia quando assinaram o contrato original. Por sorte, os tribunais decidiram em favor de Peggy Lee, que na época tinha 70 anos.

Quando esteve aqui pela primeira vez, em 1997, participando do Free Jazz, a pianista-cantora canadense Diana Krall proclamou: sua grande referência de canto era Peggy Lee. Os mais jovens talvez nunca tenham ouvido falar dela. Quem ouviu música de boa qualidade a partir dos anos 40, ouviu alguma coisa dela.

Teve e tem seu fã-clube, entre jazzófilos. Mas poucos de seus cerca de 60 discos mereceram edição brasileira. Peggy Lee não era cantora de maneirismos, mas de sutilezas.

Fez cinema – foi indicada para o Oscar de atriz coadjuvante pela atuação em Pete Kelly´s Blues (A Taverna Maldita), um filme sobre jazz e gin na Kansas City da época da Lei Seca, dirigido por Jack Webb e lançado em 1955.

Peggy gravou mais de 600 canções e chegou a ser comparada às mais importantes cantoras americanas de sua época, como Billie Holiday e Bessie Smith.

Conhecida como uma das mais importantes influências musicais do século 20, Lee é citada como inspiração para vários artistas, como Bobby Darin, Paul McCartney, Anni-Frid “Frida” Lyngstad (do ABBA), Bette Midler, Madonna, K. D. Lang, Elvis Costello, Dusty Springfield, Dr. John, Christina Aguilera entre outros.

Site oficial 

Wikipédia 

Discografia  

Em memória de Peggy Lee, a voz sensual do jazz 

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