Artistas e a ignorância política das manchetes

Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados.

Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior, reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.

Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira. Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?

Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior. Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa “voltar ao ‘normal ‘”, como se normal talvez fosse ter os pobres desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares, pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades, se ”normal” fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar. Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para quem?

A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964 e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos cortiços, vivia-se muito mal.

A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes, o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?

Redação

Redação

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  • Sim o Brasil era melhor

    O Brasil já foi melhor sim. Pelo menos para professores e operários em geral. Professores eram respeitados e ganhavam muito bem. Sobretudo, sem ter que fazer três turnos como hoje em dia. Quanto ao "peão"/operário, em 1959, em valores de 2011, o salário  minimo era de quase R$ 1800,00. Hoje no Brasil "pavão maravilhoso", minha mulher, como jornalista no serviço público não ganha isso. Sim, em muitos aspectos o Brasil era melhor antes de 1964.

    [[[Quando foi criado em 1940, durante o governo de Getúlio Vargas, o piso salarial valia R$ 1.202,29 em valores corrigidos pela inflação, conforme estudo do Dieese que leva em conta atualização com base no Índice do Custo de Vida (ICV) para a capital paulista. Em 1959, durante um período de crescimento econômico acelerado no governo de Juscelino Kubitschek, o mínimo chegou a R$ 1.732,28 em valores de 2011.]]]

    http://avol.jusbrasil.com.br/politica/6580771/veja-evolucao-do-salario-minimo-desde-sua-criacao-ha-70-anos

    • A que Brasil tu te referes?

      A que Brasil tu te referes? Não sei a tua idade, mas a minha, sim: 59 anos, dois meses e dezessete dias. Quase sexagenário,

      Pois o Brasil da minha infância, adolescência, juventude, e parte da maturidade, não teve nada, nada mesmo de melhor em relação a esse. 

      Esqueçamos os bucolismos(cadeiras nas calçadas, dormir de portar abertas, menos poluição e mais interações pessoais) e nos concentremos para efeito de comparação apenas nos aspectos materiais.

      De que adiantaria esse salário mínimo se apenas uma parcela ínfima da mão-de-obra o recebia?No meu Brasil o que grassava mesmo era a FOME(morria milhares só por isso F O M E!), as doenças, o analfabetismo, a miséria absoluta, a falta de habitação e saneamento........Precisa relatar mais?

      Aqui no nordeste sêca era sinônimo de morte e a única saída era pegar um pau-de-arara e tentar a sorte nas periferias infectas de São Paulo ou Rio. Os indicadores sociais, a começar pela mortalidade infantil e a sobrevivência de gestantes, eram similares aos dos africanos.

      Brasil melhor....... 

    • 1959? 55 anos atrás?
      A ideia

      1959? 55 anos atrás?

      A ideia então seria fazer algo parecido com a famosa frase de JK: 55 anos em 12?

    • A amnésia dos artistas

      Eles se esqueceram que na Era FHC o salário mínimo era de 80 dólares,  menos de 200 reais, e que o PSDB é campeão no ranking da corrupção enquanto o PT, apesar de ser um grande partido, é lanterrninha. O que noto é que além das fontes de notícias, a leitura deles vai no máximo a Paulo Coelho, nunca chegam a Marx, dai que não sabem como funcionam as engrenagens que move o mundo

    • A ansiedade e excitação quase infantil desses caras...

      ...quando combatem o que não tem recuo fica tão evidente que cria um muro entre o emissor e o receptor.

      A mensagem não passa, ao menos para um público minimamente atento -  penso eu.

      O humor do desespero não funciona.

  • Até aqui, este é o melhor brasilsil desde 1500

    Nilva, 

    Ótimo texto de Jorge Furtado, dos poucos do setor a emitir opinião com início, meio e fim.

    Alguns artistas ligados aos grupos de oposição sabem perfeitamente o que falam, o caso de Arnaldo Jabor, Marcelo Madureira, Lobão e alguns poucos, e aplicam o discurso que interessa aos seus, enquanto o restante, a maioria de oposição, é na base do "soucontrarudoquetaí", mas o quê -pergunta alguém? Não conseguem responder coisa com coisa. 

    Não é possível fazer comparação do brasilsil de agora com o de qualquer outra época - até Lula chegar, eram mais de 15 milhões de pessoas a viverem sem luz elétrica, é preciso falar do resto ?

    E quanto à posição nas relações internacionais, ai ai ai se algém puder me lembrar o período em que o país foi mais respeitado no exterior do que nestes últimos oito anos...

    Nunca houveram tantas críticas da mídia internacional ao país, isto deve ter algum motivo, pois até 2002 ninguém criticava o país das bundas e do futebol, isto aqui estava literalmente de joelhos prá Tio Sam, enquanto hoje...  Recordar é viver - Ela, DRousseff, depois das comprovadas denúncias de espionagem  por parte de Tio Sam, cancelou o encontro agendado com a marionete BOBama em Washington, ele ainda tendo que ouvi-la falando antes dele, na ONU. Se alguém entende isto como pouco, muito bem. 

  • Ficou pior mesmo. Agora é

    Ficou pior mesmo. Agora é necessário pagar todos os direitos das domésticas, além de um salário bem maior. Só casa e comida não bastam mais.

    Agora tem esse monte de carros 1.0, 1.4, 1.6 nas ruas. No aeroporto, então. Parece rodoviária. Esse monte de pobres viajando de avião.

    E ainda pior: os empregados não aceitam mais votar no candidato do patrão. Eles dizem que viram na internet as mutretas. Só o que passa no JN não basta mais.

    Não dá mais pra morar aqui. Vou pra Miami.

  • É certo que melhorou um pouco

    É certo que melhorou um pouco na questão da distribuicão de renda . 

    Pore´m , na questão da violência urbana piorou-se muito , sim !

    O tráfico de crack dominou amplamente a cidade e o campo. 

    Há duas décadas , para quem queria uma vida mais tranquila , pacata , segura ainda havia a opcão de ir morar numa cidade do interior. Hoje até isso acabou .

    11 cidades brasileiras figuram entre as mais violentas do mundo. 

    Sequestros relâmpago , arrastões em restaurantes , explosões de caixas eletrônicos , execucões de policiais pelo PCC. Em poucos lugares do mundo você verá coisas semelhantes , excetos em áreas de declarada guerra civil . 

  • A violência é o grande problema

     

    O grande problema do Brasil hoje é a violência, é até meio contraditório dizer que o país melhorou tanto e a violência aumentou aos maiores níveis mundiais. 

    O próximo governo, e espero que não seja o da Dilma pois ela é incapaz de qualquer coisa, terá que dá uma atenção muito especial a esse tema. 

    O Brasil precisa fazer um Pacto Nacional para segurança. 

  • As declarações destes

    As declarações destes artistas são cômicas, não fossem trágicas.

    Não resistem a 5 segundos de análise. É o típico comportamento mental do Control C, Control V.

    Repetem o que ouviram. Não pensam no que falam.

    Uma das características mais notáveis de pessoas reacionárias.

    No Brasil há 50, 60 anos, não havia uma classe média.

    A vida média de um brasileiro batia nos 45 anos de idade.

    O analfabetismo era avassalador.

    Saúde? Só com curandeiros, parteiras e muita reza.

    Os pobres, a imensa maioria dos brasileiros, não tinha direito algum. Os mais beneficiados eram aqueles que iam trabalhar de domésticos na casa dos mais ricos. Tinham as refeições garantidas e podiam viver algumas migalhas de uma vida mais confortável na casa dos "Doutores e Senhoras"

    O que vemos agora é a manifestação de alguns filhos desses Doutores e Senhoras que viviam em um mundo surreal, completamente distante deste  Brasil "feio" e real.

    Que bom mesmo que nunca mais poderemos voltar à essa "normalidade" na vida do Ney Matogrosso....

    Sinal de que estamos no caminho certo.

     

  • Não sei se esse e um
    Não sei se esse e um pensamento da classe artística ou se apenas os "indignados" são entrevistados.

  • Coxinha global não se vende em pé sujo, mas é o mesmo recheio

    " E piorando para quem?" 

    Certamente não para os patrões do Wagner Moura. Que não pagam imposto e hoje tem uma fortuna de 20 e cassetadas bilhões.

    Além disso falta modéstia para esse globais. Eles não sabem nada do que estão falando. São analfabetos políticos. Então porque falam merda? Para aparecer na mídia? Para competir para ver quem mais concorda com seus patrões, como o Kamel e o Merdal?

    O capitão Nascimento vai para Hollywood? Vai com Deus. Será um coadjuvante, daqueles que morrem nos primeiros minutos dos filmes.

    Já o Ney Matogrosso é burro. Só isso  

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