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Grande mídia quer STF de joelhos

 

Primeiro, a grande imprensa, capitaneada por Globo, Folha, Estadão e Abril, determinou: o julgamento do chamado “mensalão” deve vir antes das eleições para que possa causar efeitos, principalmente no pleito de São Paulo.

Ainda que a aposta da mídia seja ingênua, o ministro Ayres Britto tomou para si o papel de mensageiro das grandes redações. Enfrentou as resistências dos colegas do Supremo Tribunal Federal, que viam na decisão uma precipitação sem motivos (ver no IG matéria sobre a resistência dos ministros).

O jornalista Luis Nassif já havia alertado para a ingenuidade com que Ayres Britto trata o poder da grande imprensa. Assim como a confusão que faz entre “liberdade de imprensa” (que basicamente é a liberdade de publicação) e a “liberdade de expressão”, direito que volta e meia é subtraído pelos grandes grupos (ver a Carta Aberta aqui).

Ayres pensa como um homem dos anos 50, quando a mídia ainda não era o poder que é hoje. Esquece como foi ela importante para a supressão da democracia já em 1964. Desavisado, não percebeu que parcelas inteiras da sociedade são silenciadas todos os diias por uma maquinaria midiática que julga, condena, exclui e desafia as instituições. Além de ter interesses muitas vezes incofessáveis.

Após agendar o julgamento, a segunda tarefa é determinar o veredicto. Para isso, cada voto será acompanhado atentamente pelas direções de mídia e, caso os ministros já não tenham praticado a auto-censura, serão devidamente expostos publicamente para que não contrariem a decisão que já foi tomada pelos grandes grupos.

O que o STF enfrenta hoje é a última batalha pela reistência da Justiça brasileira em manter-se como poder acima das mídias. As primeiras e segundas instâncias já foram plenamente sequestradas. Juízes e desembargadores têm poucas condições de enfrentar o poder dos grandes grupos. Aqueles que ousam enfrentar, acabam por pagar um preço demasiadamente caro e colocam em risco suas próprias carreiras (os relatos de difamação de magistrados foram bem explicados na série Caso Veja, de Luis Nassif: capítulo 10, o caso Edson Vidigal).

Quando o jornalista Jânio de Freitas (reproduzido aqui) chama a atenção para a prepotência da mídia, em resposta ao elogio de Ayres (sempre ele) à relação “siamesa” entre imprensa e democracia, era disso que estava falando.

Prepotência é o sentimento prévio de poder da mídia sobre as outras instituições. Sobre os outros Poderes do país. Há um sentimento claro nas direções de mídia de que ela é mais poderosa do que a Justiça brasileira, faltando ainda a capitulação do último guardião.

Vencer o STF nesta batalha por impor o veredito sobre o caso “mensalão” é estabelecer de uma vez por todas quem julga no país.

O STF parece sem forças para resistir. Os mnistros mais críticos temem o que pode acontecer de repercussão pública dos seus votos. Ainda mais diante da ação engajada de um personagem como Gilmar Mendes, que se prontifica a expor os colegas de turma à ridcularização permanente (obrigando-os a desmentidos frequentes, como esse), e da ingenuidade e boa vontade de Ayres Britto, que parece não ter lido mais nada sobre imprensa nas últimas quatro décadas.

 

Poder Legislativo em perigo

Se o terceiro poder está à deriva diante da investida da artilharia de mídia, o primeiro, o Legislativo Federal, ainda resiste.

Mas o efeito “de anulação das oposições” vem do fato de que a imprensa tomou esse lugar (como já foi dito pela pela presidente da ANJ, pelo presidente do grupo Abril, e mesmo por Fernando Henrique em artigo recente). Ora, sem oposição seriamente constituída, não há jogo equilibrado no Congresso.

Pode-se dizer que, pautadas pela mídia, as oposições abriram mão do seu papel de fiscalização e crítica. Todas as CPIs “conquistadas”, por exemplo, o foram a partir de grandes artifícios de mídia. As oposições se submeteram a esse papel, porque acreditavam que, com tão forte aliado, teriam encontrado o atalho mais simples para a volta ao poder.

A opção foi desastrosa. Submetendo sua pauta à pauta da grande imprensa, as oposições tornaram-se uma legião sem bandeiras próprias, sempre á espera de uma manchete e um escândalo, graças aos quais pudessem atuar.

Sem programa, sem objetivos claros, escrava das determinações dos aquários, a oposição simplesmente desapareceu enquanto ente legislativo, colocando em risco este Poder do país.

Curiosamente, hoje, os focos de resistência à prepotência midiática, são as alas governista e aliada. Justamente porque contam com o apoio do Executivo.

Os três poderes brasileiros estão sob constante ataque. E o drama do STF faz parte de um história que, iniciada no advento da redemocractização do país, já se desenha há mais de duas décadas.

Passou da hora de reagir.

Redação

Redação

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