O poder inteligente

Do Estadão

Hillary anuncia nova diplomacia

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090114/not_imp306862,0.php

Futura secretária de Estado quer ?poder inteligente? como diretriz da política externa dos EUA no governo Obama

Fernando Dantas, WASHINGTON

A futura secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, defendeu ontem o uso do “poder inteligente”(smart power, na expressão em inglês), a volta da diplomacia e a cooperação com aliados como focos principais da política externa do presidente Barack Obama, sinalizando uma ruptura com o unilateralismo belicoso que caracterizou o governo de George W. Bush. Para combater as ameaças e desfrutar das oportunidades em um mundo interdependente, observou a senadora, “diplomacia é um trabalho duro, mas quando trabalhamos duramente, a diplomacia funciona”.

Numa longa sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado, Hillary disse que “devemos usar o que foi chamado de poder inteligente, o conjunto completo de ferramentas à nossa disposição, diplomática, econômica, militar, política, legal e cultural”. Para ela, é preciso pegar “a ferramenta certa, ou a combinação de ferramentas, para cada ocasião”.

A expressão smart power foi cunhada pelo acadêmico Joseph Nye (leia quadro nesta página). Segundo Hillary, com o poder inteligente, “a diplomacia será a vanguarda da política externa”. Ela ressalvou que “diplomacia é um trabalho duro, mas quando trabalhamos duramente, a diplomacia funciona”.

Hillary observou que “os EUA não podem resolver os problemas mais urgentes do mundo, e o mundo não pode resolvê-los sem a América”. Por isso, é preciso planejar e implementar soluções globais.

“O presidente eleito e eu acreditamos que a política externa deve ser baseada num casamento de princípios e pragmatismo, e não em rígida ideologia; em fato e evidência, e não em emoção e preconceito”, disse. Para Hillary, as ameaças à segurança nos EUA não podem ser combatidas com isolacionismo: “O poder inteligente requer que busquemos tanto nossos amigos quanto nossos adversários, para fortalecer velhas alianças e forjar novas.”

Ela disse ainda que, apesar dos grandes problemas do mundo, “eu não me levanto todas as manhãs pensando apenas nas ameaças e perigos que nós enfrentamos”. Segundo Hillary, “freqüentemente vemos os males que nos atormentam mais claramente do que as oportunidades à nossa frente”.

Comentário

Algum especialista em política internacional poderia trocar em miúdos os conceitos de “poder inteligente”? Seria a retomada das idéias de Sunmer Wells, Adolfo Berle Jr, Nelson Rockefeller, que tentaram transportar o New Deal de Roosevelt para a América Latina?

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • No governo Bush, a política
    No governo Bush, a política externa funcionava na base do 'atiramos primeiro e perguntamos depois'.

    Agora, com Obama, a mesma será baseada no princípio do 'conversamos primeiro e, se necessário, disparamos alguns tiros depois'.

  • É ótimo um poder diplomático
    É ótimo um poder diplomático e inteligente.

    É péssimo um poder diplomático e hipócrita.

    Conseguirá Obama controlar a hipocrisia Clinton?
    Ainda acho um erro Hillary nessa posição no gabinete de Obama.

  • "fale manso com um porrete na
    "fale manso com um porrete na mão"
    A volta do big stick...hehehe!
    Em certas ocasiões é a única diplomacia que funciona.
    No caso de Israel não funciona.
    Israel é parte do porrete.
    Por isso, deita e rola.

  • Não duvido disso, não, Luiz
    Não duvido disso, não, Luiz Lima... É bem possível... Enquanto os EUA conversam, eles mandam chumbo nos 'adversários' e nos 'inimigos'. É por aí, mesmo.

    A diferença é que, no governo Obama, talvez os EUA venham a fazer isso de uma forma menos ostensiva, mais sutil do que Bush, que era tão cuidadoso quanto um elefante numa loja de louças.

    Bush tornava explícito demais a agressividade e a arrogância do Império norte-americano e isso gerou uma reação muito forte contra os EUA, cuja imagem foi jogada no chão pelo governo Republicano, no mundo inteiro.

    Talvez seja isso o que a Hillary chama de 'poder inteligente', ou seja, os EUA continuarão se comportando como um Império, mas sem que isso fique muito claro.

    É como se a Hillary estivesse dizendo 'relaxa e goza'...

  • Se não estou enganado, Joseph
    Se não estou enganado, Joseph Nye mencionou “soft power” em seus textos. Sabemos como essa modalidade de cooptação pode se revelar inclusive mais eficiente para a defesa dos interesses norte-americanos. Bom, há também efeitos colaterais --> externalidades. Veja a turma que foi cursar pós-graduação nas escolas de economia e que contribuiu para transformar Wall Street no muro das lamentações da idiotia neoliberal. E o pior de tudo é que esses personagens ainda insistem que o remédio é mais do mesmo... Piada! O jeito é torcer para Obama realizar um governo progressista e menos pautado nos interesses especulativos do capital financeiro.

  • Tecnicamente, segundo o
    Tecnicamente, segundo o próprio Roosevelt, quem criou o New Deal foi o Vargas (isso que é diplomacia!)

    Bom, o conceito de Smart Power deve ser explicado segundo alguns outros: há o Hard Power, influência direta por meio de poder econômico e militar; há o Soft Power, que é a influência indireta de um Estado em outro. Também é do NYE, que diz:

    "O conceito básico de poder é a habilidade de influenciar outros a fazer o que você quer. Há três maneiras de se fazer isto: uma delas é ameaçá-los com galhos; a segunda é comprá-los com cenouras; e a terceira é atrair-los ou cooperar com eles para que queiram o mesmo que você. Se você conseguir atraí-los a querer o que você quer, te custará muito menos cenouras e galhos."

    Já o Smart Power é um desenvolvimento mais recente dele, e pelo que entendi, não passa de um balanceamento dentre o Hard e o Soft Power:

    Joseph Nye: Well, power is the ability to affect others to get the outcomes you want, and you can do that through coercion or payment, which is what I call hard power, or you could do it with attraction, which is what I call soft power. Now it is very rare that people use entirely soft power or entirely hard power. I suppose Dalai Lama uses entirely soft power, but most of the actors end up using a combination of hard and soft power and the ability to combine hard and soft power—carrots and sticks and attractions—is what I call smart power. So an effective strategy of using power resources both hard and soft is smart power. In the new book, The Powers to Lead, I explain that leadership and power are closely related and that there is more than one form of power and that it applies at all levels—both at level of individual or group and state or the interstate system.
    (http://belfercenter.ksg.harvard.edu/publication/18420/joseph_nye_on_smart_power_in_iranus_relations.html)

    Há outra entrevista, mais específica:
    http://www.hks.harvard.edu/news-events/publications/insight/international/joseph-nye-smart-power

  • Posso estar errado, mas este
    Posso estar errado, mas este negócio de poder inteligente (smart power) me lembra o WEBOT, um programa que usa lingüística e inteligência artificial para detectar tendências nas sociedades humanas.

    O pior é que parece funcionar até para prever cataclismos naturais.

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