Lilia Schwarcz: intelectuais, PT e PSDB têm responsabilidade na ascensão de Bolsonaro

Jornal GGN – Lilia Schwarcz, autora do livro “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, afirmou em entrevista ao UOL, divulgada nesta quinta (5), que PT e PSDB, além da elite intelectual brasileira, falharam em não perceber as mudanças, nos cenários nacional e internacional, que levaram ao poder um político de extrema-direita como Jair Bolsonaro.

Na visão da historiadora, Bolsonaro surfou num movimento de brasileiros que, de um lado, não acreditam na utopia da Constituição de 1988, e de outro, sempre foram autoritários graças a nossa tradição escravocrata. A questão é que antes não era moralmente aceitável exibir pensamentos reacionários, preconceituosos, individualistas.

“Acho que nós, uma parte da intelectualidade, não vimos esse movimento crescer. Também não atentamos para a realidade das igrejas evangélicas ou atentamos com muito preconceito. Veio então esse caldo de ressentimentos, inclusive com a Constituição de 88, com o direito das minorias”, apontou.

Eleito, Bolsonaro instaurou uma “democradura” com relativa facilidade, porque historicamente o brasileiro se volta para a direita quando entra em crise política. “(…) em momentos de crise os brasileiros votam em políticos mais autoritários e populistas porque prometem saídas fáceis e imaginárias em que tentemos acreditar”, comentou.

Lilia disse ao portal que Bolsonaro segue uma espécie de “manual do que acontece nessas democraduras. Veja Estados Unidos, Turquia, Venezuela. Você domina as redes, domina as suas informações e impede seus eleitores de entrar em contato com outras informações. Você constrói uma bolha autorreferida, uma bolha digital.”

Além de descredenciar narrativas e se reafirmar como o dono da verdade, Bolsonaro mistura público com privado porque se comporta como um patriarca, figura que acaba por empoderar também seus três filhos homens, Flávio, Eduardo e Carlos. Não à toa, os três protagonizam diversas crises que o governo já acumula nestes cinco meses de gestão.

“(…) me parece que Bolsonaro veste essa mesma indumentária política, a ideia de ser pai de uma família farta, com a prole por perto. E esse discurso legitima o que está acontecendo com os três filhos [Flávio, Carlos e Eduardo]. Ele se comporta como se fosse um imperador –é uma visão pequena e apequenada do que é a democracia. Ele parece acreditar que já é democrático porque ganhou a eleição. Veja que ele dá poderes aos seus três filhos homens, com poderes para os quais não foram eleitos. É uma contaminação das esferas pública e privada muito forte. Porque vem embrulhada nessa imagem, da qual os brasileiros não conseguem se desvencilhar, de que o presidente não é um contrato, mas é o grande pai.”

A historiadora lembrou que o Brasil vive uma “crise brutal”, do ponto de vista político, sobretudo, desde 2013, sem que a academia ou os grandes partidos antes no poder soubessem como lidar com as manifestações. Acabou que a maior parte da sociedade decidiu radicalizar “à direita” e “delegar poder para esses superpais, supergovernantes.”

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Redação

Redação

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  • A esquerda teve oportunidade desde que os militares deixaram o poder em 1986 endividaram o país permitindo que "mecanismos de endividamento inconstitucionais fossem criados e mantidos até hoje pelo Banco Central"

    Agora é a vez de respeitar quem foi eleito

    "Ao contrário da propaganda terrorista na grande mídia - paga com dinheiro público - "que se a PEC não for feita o país quebra" - é justamente o contrário!!!! Se esta capitalização for aprovada - aí sim, o Brasil quebrará !!!! ? 16:42 https://www.youtube.com/watch?v=UOCvkU0jea4

    O pressuposto de qualquer dialética é a honestidade moral dos participantes ou seja, que todos estejam buscando a verdade.

  • Estão corretas as observações da Senhora Lilia.Diria que corretissimas por sinal,com um pequenissimo senão:Entender que partidos politicos no Brasil(35 na ativa,uns 15 na fila),especialmente o PT,PSDB e intelectuais de plantão de todas as matizes,pensem alem do jardim,vem ser aquilo que costumo rotular de "me engana que eu adoro".

    • Dermeval Santos Lopes Júnior,
      Primeiro quero expressar uma percepção que me pareceu possível de se constatar nos seus comentários: você não não recebe estrelas como antigamente. Os céus nos são ingratos e nem sempre nos deixam cair estrelas para que possamos sentir como que iluminados.
      Segundo quero dizer que foi bem apropriada e talvez por isso coincidente com a minha análise o que você diz sobre a Lilia Schwarcz e eu podia dizer o contrário referindo primeiro a coincidência.
      Terceiro, creio que o que essa última eleição nos permitiu perceber o quão pequena é a esquerda. Querer muito desses partidos não me parece à altura de sua perspicácia.
      E por fim um conselho que já o tenho repetido à profusão. Que tal uma leitura do meu longo comentário junto ao post "Xadrez do fator é a economia, estúpido!, por Luís Nassif" de quarta-feira, 30/08/2017, aqui no blog de Luis Nassif no seguinte endereço:
      https://jornalggn.com.br/coluna-economica/xadrez-do-fator-e-a-economia-estupido-por-luis-nassif/
      O meu comentário foi enviado na quinta-feira, 07/09/2017 at 18:26, junto ao comentário de um iluminado por estrelas e que fora enviado quinta-feira, 31/08/2017, às 10:29. Se for aos links tem-se leitura por toda a vida.
      Clever Mendes de Oliveira
      BH, 07/06/2019

  • Essa mocinha culpa o PT porque o vagabundo Aécio Neves fez o PSDB embarcar no golpe em 2014. De vítimas, Dilma Rousseff e o PT se tornam algozes em razão do PSDB não ter um candidato presidencial competitivo desde 2002. Os tucanos são uns bostas. Eles nunca fazem autocrítica.

  • O PSDB, sim, ainda mais considerando que Aécio, o inconformado, era seu presidente, e que FHC, o invejoso, era considerado. Isso sem falar de entreguistas de carteirinha, Aloysio Nunes, Sérgio Moro etc.

    Mas o PT?! Culpar a moça pelo estupro não tá certo.

    Já os chamados "intelectuais"... não sei a quem Lilia se refere mas a nata do Direito, da Economia, das Ciências Sociais - História, Sociologia (salve Jessé de Souza!), Filosofia etc. -, das Comunicações, da Psicologia, do Jornalismo começou a denunciar o golpe lá atrás, antes mesmo do Aécio prometer que Dilma não governaria. E depois do dólar mostrar as garras e os dentes, aí é que as denúncias aumentaram.

    Não sei a que "intelectuais" a intelectual se refere mas certamente ela não foi a encontros, palestras, simpósios desses que acontecem até hoje.

    Por fim, o povo... ah, o povão não costuma dar muita atenção a intelectuais, mesmo. Prefere o "luxo", como disse o carnavalesco, os exageros bregas, coloridos e regados a champagne. Nesse ponto, sim, o PT falhou: em vez de ensinar cidadania ensinou consumismo voraz, proto-capitalista. Mas já foi - e está sendo - penalizado por isso.

    • Perfeito. Certos intelectuais e políticos sempre desculpam os reais responsáveis: os eleitores. Não houve ingenuidade. Ou a pessoa decidiu terceirar o cérebro ou se sente representada. A única falha do PT, ao meu ver, foi não ter aproveitado o prestígio dos primeiros 8 anos e feito uma revolução educacional de verdade. Valorizo demais o fato de Lula ter aberto as portas das universidades, mas faltou política para o ensino básico. Enfim, o negócio é parar de procurar culpados e se organizar pra tirar esse presidente antes que ele quebre de vez o país.

  • Gostei do "uma parte da intelectualidade". Minha antiga professora poderia ter sido mais explícita, mas de fato, conheço muitos intelectuais que em 2013 já diziam claramente que estava em curso um projeto de fascistização da sociedade. Afinal, o fenômeno chamado de "fascismo" (mas que é muito mais antigo do que a dominação de Mussolini na Itália) tem vastíssima bibliografia nas ciências sociais: conhece-se as causas, as características e até diversas maneiras de evitá-lo ou tentar controlá-lo.
    Ao contrário da professora, porém, não vejo a tal saída pela direita como peculiaridade brasileira. E se há algo que me deixa perplexo no Brasil é a total falta de atenção de "uma parte da intelectualidade" ao que ocorre ou ocorreu no resto do mundo ou mesmo da América Latina! Diziam que as instituições brasileiras seriam fortes e evitariam um "golpe paraguaio" e que por isso não havia problema com a embaixatriz americana, a qual nunca entraria nas tais "democraturas" como Venezuela, Turquia ou mesmo EUA. Chega de dourar a pílula, não se trata de discutir o passado e distribuir responsabilidade (além de PT e PSDB e os tais intelectuais, que tal citar também alguma embaixada, alguns órgãos da mídia, os militares, o judiciário, o famoso 2013, a CBF e sua camisa amarela, ou o livro do Gene Sharp que expõe o roteiro seguido várias partes do mundo) mas é fato que a democracia brasileira acabou em agosto de 2016 e que o Brasil corre seríssimo perigo de se meter numa guerra estúpida com graves consequências internas. "Uma parte da intelectualidade" tem bastante clareza sobre isso.

  • "Essa mocinha...".
    Menas, pfv. Em pleno século XXI de empoderamento feminino, ainda tem quem usa desses maneirismos ironicos e grotescos contra a mulher.
    Me desculpe.

  • Maior parte da minoria da sociedade. Até o Haddad foi pouco votado. Muita gente sequer votou. Isso sem falar na notoria e excepcional fraude que foi o período eleitoral.

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