Linguajar Catrumano por Téo Azevedo

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Jns

Agora eu digo como foi dito o dito ditado
 
https://www.youtube.com/watch?v=ICsZWd6m_Iw width:700 height:394
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

31 Comentários

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  1. Dom Jota Ene Esse!

    Aqui no Ceará, nas cidades interioranas, ainda se pode ouvir um cidadão perguntando algo a outro:

    – Ainda que mal pregunte, vassuncê conhece o espevitado Jejê?

    – Pregunta bem! O tal de Jejê é sobrinho de Dom JNS, parceiro do Cabo Potêncio!

     

    Como vosmicê dixe que tava di calundu com a mutimidia e eu num butei nada do Patativa no meu blog, vou atupetá esse Post de Patativa. Afiná! Patativa pra que te quero?

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=N2O1IEx0_CA%5D

     

    1. Obrigado Mestre!

       

      Você sempre está sempre presente.

      SABE QUE EU ADORO O PATATIVA e sempre dou um jeitinho de introduzí-lo nos nossos bate-bolas virtuais.

      [video:http://youtu.be/QYFkncAs4Jg width:600 height:450]

      Lmbre-se que, após ser desafiado para um encontro mortal na praça central, na frente da igreja de Éguas Russas [ de um velho fazendeiro chamado Zacarias do Pedro Ribeiro nos primeiros anos do povoamento, que possuía cobiçadas e vistosas éguas de cor ruça, animais se destacavam pela uniformidade de sua cor encarnada ], no interior do Ceará, eu avisei que você poderia escolher duas opções: morrer ou contar casos sobre o Patativa em um butiquim de lá.

      O mentiroso, que eu sei que você é, iria escapar com vida, ao falar do Patativa, porque a minha peixeira estava afiada e sendenta de vingança, pela sua insistência em trazer tão belas canções da MPB ao blog, humilhando todo mundo.

      Para a sua sorte, fizemos as pazes – eu reconsiderei e sublimei o meu ciúme – e voltei a considerá-lo “meu chegado’.

      Descobri o Patativa, há muitos anos, quando eu gostava do Fagner do Grupo Terral e arriscava a arranhar algumas músicas dele na minha viola.

      [video:http://youtu.be/qIXtO_4DjTY width:600 height:450]

      Com o passar dos anos, com acesso a mais informações, fui percebendo, com mais nitidez, a grandeza deste ícone da cultura nordestina, ao lado do grandioso Gonzagão.

      Você lembrou do Jejê – tá numa espetativa danada, aguardando o presente do dia das cranças – e, acredite, o moleque está cantando raps quilométricos, sem repetição do fraseado [sobre isso, vou fazer um comentário alongado mais tarde].

      Eu não fiquei, exatamente, surpreso, porque ele aprendeu rapidamente a letra de Águas de Março do Tomzinho, rebatizado pelo Vinícius.

      Potêncio, acredito que o menino maluquinho herdou o dom artístico do avô materno que está com 79 anos. Na décade de 60, ele tocava, profissionalmente, na única emissora de rádio de Caratinga, em Minas Gerais, e ocupava as suas noites tocando em bailes na região.

      Ontem conversei com a sua avó materna e, quando quis saber detalhes sobre a carreira do marido, ela contou que ele tocava junto com um excepcional violonista que também tocava sanfona.

      Quando perguntei o nome do tocador de viola e ela não conseguiu lembrar, eu sugeri um nome aleatório que me veio à cabeça, naquele instante: Paulo.

      Acredite se quiser: ela disse que era, exatamente, “o Paulo”, o parceiro do renomado sanfoneiro Jairinho, o avô do Jejê.

      Eu desconfiei que estava sendo alvo de gozação e não considerei que a fala dela era séria, mas veio a confirmação:

      – Jones, o nome dele é esse mesmo. Há muito tempo, após a nossa mudança de Caratinga, ele veio à nossa casa – ele tocava demais..

      Grande Comandante, a mãe do Jejê [ pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar / meus vinte anos de boy, that’s over baby! Freud explica ], também cantava em corais da igreja evangélica que não frequenta mais.

      pavarotti

      Não cantava, é claro, como o brilhante Pavarotti do Ceará.

      1. Num quero fazer futrica nem nada

        porém a amiga Maria Luisa me garantiu que vossência não se cadastra porque seu nome é Dismenielson Jones!

        Que besteira rapaz, nome num vale nada!

        A gente pode até de chamar de Dismen…

        Abração do seu chegado,

        luciano

        PS: Achaste coisa sobre Russas que eu nunca havia encontrado…

        1. Esse calango é dela

          Eu sou franzino e a vida sabe
          Que eu sou diminuto
          Que eu só cresci meio metro
          De um pé de arbusto
          Quero te alembrar
          Que esse calango é dela

          Eu não sou de ficar prá trás
          Eu não sou de chiar canela
          Eu tenho a vida
          E dela eu monto sentinela
          Então, não como rapa de gamela

          Eu canto por meia tigela
          Da presença dela
          Estrela bela que caía na janela
          Brilhava a minha vida
          Meu amor brilhava nela

          Eu sou franzino e a vida sabe
          Que eu não sou doutor
          Que eu sou menino
          Lambuzado desse amor
          Que foi prá não voltar
          Não voltou nem me levou

          [video:http://youtu.be/JIu3NkMuDA8 width:600 height:450]

        1. Não é nóis tio!

           

          Molecada Bacana decreta:

          Não que eu quero fugi daqui, eu quero é vivê de renda
          Com as pretinha bunitinha, de sainha apertada de preguinha curtinha, toda emperequetada
          Um gado na churrasqueira um sonzin e mais nada, Tendeu, Tendeu (tio)

          Fazenda de café, plantaçoes de cana
          Brasil no pé e no peito Africa Mama
          Patativa do Assaré, melhor que os melodrama

          O resto dos mané, quer ser o Luan Santana .
           

          [video:http://youtu.be/UYR8rSkddQE width:600 height:450]

  2. A Jibóia, o Calango e o Corneteiro

     

    “Téo, faz verso pro Luiz Gonzaga, que ele taí na roda!”

    HOMENAGEM AO MÚSICO MAIS IMPORTANTE DA HISTÓRIA DO BRASIL

    Téo, com 9-10 anos, cantava repente no Mercado de Montes Claros, em 1952, correndo bandeja e abrindo roda para um camelô pernambucano vender remédio com um jibóia enrolada no pecoço.

    images/stories/stand da urca expocrato 2012 6.jpg

    [video:http://youtu.be/DDC8AfohMmM width:600 heght:450]

    Esculturas de Francisco Graciano criadas de cortes em troncos, acrescidas de cor, construindo figuras do nosso folclore.

    Acima, esculturas do afamado Mestre Vitalino.

    Artesanato do barro do Alto do Moura, um bairro de Caruaru, município do agreste pernambucano, onde se concentra uma comunidade de artistas que passam esta habilidade de geração para geração.

    [video:http://youtu.be/XpMoX_E2O3s width:600 heght:450]

    [video:http://youtu.be/8cvNS-f2v4w width:600 heght:450]

    [video:http://youtu.be/ADcDmTXWW34 width:600 heght:450]

  3. o xiru aqui, o maior capiau

    o xiru aqui, o maior capiau do pedaço,

    entisicado com os retrógrados tucanos,

    curtiu muito este post litero-musical.

    e agora, mais apalavrado

    poeticamente com o patativa tb,

    vai taticamente à luta

    para vencer a disputa!

     

    1. Né seu não!

       

      Esse calango é dela

                         Eu decifrei dizer que o amor
                         É touro marrueiro
                         Quando ele pisa dóI
                         Na vida o ano inteiro
                         Por ela tô cantando
                         O meu luar de seresteiro
                         De noite tô sem ela
                         Igual que nem sem travesseiro
                         Sem ela sou pedaço
                         Da metade do inteiro

      [video:http://youtu.be/DlKT7i2GF8U width:600 heigth:45]

                         Eu tenho a vida
                         E dela eu monto sentinela
                         Então, não como rapa de gamela

      [video:http://youtu.be/o9GKdUw5EnI width:600 heigth:450]

    1. Deus fez tudo com primazia

       

      Maria Luisa e Rapadura
      Quem gosta do Patativa

       

      “NORDESTINO, AGARRA A CULTURA QUE TE VESTE!” – ENSINA A MOLECADA ATIVA

       

       

                       Deus quando fez o mundo
                       Fez tudo com primazia,
                       Formando o céu e a Terra
                       Cobertos com fantasia.
                       Para o Sul deu a riqueza,
                       Para o Planalto a beleza

       

      Do Camoniano Patativa do Assaré.

                   

                   MINHAS IRMÃS, MEUS IRMÃOS, OXE! SE ASSUMAM COMO
                   REALMENTE SÃO
                   NÃO DEIXEM QUE SUAS MATRIZES, QUE SUAS RAIZES MORRAM
                   POR FALTA DE IRRIGAÇÃO
                   SER NORTISTA & NORDESTINO MEUS CONTERRÂNEOS NUM É SER
                   SECO NEM LITORÂNEO
                   É TER EM NOSSAS MÃOS UM DESTINO NUNCA CLANDESTINO PARA
                   OS DESFECHOS METROPOLITANOS

       

      [video:http://youtu.be/n_ZXeg6gD_o width:600 height:450]

  4. Valeu, Jns!

    Quem é do Norte de Minas é catrumano, como eu. Sempre postei aqui coisas do ótimo Teo Azevedo, que começou com a gravação desse ótimo e raro LP independente de rock rural e otras cositas, em 1974. A última canção abaixo vai em homenagem ao ao nosso amigo cearense.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=E-aUb0Cy7go%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=tLQolu1d_HU%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=9M2k5ju8rsQ%5D

    1. Jair

      Só Fonseca, mas não fica borocoxô e, se, “a paca cara compra, paca cara pagará”.

      O poeta e cineasta Rosemberg Cariry, o Cego Aderaldo (na tela) e o saudoso Suassuna

      Peleja com Zé Pretinho dos Tucuns

      Cego Aderaldo

      Apreciem, meus leitores,
      Uma forte discussão,
      Que tive com Zé Pretinho,
      Um cantador do sertão,
      O qual, no tanger do verso,
      Vencia qualquer questão.
      Um dia, determinei
      A sair do Quixadá
      — Uma das belas cidades
      Do estado do Ceará.
      Fui até o Piauí,
      Ver os cantores de lá.
      Me hospedei na Pimenteira
      Depois em Alagoinha;
      Cantei no Campo Maior,
      No Angico e na Baixinha.
      De lá eu tive um convite
      Para cantar na Varzinha.
      Quando cheguei na Varzinha,
      Foi de manhã, bem cedinho;
      Então, o dono da casa
      Me perguntou sem carinho:
      — Cego, você não tem medo
      Da fama do Zé Pretinho?
      Eu lhe disse: — Não, senhor,
      Mas da verdade eu não zombo!
      Mande chamar esse preto,
      Que eu quero dar-lhe um tombo
      — Ele chegando, um de nós
      Hoje há de arder o lombo!
      O dono da casa disse:
      — Zé Preto, pelo comum,
      Dá em dez ou vinte cegos
      — Quanto mais sendo só um!
      Mando já ao Tucumanzeiro
      Chamar o Zé do Tucum.
      Chamando um dos filhos, disse
      Meu filho, você vá já
      Dizer ao José Pretinho
      Que desculpe eu não ir lá
      — E que ele, como sem falta,
      Hoje à noite venha cá.
      Em casa do tal Pretinho,
      Foi chegando o portador
      E dizendo: — Lá em casa
      Tem um cego cantador
      E meu pai mandou dizer-lhe
      Que vá tirar-lhe o calor!
      Zé Pretinho respondeu:
      — Bom amigo é quem avisa!
      Menino, dizei ao cego
      Que vá tirando a camisa,
      Mande benzer logo o lombo,
      Porque vou dar-lhe uma pisa!
      Tudo zombava de mim
      E eu ainda não sabia
      Se o tal do Zé Pretinho
      Vinha para a cantoria.
      As cinco horas da tarde,
      Chegou a cavalaria.
      O preto vinha na frente,
      Todo vestido de branco,
      Seu cavalo encapotado,
      Com o passo muito franco.
      Riscaram duma só vez,
      Todos no primeiro arranco
      Saudaram o dono da casa
      Todos com muita alegria,
      E o velhote, satisfeito,
      Folgava alegre e sorria.
      Vou dar o nome do povo
      Que veio pra cantoria:
      Vieram o capitão Duda Tonheiro,
      Pedro Galvão, Augusto Antônio Feitosa,
      Francisco, Manoel Simão,
      Senhor José Campineiro,
      Tadeu e Pedro Aragão.
      O José das Cabaceiras
      E o senhor Manoel Casado,
      Chico Lopes, Pedro Rosa
      E o Manoel Bronzeado,
      Antônio Lopes de Aquino
      E um tal de Pé-Furado.
      Amadeu, Fábio Fernandes,
      Samuel e Jeremias,
      O senhor Manoel Tomás,
      Gonçalo, João Ananias
      E veio o vigário velho,
      Cura de Três Freguesias.
      Foi dona Merandolina,
      Do grêmio das professoras,
      Levando suas duas filhas,
      Bonitas, encantadoras
      — Essas duas eram da igreja
      As mais exímias cantoras.
      Foi também Pedro Martins,
      Alfredo e José Segundo,
      Senhor Francisco Palmeira,
      João Sampaio e Facundo
      E um grupo de rapazes
      Do batalhão vagabundo.
      Levaram o negro pra sala
      E depois para a cozinha;
      Lhe ofereceram um jantar
      De doce, queijo e galinha
      — Para mim, veio um café
      E uma magra bolachinha.
      Depois, trouxeram o negro.
      Colocaram no salão,
      Assentado num sofá,
      Com a viola na mão,
      Junto duma escarradeira,
      Para não cuspir no chão.
      Ele tirou a viola
      De um saco novo de chita,
      E cuja viola estava
      Toda enfeitada de fita.
      Ouvi as moças dizendo:
      — Oh, que viola bonita!
      Então, para eu me sentar,
      Botaram um pobre caixão,
      Já velho, desmantelado,
      Desses que vêm com sabão.
      Eu sentei-me, ele vergou
      E me deu um beliscão.
      Eu tirei a rabequinha
      De um pobre saco de meia,
      Um pouco desconfiado
      Por estar em terra alheia.
      Aí umas moças disseram:
      — Meu Deus, que rabeca feia!
      Uma disse a Zé Pretinho:
      — A roupa do cego é suja!
      Botem três guardas na porta,
      Para que ele não fuja
      Cego feio, assim de óculos,
      Só parece uma coruja!
      E disse o capitão Duda,
      Como homem muito sensato:
      — Vamos fazer uma bolsa!
      Botem dinheiro no prato
      — Que é o mesmo que botar
      Manteiga em venta de gato!
      Disse mais: — Eu quero ver
      Pretinho espalhar os pés!
      E para os dois contendores
      Tirei setenta mil réis,
      Mas vou completar oitenta
      — Da minha parte, dou dez!
      Me disse o capitão Duda:
      — Cego você não estranha!
      Este dinheiro do prato,
      Eu vou lhe dizer quem ganha:
      Só pertence ao vencedor
      — Nada leva quem apanha!
      E nisto as moças disseram:
      — Já tem oitenta mil réis,
      Porque o bom capitão Duda,
      Da Parte dele, deu dez…
      Se acostaram a Zé Pretinho,
      Botaram mais três anéis.
      Então disse Zé Pretinho:
      — De perder não tenho medo!
      Esse cego apanha logo
      — Falo sem pedir segredo!
      Como tenho isto por certo,
      Vou pondo os anéis no dedo…
      Afinemos o instrumento,
      Entremos na discussão!
      O meu guia disse pra mim:
      — O negro parece o Cão!
      Tenha cuidado com ele,
      Quando entrarem na questão!
      Então eu disse:
      — Seu Zé, Sei que o senhor tem ciência
      — Me parece que é dotado
      Da Divina Providência!
      Vamos saudar este povo,
      Com sua justa excelência!
      PRETINHO
      — Sai daí, cego amarelo,
      Cor de couro de toucinho!
      Um cego da tua forma
      Chama-se abusa-vizinho
      — Aonde eu botar os pés,
      Cego não bota o focinho!
      ADERALDO
      — Já vi que seu Zé Pretinho
      É um homem sem ação
      Como se maltrata o outro
      Sem haver alteração?!…
      Eu pensava que o senhor
      Tinha outra educação!
      PRETINHO
      — Esse cego bruto, hoje,
      Apanha, que fica roxo!
      Cara de pão de cruzado,
      Testa de carneiro mocho
      — Cego, tu és o bichinho,
      Que comendo vira o cocho!
      ADERALDO
      — Seu José, o seu cantar
      Merece ricos fulgores;
      Merece ganhar na saia
      Rosas e trovas de amores
      — Mais tarde, as moças lhe dão
      Bonitas palmas de flores!
      PRETINHO
      — Cego, eu creio que tu és
      Da raça do sapo sunga!
      Cego não adora a Deus
      — O deus do cego é calunga!
      Aonde os homens conversam,
      O cego chega e resmunga!
      ADERALDO
      — Zé Preto, não me aborreço
      Com teu cantar tão ruim!
      Um homem que canta sério
      Não trabalha verso assim
      — Tirando as faltas que tem,
      Botando em cima de mim!
      PRETINHO
      — Cala-te, cego ruim!
      Cego aqui não faz figura!
      Cego, quando abre a boca,
      É uma mentira,pura
      — O cego, quanto mais mente,
      Ainda mais sustenta e jura!
      ADERALDO
      — Esse negro foi escravo,
      Por isso é tão positivo!
      Quer ser, na sala de branco,
      Exagerado e altivo
      — Negro da canela seca
      Todo ele foi cativo!
      PRETINHO
      — Eu te dou uma surra
      De cipó de urtiga,
      Te furo a barriga,
      Mais tarde tu urra!
      Hoje, o cego esturra,
      Pedindo socorro
      — Sai dizendo: — Eu morro!
      Meu Deus, que fadiga!
      Por uma intriga,
      Eu de medo corro!
      ADERALDO
      — Se eu der um tapa
      No negro de fama,
      Ele come lama,
      Dizendo que é papa!
      Eu rompo-lhe o mapa,
      Lhe rompo de espora;
      O negro hoje chora,
      Com febre e com íngua
      — Eu deixo-lhe a língua
      Com um palmo de fora!
      PRETINHO
      —No sertão, peguei
      Cego malcriado
      — Danei-lhe o machado,
      Caiu, eu sangrei!
      O couro eu tirei
      Em regra de escala:
      Espichei na sala,
      Puxei para um beco
      E, depois de seco,
      Fiz mais de uma mala!
      ADERALDO
      —Negro, és monturo,
      Molambo rasgado,
      Cachimbo apagado,
      Recanto de muro!
      Negro sem futuro,
      Perna de tição,
      Boca de porão,
      Beiço de gamela,
      Vento de moela,
      Moleque ladrão!
      PRETINHO
      — Vejo a coisa ruim
      — O cego está danado!
      Cante moderado,
      Que não quero assim!
      Olhe para mim,
      Que sou verdadeiro,
      Sou bom companheiro
      — Canto sem maldade
      E quero a metade,
      Cego, do dinheiro!
      ADERALDO
      — Nem que o negro seque
      A engolideira,
      Peça a noite inteira
      Que eu não lhe abeque
      — Mas esse moleque
      Hoje dá pinote!
      Boca de bispote,
      Vento de boeiro,
      Tu queres dinheiro?
      Eu te dou chicote!
      PRETINHO
      — Cante mais moderno,
      Perfeito e bonito,
      Como tenho escrito
      Cá no meu caderno!
      Sou seu subalterno,
      Embora estranho
      — Creio que apanho
      E não dou um caldo…
      Lhe peço, Aderaldo,
      Que reparta o ganho!
      ADERALDO
      — Negro é raiz
      Que apodreceu,
      Casco de judeu!
      Moleque infeliz,
      Vai pra teu país,
      Se não eu te surro,
      Te dou até de murro,
      Te tiro o regalo
      — Cara de cavalo,
      Cabeça de burro!
      PRETINHO
      — Fale de outro jeito,
      Com melhor agrado
      — Seja delicado,
      Cante mais perfeito!
      Olhe, eu não aceito
      Tanto desespero!
      Cantemos maneiro,
      Com verso capaz
      — Façamos a paz
      E parto o dinheiro!
      ADERALDO
      — Negro careteiro,
      Eu te rasgo a giba,
      Cara de gariba,
      Pajé feiticeiro!
      Queres o dinheiro,
      Barriga de angu,
      Barba de guandu,
      Camisa de saia,
      Te deixo na praia,
      Escovando urubu!
      PRETINHO
      — Eu vou mudar de toada,
      Pra uma que mete medo
      — Nunca encontrei cantador
      Que desmanchasse este enredo:
      É um dedo, é um dado, é um dia,
      É um dia, é um dado, é um dedo!
      ADERALDO
      — Zé Preto, esse teu enredo
      Te serve de zombaria!
      Tu hoje cegas de raiva
      E o Diabo será teu guia
      — É um dia,
      é um dedo, é um dado,
      É um dado, é um dedo, é um dia!
      PRETINHO
      — Cego, respondeste bem,
      Como quem fosse estudado!
      Eu também, da minha parte,
      Canto versos aprumado
      — É um dado, é um dia, é um dedo,
      É um dedo, é um dia, é um dado!
      ADERALDO
      — Vamos lá, seu Zé Pretinho,
      Porque eu já perdi o medo:
      Sou bravo como um leão,
      Sou forte como um penedo
      É um dedo, é um dado, é um dia,
      É um dia, é um dado, é um dedo!
      PRETINHO
      — Cego, agora puxa uma
      Das tuas belas toadas,
      Para ver se essas moças
      Dão algumas gargalhadas
      — Quase todo o povo ri,
      Só as moças ‘tão caladas!
      ADERALDO
      — Amigo José Pretinho,
      Eu nem sei o que será
      De você depois da luta
      — Você vencido já está!
      Quem a paca cara compra
      Paca cara pagará!
      PRETINHO
      — Cego, eu estou apertado,
      Que só um pinto no ovo!
      Estás cantando aprumado
      E satisfazendo o povo
      — Mas esse tema da paca,
      Por favor, diga de novo!
      ADERALDO
      — Disse uma vez, digo dez
      — No cantar não tenho pompa!
      Presentemente, não acho
      Quem o meu mapa me rompa
      — Paca cara pagará,
      Quem a paca cara compra!
      PRETINHO
      — Cego, teu peito é de aço
      — Foi bom ferreiro que fez
      — Pensei que cego não tinha
      No verso tal rapidez!
      Cego, se não é maçada,
      Repete a paca outra vez!
      ADERALDO
      — Arre! Que tanta pergunta
      Desse preto capivara!
      Não há quem cuspa pra cima,
      Que não lhe caia na cara
      — Quem a paca cara compra
      Pagará a paca cara!
      PRETINHO
      — Agora, cego, me ouça:
      Cantarei a paca já
      — Tema assim é um borrego
      No bico de um carcará!
      Quem a caca cara compra,
      Caca caca cacará!

      Houve um trovão de risadas,
      Pelo verso do Pretinho.
      Capitão Duda lhe disse:
      —Arreda pra lá, negrinho!
      Vai descansar o juízo,
      Que o cego canta sozinho!
      Ficou vaiado o pretinho.
      E eu lhe disse:
      — Me ouça, José: quem canta comigo
      Pega devagar na louça!
      Agora, o amigo entregue
      O anel de cada moça!
      Me desculpe, Zé Pretinho,
      Se não cantei a teu gosto!
      Negro não tem pé, tem gancho;
      Tem cara, mas não tem rosto
      — Negro na sala dos brancos
      Só serve pra dar desgosto!
      Quando eu fiz estes versos,
      Com a minha rabequinha,
      Busquei o negro na sala,
      Mas já estava na cozinha
      — De volta, queria entrar
      Na porta da camarinha!

      [video:http://youtu.be/UKmhO4L0b7c width:600 height:450]

    1. Baba

       

      Nunca mais minha Araponga 
      Escutei cantar nas mata 
      Pra mineira que eu adoro 
      Eu nunca mais fiz serenata 

      [video:http://youtu.be/v06VQsNxt1M width:600 heigth:450]

      Quero meu pai e mãe abraçar 
      Ouvir o sabiá cantador 
      A campina o perfume das flor 
      Lá da serra ver o sol raiar

      [video:http://youtu.be/ivpuZb-rW4k width:600 heigth:450]

      Grande Jair, eu conheço todos os significados do vocábulos cantados pelo Téo [ sem ajuda do dicionário ] e isso é que é ser caipira, cariboca, capiau, tabaréu: um catrumano de responsa.

      O medicina fedegoso, facilmente encontrado nas áreas rurais, também faz bonito nas zonas urbanas.

      Há duas décadas, ou mais, estava observando uma “pelada” jogada por garotos, em Santo André, na Bahia, e um deles, o mais enfezado, chingava todo mundo de tabaréu.

      Eu demorei a descobrir o que era, porque não perguntei o seu significado e voltei ao sertão das Gerais, onde o vocábulo não é utilizado.

      Lembro-me, agora, de ter jogado umas “peladas’ na praia do Morro do Careca, em Natal, que, lá, era chamada de “baba” e, curiosamente, contava com muito nativo bom de bola, que sabia dar um “tapa caprichado na redonda”.

      Taí, nóis é jeca, mas é jóia!

      Fui!

      1. Veleu, Jns.

        Como se diz em Moc e região, e no Grande Sertão Veredas: Moço!

        Agradeço-lhe muito por ouvir de novo essa remota canção por João Mulato e Douradinho. Já tinha gostado quando a ouvi de primera, há tempos, sei lá quando, mas a dita se perdera na memória, aonde retorna graças a essa bela garimpage no youtube. 

  5. O que significa catrumano?

    Catrumano.

    O que essa palavra significa?

    Tendo sido criado no sertão de Minas, conheço desde menino o sentido dessa palavra para o sertanejo. Sua filologia é quadrumano, um modo criativo de dizer quadrúpede. No romance Grande Sertão: Veredas, segundo Antônio Houaiss a maior obra literária das américas, Guimarães Rosa usa dezenas de vezes a palavra, no sentido mais comum da região décadas atrás. Catrumano é o caipira dos caipiras, a pessoa menosprezada até mesmo pelos sertanejos. Os personagens catrumanos de GR são habitantes solitários ou grupais das encruzilhadas do sertão, em locais ermos, que vivem vidas de extrema primitividade. Comem macacos, tatus, calangos, mandioca, abóbora, maxixe e outras coisas afins e não usam sequer luz de lamparina, a mais rudimentar do sertão.

    1. Exatamente, Daniel. Na obra

      Exatamente, Daniel. Na obra de Guimarães Rosa, os catrumanos são mal vistos até pelos jagunços, como Riobaldo. Meio humanos, meio bichos, meio índios, meio não-índios, são o ameaçador limiar do inumano a que foram relegados, e que nos denuncia a todos. Que civilização foi (é) essa nossa?

      1. Cena tocante do GR sobre uma catrumana

        Jair,

        uma das quase infinitas passagens memoráveis do Grande Sertão, da qual você certamente se recorda, envolve uma catrumana que conseguia sobreviver não se sabe como com seu filho, num carrascal do norte mineiro. O grupo de Riobaldo extenuado de fome, um grupo sai para caçar e volta com um macaco que os jagunços comem com diversificada objeção . Em seguida, descobrem que não era macaco e sim um menino. Jagunços vomitam, outros se revoltam com os assassinos. Dia seguinte, o grupo se encontra com a mãe do menino, que já de longe acena e grita pedindo misericórdia. Poupada, a mulher cuida de agradar os jagunços, pois temia ser a próxima refeição. A cena expõe de forma tocante a que limites o comportamento pode chegar quando a sobrevivência é um desafio diário.

        1. Essa é mesmo inesquecível,

          Essa é mesmo inesquecível, Daniel. E tem também o espantoso e doloroso encontro dos jagunços com os “homens reperdidos sem salvação naquele recanto lontão de mundo, groteiros dum sertão, os catrumanos daquelas brenhas”…

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