O caráter criminoso das políticas de austeridade e a morte do Museu Nacional

Por Alexandre Fortes
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação UFRRJ
 

Na guerra, não há tempo para chorar.

Estamos assistindo à destruição do maior e mais importante acervo científico do país e os golpistas já estão querendo responsabilizar a UFRJ pela tragédia de hoje.

O Museu Nacional, além de tudo que significava como patrimônio e como instituição de pesquisa era o ponto natural de concentração das Marchas pela Ciência, o berço ao qual sempre regressava nossa maltratada e aguerrida comunidade científica. O porto seguro de todos que teimam em acreditar que esse país pode ser soberano e usar nossa imensa capacidade de produção de conhecimento para oferecer uma vida digna ao seu povo.

A perda é imensurável e irreparável. É verdade que ela expõe nossa incapacidade de fazer investimentos estruturais mesmo nos momentos favoráveis.

Mas, acima de tudo, escancara o caráter criminoso das políticas de “austeridade” transformadas em emenda constitucional. Para que nunca mais se repita a “aventura” de gastar com educação, saúde, cultura, ciência e tecnologia. Especialmente depois que se comprovou que esses gastos podem fazer a economia girar em favor do desenvolvimento e da redução da desigualdade.

Um país que deixa de vacinar suas crianças, que assiste ao crescimento da mortalidade infantil, que assassina 60.000 pessoas por ano, que vai colocar um psicopata imbecil que ensina crianças de colo a atirar no segundo turno, vai por acaso investir em cultura e ciência?

A gente séria e responsável do país certamente ficará aliviada de continuar a visitar o Louvre, o Metropolitan e British Museum sabendo que a gentalha não terá mais nem o gostinho de ver uma múmia ou um dinossauro por oito reais num lindo espaço público da Zona Norte.

E o aparato político, midiático, policial e judiciário golpista já dá todos os sinais de que vai se apropriar dessa calamidade para lançar uma nova ofensiva contra as instituições públicas de ciência e tecnologia, seus servidores e dirigentes.

 

 

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. Estranha coincidência…

    Coincidentemente, o jornalista Jan Teophilo, no JB de domingo, 2/9, dia da tragédia, relembrou a seguinte passagem atribuída a Winston Churchill, no artigo intitulado “SOS museus – II”:

    “A culpa, dizem todos, é da crise econômica. Mas é justamente em momentos como este que sociedades decidem o que querem de suas vidas. Dizem que, certa vez, perguntaram a Winston Churchill se não era mais adequado direcionar o orçamento dos museus britânicos para os esforços militares da 2º Guerra. O velho buldogue deu um trago no charuto, tomou um gole de uísque e respondeu: “se é para fechar os museus, porque entramos em guerra?””

  2. Revoltante mesmo, eu perdi

    Revoltante mesmo, eu perdi até o sono. Estou de queixo caído até agora. O prejuízo ali é incalculável: fósseis, coleções históricas, pesquisas. É um imenso tesouro, uma usina de valor, virando cinza.
    Não sei se alguém já digitalizou alguma parte daquele acervo, mas muita coisa não tem reconstrução e será apenas contada e recontada feito lenda, sem comprovação. E o desdém. O descaso com a própria história. Quem hoje governa o Brasil ou sente ojeriza ou é pobre, muito pobre, não conhece seu valor.

  3. Toda essa psico”pataiada”

    Toda essa psico”pataiada” imbecil golpista é tão patologicamente degenerada, acanalhada, criminosa, que é, sim, capaz de simplesmente destruir, sem comoção alguma, de uma hora para outra, sem pensar duas vezes, de repente, destruir um museu nacional inteiro com todos os seus inestimáveis valores materiais e simbólicos, só para ironizar/tripudiar sobre o presente e futuro do país, como se dissessem que se houve algum bem no/do passado não há mais perspectivas de retorno para eLe e que estaria tudo definitivamente, inexoravelmente finalizado, determinado. Tristes tempos.

  4. ” – a situação das artes e da

    ” – a situação das artes e da crítica no Brasil ressente-se do peso de uma tradição predominantemente literária. …”

    El Greco – Rodrigo Naves – ed. brasiliense – pág. 10.

  5. Acontecimento que será usado como cortina de fumaça do golpe.

    diversionismo

    1. Manobra us. nos órgãos legislativos ou deliberativos, consistente em desviar a atenção de seus membros para assunto diverso daquele que se discute, a fim de impedir-lhe a aprovação.

    2. P.ext. Qualquer recurso us. para despistamento; cortina de fumaça.

    [F.: diversão + -ismo, seg. o mod. erudito.] – http://www.aulete.com.br/diversionismo

    Mesmo porque derrubar um avião com candidato a presidente dentro não dá certo, se o candidato em questão está preso. Incendiar a carceragem da PF em Curitiba também daria muito na cara e os criminosos logo seriam desmascarados e presos.

     

  6. O FUNDO DO POÇO

    Finalmente chegamos.

    Chegamos concretamente ao fundo do poço.

    Um dos mais importantes museus do pais, o mais antigo, virando cinza e os bombeiros sem nem agua nos hidrantes para combater o fogo

    O passo anterior a essa tragedia foi assistirmos parte consideravel da nossa juventude apoiando e se mobilizando por Bolsonaro.

    É o fim.

    Nossa derradeira chance sera renascermos de novo, virarndo a pagina e com coragem  atacando todos os entraves de frente.

    Não é mais possivel, no seculo XXI haver um ministro da cultura que receba “para conversar” um grupo um grupo de indigentes mentais que pretende fechar exposições de arte e que apedreja fucionarios de museus.

    Ha anos uso o espaço deste blog, como comentarista, para afirmar que a lei Rouanet é uma aberração que sufoca a cultura.

    As verbas que deveriam ser destinadas, entre outras coisas, para a preservação de nossos museus é desviada para shows de Ivete Sangalo, Claudia Leite e outras futilidades do genero.

    Quem dirige nossa cultura são os departamento de marcketing das grandes empresas.

    Assim aquele horroroso museu do amanhã, agredindo a paisagem na terra de Niemeyer, consegue desviar milhões e milhões para aquele mausoleu de shows pirotecnicos, sem sentido.

    Estamos em situação tão, tão ruim que poucos arquitetos e intelectuais se manifestaram contra aquela agressão a cultura e a paisagem do Rio.

    Talvez a ultima chance de nosso pais ser forçado a assistir a cena daquele tenebroso incendio para acordar.

    Talvez, somente assim, as pessoas um pouco mais informadas lutem para rejeitar a ideia da possibilidade de um presidente como Bolsonaro, um capitão ignorante e boçal.

    Talvez so olhando aquelas cenas grotescas para os brasileiros se entenderem que a cultura não é diversão de show de sertanejo ou axe, mas de crescimento intelectual de um povo, unico instrumento para o progresso.

    Naquela carnificina que foi a II Guerra Mundial, os paises defendiam suas fronteiras, suas cidades, mas sobretudo seus museus, seus patrimonios culturais. Nos os deixamos virar cinzas.

    Sem eles a historia fica mutilada e o futuro enfraquecido.

    Acorda Brasil, as chances são minimas, mas ainda existem.

  7. Com os militares em 64, os

    Com os militares em 64, os EUA garantiram 21 anos de atraso pro Brasil.

    Agora com a EC, do Teto dos gastos, garantem outros 20 anos de atraso.

    Brasil como 5ª economia mundial em 2018 ? Never.  O plano deles é de 15º pra lá…  

  8. Tragédia
    Impossível, como cidadã e como professora, não sofrer com a morte desse Museu, com as perdas pra população brasileira, com raiva dessa política segregacionista que condena a população pobre abaixo da casinha do cachorro. “E o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre. O motivo todo mundo já conhece: é que o de cima sobe e o debaixo desce”. E se todo mundo conhece por que não muda?

  9. NÃO É A MESMA MÃO QUE ASSASSINOU MARIELLE?

    Esta tragédia é resultado de Política de Austeridade ou Política ainda maior, sendo a menor que existe? Como, depois de 40 anos redemocráticos, descobrimos que os párias que acreditávamos serem os Gigantes que levariam o Brasil à sua condição natural, não passam destes ratos que destruiram esta Nação depois da Anistia de 1979. O incêndio que destrói a História e a Nação Brasileira no Museu Nacional, não é a mesma Política que destruiu o Museu da Lingua Portuguesa? Que destruiu o Memorial da América Latina? Que destruiu o Liceu de Artes e Ofício? Que está fechando por duas décadas o Museu do Ipiranga? Ou será que é tudo coincidência? Afinal estamos na Pátria da Coincidência e da Inocência, não é mesmo?  

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