O problema de São Paulo é pior do que os gráficos indicam.

Venho alertando sobre outros fatores que não são considerados por métodos hidrológicos mais tradicionais que não consideram a climatologia de climas secos, ou seja, a verificação da intensidade da seca. Para se obter este grau de intensidade de seca é necessário calcular o Palmer Drought Severity Index (PDSI) ou outros índices desenvolvidos a partir de PALMER, que traduzido significa Índice de Severidade de Seca de Palmer, e se isto for calculado se verá que está muito pior do que gráficos de chuvas ao longo do tempo e armazenamentos indicam.

Palmer em (1965) definiu período de seca como: “an interval of time, generally of the order of months or years in duration, during whitch the actual moisture supply at a given place rather consistently fallls short of climatically expectd or climatically appropriate moistura supply” . (quem quiser saber mais leia in: ALLEY, William M. 1984. The Palmer Drought Severity Index: limitations and assumptions. J Clim Appl July 1984.

Porque desta definição de seca levando em conta um período que pode exceder o ano hidrológico em vários anos? Simplesmente porque a UMIDADE DO SOLO deve ser levada em conta, e no caso, além disto, tem outro problema a infiltração.

O que acontece em São Paulo. A região entrou num ciclo de seca, coisa que era uma heresia se dizer a trinta anos, pois o clima era considerado como algo aleatório em torno de uma média sem ciclos. Com o avanço da climatologia para o problema do aquecimento global antropogênico (AGA), não se tem grandes conclusões sobre o AGA, porém o estudo do clima com mais cuidado revelou que o clima tem vários ciclos mais ou menos periódicos e que se superpõe. 

O gráfico 10 de ZUFFO, Antônio Carlos O Sol, o motor das variabilidades climáticas na Revista do DAE, 198, Jan-Abr 2015, aqui reproduzido, mostra no município de Campinas de 1910 até 2014, 104 anos a existência de períodos longos de seca e de cheias que o autor identifica em torno de 35 anos. Para estes períodos há picos altos e baixos que se sucedem. Caso ele tivesse dados paleo-climáticos com séries mais longas, provavelmente o autor apresentaria outros ciclos mais longos se sobrepondo a este.

 

Quando se entra num período seco podem ocorrer alguns anos chuvosos, mas certamente uma percentagem maior de anos secos do que chuvosos. Palmer definiu o índice para comparando séries mais longas de chuvas e umidade do solo, verificando a intensidade da seca e os danos que esta provoca.

Secas mais intensas provocam solos mais secos e rebaixamento do lençol freático. AÍ VEM O PIOR, quando há um ano com mais chuvas neste período seco esta chuva serve para ABASTECER O LENÇOL FREÁTICO, parte da chuva passa diretamente aos rios e parte se infiltra. 

Também como efeito local junto aos inúmeros reservatórios do sistema, há um rebaixamento suplementar do nível do lençol freático e quando a chuva retoma este “reservatório subterrâneo” é cheio pelos reservatórios externos, não acumulando muita água mesmo com chuvas mais intensas.

O que se vê com isto é que um sistema de abastecimento no limite, como o Sistema Cantareira, o dimensionamento do volume útil para uso deveria levar em conta o estado do PDSI do mesmo, pois se estivermos numa situação de seca mais intensa a verificação convencional que os hidrólogos fazem de repetir cheias aleatórias e com uma transformação chuva-descarga verificar o que sobra para o consumo, não é satisfatório.

Num gráfico com período mais curto, porém atingindo até o último mês, Luis Queiróz no Blog “O Cantareira Hoje”, mostra a reação do Sistema Cantareira ao atual período seco.

 

Como se vê o Sistema está já em stress, não conseguindo recuperar o volume mesmo com chuvas razoáveis no verão de 2014-15, bem maiores do que no verão de 2013-14. Em anos anteriores com vazões menores do que em 2015 o sistema se manteve, porém com o aumento do consumo e com as condições de solo seco, um cenário de seca, a resposta dos níveis dos reservatórios é outra.

Todos os países mais civilizados e com secas que impactam a produção agrícola, como Portugal se guia por este índice e os jornais locais mostram o PDSI, no lugar de mostrar simplesmente os volumes dos reservatórios, como a Folha divulgou na sua edição de 07/09/2015, com uma verdadeira fraude científica, mudar a origem do eixo das ordenadas do gráfico sem indicar na figura. No caso português, por exemplo, em Mais de metade do país está em seca severa (Portugal) há uma informação mais correta e balizadora da sociedade, ou seja, os jornais portugueses fazem reportagens e não reporcagens como os brasileiros.

 

Conclusão, mesmo que chova intensamente no período de cheias nada indica que os reservatórios segurarão dois ou mais anos de falta de chuva. 

Em resumo: Tá bem pior do que se pensa.

Redação

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