Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O restaurante Massimo nos bastidores do poder

Massimo Ferrari, um dos irmãos que comandaram o restaurante por 37 anos

Por André Araújo

O RESTAURANTE MASSIMO NOS BASTIDORES DO PODER – Certos restaurantes se tornam emblemáticos na política. Em Brasília funciona o histórico Piantella das Diretas Já, em Washington o Prime Rib, com um excelente piano ao centro, restaurante de carnes e ponto dos senadores do Capitólio, tanto Democratas como Republicanos.

Em São Paulo o restaurante MASSIMO, que fechou as portas após 37 anos, foi o centro do poder no auge do governo militar nas décadas de 70 e 80,  uma casa única em São Paulo, criação dos irmãos Massimo e Venanzio Ferrari, seu grande bar permitia conversas sigilosas, as mesas eram afastadas, o restaurante era clássico de cozinha do Norte da Itália, introduziu o carpaccio no Brasil, a adega era esplêndida, especialmente de vinhos piemonteses de alta linhagem, o Massimo fazia importação direta da Itália. As mesas de políticos importantes eram obrigatórias todos os dias e especialmente aos domingos, quando via-se Orestes Quércia, Ulysses Guimarães, Delfim Netto, Antonio Carlos Magalhães, Almino Afonso, a nata do empresariado paulista, a frequência era o top da FIESP e com muitos forâneos de passagem pela cidade. Massimo Ferrari recebia à porta, com seus inseparáveis suspensórios, na entrada havia uma enorme barca com vinhos, evidentemente o restaurante era bem caro mas comme d´habitude muitos políticos não pagavam, ficavam na “cortesia”. Delfim tinha a mesa fixa, de número 12, onde recebia o beija mão do empresariado no auge de seu poder.

No segundo andar havia um salão de eventos onde certa vez veio uma nutrida delegação do Iraque de Saddam Hussein, chefiada pelo engenheiro Barak, estiveram em São Paulo para comprar máquinas para uma cidade automobilística ao redor de Bagdah, ofereceram um almoço e os industriais paulistas estavam ansiosos para agradar os iraquianos que, segundo se dizia, tinham 10 bilhões de dólares para gastar no empreendimento.
 
O Massimo era o locus ideal para esse tipo de encontros, grandes espaços, boa comida, local elegante.
 
Infelizmente nos anos 2000 entrou em decadência e o tiro mortal foi a briga entre os irmãos Massimo e Venanzio.
 
Do primeiro ao último dia de seus 37 anos de existência nunca aceitou cartão de crédito, pagamento só em dinheiro, cheque ou assinando a nota e depois a secretária do cliente se encarregava de mandar pagar, a clientela tinha gabarito para esse antigo sistema de pagamentos entre pessoas que se conhecem e dispõe de crédito na casa.
 
O Massimo é a memória dos anos do milagre econômico, dos anos Delfim, do governo Sarney, da curta era Collor.
 
Tornou-se uma referência nostálgica e hoje, ao passar pelo outrora imponente prédio da Alameda Santos, só se vê um terreno vazio, o prédio foi demolido, como foi o passado em que pontificou como o melhor restaurante de São Paulo para uma clientela refinada que tampouco existe mais nos dias tormentosos e deselegantes de hoje.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

12 Comentários

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      1. Não esqueça

           Da receita do “bollito misto “.

           P.S.: O Barak ( era Al – Tikrit, mas distante ), fechou com os franceses da SAVIEM e suecos da Scania, para caminhões, e em relação a onibus com uma empresa hungara, que não lembro o nome.

           

  1. Elegância

    Até podia ser elegante, mas a frequência era de vomitar: Orestes Quércia, Ulysses Guimarães, Delfim Netto, Antonio Carlos Magalhães, Almino Afonso.

  2. A aderência dos novos ricos nos restaurantes de SP

    Sabe-se que muitos cresceram de forma honesta, trabalhadora, juntando centavo por centavo e, mesmo assim, permanecem discretos, longe dos holofotes do colunismo e bajulações. No entanto, há uma parcela considerável de emergentes que abusam da boa cordialidade. São uns monstrengos, ávidos por externalizar suas preciosidades, em parte, de gosto profundamente duvidoso. 

    Restaurantes são bons lugares para dar de cara com essa nova nata. São assíduos de estabelecimentos na Rua Barão de Capanema ou na Alameda Lorena. São grossos no modo, nos trejeitos e na forma de pensar. Riem alto, não são nada discretos. “Elegância” botoxada em grifes “modernas”, camisas com bermuda e mocassim (o máximo da elegância para um almoço dominical nesses estabelecimentos – deveriam ter um code mínimo para isso). Carecem de finesse e principalmente de conhecimento em cultura, história. Não sabem nada de história, não sabem nada de cultura e artes. Compram artes sem saber o que são, somente pelo simples fato de serem caro. Afora a conversa, papinho chato que se resume a hobbies.

    Em suma, se não há mais restaurantes de poder, não há mais sequer gente com faro de poder. Só se preocupam com seus benezes materais. Esses os novos ricos que entopem restaurante ditos “guia michelin” de SP

    1. Voce tem toda razão. Uma

      Voce tem toda razão. Uma classe com certa elegancia existiu em São Paulo até os anos 70, com muito boa vontade até a Era Collor. Depois disso acabou. Hoje e bermudão e muitos, MUITOS, com sandalia havaiana, essas de dedão de fora, fazendo contraste com a madame que geralmente se veste com apuro, mesmo que derrapando no bom gosto, para o almoço.

      É um desfile de horrores, falam alto, quando é mesa de seis é uma bateção nas costas de pé, incomodando as mesas fronteiriças, quando vejo mesa de mais de seis na vizinhança nem sento ou procuro um canto mais tranquilo ou vou a outro restaurante.O apogeu é mesa de 12 e comemorando aniversario com pique pique e tudo, ai nem de graça.

      Não há code no Brasil de nada. Se vc reclamar com o maitre de barulho em mesa perto o maitre nem se mexe sabe porque?

      Na cultura brasileira de 500 anos o pessoal da casa é serviçal do cliente e ele não ousa admoestar o “doutor” que muitas vezes não tem nem o curso primario, o que mais tem em São Paulo é rico sem escola.  Mas a bem da verdade a questão de uma mesa incoveniente é rara, aconteceu comigo duas vezes,uma  de ter que pedir para mudar de mesa e outro pedir a conta e ir embora, não há hipotese do restaurante chamar a atenção do cliente, porque este dificlmente reage bem à admoestação.

      Nos almoços dominicais do Ca D´Oro da decada de 70, vou fazer um post sobre isso, muitos comensais estavam de terno e gravata em pleno domingo, o ambiente era vetusto como um convento marista, barulho só dos pratos e talheres, esse mundo acabou com os cafonas da era Colloer, eles se tornaram ousados e ai enterraram a finesse em São Paulo.

      Refinamento é um produto de educação em criança, há raras exceções, leva gerações, exige cultura verdadeira, de leitura e frequencia a teatro, opera, chá das cinco, professor particular de arte, não cai de paraquedas junto com o cheque da colheita de soja, requer especialmente a decantação do tempo e português correto em casa.

      Na decada de 50 os ricos da imigração se espelhavam nos nomes tradicionais dos quatrocentões que eram geralmente bem educados, as escolas religiosas tradicionais davam uma certa pátina de boa educação, o mal educado não era bem recebido na chamada “sociedade” e pelo caminho havia “filtros”, um boçal não passava por eles. Hoje basta o cartão de credito e o boçal vai onde quiser nos bares, restaurantes e casas de espetaculos MAS ainda há um filtro apertado em São Paulo que não existe no Rio: as festas particulares são muito fechadas e quem fala “nois vai” ou “”isso daí”” não tem muito espaço mesmo com muito dinheiro porque os anfitriões tambem tem muito dinheiro e não são obrigados a tolerar grosseirões.

      1. « Eleva-se do caos o mundo do espírito »!

        “A partir destas palavras, que Adam Mickiewicz escrevera numa hora de grande aflição para a pátria polaca, formulo um voto para vós: que a vossa arte contribua para a consolidação duma beleza autêntica que, como revérbero do Espírito de Deus, transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentido do eterno!

        Com os meus votos mais cordiais!

        Vaticano, 4 de Abril de 1999, Solenidade da Páscoa da Ressurreição.

        JOÃO PAULO PP. II”

        http://brabantseprijsvoordeschilderkunst.com/carta-do-papa-joao-paulo-ii-aos-artistas-1999/ 

  3. Mudos

      Ainda bem que certos restaurantes fecharam, pois se suas paredes falassem, tinha muito politico, até mesmo um dos atuais “éticos”, para o qual em priscas eras estive na campanha, tremeriam na base, afinal quantos “caixas” foram solucionados em meio a regabofes.

  4. ” O Principe e a buchada “

      Foi uma vez, certo eminente politico brasileiro, “principe dos sociólogos”, pessoa afavel, educada, de fino paladar sorbonesco, a época habitué de certo ( já fechado ) “ristoro romano ” em Higienópolis ( Pça. Vilaboim ), quando em campanha para prefeitura visitou o bairro do Pari, e teve que enfrentar no almoço, a famosa “Buchada de Bode” do Galinhada do Bahia, um local que hj. em dia é até “fino”, mas na época………

       Instado por jornalistas a comentar sobre o acepipe, declarou que era um admirador, pois recordou-se de suas vilegiaturas gastronomicas parisienses, tecendo as semelhanças entre nossa “buchada” e as “Tripes a la mode de Caen”, pratos que muito lhe apetecia. E PEGOU

       O puxa saquismo tipico de nossos “restaurenteurs”, incluindo o Massimo, Fasano, Freddy, Ca d’ Oro, Antiquarius, ofereceram a nosso caro gastronomo a oportunidade de provar suas iguarias, baseadas no miudo bovino, obvio que a melhor é do Freddy ( não esta no cardápio, tem que encomendar , eu prefiro a antiga do Le Casserole, questão de gosto ).

        Só teve um problema : O “Principe” detesta miudos, sempre odiou, mas o que comeu quando candidato a Presidência, dá para encher a agropecuaria dele de bois, sorte só teve quando estava no Piaui/Maranhão, ao deliciar-se com “Pintade aux pommes de terre ” ( Galinha da Angola com batata ), ou  ” Sole grillé avec crevettes flambé ” ( linguado com camarão flambado ao cointreau, sem curry , que ele não gosta ), e depois desta demonstração de finesse, tivemos que aturar sardinha e churrasco no “Los Fubangos” – foi muita pobreza.

         AA, lembra da D. Dulce ? : Madame Choukron / Regine’s e o “criador de coelhos” ( N.N. , vc. sabe quem é ), na primeira apresentação do Julio Iglesias ( faz tempo ), após o show, foi servida uma salada “Waldorf”, em serviço francês, e D. Dulce teve um “ataque”, pois no prato a ela servido, as endivias estavam “sujas”, com umas “bolinhas pretas fedidas”, a 1a Dama não conhecia o “beluga” ( para os “pobres ” – fora da mesa principal – era o vermelho ), quem explicou a ela o que era, foi um cantor muito rico, de familia, da jovem guarda. Cara, foi hilário.

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