Piovesan diz que manter Direitos Humanos como secretaria é retrocesso

Jornal GGN – Flavia Piovesan, nova titular da Secretaria de Direitos Humanos, afirma que a perda de status de ministério da pasta é “lamentável”. A gestão de Michel Temer incorporou os Direitos Humanos ao Ministério da Justiça, e Piovesan diz que vai trabalhar para reverter esse recuo, afirmando, também, que o retrocesso começou ainda no governo da presidente Dilma.

Professora da PUC-SP, Flavia Piovesan diz que suas prioridades na secretaria serão a prevenção da violência contra negros, homossexuais e mulheres. 

Da BBC Brasil

Manter Direitos Humanos como secretaria é ‘retrocesso lamentável’, diz nova titular da pasta

A nova titular da Secretaria de Direitos Humanos – que na gestão Michel Temer foi incorporada ao Ministério da Justiça -, Flavia Piovesan, diz que a perda de status de ministério da pasta é “lamentável”, mas opina que o retrocesso começou na gestão anterior, de Dilma Rousseff. Ela afirma que trabalhará para “reverter esse recuo”.

Em entrevista à BBC Brasil, Piovesan afirma que suas prioridades como secretária, sob o guarda-chuva do ministério comandado por Alexandre de Moraes, serão a prevenção da violência contra negros, gays e mulheres.

Durante a conversa, ela demonstrou agitação e muito entusiasmo ao falar sobre as suas expectativas à frente da pasta.

Leia os principais trechos:

BBC Brasil: A senhora tem a confiança de muitas entidades de direitos humanos. Não tem o receio de prejudicar a sua imagem ao assumir uma pasta de um governo duramente atacado por elas?

Flavia Piovesan: Sou uma pessoa vocacionada aos direitos humanos e digo que o meu partido são os direitos humanos. É isso que vai me mover. A minha condição (para assumir a pasta) foi que eu pudesse externar as minhas posições e avançar nas pautas em que acredito. Eu tenho o dever e a responsabilidade agora de poder, com todo o meu esforço e entrega como pessoa obcecada pela causa, frear retrocessos e poder fomentar avanços nessa causa.

BBC Brasil: Como a senhora vê a pasta de Direitos Humanos ter sido mantida pelo governo Temer apenas como uma secretaria? Isso demonstra uma desvalorização?

Piovesan: Eu acho uma pena. Eu acho que ela começou como Secretaria Especial na época do (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso, ganhou status ministerial no governo Lula, junto com a pasta das mulheres e da raça, e, infelizmente, houve um retrocesso na última gestão da presidente Dilma (Rousseff) por uma política de austeridade.

Já houve a fusão, esse downgrade. É lamentável. Eu lamento essa medida que foi tomada antes, não por esse governo que assume, mas herdada por ele. E quem sabe possamos reverter isso. Vamos trabalhar.

BBC Brasil: Como a senhora vê a quase ausência de mulheres na gestão Temer?

Piovesan: Acho que está tendo uma democratização. Acho fundamental uma democratização no poder político, a diversidade. Fiquei muito feliz em termos uma mulher no BNDES. Nunca houve antes uma mulher no BNDES. É um locus muito importante para o exercício do poder.

Então, eu entendo que passo a passo nós vamos caminhando na busca pela democratatização e diversidade, tão fundamental no exercício do poder.

BBC Brasil: Mas a senhora não considera pouco haver apenas uma mulher no BNDES e outra na Secretaria de Direitos Humanos?

Piovesan: Claro. Tem que avançar e espero que avancemos. Eu creio que temos que avançar em todas as áreas. No Executivo, no Legislativo, onde as mulheres são ainda 10%, no Judiciário. Ainda é muito reduzida nossa representatividade.

BBC Brasil: O governo já a procurou para traçar planos?

Piovesan: Não. Eu estou nisso há mais de 20 anos como militante, pesquisadora, professora e acho muito importante termos o diagnóstico: onde estamos e para onde vamos.

Quais são as prioridades? O tempo é curto. Quais são os temas majoritários? Eu diria que são três. A temática da violência contra a mulher: como combater, prevenir e implementar de maneira mais plena a Lei Maria da Penha em todo o país. A temática das ações afirmativas para os afrodescendentes que o Supremo julgou como constitucional por unanimidade. Eu creio que esse é um pleito muito importante para a inclusão da população afrodescendente e para responder à situação de racismo estruturante que caracteriza a nossa sociedade.

O (terceiro tema majoritário é) a homofobia. Não podemos admitir desperdício de vidas em razão da intolerância pela diversidade sexual.

Nós temos temas que gritam. Costumo dizer que ao lidar com direitos humanos lidamos com a dor humana. E qual é a nossa resposta? De que maneira essa dor pode ser acolhida e fomentar mudanças em políticas públicas e marcos legislativos?

Eu creio que esse é o grande desafio. Identificar prioridades, estratégias e sempre buscando diálogo construtivo com movimentos sociais na sua pluralidade, com as suas pautas, suas reivindicações.

Eu me proponho a ser um vetor nesse sentido, uma mediadora, e a construir esses espaços.

BBC Brasil: Então suas prioridades serão as pautas de violência contra homossexuais, negros e mulheres?

Piovesan: Isso. Além de crianças, adolescentes e o tema dos refugiados e detentos. Hoje, nós rompemos com a indiferença às diferenças. As diferenças são visibilizadas e há uma proteção especial a elas, em razão das vulnerabilidades específicas que sofrem as mulheres, as crianças, os idosos.

Então, acho muito importante termos uma proteção especial a essa vulnerabilidade.

Leia também: A equipe de Meirelles está no caminho certo para destravar a economia?

BBC Brasil: Algumas mulheres recusaram a pasta da Educação e até argumentaram que não fazem parte de um “governo golpista”. Alguns de alunos seus também criticaram a sua decisão de assumir a Secretaria de Direitos Humanos.

Piovesan: Eu tenho profunda admiração pela presidente Dilma e profundo respeito por ser a primeira mulher a exercer a Presidência da República. Agora, como professora de Direito Constitucional, não vejo qualquer golpe. A Constituição prevê no artigo 85 o crime de responsabilidade, que é regulamentado pela lei de 1950. É um tipo aberto a elemento de politicidade e que passa por um juízo político que é o Senado.

Então, o julgamento é político. O crime é político. Tanto é que a posição do Supremo, na minha opinião, é tão somente fiscalizar a lisura procedimental, se os procedimentos foram adequados, e não reverter a decisão do Senado.

Então, eu creio que foi um processo doloroso sim, mas, na minha opinião e com todo o respeito a opiniões diversas, eu não vejo golpe.

Eu respeito muito e acho que o momento agora é de buscar o pluralismo, a tolerância, o diálogo. Eu cito no meu último artigo do jornal O Globo uma matéria de vocês (BBC Brasil) que fala de uma criança que desenhou a Dilma sendo enforcada. Isso mostra esse acirramento, esse ódio.

Eu acho que é o momento de dialogarmos e de lutarmos pelo pluralismo – e não dessa separação, desses muros, dessa polarização.

BBC Brasil: Qual a avaliação da pasta hoje, da forma que ela foi deixada pela gestão Dilma?

Piovesan: Isso eu vou ficar te devendo. Eu ainda estou em São Paulo, na Procuradoria, mas eu quero prestar o meu testemunho sobre o excelente trabalho prestado pelo Mário Miranda, pela Maria do Rosário, pelo Pepe Vargas, pelo Rogério Sotille (ex-titulares da pasta). Todos eles prestaram sua contribuição e chegou a minha vez de tentar prestar também uma contribuição importante.

Foram acúmulos de lutas. Essas pastas concentram acúmulos de lutas e são locus importantes para que nós possamos avançar na causa.

BBC Brasil: E houve avanços nos últimos anos?

Piovesan: Sem dúvida houve avanços nos últimos anos. Não só no campo normativo, mas também nas políticas públicas.

 
Redação

15 Comentários

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    1. Quanta incoerência!

      A professora aceitou fazer parte de um “governo” tabajara liderado por um usurpador sem votos, como secretária. Portanto, de que está reclamando, afinal?

  1. Com Alexandre de Moraes no ministério da justiça declarando guer

    Com Alexandre de Moraes no ministério da justiça declarando guerra aos movimentos sociais, com o Demo controlando a educação e provocando os estudantes, com o ministério da agricultura hostil à reforma agrária, com o ministro das cidades cancelando a construção de 11 mil casas do programa minha casa minha vida, vai ser difícil qualquer tipo de consenso em torno da proteção dos direitos humanos. Infelizmente a Flávia Piovesan não passa de mais uma ingênua útil. A única coisa que ela está fazendo nessa secretaria de fachada é emprestar sua biografia para legitimar o golpe de estado da dupla Temer-Cunha.

     

    1. Isso aí.
      Não se tem política

      Isso aí.

      Não se tem política de direitos humanos em abstrato. Esta depende do que se faz concretamente pela igualdade de direitos entre os que estão em situações diferentes. Mas no capitalismo isso não tem se mostrado possível. 

  2. Ela não fala a verdade,

    Ela não fala a verdade, quando diz esperar avanços. Podia ser franca em dizer que os avanços contidos nos governos petistas acabam de sofrer um retorcesso. Sabe disso, como não desconhece que sem a grita da população ela não teria sido convidada para coisa nenhuma. Vai ser, talvez, uma figura decorativa subordinada ao ministro-chefe.

    E, afinal, ela vai focar nas mulheres, nos negros, homossexuais e mulheres. Só? E os índios, vão ficar desamparados mais uma vez na nossa história? E os jovens de periferias e favelas, independntes de serem negros, e que apanham, são torturados e mortos todos os dias, principalmente em São Paulo?

    Flávia Piovesan não vai passar muitos meses nessa secretaria. É mais provável se indispor, de cara, com o Ministro da Justiça, que não gosta de cidadania, arrumar as trouxas e voltar pra casa, envergonhada por participar de um governo golpista, que não tem nada a ver com o que ela diz ser.

  3. É a folha de parreira do

    É a folha de parreira do golperno (apud Marcelino Freire) Temer.

    Se bem que acha que estamos no parlamentarismo.

  4. Aliada de Traidor e Gângster

    Flávia Piovesan esta dando suporte político para um governo golpista e repleto de bandidos.

    Seus argumentos são sofismas e ela sabe que é uma aliada de Cunha e sua quadrilha.

  5. Flávia Piovesan é procuradora do estado de são paulo

    Flávia Piovesan é procuradora do estado de são paulo. Ela pode assumir cargo no executivo federal, sem se afastar definitivamente (demissão ou aposentadoria) da procuradoria? O caso do procurador da Bahia, que iria assumir o Ministério da Justiça, mostra que não. Basta alguém entrar com a ação questionando a nomeação.

  6. >>> Carta aberta a Flávia

    >>> Carta aberta a Flávia Piovesan (e Marcelo Calero) <<<

     

     ROMULUS___QUA, 18/05/2016 – 20:13ATUALIZADO EM 18/05/2016 – 20:34

    – Discurso altruísta, menos verossímil que a alternativa, é muito comum entre colaboracionistas com problemas de consciência e de censura entre os pares.

    – Poupe-se do esforço das entrevistas e do vexame de tentar novamente aplicar photoshop à foto em que saiu muito mal.

    – Interlocutor: “Vergonha eu tenho da Piovesan. De gente carreirista como ele (Calero) só se espera isso mesmo. O cara que não sabe nada e topa qualquer coisa”.

    * * *

    À Profa. Dra. Flavia Piovesan, LEIA MAIS »

    1. Lamentavel

      BBC Brasil: Algumas mulheres recusaram a pasta da Educação e até argumentaram que não fazem parte de um “governo golpista”. Alguns de alunos seus também criticaram a sua decisão de assumir a Secretaria de Direitos Humanos.

      Piovesan: Eu tenho profunda admiração pela presidente Dilma e profundo respeito por ser a primeira mulher a exercer a Presidência da República. Agora, como professora de Direito Constitucional, não vejo qualquer golpe. A Constituição prevê no artigo 85 o crime de responsabilidade, que é regulamentado pela lei de 1950. É um tipo aberto a elemento de politicidade e que passa por um juízo político que é o Senado.

      Então, o julgamento é político. O crime é político. Tanto é que a posição do Supremo, na minha opinião, é tão somente fiscalizar a lisura procedimental, se os procedimentos foram adequados, e não reverter a decisão do Senado.

      Então, eu creio que foi um processo doloroso sim, mas, na minha opinião e com todo o respeito a opiniões diversas, eu não vejo golpe.

  7. Bate forte e aceita.

    Bate forte no governo de Temer e aceita?

    Nunca vi tamanha incoerência.

    Parece piada: falar em direitos humanos com um governo que tem, apoio, em  figuras como Bolsonaro que foi repudiado inclusive por entidades internacionais?

    Vá contar para outro.

     

     

  8. Alias, ja tem mais depois da carta…

    Como “Professora de Direito Constitucional” que diz por isso saber que o “não houve golpe” (sic), ela certamente também sabe que o direito à informação é um direito individual.

    Como pergunto no post abaixo, o que ela acha da medida provisoria – formalmente inconstitucional (e materialmente tambem) – que desmonta a EBC e a transforma no DIP do Temer?
     

    Golpe mete a mão na TV Brasil: quer DIP do Séc. XXI       

     ROMULUS                     QUI, 19/05/2016 – 08:22ATUALIZADO EM 20/05/2016 – 07:44

    – Devíamos aproveitar sua luxuosa presença no gabinete do golpe e perguntar à CONSTITUCIONALISTA Flavia Piovesan o que ela acha, não é mesmo?

    – “Bem-vinda (ao golpe), querida!”

    * * *

    Claramente não há urgência, no sentido da CONSTITUICÃO, para um governo >>INTERINO<< mudar a lei sobre o funcionamento de uma TV Pública através da edição de uma medida provisória!

    É claramente uma “pedalada” constitucional para poder apresentar um prato feito ao Congresso e evitar o debate. Discussões no Congresso explicitariam o caráter ditatorial da iniciativa, qual seja: criar um novo DIP do Estado Novo varguista para o século XXI. Isso seria reverberado na internet fartamente e até em certa medida na grande imprensa, como vemos aqui.

    Por falar nisso, impressiona a falta de análise e de crítica na reportagem da Folha sobre o tema, reproduzida adiante a partir de post aqui no GGN.

    Senão vejamos o seguinte trecho: LEIA MAIS »

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