Por que Temer ainda é presidente?, pergunta The Guardian

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – “Temer foi acusado de corrupção, agressão e obstrução à Justiça. Mas não houve nenhum dos enormes protestos de rua contra a corrupção que ajudaram a impulsionar o impeachment de Rousseff sob acusações de quebrar regras do Orçamento”, publicou o diário britânico The Guardian, nesta terça-feira (17).
 
O título da crítica de quem olha de fora para a crise política no Brasil já resume o que vem nas linhas seguintes: “Acusado de corrupção e popularidade quase zero: por que o presidente do Brasil ainda continua no Poder?”.
 
O enviado do jornal da Inglaterra ao nosso país veio tentar entender o que acontece, se a lógica foge inclusive no histórico de manifestações que partiram das insatisfações populares dos últimos anos: “Se o recente declínio no Brasil fosse traçado pela queda da popularidade de seus presidentes, Michel Temer representa o ponto fora da curva”.
 
O jornalista Dom Phillips explicou aos cidadãos europeus que Lula terminou o segundo mandato com 80% de aprovação popular. Dilma teria sido impulsionada a sair pelo impeachment diante de um quadro de 10% da aprovação. Até aí, traça o jornal, algo de lógica. Mas Temer tem hoje 3% de apoio dos brasileiros, chegando a zero na faixa etária de menores de 24 anos.
 
Em seguida, o britânico mergulha em algo de raciocínio que sustentaria o peemedebista completamente anti-popular no posto maior da República brasileira: “Temer obteve o apoio do mercado financeiro, que gosta das medidas de austeridade que ele introduziu, como a privatização dos serviços governamentais, um teto de 20 anos para as despesas públicas e uma revisão das aposentadorias”.
 
A explicação também foi emprestada de uma recente declaração do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Roberto Barroso, em palestra no Rio de Janeiro, no qual disse que estes políticos [da base governista] são pessoas “poderosas, têm aliados, parceiros e cúmplices em todos os lugares, nos mais altos níveis, nos poderes da República, na imprensa e onde menos se imagina”.
 
Lembrando que, na prática, tais medidas não tiveram efeitos, uma vez que elas favorecem os ricos e prejudicam os pobres, a reportagem de The Guardian destaca que, apesar de o “mercado não se importar muito com a desigualdade”, as tomadas dessa gestão “ameaçam infligir novos danos às instituições do país”.
 
Isso porque, na análise de Dom Phillips, a falta de confiança da população na política nacional é o que abre brechas ao apoio de “uma solução autoritária para a crise – o que poderia ter sérias consequências nas eleições presidenciais do próximo ano”.
 
Neste cenário de extremismos, o jornal menciona o deputado Jair Bolsonaro, “um ex-capitão do exército, cuja mensagem de extrema-direita, autoritária, ganha um bom desempenho com aqueles que estão irritados com a corrupção, bem como os eleitores petrificados pelo crescente nível de violência no Brasil”.
 
Ao abordar figuras da extema-direita, a matéria do The Guardian acrescentou a recente manifestação do general Antonio Mourão, sobre uma possível interferência militar na vida pública, caso os envolvidos em atos ilícitos não deixassem cargos de poder.
 
 

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. A resposta já estava pronta

    só faltava a pergunta do milhão.

    Chato ela vir de fora.

    Se com 3% de popularidade o temerinho,sem  recato e sem lar governa tranquilo, mandando as suas indefectíveis e chorosas cartinhas aos congressistas queixando-se de “perseguições políticas” não obstante a sua imaculada “inocência” -(pobre homem!) e ainda espera que o congresso o incense com a mais acolhedora proteção, só uma conclusão nos resta:

    Apenas 3% dos brasileiros falam por 97% dos demais brasileiros, decidem o que os 97% devem ter , ser, fazer ou gostar e quando devem ou não mostrar que existem.

  2. Temer é Presidente?

    Para mim, Temer não caiu porque possui a retaguarda do Poder Judiciário, que lhe dá amparo nas suas falcatruas e a mídia que anestesia o povo com notícias positivas, pasmem, e assim o povo vai sendo manipulado por uma imprensa inescrupolosa e um Judiciário omisso.

  3. por que…..

    Por que vivemos uma farsa de Democracia, sob uma farsa de Constiuição. Temos uma Cleptocracia Ditatorial sob uma ConstiuiçãoCaricaturaEscárnioCidadã. Em Eleições Obrigatórias em Urnas Eletrônicas agora com Biometria Escravizante e Achacadora. E tem Lunático querendo justificar quie isto é Democracia?!! É Surreal nossa Aberração !!! 3 Presidentes indiretos entre 5, na volta da tal Redemocratização. O Povo assistindo a tudo, bovinamente. Nossa Elite querendo reconstruir o país a partir de Cambridge ou Harvard em Terras Americanas ou Inglesas. A mesma Elite Esquerdopata que acusou a um Jogador de Futebol por supostamente dizer que o Brasileiro não sabia votar. A tal Elite que exige Eleições Obrigatórias: “É para o Povo ir aprendendo com a Democracia”. Inacreditável. E dizem não entender este Brasil de 2017? É Mediocre, como Todos que o governou por 40 anos.  

  4. why is brazil’s president still in office?

    Nassif: isto não foi uma pergunta no The Gardian. É uma forma nada enigmática de resposta — os semelhantes têm espírito de corpo. Você ouviu, alguma vez, história de Ali Babá sendo traído pelo bando de Césamo?

  5. Em poucos palavras ……..

    Já que é o mercado financeiro quem dá as cartas , cabe utilizar um de seus conceitos para explicar o que aconteceu com a democracia brasileira : não passou no teste de stress . Colocada sob pressão de grupos de interesse – que diziam que não iam pagar o pato – a democracia ruiu , seus mecanismos de defesa e suas instituições demonstraram ser frágeis.

    No mais recente caso – que vem se juntar a uma montanha de outros – a votação sobre Aécio Neves no Senado ,negando autorização  para que seja investigado apesar dos fatos flagrantes de indicios criminosos –  é apenas mais um a demonstrar a falência dessa aparente democracia que outrora pensou-se existir . 

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