Primeiro ano de Temer foi o pior em infraestrutura nos últimos 10 anos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Para ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior, números são resultado da queda brusca no investimento público e bancos públicos fechados ao financiamento
 
 
Jornal GGN – O Brasil teve em 2016 o pior desempenho em infraestrutura nos últimos 10 anos. De acordo com a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic), do IBGE, divulgado nesta semana sobre os dados do ano em que Michel Temer assumiu o mandato, no caso de grandes obras houve uma queda de 22,1% em relação ao ano anterior.
 
Naquele ano, em que ocorreu o impeachment de Dilma Rousseff e assumiu Michel Temer já modificando toda a agenda e políticas da gestão anterior, o discurso do mandatário a favor da empregabilidade, obras e construções não emplacaram com os números.
 
No desempenho de grandes obras de infraestrutura, o valor de tudo o que foi feito no país foi de R$ 99,2 bilhões. Isso é uma queda de 22,1% em relação a 2015 e o pior resultado nos últimos 10 anos. Em 2007, essas grandes construções movimentaram R$ 111,6 bilhões em valores atualizados de 2016 para equidade de comparação.
 
“A restrição ao crédito para o financiamento e infraestrutura, que tem o sufocamento tanto do BNDES quanto da Caixa (infraestrutura e a questão de habitacional), e redução brutal dos investimentos públicos, seja com recursos do Orçamento geral da União, seja feito pelas estatais, as duas coisas foram muito fortes para derrubar o investimento”, manifestou a a ex-ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
 
E estes são os dados apenas de Obras de infraestrutura. O PAIC registra também a atividade da construção de edifícios e de serviços especializados da construção. De acordo com o levantamento, a atividade de construção como um todo faturou R$ 318,7 bilhões no país, isto é R$ 126,2 bilhões a menos do que em 2014, quando a receita foi de R$ 444,9 bilhões.
 
A consequência disso foi uma queda de 601 empresas ativas no setor em dois anos, que passaram a não exercer mais atividade por falta de opção. E com elas, 880 mil vagas de emprego foram perdidas, de 2014 a 2016. Ainda, os salários dos ativos também diminuiram 5% em sua média mensal, passando a R$ 2.235,16 mil em 2016.
 
Para a ex-ministra e ex-presidente da Caixa Econômica Federal, a resposta para este cenário veio da queda brutal do acesso ao financiamento para a infraestrutura e o investimento público, que caiu vertiginosamente. “A soma desses dois fatores dão esse resultado. E, no ano que vem, quando eles apresentarem para 2017, vai se mostrar que piorou ainda mais”, disse ao GGN.
 
“Se a gente olhar a questão do financiamento, a política de ajuste promovida pelo governo inelegítimo está sufocando os bancos públicos, no caso de infraestrutura o BNDES e a Caixa. Os empréstimos do BNDES cairam 35%, de 2015 para 2016, prejudicando, por exemplo, os investimentos das concessões de rodovias realizadas pela presidenta Dilma”, afirmou.
 
A ex-ministra, que ocupou a pasta do governo Dilma entre 2011 e 2015, quando passou a presidir a Caixa naquele ano, e deixando o cargo com a entrada de Temer, lembrou que mesmo as empresas que já tinham contratos, por exemplo, de concessão e precisavam fazer investimento, não estão conseguindo acesso ao financiamento, que deve ser mais barato para a infraestrutura, durante o governo Temer.
 
Fator crise: como lida o governo eleito e o atual
 
Ao considerar o quadro econômico do país em 2016, de retração de 3,6% do PIB ao ano, e da previsão negativa de déficit primário das contas públicas, ainda em fevereiro, quando se esperava fechar em R$ 60,2 bilhões e em março ampliando a estimativa para R$ 96,7 bilhões, a ex-ministra considerou que este não é o único responsável para o cenário visto, agora, na infraestrutura.
 
Foto: EBC“É claro que a crise tem um fator, só que eu posso lidar de várias maneiras. Em 2009, o ex-presidente Lula lidou com a crise criando o Minha Casa, Minha Vida, para fazer as empresas produzir habitação e gerar emprego. A atitude, a política adotada agora é completamente diferente”, manifestou. “É a diferença de atitude entre o governo ilegítimo e o governo eleito”, completou.
 
Belchior afirmou que não se pode alegar, tampouco, que se trata de um resultado de um ano não completo, por Temer ter iniciado sua gestão em maio daquele ano. “Os financiamentos cairam também em 2017, portanto não é só em 2016, que contou com algumas características específicas, mas continuou caindo o investimento. Então, o resultado, quando o IBGE apresentar o ano que vem vai ser de queda também”, continuou.
 
“Infelizmente, o dado de 2017 vai ser ruim e o de 2018 também. Eu espero que durante esse processo eleitoral se debata a comprovação de dados, que país os brasileiros querem, para eleger um presidente que não queira seguir com essa política que está sendo feita neste momento”, lamentou a ex-ministra. 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. 2016 foi um ano ruim porque

    2016 foi um ano ruim porque foi logo após o golpe e muitas atividades ainda estavam em andamento e sem possibilidade de paralisação imediata.

    2017,ainda não analisado,será péssimo.

    2018 então…..

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