Rio: aula rica, aula pobre, por Andy Robinson

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Rio: aula rica, aula pobre

Atualizado com a nota de esclarecimento da Bahema S.A.

Enquanto explodem protestos por cortes na educação pública, o homem mais rico do Brasil abre uma escola – de luxo – com o método finlandês.

por Andy Robinson

Andy Robinson, Rio de Janeiro – A metodologia da nova escola Escola Eleva, aberta há duas semanas no Rio de Janeiro, baseia-se, de acordo com seus diretores, em princípios pedagógicos finlandeses que há duas décadas têm dado resultados extraordinários no país escandinavo.

“Estamos usando novas estratégias para incorporar as idéias finlandesas”, disse Amaral Cunha, o diretor da escola que atende a 180 crianças, dos 7 aos 11 anos, embora pretenda chegar a 1.000. “Temos espaços criativos – os maker spaces – onde o aluno transforma ideias em metas e ações; estamos integrando todos os indivíduos como na Finlândia; e trabalhando para que a criança seja o centro do processo, de forma que ela busque o conhecimento em vez de receber a informação de cima; essa é a chave do modelo finlandês”.

A educação na Finlândia é quase exclusivamente estatal e seu sucesso não pode ser desvinculado da alta igualdade socioeconômica do modelo escandinavo. Portanto, seria lógico pensar que a Escola Eleva fosse uma tentativa por parte do Estado de corrigir a profunda brecha social na cidade do Rio de Janeiro, onde uma de cada quatro crianças vive em favela.

“Mas não é assim. A Escola Eleva fica no cotado bairro de Botafogo numa reformada contrução do século XIX, que anteriormente abrigava coleções de arte contemporânea. As crianças vêm principalmente de famílias ricas da Zona Sul do Rio e são quase todas brancas. A diretoria não é composta por pedagogos da universidade estatal, como em Helsinki, mas por consultores com MBAs da escola empresarial estadunidense de Wharton e ex-diretores da multinacional McKinsey”.

O principal investidor da escola é Paulo Lemann, dono do Burger King

E seu proprietário não é o Estado, mas o grupo financeiro Gera Venture Capital, cujo principal acionista é Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, com patrimônio de mais de 25.000 milhões de euros.

Eleva é o primeiro investimento do que Lemann – dono de marcas como Budweiser e Burger King – pretende que seja uma rede de escolas vanguardistas bilíngues para milhares de crianças de classe média alta. Depois de gastar milhões de euros em donativos para universidades privadas no Brasil e nos EUA através da sua Fundação Estudar, o lince financeiro agora dirige seu filantrocapitalismo pedagógico para o ensino infantil, com um fundo de investimento 80 milhões de reais (25 milhões de euros). “A educação básica escolar é essencial para criar uma sociedade mais justa, pragmática e competitiva no Brasil”, disse Lemann, de 76 anos, que atribui seu sucesso em finanças às práticas de surfista de seu passado na praia do Leblon.

A Escola Eleva cobra 3.800 reais (mais de 1.000 euros) ao mês por aluno, quatro vezes mais do que o salário mínimo. “Lemann está investindo em escolas de alta eficiência da über elite para criar líderes”, disse Sergio Martins, historiador da Universidade Católica (PUC). Não é exatamente o que tinha em mente a embaixadora internacional da educação finlandesa Jaana Palojarvi quando, numa visita ao Brasil em 2013, falou: “O Brasil tem que convencer as famílias de diferentes classes sociais a frequentarem as mesmas escolas públicas”.

No entanto, a Escola Eleva não é o único caso. Em uma conjuntura catastrófica para a educação pública brasileira – primeira vítima de uma série de cortes de gastos em serviços estatais sob o novo governo conservador -, vários fundos têm identificado oportunidades de negócios no campo da educação de ponta no Brasil.

O grupo financeiro Bahema acaba de assumir a gestão de uma série de escolas tradicionais, muitas de educação progressista, como a Escola Parque, defensora da teoria de Piaget, e a Escola da Vila, em São Paulo, fundada em 1980 pela família do pedagogo Paulo Freire, fonte de inspiração para escolas progressistas em todo o mundo.

Os pais têm protestado não só pela chegada de um fundo em busca de lucros com a educação dos seus filhos, mas também porque um dos diretores da Bahema, Guilherme Affonso Ferreira Filho, é colaborador do grupo conservador Movimento Brasil Livre, que coordenou a campanha pela destituição da presidente esquerdista Dilma Rousseff. Além disso, um dos diretores da Fundação Estudar de Lemann foi ativista do Vem Pra Rua, outro grupo cidadão que convocou as manifestações “anti-Dilma”.

As novas escolas Concept, do grupo SEB, que pretende abrir capital em Bolsa nos próximos meses, também têm importado sua versão do modelo finlandês. Inscreveram dois educadores finlandeses para a formação dos professores. “Temos métodos ativos de ensino elaborados a partir de estudos de países com experiência de ponta como a Finlândia e a Cingapura”, disse ao jornal O Globo Thamila Zaer, diretora executiva do SEB. Essas escolas cobram até 2.000 euros por mês.

Na verdade, a nova geração de escolas de elite não é tão inovadora como suas campanhas de marketing, adverte Vivien Santa Maria, diretora da Escola Pólen no Rio, que cobra cerca de US$ 600 por mês. “O que eles fazem na prática é aplicar a teoria de Jean Piaget, o que já fazemos há 40 anos”. A diferença entre o Brasil, um dos dez países mais desiguais do mundo, e a Finlândia, um dos dez mais iguais, é óbvia: “Esse tipo de ensino tinha que ser para o Brasil inteiro, ou seja, na educação pública. Só assim teríamos uma massa pensando, raciocinando”, acrescenta.

É uma questão fundamental porque, há apenas 20 anos, grande parte da população brasileira foi de fato excluída do sistema de ensino, inclusive o público. Em 1980, o trabalhador médio brasileiro tinha apenas 3,9 anos de escolaridade. Atualmente, são oito anos. Entre 1992 e 2009, o número de crianças brasileiras na escola aumentou de 19 para 57 milhões, graças em grande parte ao programa de subsídio Bolsa Família, implantado pelo governo de esquerda desde 2004, o que tirou 28,6 milhões da pobreza – o programa estava condicionado à escolarização das crianças.

Mas a chegada de uma massa de excluídos à educação pública, e a falta de investimento necessário para modernizar o sistema, assustou grande parte da classe média, que mandou seus filhos para as escolas particulares. Por conta de um sistema de tributação no qual indivíduos de alta renda pagam apenas 27% de imposto de renda (na Finlândia pagam 51%), a crise do orçamento piorou. “Não é fácil ser pai, porque, embora você acredite na educação pública, há uma degradação constante das escolas e até violência”, disse um professor universitário cujo filho estuda na Escola Parque, no Rio.

Pelo menos os alunos da Escola Eleva estarão preparados para resolver esses dilemas da extrema desigualdade. Entre as várias inovações pedagógicas está um curso ministrado em inglês, inspirado nas idéias do filósofo Michael Sandel, da Universidade de Harvard, adaptado para crianças de 8 anos. O nome do curso é “Justice”.

OCUPAÇÕES NA ESCOLA PÚBLICA

No bairro do Humaitá, a dois quilômetros da Escola Eleva, alunos do colégio público Pedro II ensaiaram seus próprios métodos inovadores para melhorar o ensino. Assim como os estudantes de mais de 1.000 estabelecimentos de ensino em dezenas de cidades brasileiras, eles ocuparam suas escolas durante vários meses do ano passado para protestar contra os cortes na educação e, em particular, contra uma emenda à constituição que congela o gasto público por 20 anos e elimina a necessidade de priorizar os gastos com educação e saúde. De acordo com a Constituição de 1988, o Estado tinha que alocar 18% de sua renda em educação devido a um déficit histórico nessa área.

Uma emenda na Constituição congela o gasto público por 20 anos e tira a prioridade da Educação

Esses alunos entendem perfeitamente os princípios de igualdade do sistema finlandês. “Se você abre uma escola como a de Lemann com a crise que existe no ensino público, perpetua o ciclo da elite e o resto”, disse Michael Barbosa, de 17 anos, que morou três meses na escola ocupada.

Os estudantes também protestaram contra a centralização do currículo baixo o novo governo de Michel Temer, que, ao contrário da filosofia eclética do sistema finlandês, pretende introduzir a especialização precoce. “Eles querem nos forçar a escolher a especialização em humanidades ou ciências aos 14 anos; mas eu não sei que eu quero fazer ainda”, diz Mariana Rodrigues, de 16, outra participante da ocupação.

A maioria dos protestos está suspensa no momento. Mas os alunos continuam bastante motivados. “Foi uma autogestão. Limpávamos, cozinhávamos e alguns professores vinham dar aula. Foi um grande aprendizado”, explica Michael. O colégio Pedro II é considerado uma das melhores escolas públicas do Rio. Há uma mistura de classes sociais, e a ocupação teve o apoio de jovens negros e brancos.

Quase em frente, outra escola pública, a Joaquim Abílio Borges, na mesma Rua Humaitá, talvez seja mais típica. Apesar de sediada em um bairro valorizado como o Humaitá, muitos estudantes são de favelas da cidade. “Os vizinhos do apartamento onde eu trabalho mandam seus filhos para escolas privadas”, disse uma mãe, faxineira em um dos edifícios situados na frente da escola, à espera de seu filho para acompanhá-lo até sua casa na favela da Rocinha. Aqui quase todas as crianças são de pele escura.

Um dos grandes méritos da educação brasileira hoje é que essas crianças de favelas têm a possibilidade de estudar em universidade pública. Não há cobrança de matrícula no sistema de cotas instituído sob o governo de Lula da Silva e Dilma Rousseff, que garantiu vagas na universidade para os jovens negros de famílias pobres.

Mas há sinais agora de que o setor privado prepara um golpe, o que Naomi Klein poderia chamar de “doutrina de choque”. Começa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro /UERJ, que já enfrenta uma grave crise de orçamento após o esbanjamento dos Jogos Olímpicos. Em frente ao campus da UERJ está o estádio do Maracanã, cuja reforma custou 300 milhões de euros, incluindo as comissões do então governador do Rio, Sérgio Cabral, preso por suspeita de corrupção.

Aproveitando a crise, o ministro da Supremo Tribunal Federal, em Brasília, Luis Roberto Barroso, propôs a cobrança de matrícula e a busca de filantropos. “Vamos convidar uma consultoria internacional e as melhores mentes no país para encontrar uma solução”, escreveu ele em O Globo. McKinsey e Paulo Lemann seguramente serão candidatos.

Este artigo foi publicado domingo, 19 de março de 2017, no jornal La Vanguardia, de Barcelona, Espanha.

Traduzido por Escrita Comunicação

NOTA DE ESCLARECIMENTO da BAHEMA S.A.

Em relação ao texto “Rio: aula rica, aula pobre”, de Andy Robinson , publicado em 24/03, gostaríamos de esclarecer que a Bahema não é um fundo de investimento e, sim, uma empresa familiar com mais de 60 anos de história e com foco em investimentos de longo prazo. O diretor de RI, Guilherme Affonso Ferreira filho, não é e nem nunca foi colaborador do Movimento Brasil Livre, como equivocadamente mencionado, assim como não concorda com o ideário do Escola sem Partido. É importante esclarecer que a nova  geração da Bahema, que está à frente da empresa, escolheu a área educacional para se associar com o intuito de criar um grupo de escolas com projeto pedagógico baseado no pensamento crítico e em valores como democracia, ética e humanismo. Por isso, se associou também à Escola Parque, no Rio de Janeiro.

Não há nenhuma intenção de mudar ou alterar os projetos pedagógicos destas escolas, que são seu DNA e a razão de existirem.

Cabe esclarecer, ainda, que a Escola da Vila existe há 37 anos e que somente nos dois primeiros teve uma das filhas de Paulo Freire como sócia.

Assine

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

24 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A educação escandinava…

    … deixou de ser um sonho quando os golparlamentares enterraram o Fundo Soberano do pré-sal.

    E Paulo Parente e companhia fatiam a Petrobras e os poços vão para a bacia das almas. A Total foi uma das premiadas.

    Conselho anterior foi dado. A tal ponto, que a Statoil deu um conselho pra otário ouvir: o Brasil tem que aprender a fazer negócio.

  2. Imprensa conservadora da Catalunha

    Vejam só o que o La Vanguardia, que é o principal jornal conservador de Barcelona, na Catalunha, é capaz de publicar e comparem com a nossa “imprensa”.

    1. O melhor é colocarem barroso

      O melhor é colocarem barroso como ministro da educação, após seu texto no globo. De fato, não há diferença de mérito entre ele e mendoncinha. O mendoncinha real é mais transparente, mais direto ao ponto. 

  3. Porque não misturar? Eh sempre melhor

    Realizar um projeto desses apenas para crianças ricas? Pelo menos parte dos estudante poderia ser bolsista. Enfim, do jeito que a situação econômica vai no Brasil como todo e em particular no Rio, daqui a pouco vão fechar as escolas publicos e a população que se vire. UERJ esta ai ao Deus darah.

    1. porque…..

      Paulo Lemman, amigo do filho de FHC, sócio  numa pequena corretora de valores, que compru um pequeno banco, que não foi engolido pelo PROER, que articulou as Privatarias, tudo isto apenas no período de oito anos do Governo FHC, que comprou a Antarctica que comprou a Bhrama, financiadas e alavancadas por enxurradas de dinheiro do BNDES, o mesmo BNDES que financiou toda Privataria para empresas brasileiras como a Ambev tornarem -se multinacionais, como estas acabaram se tornando nas mãos da belga BuddweiserMiller. Milagres do Capitalismo Tupiniquim exercido por nossa Elite Anti-capitalista. Venda da Pátria. Eu conheço isto como lesa-pátria ou traição. A tal escola ensinará isto?

    2. Cabresto

      Pros pretos e pobres a escola-sem-partido, a educação para suportar e se submeter sem questionar ao cabresto e à canga.

      Com a´nossa absoluta conivência e complacência.

  4. Pelamordedeus

    Falar que o Lemann é dono da burger king (não citar a Ambev foi piada) e dizer que “…Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, com patrimônio de mais de 25.000 milhões de euros.” é piada ainda maior. 

    25 milhões tenho eu.

  5. A Escandinávia Tropical

    Estávamos no caminho.

    Com a riqueza gerada pelo pré-sal investida na educação, mas….mas…..não merecemos.

    O destino foi traçado em 1500 e será cumprido a risca, e não vai mudar.

    Nós, os brasileiros, não merecemos.

    Resultado de imagem para Lula pre sal

     

  6. Ignorâncias

    O problema dos superricos brasileiros, e outros patetas como o Ministro Barroso, é que os caras ACHAM que entendem de educação. Alguém se submeteria a um transplante de coração feito por um empresário rico e bem-sucedido, mas sem formação em Medicina? Por que então leigos palpitam tanto sobre Educação?

    É preciso qualificar o debate, começando pelo ponto que o jornal espanhol destaca: “Por conta de um sistema de tributação no qual indivíduos de alta renda pagam apenas 27% de imposto de renda (na Finlândia pagam 51%), a crise do orçamento (da Educação) piorou.”

    Dou um desconto ao Lemman, pois tem investido em pesquisa, é empreendedor e, acertando ou errando, não fica só no discurso. Mas, a maioria dos patetas acha que o problema da educação no Brasil é só “gestão”, “metas de produtividade” e outras tolices fordistas.

    1. Você pode até dar desconto ao

      Você pode até dar desconto ao Jorge Paulo Lemman, mas ele não tem dado desconto em nada, seja na sua voracidade capitalista, seja na sua voracidade política ao ser um dos financiadores do golpe. Além disso, chamá-lo de empreendedor é cômico, comprando empresas prontas e destruindo sua cultura, suas carcterísticas e tudo mais, além de precarizar absurdamente a vida dos trabalhadores das empresas que compra. Falar que investe em educação, outra frase cômica, a fundação tem a finalidade clara e direta de vender sua ideologia de mundo, influenciar nos rumos da educação pública, precarizando-a cada vez mais. Lemman é uma das muitas constatações que não temos elite, mas apenas ricos, muito ricos, que exploram e expropriam a nação e seus trabalhadores. 

      1. Seu ponto de vista é válido
        Conheço um empreendedor que comeu o pão que o diabo amassou depois que Lemman investiu na empresa dele, que dirá o povo no chão de fábrica.

        Li e achei utilidade em algumas pesquisas da Fundação. A questão é que Lemman é muito egocêntrico e impõe a visão de mundo dele, talhada em Harvard, nos projetos de educação que apóia ou empreende.

        A educação pública brasileira é muito maior, mais complexa e infinitamemente mais sofisticada que supõem Lemman ou qualquer outro superrico tucano. Finlândia​, Coréia do Sul, Chile são menores que o Brasil. Não dá pra comparar.

  7. Nassa, o caso da UERJ não se

    Nassa, o caso da UERJ não se enquadraria numa estratégia de sucateamento para facilitar a entrada e a sua compra por estes grupos de investidores? Há pesquisas de ponta desenvolvidas lá. Não sei como, mas não seria o caso de se fazer uma avaliação economica e estratégica dessas pesquisas? Sei lá …pensei nisso quando li sobre como atuam os fundos hedges.

  8. A que ponto chega a esquerda…
    Crítica agora a abertura de escolas.

    É o fundo do poço.

    Por estas e outras(faltas de inteligência )… perderam!

    Sem inteligência. …Não!

    Contenham seus idiotas!
    ….
    Porque esta afetando seu terreiro.

    1. A falta de inteligência é de

      A falta de inteligência é de sua parte, que parece não ter entendido o artigo (você o leu todo?)!

      Tenho certeza que se resolvessemos o problema educaional que o artigo apresenta, não teríamos um problmea de analfabetismo funcinal como o seu.

      Abs.

    2. faltas de inteligência

      Se é um pobrema de “faltas des inteligencias”, então é realmente muito grave…….não entendi muito bem o post…..deve ser “faltas de intiligencia” de minha parte, sem duvida…..e vem ca, tinha muitas gente nas manifestações de ontem?E o Bolsonaro não veio?Parece que foi murcho, murcho…..

  9. http://www.vagasresiduais.ufb

    http://www.vagasresiduais.ufba.br/

    Total de Vagas Oferecidas frutos da evasão: 1506

    Vagas totais oferecidas na UFBA: 5924

    Qual o percentual, se admitirmos que a maior parte da evasão se dá por cotistas, por serem mais vulneráveis financeiramente?

    – 50%

    Onde são os cursos que os cotistas ficam?

    – Aqueles que não geram atividade produtiva ou renda para a sociedade.

    Todos os anos o contribuinte soteropolitano vem pagando para 50% cursar cursos que não têm uma contrapartida produtiva para a sociedade?

    -Sim.

     

     

    1. Raciocínio tortuoso

      Você quer dizer que cotistas estão mais propensos à evasão do que não-cotistas?

      Esse estudo de 2015 o contradiz:

      http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/2015/01/19/internas_educacao,609275/nota-de-estudantes-beneficiados-por-cotas-acende-alerta-em-universidad.shtml

       

      Resumindo, nas universidades federais de Lavras (Ufla), no Sul de Minas, e de Juiz de Fora (UFJF), na Zona da Mata, os cotistas tem evasão 1,5 ponto percentual menor do que não cotistas.

      Uma situação de quase igualdade, na minha avaliação.

       

      Já em termos de nota, cotistas tem desempenho 3,3% menor do que não cotistas, novamente uma quase igualdade.

       

      Segundo um dos professores entrevistados:

      “O cotista é um aluno que valoriza mais a vaga que aquele que teve uma formação melhor, porque conseguiu de maneira mais difícil. Os estudantes da ampla concorrência acabam não levando tanto a sério, por isso eles se aproximam bastante em termos de notas”

       

      Quanto a cursos “que não geram atividade produtiva ou renda para a sociedade” (sic)… Sem comentários… 

  10. Mas essa mensalidade é muito

    Mas essa mensalidade é muito comum em SP.

    O Bandeirantes cobrava 2.500,00 reais em 2014, o que equivalia a US 1.500.

    No Porto Seguro e Santa Cruz é um pouco menos, mas não muito, e o Vértice cobra US 2.000.

    O Eleva pelo menos oferece 20% das vagas para bolsistas.

     

  11. De novo a Finlândia

    Essa babação de ovo com a educação Finlandesa e escandinava em geral já deu. É muita falta de informação. Dá certo lá nas condições gerais das políticas de educação de cada estado nacional. Tive a oportunidade de conhecer os sistemas escandinavos e também de Singapura, da China e Vietnam, além dos outros mais conhecidos, espanhol, português, etc.etc. Existem experiências ótimas em todos estes sistemas. Todas com muita coisa interessante de se aprender, nenhuma possível de ser importada in natura!  

    Na Finlândia

    No caso finlandês, os pais recebem um voucher do estado que pode ser aplicado em qualquer escola que atenda o interesse da família. As escola fazem um workshop com suas propostas e os pais fazem sua escolha com base nos variados cardápios escolares considerando seus valores e o projeto que pretendem para seus filhos. Uma vez escolhida proposta há um recall apenas em determinadas condições sendo que o mais comum é que só haja mudança de escola após o término das etapas que correspondem a nossa Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio.

    Cada escola, estatal ou não – a maioria é estatal mas existem escolas confessionais e vocacionais, deve atuar em pontas diferentes do processo além do convencimento dos pais; tem que convencer os professores recrutados em sua maioria ainda na própria universidade que o trabalho será livre, criativo, assessorado e quanto a salário a média é nacional e não é diferencial que possa ser oferecido; devem fazer investimento em material e tecnologia, manter equilíbrio no orçamento que deve ser apresentado aos professores e pais demonstrando que a escola é viável, etc.

    Os métodos pedagógicos e as opções curriculares conceituais, de procedimento e de resultados esperados não são substancialmente diferentes do que se pratica nos estabelecimentos escolares singulares ou em redes de escolas de cidades e países avançados em matéria de pesquisa educacional de ensino e aprendizagem.

    Deve-se abordar essa realidade considerando que não há como separar condições sociais e políticas de condições de educação. Educação é política de estado, e iniciativas isoladas quando não descoladas das condições onde ela se dão com suas contradições e virtudes são boas quando projetadas como modelo para crítica, discussão e trocas – vide os ginásios vocacionais no passado, as escolas construtivistas, o sistema Waldorf e por ai vai. Mas como em educação nada acontece sem debate e confronto de ideias, nenhum método pedagógico dá conta sozinho de educar integralmente um aprendiz; os modelos se tocam e trocam certezas e dúvidas. Tem sido uma prática saudável o intercâmbio entre escolas particulares e do estado nos simpósios e encontros entre professores que trocam exatamente os aspectos da sua prática, tanto as que dão certo quanto as que dão errado. É assim que a educação avança.

    Os compradores de escolas

    Não há o que comentar do governo atual e suas políticas para educação. São um pesadelo que em algum momento passará e poderemos retomar de onde parou.

    Os senhores AMBEV ou BAHEMA, aproveitando esse vácuo creem que darão conta importando ou comprando modelos. Estão muito enganados! Podem aprender deles, mas é a realidade local e a prática testada e vivida que dará conta do que efetivamente dará certo. Pode comprar prédio bonito, contratar managers ou gestores e essas firulas que são só perfumaria. O que conta é a relação de ensino e aprendizagem que é muito, mas muito mais que gestão. Isso é chatice de empresário que percebeu um filão de lucro e o revestiu de um discurso de capitalismo bom e limpinho e redentor e posa de preocupado com o futuro do país. Ainda assim creio que eles devem propor o seu modelo escolar. É bom vê-los pelo menos uma vez assumindo riscos com um negócio aqui no nosso paraíso de capitalismo sem riscos. Um palpite: não vão aguentar, educação é outra coisa para muito além das suas planilhas. Elas são importantes, mas em uma lista de 100 preocupações em um dia escolar estão em 98!

    No Brasil temos experiências por todo o país de práticas avançadas de educação no sistema público e particular. Os que forem espertos não piscarão diante dessas reformas toscas aprovadas. Isso não é novidade, em todas as reformas anteriores as grandes escolas públicas ou não pouco mexeram nas suas práticas quando o que estava sendo proposto descaracterizava seu projeto pedagógico. E isso tanto faz se a escola é conservadora ou progressista. O que conta mesmo é a seriedade com que propõe a educação dos seus alunos e a honestidade e abertura ao novo pedagógico que sempre aparece nas mais variadas situações escolares.

    Existem escolas conservadoras sérias e existem escolas progressistas sérias. Estes qualificativos são pedagógicos, não estritamente políticos. Dizemos que uma escola é conservadora quando na transmissão do conhecimento a primazia é do professor e da estrutura escolar. Dizemos que uma escola é progressista quando a primazia da aprendizagem está no aluno e na construção coletiva do conhecimento. As duas podem ser sérias e honestas quando são coerentes com o que propõe.

    Os senhores compradores de escolas – como outrora tivemos os compradores de fazendas – serão confrontados com esta exigência de serem coerentes com seu projeto educacional. Veremos!!!!

  12. Apenas lembrando que ate
    Apenas lembrando que ate pouco tempo atras o imovel era a Casa Daros! Um centro cultural, que em apenas 2 anos recebeu a visita de nada menos que 270 mil pessoas, e uma programacao diversa e de extrema importancia se falarmos de nossa identidade lationamerica …………… “Em seus pouco mais de dois anos de funcionamento, a Casa Daros realizou emblemáticas exposições com obras da Coleção Daros Latinamerica, como “Cantos Cuentos Colombianos”, “Le Parc Lumière – Obras cinéticas de Julio Le Parc”, “Fabian Marcaccio – Paintant Stories”, “Ilusões”, “Made in Brasil”, e “Cuba – Ficción y fantasia”, em cartaz. Além dessas, foram realizadas mais de quinze outras mostras, assim como numerosas performances, conversas abertas com artistas, oficinas e encontros criativos, entre outras atividades. Até o momento, o público estimado é de 270 mil pessoas. Segundo o informe, a partir de 2016, a Coleção Daros Latinamerica “se dedicará, exclusivamente, a dar visibilidade à excelência de suas 1.200 obras – de mais de 120 artistas nascidos ou que vivem na América Latina –, por meio de exposições em importantes museus e espaços de arte, em todo o mundo”.”  http://www.artrio.art.br/pt-br/noticias/imovel-da-casa-daros-foi-vendido-para-o-grupo-eleva-educacao

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador