“Um manda e o outro obedece”, diz Pazuello sobre boicote à Coronavac

Jornal GGN – Afastado de atividades presenciais por estar infectado pelo novo coronavírus, o general Eduardo Pazuello recebeu, nesta quinta (22), o presidente Jair Bolsonaro. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o ministro da Saúde desautorizado na compra da vacina da chinesa Sinovac falou sobre a polêmica: “Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece.”

Mesmo afastado, Pazuello anunciou na terça (20) a intenção de comprar 46 milhões da vacina desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, ao custo de R$ 1,9 bilhão. Bolsonaro ficou irritado porque João Doria capitalizou o acordo com o Ministério da Saúde para si e, no dia seguinte, mandou cancelar o protocolo de intenções.

A seguidores das redes sociais, Bolsonaro chegou a falar em “traição” de Pazuello. Depois, corrigiu o discurso e passou a acusar Doria de politizar a vacina, e a sustentar, ao contrário do que indicam os resultados preliminares, que a Coronavac é insegura.

Afastando os rumores de fritura, Pazuello faz questão de dizer no vídeo que não está rompido com Bolsonaro. “Falaram que a gente estava brigado. (…) Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar”, disse.

Bolsonaro afirmou que é “normal” discutir com ministros, e fez um elogio a Pazuello. “Foi um dos melhores ministros da Saúde que tivemos. O trabalho dele está sendo excepcional.”

Ainda na peça divulgada, Pazuello diz que está tomando cloroquina em seu tratamento para Covid-19 e está “zero bala”. Bolsonaro afirmou que esta é mais uma prova de que o medicamento dá certo, apesar de não ter comprovação científica no contexto do coronavírus.

Assista:

Eis a transcrição completa do diálogo:

Bolsonaro: Estou visitando nosso ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que vai contar-nos aqui como se sente.

Pazuello: Olha, cansaço! Domingo a tarde eu senti um pouco de cansaço. Segunda-feira (19) fui trabalhar, mas quando foi às 17 horas, indo para aquele evento do Marcos Pontes [ministro das Ciências e Tecnologias] da anita, ali estava muito cansado e vim para o hotel e aí segunda a noite foi uma noite difícil com dor de cabeça, enxaqueca e febre e na terça-feira (20) eu dei uma piorada e na terça a noite eu fui para o HFA fazer os exames de sangue e PCR e fui diagnosticado com covid na terça a noite.

Bolsonaro: E você começou a tomar o quê?

Pazuello: Eu comecei a tomar hidroxicloroquina, a annita e azitromicina já na terça-feira (20).

Bolsonaro: Kit completo!?!

Pazuello: Kit completo.

Bolsonaro: E agora?

Pazuello: E na quarta-feira (20) já acordei melhor, fiz a fisioterapia da respiração, médico acompanhando, sempre com acompanhamento médico.

Bolsonaro: E como você está?

Pazuello: Acordei zero bala.

Bolsonaro: Então mais uma prova que tomou e deu certo. Alguns reclamam e falam que a hidroxicloroquina não tem comprovação científica, não tem para o covid, mas tem para outras coisas e não tem efeito colateral. Então mais um caso concreto aqui que hidroxicloroquina, azitromicina e anitta, deu certo. Mas um que deu certo. Então a experiência que eu tenho aqui, lá atrás que eu andava no meio do povo e o pessoal me criticava, mas eu sou presidente da República, tenho que andar no meio do povo, não posso ficar preso no Alvorada cuidando de mim e a população ali jogada e sofrendo uma campanha de terrorismo sobre a questão do vírus.

Pazuello: E já tem e ela hoje já é um b. Um b já é uma nova fase da certificação científica dela e caminha para isso. Caminha para isso.

Bolsonaro: Então você recomenda que quem tiver acometido pela covid, procure um médico e?

Pazuello: Exatamente. E siga as prescrições do médico. O que o médico prescrever, tome o mais rápido possível. Faça o seu exame e tenha o seu diagnóstico. Eu fui diagnosticado clinicamente antes de fazer o exame e já comecei a tomar os remédios.

Bolsonaro: Olha, ficar em casa e esperar falta de ar para ir ao hospital pode ser tarde demais. E aquela história, nós chefes temos que se expor, tomar decisões e uma decisão que tomei lá trás foi no tocante a hidroxicloroquina e deixar bem claro: conversei com médicos, com embaixadores nossos que estão na África subsariana e o pessoal dizia lá que relata aqui que o cara chega num hospital com malária e covid, tomava cloroquina e simplesmente curava. Então a alternativa que se tinha naquele momento era aquela, com recomendação médica. Se algum médico não quiser receitar hidroxicloroquina, o que ele faz?

Pazuello: O médico chama outro médico e se o paciente quiser tomar, assina lá o compromisso e o médico receita.

Bolsonaro: Semana que vem você volta para o batente aí?

Pazuello: Pois é! Estão dizendo aí que não, não é?

Bolsonaro: Falaram que a gente estava brigado. Olha no meio militar é comum acontecer isso aqui. É um choque e não teve problema nenhum.

Pazuello: Senhores, é simples assim: um manda e outro obedece. Mas a gente tem um carinho.

Bolsonaro: Olha está pintando um clima aqui. (risos) Olha foi um dos melhores ministros da Saúde que tivemos, já falei para a imprensa e pode ter certeza e o trabalho dele está sendo sensacional. Na saúde, quase nada era informatizado, era tudo em papel, é isso mesmo?

Pazuello: Putz, o negócio era difícil.

Bolsonaro: Então dava brecha para fazer muita coisa errada?

Pazuello: Sempre dá, mas as coisas estão bem estruturadas, a equipe é boa. Acho que essa primeira fase foi definir os protocolos e fazer toda a entrega do material e equipamentos e realmente saber como lidar com a doença, como manejar o paciente, é o grande ensinamento e a grande vitória.

Bolsonaro: Então o recado mais importante ao pessoal aí que tem comorbidade e mais idoso: se cuida, tudo bem, mas se for acometido procure o médico rapidamente e o tal coquetel Pazuello aqui, está ok pessoal?

Pazuello: Presidente, estamos juntos.

Leia também:

 

Redação

Redação

View Comments

  • Dá vergonha alheia...
    Líderes não mandam, ouvem, debatem, questionam e afinal decidem, consolidando o extrato do colegiado.
    Se o dono de uma empresa sequer consulta seus especialistas nas mais diversas áreas porque "manda", será apenas um imbecil que não precisa de ninguém, condenado à falência ou aos desígnios da sorte.
    Dizem que John D.Rockefeller pouco falava durante as reuniões, com algumas perguntas e intervenções, incentivando seus subordinados a contribuir. Ao final, decidia com a riqueza de informações e opiniões semeadas e colhidas, agregando sua visão e genialidade (o que não é o nosso caso presidencial nem ministerial) nos negócios.
    Conta a lenda que, fazendo exercícios num equipamento que colocou numa sala vazia da contabilidade, recebeu ordem de um funcionário recém contratado que não o conhecia de que retirasse a máquina dali!
    J.D parou o exercício e replicou: "está bem", e saiu, sem jamais ter feito algo contra o "infeliz" novato.
    Pois é: sem arroubos idiotas de "mandar", chegou a ter 90% do mercado com o refino e distribuição do óleo sujo e colocar "de joelhos" magnatas como Vanderbilt.
    Se o presidente de um país acha que é melhor do que o conjunto de conhecimento e experiência de seu colegiado, melhor ir brincar de Luis XIV, Hitler, Calígula, Nero...
    Pensa que "l'etat, c'est moi"!
    Mas não chega nem a um "la garantia soi jo"...

    • Muito bom o comentário,. Mas o papel de lider passa mesmo longe de qualquer integrante desde desgoverno.
      O que este general dublê de ministro pretende é segurar a função de "ministro" sem passar para a reserva no exército. Ai,
      se presta a qualquer papel.e entuba rindo qualquer escrotidao.
      Servilismo é isso.

      • No submundo (no sentido de subconjunto) dos militares, "ords são ords" (®Mussum).
        "Soldados! Avante para a morte!"... (e "tem que ir"!)
        No mundo civil(izado), ordens podem ser discutidas e aprimoradas, princípio da democracia.
        A menos que estejam absorvidos pelo mote de "matar os inimigos". Quem sabe?
        No mundo desenvolvido, forças armadas são subordinadas às forças civis.
        Mas eles não conseguem entender a diferença entre a pluralidade e diversidade da democracia e a rígida disciplina militar da obediência "cega".
        Ou se fazem de desentendidos, ocupando cargo$ de perfil civil, mantendo o$ de perfil militar.
        Mas tudo isso para chegar no orgasmo emocional que o despresidente deve ter tido ao perceber que nem conseguiu passar de capetão do exército, expelido de lá há mais de 3 décadas, quando se percebeu eleito e poder "mandar" não só nos pobres generais (cada vez piores) como também em almirantes e brigadeiros.
        Convenhamos: é "a glória", né não?
        Embora para nós, uma vergonhosa glória!

  • Muito caro manter um general, carro oficial, atendentes e quanto mais, e como apregoado nos efeitos milagrosos da reforma administrativa um praça, muito mais barato é suficiente para os despachos.
    Viralatismo é matéria da formação destes protetores da pátria?

  • Ao se submeter automaticamente a Jair Bolsonaro, o Ministro da Saúde demonstrou que é, em virtude de sua formação militar, incapaz de perceber que a hierarquia não se aplica a um órgão cuja vocação é a rejeição da irracionalidade política.

    A sujeição do Ministério da Saúde aos caprichos do presidente é uma ameaça pública gravíssima. Ela abrirá caminho para a amplificação do genocídio e eventualmente para a violência politica. Não é mais possível dar crédito a um Estado dominado pela mediocridade.

  • Agora podem chamá-lo de Sabugeneral, ele não se importa, deve achar que é elogio.
    A que humilhação chegou as ffaa, (em minúsculas)

  • Alguém se recorda da Mirian Leitão ditando o que lhe era transmitido em uma entrevista com o Jair antes das eleições. Pois é, a prática existe até em jornalismo "sério"

  • Esse generais que conhecemos um pouco mais nos induzem a uma conclusão: a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) é uma instituição que deforma oficiais. Esse Pazuello é servo de Bolsonaro, e Bolsonaro é servo de Trump. Portanto, os militares que deveriam defender a Soberania do Brasil, são serviçais dos EUA. A AMAN forma militares sem honra.

  • Eichmann, outro lambe botas de chefe, alegou no julgamento em Israel algo parecido, o Fūhrer mandava e ele obedecia.

Recent Posts

Roberto Jefferson deve voltar à prisão após informe de hospital

Internado desde 2023, o ex-deputado apresenta quadro estável para receber alta; Alexandre de Moraes manteve…

9 horas ago

Lula lembra trabalho da Embrapa na luta contra a fome

Presidente esteve em evento que marcou aniversário de 51 anos de fundação da empresa de…

10 horas ago

Embrapa celebra aniversário fechando acordos estratégicos

Termos de cooperação englobam participação de ministérios e instituições para desenvolver projetos em torno do…

11 horas ago

O legado de 50 anos da Revolução dos Cravos que o partido Chega quer enterrar em Portugal

Arcary explica a "embriaguez social e política que deixa o mundo completamente fascinado" trazida pela…

11 horas ago

Análise: Pagamento de dividendos da Petrobras é vitória do mercado

Valor distribuído pela estatal só não é maior do que o montante pago durante o…

11 horas ago

Reforma tributária: governo define alíquotas e propõe cashback para mais pobres

Fazenda prevê IVA de 26,5% sobre produtos e serviços, exceto os alimentos da cesta básica;…

12 horas ago