Xadrez da marcha acelerada para o fascismo, por Luis Nassif

O fascismo caminha em marcha acelerada.

Há possibilidade, dentro em breve, do Brasil se transformar no caso mais emblemático, por selvagem, das ditaduras de direita que passaram a proliferar pelo planeta. E não há sinal da resistência das instituições.

São nítidos os sinais de agravamento do clima político.

Peça 1 – O Partido 38 de Bolsonaro

A partir de sua formalização, haverá a articulação nacional e a ampliação das milícias armadas espalhadas pelos quatro cantos do país. A violência difusa se tornará articulada.

Reedita-se o fenômeno das SSs nazistas. No início, era uma organização paramilitar incumbida de proteger as lideranças nazistas, mas já tendo como método infundir terror nos adversários. No auge do nazismo, as SSs chegaram a ter um milhão de filiados e passaram a controlar a Gestapo, a polícia, os serviços de inteligência. Moviam-se pela bandeira única de exterminar as minorias, políticas ou étnicas.

Só um cego absoluto para não enxergar esse modelo, dos camisas negras do fascismo, na construção do Partido 38 de Bolsonaro.

Peça 2 – a distribuição de armas

Além das milícias propriamente ditas, há ampla aceitação de Bolsonaro entre os seguintes grupos armados:

  • Baixa patente das Polícias Militares em vários estados.
  • Clubes de tiro
  • Ruralistas
  • Desajustados de toda espécie, organizados em torno de grupos de  “cidadãos de bem”, espalhados por todo o país, com apoio das Igrejas evangélicas.

Desde o primeiro dia de governo, Bolsonaro tratou de ampliar o armamento para a população. Ou através de medidas econômicas, como a liberação da importação e do porte de armas. Ou através de manobras explícitas pró-contrabando, como foi o caso de sua ofensiva sobre a fiscalização no porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, entrada principal das armas no país.

Peça 3 – Aparelhamento das instituições

Existe ampla simpatia por Bolsonaro nas principais instituições do país, Judiciário Estadual, Federal, Eleitoral, Ministérios Públicos, Justiça Eleitoral, Polícia Federal e associações empresariais em geral. O novo partido irá dar organicidade a essa atuação.

Atualmente, já está em curso um amplo lawfare contra críticos do governo, denúncias e ações a granel, tanto no âmbito do Judiciário quanto dos Conselhos profissionais da Justiça e do Ministério Público. Há juízes, procuradores, delegados da Polícia Federal, uma minoria legalista submetida a constrangimentos e ameaças de sanção.

Peça 4 – a blindagem de Bolsonaro

O caso Marielle é o exemplo mais escarrado da manipulação dos principais órgãos de controle do país – do Ministério Público e Polícia Federal à mídia. No caso da mídia, tenta-se um equilibrismo temerário, de acuar Bolsonaro sem ir às últimas consequências.

Em suma, com o Partido 38 Bolsonaro começa sua Marcha Sobre Brasilia – repetindo a Marcha Sobre Roma que consagrou Mussolini como o imperador da Itália. A última barreira é a investigação sobre a morte de Marielle Franco. E, no momento, o inquérito está sendo alvo de uma manipulação escandalosa e aceita como natural pela imprensa.

O depoimento do porteiro do Condomínio, que registrou a entrada de Élcio Queiroz na casa de Bolsonaro, foi manipulado publicamente. Antes mesmo de analisar o inquérito, o Ministro da Justiça Sérgio Moro ameaçou invocar a Lei de Segurança Nacional contra o porteiro. A revista Veja o expos de forma temerária. E a Polícia Federal o interrogou de forma intimidatória, para que revisse sua declaração inicial. Procuradores do Ministério Público Estadual trataram de desqualificar o depoimento, com uma falsa perícia no equipamento.

Finalmente, os jornais escondem o fato central de toda a investigação: na hora em que Élcio e Ronnie Lessa se reuniam no Condomínio, o vereador Carlos Bolsonaro estava lá, conforme ele próprio mostrou, no segundo vídeo que gravou sobre o sistema de registro das chamadas do condomínio.

Lá, em um vídeo que o país inteiro assistiu, ele mostra que às 17:58 horas estava de saída do condomínio e pediu um Uber que foi busca-lo. Se Élcio chegou às 17:10, é óbvio que ficaram ao mesmo tempo no condomínio por no mínimo 48 minutos.

Inexplicavelmente, no seu balanço sobre o caso Marielle, a Folha teima em ignorar uma informação pública.

Segundo a matéria:

Onde ele estava naquele dia?
Segundo o Diário da Câmara do Rio, Carlos participou de sessão no plenário e votou em um projeto por volta das 16h30. A sessão terminou às 17h30, mas não é possível precisar o horário de saída do vereador. Nesta faixa de horário, leva-se de 45 minutos a 1h40 para percorrer o caminho entre a Câmara e o condomínio de Bolsonaro na Barra da Tijuca. Assim, seria improvável que Carlos estivesse em casa quando Élcio chegou ao condomínio, por volta das 17h10. No mesmo dia, Carlos também fez um post nas redes sociais em que dava uma entrevista no seu gabinete para a Federação Israelita.

Se o vídeo apresentado por Carlos era, de fato, do dia 14 de março, dia da morte de Marielle, ele estava presente no condomínio no mesmo momento que os assassinos. Mais que isso, deixou uma sessão da Câmara exclusivamente para ir ao Condomínio e sair 48 minutos após a chegada de Élcio. Se ele comprovar que estava, de fato, na Câmara, significa que o arquivo do dia 14 de março foi manipulado. E aí as suspeitas voltam novamente para o pai Jair.

Como é que se ignora uma evidência desse porte?

O que parece estar em jogo é uma aposta temerária do mercado: manter Bolsonaro sob fogo brando enquanto o Congresso aprova as tais reformas e se concretizam os grandes negócios de Paulo Guedes. É uma aposta contra o demônio.

Ontem, Bolsonaro enviou ao Congresso um decreto estendendo o excludente de ilicitude a todo militar ou policial que matar em serviço. Se a onda de protestos que varre a América Latina chegar ao Brasil, seria um morticínio da população civil.

Provavelmente o caso Marielle é a última oportunidade para se barrar essa escalada para o fascismo à brasileira. Se as instituições falharem na apuração de um crime óbvio como esse, não haverá força que resista a Bolsonaro.

O que mais incomoda é que, no maior furacão, no momento mais decisivo da história do Brasil, esses movimentos recentes, que tiraram o PT momentaneamente do jogo político, não revelaram uma liderança de peso sequer. E o futuro do democracia continua a depender de um sapo barbudo que se tornou referência mundial dos direitos humanos.

Luis Nassif

Luis Nassif

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    • E o policial nem viu o roubo do pivete acontecer. Ele ouviu o "pega ladrão" e deu uma de valentão tentando segurar e matar o pivete de 16 anos que corria depois de ter roubado um celular. O policial reformado matou uma professora, da mesma idade sua, nem olhou para a vítima e saiu em direção ao seu carro para procurar hospital (o pivete lhe feriu o braço com uma faca). Sob Jair, todos se acham no direito de sacar a arma e matar...

    • TODO PAI DEVE DAR BONS EXEMPLOS.
      FAMÍLIA DE BEM, NÃO DEIXA FILHOS ESTAREM COM MÁ COMPANHIA, MILICIANOS, GANGES.
      FAMILIA DE BEM, TEM DE DAR EXEMPLOS A SOCIEDADE, FILHO QUE PROMOVE SITUAÇÕES DE SE CRIMINALIZAR DEVEM PAGAR POR SEUS ATOS.
      A MENOS, QUE A FAMÍLIA NÃO SEJA DE BEM, OU TENTA PINTAR UM QUADRO PARA SOCIEDADE FICTÍCIO.

  • Acho que seria interessante cruzar os dados. Helena Chagas vê nesse movimento de criar um partido um tiro no pé.

    https://osdivergentes.com.br/helena-chagas/novo-partido-e-jogada-de-alto-risco-para-bolsonaro/

    Novo partido é jogada de alto risco para Bolsonaro
    Por Helena Chagas -novembro 20, 2019, 13:41

    Jair Bolsonaro — que, num gesto inédito para um presidente da República, deixou formalmente nesta terça o PSL — vai precisar de uma senhora ajuda do Tribunal Superior Eleitoral para viabilizar seu novo partido, a Aliança pelo Brasil, antes das eleições do ano que vem. É grande o risco de dar com os burros n’água, segundo opinião de dez entre dez políticos experientes.

    Dois precedentes importantes da história recente apontam em sentidos contrários. Marina Silva, por exemplo, fracassou na tentativa de formalizar a Rede Sustentabilidade e fim de concorrer nas eleições de 2014. Acabou vice na chapa de Eduardo Campos pelo PSB e, com sua morte, candidata a presidente. Mas demorou para viabilizar a Rede.

    Já Gilberto Kassab obteve, em 2011, as boas graças da Justiça Eleitoral e criou seu PSD em tempo recorde, participando das eleições de 2012. Foi uma proeza, e para sua realização certamente terá pesado o fato de Kassab, na época, ser aliado ao mesmo tempo da presidente da República, Dilma Rousseff, e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

    Não se deve subestimar a capacidade de um presidente da República, com a máquina, a caneta e o Diário Oficial nas mãos, de criar um partido. Mas Jair Bolsonaro não é um presidente como outros, sobretudo no quesito articulação política.

    Coincidência ou não, na mesma terça-feira em que Bolsonaro assinou sua carta de desfiliação do PSL, o sub-procurador geral eleitoral, Humberto Jacques, enviou parecer ao TSE contrário à coleta das assinaturas necessárias por via digital. O parecer do procurador não é a decisão final do Tribunal, mas acendeu um sinal de alerta entre bolsonaristas, que pretendem usar a estratégia digital para reunir as 500 mil assinaturas até março.

    Do ponto de vista político, a decisão de Bolsonaro de criar mesmo um novo partido também tem alto risco. Enquanto a Aliança não tiver sua criação confirmada, não poderá abrigar deputados que vão sair com o presidente do PSL, pois eles correm o risco de perder seus mandatos. Até essa formalização, vão viver numa espécie de limbo político, com um pé no partido antigo e outro no novo.

    O que fará Eduardo Bolsonaro, hoje líder do PSL na Câmara? Provavelmente deixará a função. Ele e seus aliados arriscam-se a perder as indicações para os postos que ocupam hoje em comissões e relatorias, até por represália de Luciano Bivar, confirmado também nesta terça na presidência do PSL.

    O primeiro grande prejuízo político da nova empreitada partidária da família Bolsonaro poderá ser a perda das vagas que seus aliados ocupam hoje na CPMI das FakeNews, aquela criada para investigar o esquema digital montado pelo hoje presidente nas eleições de 2018.

    • A criação deste partido será muito fácil. Basta os tenentes perguntarem aos MILHARES de cabos e soldados em todos os quartéis pelo Brasil afora, na hora da parada diária dos quartéis (reunião em que quase todos os militares de um quartel se reúnem enfileirados em companhias e pelotões, para receberem instruções): "Quem NÃO for voluntário para a criação do novo partido do Exmo. Sr. Presidente da república ......, ou quem for CONTRA a criação do mesmo, favor dar um passo a frente. (Provavelmente nenhum soldado ousará dar este passo). Então o tenente falará: Já que TODOS são voluntários, favor dirijam-se a sala tal, para a assinatura da criação do partido, após a parada e blá blá blá.

  • Quando li aqui os detalhes da criação do novo partido imaginei algumas considerações a fazer nos comentários que acabei desistindo por achar um exagero, mas que depois desse xadrez acho bastante pertinente firmar-los aqui.
    O que difere esta Organização Partidária das Organizações Clandestinas contra a ditadura militar?
    1 - O fato que aquelas eram clandestinas e lutavam contra uma ditadura independente do que tinha em mente implantar caso fossem vitoriosas.
    A Organização 38 é legal, criada pelo chefe da nação e tem como objetivo a luta contra a democracia e o Estado de Direito e aquele s que defendem esses valores e essa luta não será em tribunas, mas na quebrada, na noite escura, na tocaia.
    2 - Eles estão se lixando se o TSE não os reconhecerem como partido, penso mesmo que é isso que esperam para que possam agir numa espécie de semi legalidade, em que não possam ser alcançados e enquadrados pela lei.
    3 - Só resta definir tal agremiação como Organização Terrorista Institucionalizada. (OTI)

  • "O que é o fascismo, visto em escala internacional? É a tentativa de resolver os problemas da produção e da troca através de rajadas de metralhadoras e de tiros de pistola. (...) Criou-se uma unidade e simultaneidade de crises nacionais, que fazem com que a crise geral seja extremamente aguda e incontornável. Mas existe em todos os países um estrato da população – a pequena e média burguesia – que considera ser possível resolver estes gigantescos problemas com metralhadoras e pistolas. É este estrato que alimenta o fascismo, que fornece seus efetivos."
    GRAMSCI, “Itália e Espanha”. In: Escritos Políticos. Volume 2, 1921-1926. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, , p. 46-7.

  • Pois é Nassif .. por enquanto tudo dando certo para eles... Nenhuma insurgência. Uma dose mastodôntica do "boa noite, cinderela" na nação. Imprensa fazendo o jogo. Classe artística tá quieta. Justiça (com ç) só "acompanhando". Quem tá agindo com afinco é a "Justissa". Igreja católica sendo defenestrada pelos crentes... Tá dando medo! Neste momento eles são a maioria. Só não vê quem não quer...

  • Até hoje, em todas as análises que li, o peso dos evangélicos sempre foi mal dimensionado. Para quem mora na cidade de São Paulo, é só comparar quantas pessoas ao redor eram evangélicas à 15 anos atrás e quantos são agora.
    Tenho minhas dúvidas se há mais católicos do que evangélicos, pelo menos por aqui.
    Bolsonaro foi o herói ultra conservador que barrou a onda progressista e anti família, segundo a lógica deles. Eles estavam com esse sentimento represado e encontraram voz no Bolsonaro.
    Para esse público os fins justificam os meios, é compraram a ideia do anti comunismo.
    O centro, que iniciou o golpe, foi atropelado é engolido por Bolsonaro e a esquerda, infelizmente, não percebeu ainda que têm um discurso e planejamento de enfrentamento correto, já que nem identificar os anseios desse público conseguiram.
    É pelo andar da carruagem, viveremos tempos obscuros.

    • A esquerda insiste em enxergar virtude numa sociedade autoritária. Sim, os evangélicos se reconhecem no autoritarismo de Bolsonaro, não na sua defesa fajuta da família. Sabe qual o verbo que os evangélicos usam para expulsar alguém que pertença à sua membresia? Eliminar. Não estou falando de neopentecostais porque esses não tem membresia; estou falando dos batistas, presbiterianos e afins. É a turma de Dallangnol.

      • Pelo menos na Igreja Presbiteriana, não é verdade: o termo é demitir. Outro absurdo, mas diferente do que você disse.

  • É preciso avançar na análise de como tal cenário pode se configurar. Criação de uma "onda fascista", que leve ao fechamento do Congresso Nacional - que já é dominado por centro-direita e direita - e do STF? Com estes protagonistas do bolsonarismo mencionados pelo Nassif? Vejamos: a aliança pela bestialidade (definição de texto muito corajoso do comentarista esportivo Juca Kfouri) necessita somar, para o registro, quase meio milhão de adeptos. Quantos teriam que concretizar a "onda"? 10 mil? 50 mil? 100 mil? 250 mil? Independentemente do juízo de valor de amplos setores progressistas, Lula pode não ter mais a capacidade de liderar amplamente uma resistência a isso, caso o país aprofunde a catástrofe. A questão é que este conjunto de ações destruidoras precisaria ser desencadeado de maneira combinada com avanço pesado da economia, um processo que criasse claramente a impressão de que as medidas neoliberais estariam acelerando a criação de empregos. Do contrário, ainda parece prudente duvidar de um apoio suficiente de massas para um mergulho no autoritarismo. Entretanto, cabe, sim, o debate sobre esta terrível hipótese.

  • Vamos aceitar como verdadeiras as afirmações de que as baixas patentes das PMs ,que parte do ministério público, da PF e da mídia porca deste país estejam realmente apoiando o caminho para o fascismo.
    Como essa gente chegou a esse ponto?
    Para mim isso é resultado de instituições que foram sempre capenga,talvez por causa de nossa cultura de não enfrentamento.
    O sujeito que está na presidência da República, houvesse minimamente qualquer instituição funcionando no país e ele sequer teria terminado seu "mandato" como deputado federal tamanha as afrontas a democracia que proferiu dentro e fora do parlamento.
    O Brasil corre sérios riscos com essa gente. Contudo,a maior base de sustentação ainda tem que ser a popular e,mesmo Hitler que era um líder inconteste na sua Alemanha, coisa que não ocorre no Brasil, perdeu rapidamente o apoio quando o povo começou a sofrer as agruras da guerra.
    De qualquer forma o quadro que se apresenta, embora grave, é muito mais um caso de vergonha do que de apoio.
    Todos os que apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma ainda nutrem, 3 anos após ,a esperança daquilo que lhe foi prometido ainda que,os anéis já tenham ido e,em alguns casos, já começam a cortar-se os dedos.
    Tudo isso para eles é aceitável. Tudo menos a desonra de admitir que mais do que nunca que aquele pato que eles orgulhosamente ostentavam é o fiel retrato deles hoje.

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