Opinião

As faces de dois crimes, por Saulo Barbosa Santiago dos Santos

Por Saulo Barbosa Santiago dos Santos*

Em julho de 2022, dois homicídios ganharam repercussão devido às dúvidas sobre as motivações. Apesar de gravados e com muitas testemunhas, um crime dá fortes indícios de motivações políticas, o outro, pouco se tem a dizer até os avanços investigativos. É necessário analisar tais crimes porque, a partir de estratégias fascista, bolsonaristas estão distorcendo os fatos para construir o caos, dividir segmentos socais e conquista-los. Quem são as vítimas e por que há tanta discussão sobre se foi ou não motivação política?

O guarda municipal e ex-tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, 50, foi, no dia 10 de julho de 22, assassinado enquanto comemorava seu aniversário na Associação Recreativa e Esportiva Saúde Física (Aresf). Jorge Guaranho, agente penal federal, tinha acesso às câmeras de segurança da Aresf, viu que era uma festa temática sobre o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva e resolveu ir ao local para gritar “aqui é Bolsonaro”. A vítima não lhe conhecia e jogou areia no carro dele. O agente penitenciário foi para casa, voltou à festa, e entra atirando e gritando “aqui é Bolsonaro, petista vai morrer tudo”. Arruda respondeu com 10 tiros, feriu o suspeito e impediu um massacre com a vida.

Diante destas circunstâncias analisemos: 1 – Festa temática sobre o pré-candidato Lula; 2 – O assassino monitorava remotamente a festa; 3 – O assassino foi ao local para gritar “aqui é Bolsonaro”; 4 – A vítima joga areia no carro do assassino em resposta; 5 – O assassino volta à festa e entra gritando “aqui é Bolsonaro, petista vai tudo morrer” e mata o aniversariante; 6 – Ambos não se conheciam. Inicialmente, a polícia paranaense acusou Guaranho por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e pessoal. Todavia, o Ministério Público do Paraná discorda desta tese e não vê outra motivação se não política, pediu revisão do caso.

Duas semanas após a morte de Arruda, assassinam em Ibotirama, Bahia, Marcello Leite, 39, e logo se começa os apelos de crime político. De acordo com a polícia e imagens gravadas, Leite estava parado dentro de um carro, dois homens numa moto encostam e lhe mata com tiros. As investigações não indicam questões políticas. De qualquer forma precisa-se entender as circunstâncias deste homicídio: 1 – Leite estava parado dentro do carro; 2 – Dois homens de moto matam e fogem. Crimes como este, infelizmente, são comuns no Brasil, contudo, desde que não haja novas evidências, ser bolsonarista e ser assassinado não quer dizer que há motivação política, uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Sem qualquer prova o ex-secretário Nacional de Fomento à Cultura, André Porciuncula, e a deputada Carla Zambelli foram às redes digitais afirmar que houve crime político no caso de Marcello Leite, mas isso não é por acaso, faz parte de duas estratégias fascista adotada no governo de Bolsonaro: Vitimização e Irrealidade. Segundo Amadeu e Rovai (2022)

o fascismo atual não se organiza exclusivamente em partidos: ele se tornou digital, descentralizado e independente de organizações institucionais. Tal como Goebbels utilizou aparatos de comunicação avançados para disseminar as mensagens nazistas, o fascismo do século XXI vem embalado por influencers, youtubers, cientistas de dados, crackers e empresas de marketing político como a Cambridge Analytica.

Vitimização por focar o ressentimento e punir àqueles que são antibolsonaristas, por isso gritam nas redes “Ele morreu por ser bolsonarista e a grande mídia não diz nada”. Irrealidade porque não há nada que possa relacionar o caso citado à motivação política, ou seja, manipulam a narrativa para favorecer o vitimismo e provocar a discórdia, assim, rompendo as possibilidades de dialogar com base nos fatos.

Conclui-se que os casos investigados são diferentes, no assassinato de Marcelo Arruda há mais fatos que corroboram com a tese de motivação política do que o caso de Marcelo Leite. Todo o imbróglio causado pelos políticos bolsonaristas não passa de estratégia fascista como meio de vitimizar o governo e pôr a sociedade contra os discordantes de Bolsonaro. Não sejamos neutros, diante da injustiça, quem se cala apoia o opressor, mesmo que seja o único a discordar, não se cale com a ideia que não fará diferença, isso desmobiliza. Qualquer ajuda à resistência é bem-vinda.

*Saulo Barbosa Santiago dos Santos é filósofo, guarda civil e autista.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem um ponto de vista diferente? Mande seu artigo para dicasdepauta@jornalggn.com.br.

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