Janio de Freitas: Amanhã, no Brasil, não é outro dia

Evelson de Freitas/Folhapress

Jornal GGN – Resultado do julgamento de Lula não muda entedimentos, ou seja, continuam como antes. Os três desembargadores do TRF4, em suas exposições, não fugiram do usual: preencheram com ilações os buracos e se rejubilaram com extratos de depoimentos contrários a Lula. Nenhum dado oferecido pela defesa ou por testemunhas que corroboraram com a inocência foi utilizado, citado ou sequer lembrado. Janio de Freitas, em seu artigo de hoje na Folha, fala sobre os novos rumos do Judiciário brasileiro e seus exemplos memoráveis.

Leia o artigo a seguir.

da Folha

O salto na encruzilhada

por Janio de Freitas

O resultado: quem considerava Lula inocente e quem entendia faltarem provas indispensáveis para sua condenação, continuam, uns, convictos da inocência e, outros, da insuficiência de comprovação. Quem o achava culpado não mudaria e não foi tentado a fazê-lo.

As exposições condenatórias dos desembargadores Gebran Neto e Leandro Paulsen não foram frágeis, nem forçaram argumentos além do que tem sido usual. Ilações preencheram faltas de demonstração em alguns buracos, mas trataram de revestir-se de fartas quantidades de extratos de depoimentos contrários a Lula.

As cobranças da OAS, por exemplo, a pagamentos devidos por Lula para ficar com o apartamento, levaram o relator Gebran Neto a recorrer a um trecho de Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira. O pagamento, segundo o relator, foi feito como desconto em de programada contribuição da OAS ao PT. Fórmula acertada pelo próprio Pinheiro com o tesoureiro do partido, João Vaccari. Este é um ponto crucial no caso.

Mas, aí chegado, o relator Gebran saltou às pressas para outro assunto. O pagamento indireto ficou, no relatório orientador do julgamento, como fato ocorrido. Sem comprovação de sua ocorrência, no entanto. O que, aliás, veio complementar uma sugestiva providência da Lava Jato de Curitiba. Lá citado pelo ex-presidente da OAS como outra parte do acordo, Vaccari não foi inquirido pelos procuradores nem por Sergio Moro, sobre o desvio financeiro de OAS-PT para o débito de Lula com a empreiteira.

Entende-se: o esperável de Vaccari, se ouvido, seria a negação a Léo Pinheiro, enfraquecendo ou neutralizando a única explicação para ressarcimento da OAS pela cobertura e pela obra que a adaptou a pedido de Marisa Letícia da Silva.

O presidente do julgamento, desembargador Leandro Paulsen, ressaltou que aquela turma de julgamento nunca se baseia só em delação. Ao menos desta vez, não faltaram truques próprios dos acusadores –e não menos comuns, em seu inverso, nas defesas.

O salto sobre o pagamento foi, porém, muito prejudicial ao esclarecimento do caso. Os desembargadores aceitaram que a OAS estivesse cobrando de Lula a diferença de valor do pequeno apê para a cobertura, a obra aí e a correção do preço. O que nega o presente como compensação por contratos facilitados. Mas se provado o pagamento por dedução em verba da OAS para o PT, como ficou dito por um só depoente, demonstraria a doação. Se para Lula ou para o PT, até daria uma discussão divertida.

O presidente Leandro Paulsen chegou a dizer, em seu voto: “Tenho assim como comprovado o recebimento do benefício” (do apartamento por Lula). Na verdade, se é possível comprová-lo, os procuradores de Deltan Dallagnol, Sergio Moro e os desembargadores do TRF-4 jogaram fora a oportunidade.

Como aí não se permite dispensar nada contra Lula e o PT, no desperdício parece estar uma escolha forçada na que era a encruzilhada mais visível até agora.

Resumo: amanhã, no Brasil, não é outro dia.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

  • "Essa Terra que nunca muda" Pablo Neruda

    O Brasil continua o mesmo desde sua formação pelos Bandeirantes de um lado e jesuitas de outro. A patacoada de ontem é ainda mais indigesta do aquela de Sergio Moro e os minions do MPF. Três homens, visilvemente malabaristas do Direito, condenaram com base em suas preferências pessoais e com o moralismo proprio ao senso comum.

  • A fila anda.

    Depois de ter dado certo com o Lula, é provável que as atenções da CIA se voltem para o Maduro, na Venezuela. O país não possui grande quantidade de mão de obra a ser aviltada, não possui um parque industrial desenvolvido, mas possui imensas reservas de petróleo. E, por esse bem insubstituível, os EUA fazem qualquer coisa pois sabem exatamente quando o deles irá acabar. A política americana é garantir fornecedores confiáveis e/ou acesso às jazidas onde quer que estejam.

  • Estavam a pintar a bandeira brasileira...

    ...Mas  só trouxeram  a   tinta amarela !!   

    Daí, ficou difícil para quem não leu  a  legenda saber do que se tratava !!

     

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