Na briga de Bolsonaro com a mídia, é um erro torcer pela briga, por Rogério Marques

Na briga de Bolsonaro com a mídia, é um erro torcer pela briga

por Rogério Marques

Tenho visto pessoas de oposição ao atual governo dizendo que na briga de Bolsonaro com a mídia torcem pela briga. A frase, além de batida, revela um grande equívoco.

Não é segredo para ninguém que a chamada grande mídia tem lado, como sempre teve, historicamente. O lado dos interesses de seus donos, aquela meia dúzia de bilionários sem qualquer compromisso com os princípios do bom jornalismo.

Os interesses dessa turma são os mesmos de grandes empresários representados pela Fiesp. Inconformados com a reeleição de Dilma Rousseff pretendiam, com sua deposição, levar ao poder alguém como Geraldo Alckmin para implantar as tão sonhadas reformas neoliberais.

O plano deu certo pela metade. Dilma foi deposta, as reformas estão sendo feitas, mas o ultradireitismo e a ultraboçalidade do atual governo são fatores de instabilidade permanente.

Mais uma vez, esses empresários estão provando do próprio veneno, como acontece com a Folha de São Paulo e a TV Globo.

Depois de ameaçar não renovar a concessão da Globo e excluir a Folha de São Paulo da licitação da Presidência para o acesso ao noticiário digital, Bolsonaro vai além. Acaba de declarar que não compra mais produtos anunciados pela Folha.

Isso é gravíssimo! Tem que ser denunciado!

É um claro estímulo para que seu eleitorado faça o mesmo, pressionando assim os anunciantes do jornal. Para ampliar o boicote, nas últimas críticas à Folha de São Paulo ele cita uma passagem bíblica, um aceno a grupos neopentecostais.

O objetivo final é sufocar financeiramente a Folha, levá-la à falência, exatamente o que a ditadura militar fez com o Correio da Manhã. Que, é bom lembrar, também defendeu a deposição de um presidente constitucional, João Goulart.

Bolsonaro nunca mudou. Continua enaltecendo a ditadura militar implantada em 1964, que para ele não foi ditadura, e tendo como ídolo um notório torturador daquele regime. É um saudosista do AI-5 — para ele apenas “um evento histórico” –, que sempre flertou com um retrocesso democrático.

Se ele hoje mira na Folha e na TV Globo por divergências de ocasião, amanhã os alvos poderão ser o Judiciário, o Congresso, quaisquer outras instituições que, com todos os erros, ainda garantem uma democracia enxovalhada.

Da mesma forma que a ditadura militar só foi derrotada com a formação de alianças até com setores conservadores, mas comprometidos com a democracia, agora a situação se repete.

O atual governo ainda goza de popularidade e tem importantes apoios no Congresso. Mais uma vez, é preciso formar alianças e denunciar de todas as formas os arreganhos ditatoriais de Bolsonaro, contra quem quer que seja.

Redação

Redação

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  • "Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma". - Joseph Pullitzer

    O Bolsonaro é cria dessa imprensa murdochiana que aí está, que afirma que a Dita não foi dura, mas branda.

    Pimenta nos olhos dos Torturados pelo Regime Militar é refresco nos olhos da Folha e do Bolsonaro.

  • Não é questão de torcer pela briga, apenas que essa briga não é nossa; é de comadres. Não se iluda: entre a esquerda e Bolsonaro, a Folha fica com Bolsonaro e a ditadura. Vamos nos concentrar na nossa briga em defesa da Democracia, o que já é bastante.

  • Mesmo sem a Folha a família Frias continuará milionária. Desfrutando dos milhões que amealharam às custas da miséria do povo brasileiro por décadas. Gostaria sim, de vê-los provando pelo menos um pouco de seu próprio veneno. Eles merecem.

    • Difícil se apaixonar pelo agressor.....
      Em tempos que até se cogitam o retorno da marta, não duvido de mais nada.....
      Que a trolha se dane.....

  • "Erro" é achar que esse suposto "centro" quer papo com a esquerda. Outra criancice é achar que "a esquerda" teve participação relevante para o fim da ditadura. Dito de outro modo: a "democracia" que o bloco reacionário tem em mente é com a esquerda ou qualquer representação popular como figurante, coadjuvante, ocupando um papel secundário.

  • Não é uma questão de ficar com a briga,nem de ser de esquerda.
    Essa gente vem,há tempos, tentando embaçar nossa visão.
    Fingem,como sempre,que brigam entre si.
    Na hora H,que é a que vale, dão os braços para descer o reio no lombo da população mais humilde.
    Se quiserem avançar contra o judiciário, ministério público, congresso, etc,etc,que avancem.
    As instituições não tem sido instituições de Estado,tem sido instituições da elite miserenta deste país e não farão falta aos milhões de desempregados e empreendedores de bicicleta.
    Caos já!

  • Seria mais útil uma megacampanha internacional para NINGUEM pagar dívidas a bancos e comércio em geral (lojas de departamentos, supermercados, as Havan da vida, cartões de crédito etc ...). Essa quadrilha der gigolôs formada por Febrabans e Associações Comerciais está por trás de tudo o que há de ruim para a população em geral, especialmente para o povo trabalhador, que não tem em como repassar a exploração, nem se encostar nos cofres públicos (como fazem juízes, promotores, militares e outros párias). Uma enorme campanha de calote forçaria essa elite corrupta e a se sentar à mesa com os trabalhadores para forjar um novo Contrato Social (aquele descrito por JJ Rousseau), porque aquele que vigia até o impeachment da Dilma (para estabelecer um marco qualquer) foi rasgado unilateralmente por eles. O dia em que o povo endividado perceber o enorme poder que têm nas mãos...

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