O triste espetáculo do Pão(migalhas) & Circo, por Ailton Andrade

O triste espetáculo do Pão(migalhas) & Circo

por Ailton Andrade

A população brasileira passa por uma prova de resistência e sobrevivência, enfrentando uma pandemia cruel, a COVID-19 mas há uma variável, o governo federal, que poderia ser a favor de combate-la, entretanto, atua para potencializar os seus terríveis efeitos.

Não contente em sugerir tratamentos desprovidos de qualquer evidência cientifica como o esdrúxulo tratamento precoce : Hidroxicloroquina + Azitromicina + Ivermectina, medicamentos que chegaram a ser testados mas foram, cientificamente, declarados ineficazes e pior, passiveis de causar efeitos colaterais sérios, o dirigente máximo do país, de modo deliberado, cínico e irresponsável insufla milhares a continuar propalando esse e outros absurdos, sabotando ao máximo aquilo que há mais de dois séculos é reconhecidamente o modo eficaz – as vacinas,  que desde 1798, a partir de experimentos do médico e cientista inglês Edward Jenner, são utilizadas de forma segura e adequada (https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1263-vacinas-as-origens-a-importancia-e-os-novos-debates-sobre-seu-uso?showall=1&limitstart=)

Apesar da narrativa negacionista, fortemente apoiada pelo Presidente Bolsonaro, com atraso foi iniciada a vacinação em nosso país e tal processo vem transcorrendo de forma lenta e claudicante, por conta de inúmeras falhas, em sua maior parte originadas no governo federal, falhas essas que estão sendo escrutinadas no Senado Federal.

As falhas, os devaneios e absurdos que temos acompanhando estão sendo dissecados em uma CPI, no Senado Federal, que visa demonstrar de forma clara e inequívoca o grau de responsabilidade, do governo federal, por trabalhar em prol do vírus SARS-CoV-2 ao invés de centrar todos os esforços para combater a pandemia.

Nesse momento a COVID-19 está ceifando a vida, em média, de 1850 (mil oitocentos e cinquenta) brasileiros a cada dia ( https://qsprod.saude.gov.br/extensions/covid-19_html/covid-19_html.html) , em uma segunda onda iniciada em meados de fevereiro/21 e apesar de ter apresentado queda em número de mortes e casos encontra-se em patamar extremamente elevado, trazendo serias dúvidas e preocupações quanto a chegada de uma terceira onda, que pode ser potencializada por outras cepas, como a variante Indiana, somos surpreendidos com a oferta do governo Bolsonaro, de sediar a 47° Copa América.

Diante de todo o contexto que vivemos, de enfrentamento à pandemia, o governo brasileiro se oferece e mais do que isso, patrocina um evento que reunirá 10 seleções de futebol da América do Sul, algo totalmente inacreditável, irresponsável e desnecessário. Nada justifica estarmos, de forma voluntária, aceitando a realização desse campeonato no Brasil, antes Argentina e Colômbia já haviam recusado a realização do evento e agora, o governo Bolsonaro atua no sentido de termos cerca de , no mínimo 600 pessoas, oriundas de nove países da América do Sul, sem contar logicamente o fato que jogadores dessas seleções atuam em clubes ao redor do mundo.  Mesmo que se diga que todos estarão vacinados não há como prever e garantir que um número considerável de pessoas de tantos países, circulando por até trinta dias no Brasil, não possam se contaminar ou mesmo disseminar o vírus com cepas diferentes.

Há um misto de temor pela vida, perplexidade e fadiga da população brasileira, que por conta dos riscos da pandemia tem demonstrado sua contrariedade, se manifestado, de forma tímida e limitada, quase que exclusivamente por meio de redes sociais e o governo Bolsonaro tem se aproveitado desse contexto e atua, cada vez mais, com o intuito de facilitar a transmissão do vírus e dar sequência a sua politica negacionista.

Cabe ressaltar que o advento da Copa América 2021 está sendo usada como uma pano de fundo para tirar a atenção da população brasileira sobre vários temas como: CPI que apura a responsabilidade do governo Brasileiro (no combate à COVID-19 ), da velocidade da vacinação, dos impactos severos que a pandemia acarreta – no aumento da desigualdade, da pobreza e da fome além do aumento do desemprego; dos processos envolvendo o ministro do Meio Ambiente; da reforma administrativa; dos processos de privatização da Eletrobras e dos Correios, etc.

Fica evidente que a preocupação maior do governo brasileiro é continuar negando a extensão da pandemia e agora usa o instrumento de uma política de Pão(migalhas) e Circo apoiando a realização de um evento futebolístico, como uma distração para a desorientada, desalentada e sofrida população de nosso país.

É premente que as mentes equilibradas, sóbrias, corajosas e combativas de nosso país,  presentes nas várias esferas da sociedade: na classe política, nas entidades representativas, nos movimentos sociais e mesmo a população de forma geral, busquem meios eficientes de dar um claro recado contra a politica de Pão(migalhas) e Circo, que possamos, de forma consciente, inteligente e cuidadosa, encontrar meios para não permitir que uma “distração fabricada – Copa América”  venha aprofundar os problemas que sofremos com a disseminação da COVID-19 e que haja uma correção de rumos em busca daquilo que é prioritário nesse momento, o combate racional, corajoso e ininterrupto à pandemia e suas consequências.

Ailton Andrade, Engenheiro e Diretor do STIU-DF.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

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