Os temores da economia, por Pedro Augusto Pinho

Os temores da economia

por Pedro Augusto Pinho

Jornal de minha leitura diária, o Monitor Mercantil edita, dia 07/03/2018, na página Monitor Internacional, matéria com título “O capitalismo aposta seus temores”, assinada por Alex Corsini.

Qual capitalismo? Pergunto-me.

Tenho muitas vezes escrito sobre a banca, o capitalismo financeiro que domina, neste século XXI, quase todas as atividades humanas e muitos “estados nacionais”. Pretendo tratar de algumas consequências desta matéria de que trata o Monitor.

Mas entendo ser indispensável esclarecer quais ideologias, não religiosas, disputam corações e mentes da humanidade contemporânea.

Não são mais o capitalismo e o socialismo, pura e simplesmente. Ambos sofreram alterações ao longo de suas trajetórias no século passado. Darei um exemplo ainda pouco conhecido: da China.

Wladimir Pomar (A Revolução Chinesa, Unesp, SP, 2003) mostra que desde a expulsão do invasor japonês, “os comunistas tentaram dar continuidade à combinação de socialismo e capitalismo que já vinham praticando” desde o governo de Sun Yat-sen.

Na verdade, tanto aquele capitalismo quanto o socialismo adotavam a industrialização como diretriz econômica. A diferença, que não era nem é pequena, reside na distribuição dos lucros: o concentrado em poucas mãos no capitalismo e o disperso pela população, em princípio, no socialismo. Há em ambos a questão importante da administração, da gestão.

Em outra parte temos o capitalismo financeiro, altamente concentrador, opositor do empoderamento dos capitalismo e socialismo industriais.

A concentração permanente de renda é um daqueles dois objetivos da banca. Enquanto se restringem a meros e rentáveis templos de especulação, as bolsas de valores são locais sagrados, imunes em suas autorregulações, por maiores violações que cometam. As exceções confirmam a regra.

Mas, eis que um presidente, da mais rica e bem armada nação do mundo, contrariando o ditado que diz ser promessa de campanha algo que termina na eleição, resolve promover a “reindustrialização” dos Estados Unidos da América (EUA).

Os “mercados”, designação para ação especulativa com as finanças em todo e qualquer lugar, entram em pânico; ficam nervosos. É algo que gostaria de ver, um título de crédito, uma ação negociada em bolsa ou um simples papel moeda, tremendo de inquietação.

E qual o motivo de tamanha agonia? Transcrevo da matéria jornalística inicialmente citada: “o comunicado de um pequeno aumento de salários nos EUA da ordem de 2,9% em sintonia com a tendência altista na taxa de juro dos bônus norte-americanos de 10 anos”. O Goldman Sachs estima que estes juros atinjam 3,25% a.a. ainda em 2018.

São dois males para um pobre rentista especulador, os salários subindo – o que o fiel servidor da banca no Brasil do golpe não permitirá – e a inflação, provocada pela produção e consumo, roubando parte de seu ganho, economicamente estéril.

Desse modo, a bolha, a próxima crise da banca, deve ser armada, novamente, nos EUA, para punir este desaforo de querer produzir, empregar e recuperar uma nação. Como afirmou o mestre J. Carlos de Assis, tenho também muitas restrições ao Presidente Trump; mas sua política industrial e seu ataque ao liberalismo comercial tem meu respeito.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • Por essas coisas que só a

    Por essas coisas que só a história é capaz de fazer, Trump pode estar pro rentismo como Reagan esteve pra URSS. Explicando = ao investir como nunca na indústria bélica americana, Reagan obrigou a URSS a fazer o mesmo - e isso foi a gota d'água pra arrebentar a já combalida economia comunista soviética. E Trump, se cumprir o que disse que faria na economia, pode bater de frente com o rentismo e resgatar os que são deixados à margem nesse financismo maluco. Embora vistos como broncos, há de se ressaltar que Reagan, quando chegou ao poder, já era um dos mais fortes políticos profissionais, governador da California (que se fosse um país estaria entre os 10 mais ricos do mundo) e um dos poucos casos de politico que trocou de partido e se deu bem (era democrata e depois virou republicano). 

  • Sempre oportunas as

    Sempre oportunas as observações e análises do articulista. Vamos aguardar o próximo estouro da boiada sobre as economias periféricas, é só uma questão de tempo.

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