Resistir e lutar buscando o resultado, mas também pelas gerações futuras, por Eduardo Ramos

Resistir e lutar buscando o resultado, mas também pelas gerações futuras

por Eduardo Ramos

A maioria dos brasileiros que lutou contra a ditadura militar de 64, sobreviveu para ver o fruto de suas falas e ações, suas participações em passeatas, suas reflexões, suas opiniões manifestas a amigos e familiares, enfim, cada um lutou como pôde, como suportava, como era a sua ideologia política e de vida. Para alguns milhares de brasileiros, significou, tragicamente, a morte, ou a tortura, a prisão, o exílio. Admiro e respeito estes, admiro e respeito aqueles que fizeram outra escolha de vida e ainda assim lutaram, resistiram.

Mas muitos brasileiros, mesmo os que não pegaram em armas, morreram antes do processo de redemocratização atingir o Brasil. Lutaram, provavelmente, sem a menor noção de quando o terror ia acabar, porque na verdade, “não tinham outra vocação em suas vidas, que não essa: a de enfrentar e lutar contra a ditadura, pelos meios e ideias/ideologias que possuíam à época”.

Do mesmo modo, os brasileiros que em 1700 lutavam contra o horror da escravidão, mesmo os mais pragmáticos e brilhantes, os que tentaram de tudo para viabilizar uma vitória, TODOS ESSES MORRERAM SEM VER O FIM DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL, a maioria, muito provavelmente, realistas o bastante para saberem quase que com certeza absoluta, que sua luta era, naquele tempo, inglória, inviável, porque muito poderosas as forças dos adversários – o imperador, os escravocatas, os grandes bancos que financiavam o comércio de escravos, o “agronegócio” da época.

Cabe uma pergunta aqui: porque brasileiros de mais idade em 64, sem verem “uma luz no fim do túnel” dez, quinze anos depois, seguiram lutando, até morrerem, sem certeza alguma quanto ao ano em que se daria o fim da ditadura?

Do mesmo modo, porque os brasileiros que lutaram contra a escravidão em 1.700, um século antes de seu término, empreenderam essa luta contra todas as possibilidades, uma derrota anunciada?

A resposta me parece simples: PORQUE OS MELHORES SERES HUMANOS, MESMO QUANDO LUTAM O MAIS PRAGMATICAMENTE QUE PODEM, TENTANDO DERROTAR PROCESSO SOCIAIS E POLÍTICOS HEDIONDOS DO SEU TEMPO, MUITAS VEZES O FAZEM COM POUQUÍSSIMA ESPERANÇA DE VENCER, MAS POR SUA DIGNIDADE PESSOAL, SEUS VALORES, E PORQUE NÃO PODERIAM SER OU AGIR DE MODO DIFERENTE!

E, um segundo motivo, em que creio firmemente: porque sabiam ou intuíam, que no futuro, novas gerações colheriam os frutos e flores nascidos das sementes de suas lutas passadas…. E é isso, muitas vezes, o que traz glória a uma existência – a consciência, de termos feito o melhor que podíamos.

Muitos de nós estamos no meio de uma batalha desse tipo, perguntas e dúvidas fervilhando na cabeça: “Lula estará livre e elegível ou não em 2022?”, “a eleição se dará num ambiente normal ou milícias armadas e militares imporão Bolsonaro novamente ao país?”, “se houver eleições, serão democráticas ou as Fake News mais uma vez decidirão o nosso destino?”, “o que perdemos do Pré-Sal será recuperado para o Brasil e entregue de vez às multinacionais?” – e tantas outras questões que afligem os brasileiros lúcidos, os que não fazem parte do imenso e trágico rebanho fanático produzido pela grande mídia nos últimos anos…

Na verdade, hoje, nenhum de nós, mesmo o mais brilhante articulista, possui essas respostas, não com exatidão. Especulamos nosso presente, especulamos sobre a semana que vem, o mês que vem, que dirá sobre o futuro, como estará nosso país daqui a alguns anos.

Devemos tentar ser o mais pragmáticos que pudermos, usar estratégias políticas inteligentes, unir forças, etc., etc.? Sim, com a mais absoluta certeza!

E ainda assim, NADA NOS GARANTE A VITÓRIA!

Lutemos pelo tempo presente com todas as nossas forças. Lutemos para mudar a realidade tenebrosa, com toda a nossa coragem e capacidades.

E lutemos, ainda, se for o caso, com a certeza cristalina de que sempre o que vivemos é um processo, e aqueles que não virem a vitória chegar, a democracia, a Amazônia segura, o fim do entreguismo, o Brasil soberano, o Judiciário justo, o fim da miséria, futuras gerações colherão esses frutos, e eles serão tão doces e sagrados para eles, quanto teriam sido para nós…

Tenhamos esse valor, tenhamos essa dignidade de vida!

(eduardo ramos)

Redação

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