Bancada do PMDB isola Eduardo Cunha

Jornal GGN – Após se transformar na princiapl referência da oposição, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), terminou a semana isolado dentro do próprio partido, em meio as negociações do governo para a reforma ministerial. 

Matéria de José Casado no O Globo relata que o parlamentar foi contatado por Dilma, que ofereceu a possibilidade de conduzir a indicação de novos ministros. Ele recusou a oferta e fechou a possibilidade do governo negociar com a bancada peemedebista. Depois, a presidente conversou com Leonardo Picciani, líder do PMDB no Câmara, que aceitou negociar com os demais deputados do partido e que teria dito a Cunha: “Você é oposição; eu, não. Você quer o impeachment; eu, não”.

Do O Globo

por José Casado
Presidente da Câmara negou-se a negociar com o governo e foi atropelado pela bancada do partido na Casa

RIO – Sete meses depois de derrotar o governo, conquistar a presidência da Câmara e se transformar na principal referência da oposição, o deputado fluminense Eduardo Cunha terminou a semana surpreendido com a dimensão do seu isolamento dentro do próprio partido. Se ainda duvidava, teve demonstrações suficientes em Brasília e no Rio durante as últimas 72 horas.

Na quarta-feira, viu-se atropelado pela bancada de deputados federais nas negociações com o governo sobre a participação do PMDB na reforma ministerial.

A presidente Dilma Rousseff pedira ao partido uma lista de indicações para ministérios. Era manobra sem disfarce para arrefecer o ímpeto no Legislativo a favor do impeachment — insuflado por Cunha, a partir da Câmara, em discreto acordo com lideranças do DEM e do PSDB.

O governo começou a semana tentando cooptar os presidentes da Câmara e do Senado. O senador Renan Calheiros aparentou desinteresse. Procurou se manter distante do balcão governamental, mas sugeriu a Dilma procurar o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, seu aliado.

Dilma, em seguida, telefonou a Cunha, oferecendo-lhe possibilidade de conduzir a indicação de novos ministros. Ele seguiu a cartilha da recusa protocolar, com duas diferenças relevantes em relação a Renan: não deixou aberta a porta para entendimento com a bancada na Câmara e, mais tarde, vangloriou-se por ter dito “não” à presidente.

Dilma convocou o líder do PMDB na Câmara. Leonardo Picciani aceitou levar a proposta do governo aos deputados. Quando soube, Cunha chamou Picciani. Propôs união numa veemente recusa à oferta presidencial, se possível por escrito. O líder da bancada refutou, argumentando: “Você é oposição; eu, não. Você quer o impeachment; eu, não”.

DERROTA DE CUNHA FOI CELEBRADA

Picciani submeteu o pedido de Dilma aos deputados, em reunião na terça-feira. Depois de hora e meia de discussão sobre o veto de Cunha, decidiram no voto sobre a oferta presidencial.

O placar final (42 a favor e nove contra) expôs a dimensão do isolamento de Cunha. Demonstrou que ele perdeu a liderança da maioria (62%) da bancada — a mesma que, sete meses atrás, respaldara sua ascensão à presidência da Câmara, emulando 52% do plenário de 513 deputados.

Na manhã seguinte, quarta-feira, Picciani levou à presidente da República os nomes sugeridos pelos deputados. Cunha não conseguira vetar nem indicar nomes.

Sua derrota foi celebrada no PT e no Planalto como significativa vitória da presidente. Evidente exagero, pois, na gênese da erosão do poder de Cunha, pesa mais a vaidade do que a eficácia da ação paliativa de uma presidente que se deixou acuar pelo imobilismo.

Há 26 anos na política, ele fez do voo solo uma prioridade. Raras vezes aceitou ser liderado. Uma delas foi em 1989, quando foi patrocinado por PC Farias, tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor. Outra foi em 2001, quando, sob pressão nos tribunais, em processos sobre corrupção, o governador Anthony Garotinho proporcionou-lhe foro privilegiado, com uma vaga de deputado estadual. Seguiu Garotinho na migração para o PMDB, aliados ao governo Lula. Logo se tornaram inimigos.

Com uma base estadual restrita, Cunha passou os últimos cinco anos em múltiplas e recorrentes brigas com a cúpula do PMDB do Rio. Atenuava os embates com ativa participação em negociações sobre royalties de petróleo e dívidas municipais, relevantes para os governos locais. Quando pediu, recebeu apoio estadual para a candidatura à presidência da Câmara.

Em fevereiro, elegeu-se para o terceiro posto na linha de sucessão da República. No mês seguinte, foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro em negócios da Petrobras. Reagiu com uma interpretação conspiratória. E partiu para o confronto aberto com o governo e o Judiciário.

Tentou levar o PMDB para a oposição, perdeu para o vice Michel Temer e o senador Renan Calheiros. Aproximou-se da ala oposicionista liderada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), seduzida pela ideia de cassação do mandato presidencial (Cunha assumiria o poder e em 90 dias convocaria eleições). O devaneio durou pouco.

Perfilando-se com uma ala da oposição, Cunha entrou em rota de colisão com a cúpula do PMDB do Rio (o governador Luiz Fernando Pezão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani). Foram eles que expuseram o presidente da Câmara a uma segunda derrota, nas últimas 72 horas.

Nesta quinta-feira, o PMDB fluminense anunciou 71 candidatos a prefeito para a eleição de 2016, com 12 alianças — duas com o PT, em Niterói e Maricá. Cunha foi deixado à margem, sem consulta.

O político fluminense com maior projeção em Brasília, que em fevereiro despontara como uma promessa conservadora, ontem sequer teve seu nome inscrito na relação de convidados para a mesa principal da festa dos candidatos do PMDB no Estado do Rio.

Cunha imolou-se durante o voo solo. Não significa que esteja acabado. Continua com a influência derivada do controle da pauta de votações na Câmara. Não renunciou à soberba: “Você não faz ideia de como tenho sido ovacionado por onde passo…” — repetia aos céticos, com olhos arregalados.

 

Redação

Redação

View Comments

  • Deus ta vendo o cara indicar

    Deus ta vendo o cara indicar o Ministro da Saude e fica isolado na bancada do PMDB.

    Alias, abriram a perna para o cidadão.

  • 184 anos de prisão

    Candidato a receber uma pena dessa, aos poucos seus correligionários desembarcam da canoa furada de Eduardo Cunha. 

  • Surpreende a Globo!
    Quando o PIG grita e orquestra o ataque.
    Parabens a rede globo!
    So falta a corrupcao do Serra aparecer com sua sabotagem ao trem de alta velocidade entre RJ e SP, nao levou nada das empresas no projeto e construcao!

  • Esse show de horrores protagonizado pelo Eduardo Cunha...

    Esse show de horrores protagonizado pelo Eduardo Cunha só vai acabar quando ele for preso. Tenho certeza que caso ele seja preso a crise política acaba na mesma hora. Na atual conjuntura ter uma figura desequilibrada como o presidente da Câmara só interessa àqueles que jogam com o quanto pior melhor.

    O que ele tem feito é tentado destruir o país para poder se safar das investigações da Lava Jato. Nem que para isso tenha que jogar todo o PMDB nessa aventura maluca e egoísta chamada impeachment. 

  • Xiiiii ! o poderoso caiu mais

    Xiiiii ! o poderoso caiu mais cedo que imaginava.

    Para esse cidadão vale a máxima popular: malandro demais se atrapalha, pisa no próprio rabo e cai.

    E mais, o novo e jovem cacique, Picciani, cuja familia oligarca, não vale nada, diga-se de passagem, que mostrar trabalho.

    Vamos ver como vai se comportar o velho macaco. Se vai emfrentar o jovem macaco alfa, ou se vai entregar o harém e sair batido.

    Próximos alvos, Renan e Temer.

    • O cara vai indicar 3, dos 10

      O cara vai indicar 3, dos 10 Ministros,

      Isso que ele esta isolado, imagina se não estivesse.

       

  • "Pilha".

    Isolado nada.

    Isso é provocação do globo pro Eduardo Cunha dar alguma demonstração de força contra o governo. Em carioquês claro, é "pilha"!

    Eduardo Cunha e a globo não estão se entendendo tão bem quanto muitos pensam. O fracasso daquela reunião com o Merval foi uma evidência a mais. O Cunha não é bobo de entregar o governo de bandeja e no dia seguinte o nome dele ir pra boca do sapo. A distância que eles mantêm, portanto, é essa: enquanto ele dá um desgaste no governo ele é blindado. Chegou a hora de fazer mais um movimento para o governo não parecer que está se fortalecendo. O recado, portanto, foi dado; pra ele Cunha, e pra manada do Congresso.

    Por que a recusa, a recusa de aceitar que esse pessoal já deixou de fazer jornalismo há muito e muito tempo, meu deus! Que isso é uma máquina de propaganda de interesses comerciais e políticos!

    ... Ficar comprando essas e outras pelo valor de face....

    • Sinta se 10 vezes estrelado!

      Sinta se 10 vezes estrelado!  O item nao faz sentido nenhum...  se eu tiver que advinhar, eh cobertura pra novas provas documentais contra Renan.

      Nao que a putada judiciaria ja incomodou Cunha, claro -jamais!

      Mas ta parecendo que provas documentais apareceram contra outro grandao do PMDB.

Recent Posts

Trump considera sanções contra países que deixem de usar dólar

Taxação cambial, tarifas e restrição a exportações estão entre punições avaliadas pela equipe do candidato…

9 horas ago

Governo federal confirma continuidade da homologação de terras indígenas

Força-tarefa composta por ministérios, Funai, AGU e Incra busca acelerar processo; quatro processos devem ser…

9 horas ago

A conexão Nuland–Budanov–Tadjique–Crocus, por Pepe Escobar

A população russa deu ao Kremlin carta branca total para exercer a punição máxima e…

10 horas ago

Elon Musk vira garoto propaganda de golpe que pagou por anúncio no X

Golpe inventa uma nova empresa de Elon Musk, a Immediate X1 Urex™, que pretende enriquecer…

10 horas ago

Governo Milei segue com intenção de lançar ações do Banco de La Nacion no mercado

Apesar da retirada da lista de privatização, governo Milei reforça intenção de fazer banco oficial…

10 horas ago

Prêmio Zayed de Sustentabilidade abre inscrições globais

Prêmio para soluções sustentáveis passa a aceitar inscrições em português; fundos de premiação chegam a…

11 horas ago