A Lava Jato e a expansão das empreiteiras no exterior, por André Araújo

Por André Araújo

BRASIL, VESTAL DOS EMERGENTES – A expansão das empreiteiras brasileiras para o exterior se deu a partir do Governo Militar, com a ida da Mendes Júnior ao Iraque em um jogo cruzado com a Petrobras e sua trading Interbras, o Iraque passou a ser o maior fornecedor de petróleo bruto ao Brasil e, em troca, comprava automóveis, material bélico e serviços de engenharia, estes inclusive incluindo equipamentos brasileiros como geradores, bombas de grande porte, compressores, máquinas de construção. O Iraque salvou o Brasil na primeira e segunda crises do petróleo, o Brasil não tinha divisas mas podia pagar o petróleo com bens industriais e serviços, o esquema salvou a economia brasileira por alguns anos.

A partir dessa base, que se deu na segunda metade da década de 70, outras empreiteiras brasileiras procuraram desbravar mercados na África e na América Latina. muito apoiadas pelo Governo através do Banco do Brasil, da Interbras e do Itamaraty. A CACEX tinha um vasto programa de financiamento à exportação, usando para isso a agência do Banco do Brasil em Cayman Islands, um paraiso fiscal.

A Odebrecht conseguiu contratos no Peru (grande projeto de irrigação), a Camargo Correa na Venezuela (hidréletrica do salto Guri), uma grande incursão foi  da Odebrecht em Angola, em todos os segmentos, chegando a representar 10% do PIB daquele Pais, incluindo diamantes, condomínios residenciais, supermercados, estradas. No rastro das empreiteiras foram outras empresas, as empreiteiras abriram caminho para empresas médias e pequenas, para serviços de consultoria e comércio.

Provavelmente os marqueteiros politicos foram um desses negócios que acompanharam essa expansão da engenharia.

Agora, a implosão da Lava Jato joga por terra quase 40 anos de difíceis esforços de exportação de serviços, vamos perder mercados que representaram décadas de esforços conjuntos das empresas e de vários governos brasileiros.

Só quem correu países primitivos para vender alguma coisa sabe como é dificil e trabalhoso conseguir algum resultado, é preciso muita paciência, perseverança e conhecimento dos costumes locais para ter algum êxito, depois precisa fazer o serviço e mais complicado ainda é receber. Relações políticas são obviamente fundamentais para todas as etapas.

Com o Brasil colocando na janela para o mundo inteiro ver os negócios de suas empreiteiras com países emergentes, é evidente que esses países nunca mais vão querer ver empreiteiras brasileiras e marqueteiros politicos do Brasil.

Para ocupar o lugar do Brasil, existem empresas da Turquia, Dubai, Índia, Paquistão, Singapura, Malásia, Tailândia, Coreia do Sul, Indonésia, Rússia e obviamente China, nenhum desses países sonha com uma Lava Jato, o sigilo está garantido, já o Brasil tornou-se a vestal dos emergentes, revelando ao mundo os negócios de suas empresas nacionais.

Há um outro país vestal, os Estados Unidos, mas eles tem um poder tecnológico e geopolítico de tal magnitude que suas empresas vendem por causa do poderio da Embaixada americana, algo que o Brasil não tem.

Vamos ser então a famosa virgem de bordel, aquela que é pura em um mundo de vicios e safadezas.

Porque o mundo competitivo REAL e não os dos cursos de compliance na FGV e no INSPER não é um mundo de santos.

O comércio global de petróleo, de armas, de construção civil, de fretes marítimos, de construção naval, de aviação, não é um território puro como a terra da Branca de Neve, é preciso saber jogar o jogo sem o que não se vende nada.

Entre os BRICS, o Brasil vai  ser o unico sacristão de novela, branco como farinha de Nazaré, enquanto nossos colegas de BRICS, a Rússia, a Índia, a China e África do Sul operam dentro das regras da arena de touros que é o mercado mundial.

Empresa brasileira no exterior? Nem por sonho, combinações sigilosas são delatadas para os jornais do mundo e pior ainda, agora os delatores vão ser ouvidos por oferta brasileira no Departamento de Justiça dos EUA para que esse possa processar países onde nossas empreiteiras operaram, seus Ministros e dirigentes, o Brasil entrega quem com ele contrata.

Ou alguém acha que nossas empreiteiras depois dessa e nossos marqueteiros políticos vão ter mercado no exterior?

E para essa destruição arrasa quarteirão de um enorme capital nacional não faltam aplausos dos Sardenbergs, Camarottis, Lo Pretes, Mervais, todos achando lindo o Brasil entregar dirigentes de vários paises e suas tratativas com o Brasil, que todos achavam que seriam sigilosas até o fim dos tempos. Eles que elogiam tanto a cultura anglo-americana esquecem que a riqueza da Inglaterra no Século XVII se fez com a pirataria no Caribe, sendo os piratas concessionários do Rei da Inglaterra que lhes fornecia cartas de corso para roubar os galeões espanhóis.

Os antigos piratas e assaltantes de diligências hoje dão cursos de ética e aulas de compliance, mas por baixo das capas, continuam sendo piratas e assaltantes reciclados como operadores de Wall Street enquanto os provincianos do Brasil se assumem com bom mocinhos que querem se mostrar ao mundo tal qual coroinhas maristas acreditando piamente que agora o Brasil virou moderno enquanto a recessão come solta porque sem empresas não há empregos.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

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  • Na minha opinião não se trata

    Na minha opinião não se trata de provincianismo dos nossos analistas, e menos ainda de ingenuidade dos mesmos.

    Eles sabem que estão tentando arrasar o quarteirão.

    Mas isso com objetivo de derrubar ou incapacitar o governo.

    Assim que o PT estiver fora do poder, eles imediatamente assumirão outra postura.

    Tudo passará a ser discreto.

    O problema deles não é o conjunto de empresas brasileiras e seus trabalhos no exterior.

    Mas acabar com a imagem do governo.

     

     

  • Na minha opinião não se trata

    Na minha opinião não se trata de provincianismo dos nossos analistas, e menos ainda de ingenuidade dos mesmos.

    Eles sabem que estão tentando arrasar o quarteirão.

    Mas isso com objetivo de derrubar ou incapacitar o governo.

    Assim que o PT estiver fora do poder, eles imediatamente assumirão outra postura.

    Tudo passará a ser discreto.

    O problema deles não é o conjunto de empresas brasileiras e seus trabalhos no exterior.

    Mas acabar com a imagem do governo.

     

     

  • Cada vez que leio que o MP

    Cada vez que leio que o MP vai oferecer subsídios para PUNIR empresas Brasileiras, consequentemente DESEMPREGAR AQUI NO BRASIL...

    Tudo que eles falam em valor e justiça, vão para o ralo...

    Vai aumentar a violência...

  • Perfeito. Ou o Brasil acaba

    Perfeito. Ou o Brasil acaba com a lava a jato ou a lava a jato acaba com o Brasil

  • O que fez dos Estados Unidos

    O que fez dos Estados Unidos a maior potência mundial não foi outra coisa senão o seu pragmatismo, aproveitando-se das guerras (e até as criando) para desenvolver tecnologias e usando do dinheiro farto para reconstruir países, cobrando seu preço em bases militares (alô, Plano Marshall, Coreia e Israel).

    Cada vez mais, confirmamos aquela piada da Praça é Nossa, que diz que "brasileiro é tão bonzinho" - só que, ao contrário da loira burra do programa, nós é que somos os indigentes feitos de bobo.

  • Ou o Brasil acaba com a lava

    Ou o Brasil acaba com a lava jato ou a lava jato acaba com o Brasil, se já não acabou com ele. Ainda resta a cereja do bolo: prender Lula para que o Brasil branco e batedor de panelas de inox tenha orgulho de se comparar ao apharteid sul africano que prendeu Mandela.

  • É impressionante como parte

    É impressionante como parte da elite brasileira tem a visão de entreguistas. Não enxergam um palmo além do nariz.

    Essa operação lava jato vai ser a par de cal na sepultura da dilma e do lula e do PT como um todo. E ninguem, nem mesmos os militantes, vai acreditar que a culpa é do mp ou do juciriario. Para isso a imprensa vai cuidar de fazer a cabeça do povão e dizer que a culpa foi inteiramente dela, a rainha tosca.

  • O excesso da LJ é via de mão dupla. Erraram a mão..

    André, no bastidor dessa guerra a coisa está pegando fogo, aproximando do clímax e pode, por conta do suporte à custa da utilização do  mesmo modus operandi utilizado por um dos lados, ter consequencias além das fronteiras brasileiras forçando a conversa a subir o tom e com consequencias imprevisíveis para ambos os lados. Pagar prá ver escandanlo com repercussão intenacional é questão muito delicada, entao... Guerra é guerra. Por ironia, se é externa a força que quer nos destruir, também é externa a força que nos quer ajudar. Nesse ssentido, em terra também está ocorrendo o mesmo. 

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