A praga da descontinuidade administrativa

A descontinuidade administrativa permanece um dos grandes problemas brasileiros. Parece ser uma praga invencível, marca maior da falta de amadurecimento institucional do país.

O regime militar deixou um conjunto grande de instituições. Nos últimos governos, houve uma superdimensionamento do Estado, que passou a intervir em todos os pontos da vida nacional.

No governo Fernando Collor houve um desmanche completo. Instituições anacrônicas, como a SEI (Secretaria Especial de Informática) foram jogadas fora juntamente com programas relevantes, como o de Aramar, da Marinha.

Por outro lado, lançou o Programa da Integração Competitiva, visando preparar a economia para uma integração controlada com o mercado internacional.

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O desmanche do Estado prosseguiu no governo Fernando Henrique Cardoso, com a suspensão dos concursos públicos e o esvaziamento dos quadros técnicos dos Ministérios. E a Integração Competitiva de Collor foi jogada no lixo com a política cambial e a falta de políticas públicas para o setor.

Por outro lado, FHC criou o modelo das agências reguladoras definindo novas formas de relacionamento nas concessões públicas. E, através do Ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, uma tentativa de redesenho do setor público, com a criação de novas categorias de servidores.

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Chegando ao poder, Lula aparelhou as agências reguladoras, comprometendo o modelo desenhado pelo antecessor. Por outro lado, reforçou novamente o setor público com a melhoria de salários e a volta dos concursos. O setor público voltou a ter quadros relevantes, técnicos e bem remunerados.

Com a bonança fiscal, implementou um conjunto de políticas públicas relevantes nas áreas de educação, saúde, inovação, políticas industriais, políticas sociais e políticas de infraestrutura.

Algumas políticas tiveram continuidade – como as da educação. Outras morreram e foram substituídas por sucedâneos em uma mesma gestão – como o caso das políticas industriais.

Ou seja, nem políticas de um mesmo governo tiveram continuidade.

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Com a chegada de Dilma Rousseff, foram interrompidas as políticas participativas. Deixou-se de lado a discussão sobre políticas integradas de logística, deterioraram-se algumas políticas educacionais – como o FIES -,  abandonou-se a estratégia diplomática. Por outro lado, foram lançadas novas políticas de estímulo à inovação.

Em todos esses casos, não houve a preocupação em criar mecanismos que transformassem políticas de governo em políticas de Estado.

Exemplo disso é a EPL (Empresa de Planejamento em Logística), criada para administrar uma ideia – a do trem-bala -, depois transformada em um órgão de planejamento e, hoje em dia, produzindo alguma coisa para não se sabe o quê, sem que a própria presidente recorra a seus trabalhos.

Pelo contrário, o voluntarismo de Dilma, no período, fez com que abdicasse até da prerrogativa de ouvir especialistas sobre os diversos temas de política pública. Um país de 200 milhões de habitantes passou a ser tocado de ouvido por um solista único.

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Para a próxima etapa da vida nacional, que sucederá o fim de ciclo atual, um dos pontos centrais deverá ser a busca da institucionalização das políticas públicas.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • A resposta para isso é

    A resposta para isso é simples: cada um quer deixar seu nome na história para dizer: FUI EU QUE FIZ

    • Bem por aí mesmo. Emt todos

      Bem por aí mesmo. Emt todos os níveis. Quem nunca viu o esqueleto de uma obra parada e perguntou do que se tratava a um local, tendo como resposta: "o antigo prefeito não teve tempo de terminar, o atual abandonou". Ninguém quer colocar azeitona na empada do seu adversário.

      • aqui em SP por exemplo teve o Fura Fila do Pitta

        que ficou anos parado até o Kassab transformar num corredor de ônibus o que era pra ser um Trem...

  • RECEITA FEDERAL AMEÇA EMPRESAS DO SIMPLES COM DÉBITOS DE 30 DIAS

    A Receita Federal está enviando correspondência para as MICRO EMPRESAS do SIMPLES NACIONAL para débitos vencidos a 30 dias e é AMEAÇADORA, propondo até excluir as empresas do SIMPLES NACIONAL, será NASSIF que diante de tantas PEDALADAS é hora de fazer uma cobrança nesses moldes? Será? Poque esse ódio que o GOVERNO DILMA tem com as MICRO EMPRESAS, porque? Por traz dessas micro empresas tem cidadãos que nem tiram férias pois tem quer ser FULL TIME  para fazer o papel que o estado não faz para suprir as suas famílias. Tá ficando dificil defender isso que tá ai. O que parece Nassif que as instituições vendo tudo desgovernado tomaram iniciativa própria e se desgrudaram do governo, só pode ser isso, Porque AMEAÇAR as micro empresas numa hora dessas numa crise totalmente desmoralizante em que o SISTEMA FINANCEIRO assumiu o GOVERNO e tá tomando tudo dos brasileiros novamente, é o maior assalto aos bolsos nacionais que se tem notícia. Sem bricadeira, o que que é isso que o GOVERNO DILMA quer de nós, o que será? Será que quer nos colocar na lama da desonra de fechar as MICRO EMPRESAS justo as que mais lhe ajudam..Que que é isso meu DEUS, punir justamente quem mais lhe apoiou esse tempo todo. Peça a um contador para lhe m,ostrar o que que a RECEITA FEDERAL esta fazendo, peça e verá o que que é TERRORISMO FISCAL.

  • RECEITA FEDERAL AMEÇA EMPRESAS DO SIMPLES COM DÉBITOS DE 30 DIAS

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  • Isso é meio óbvio

    se governos com visões distintas se sucedem a tendência é o fim de programas ligados ao governo anterior e o início de novos programas

  • Boa, Nassif. O macartismo

    Boa, Nassif. O macartismo correndo solto, a Zelotes se desviando para derrubar a República e o assunto mais importante é a descontinuidade administrativa. 

    Sinto muito, mas a descontinuidade não vai ser administrativa. Vai ser institucional.

    • o Naçife não é obrigado a falar só da crise política

      ele pode perfeitamente falar sobre outros temas que ele considera relevante, até pq ele é o dono do blog

      • E eu leitora. Como a proposta

        E eu leitora. Como a proposta aqui é diferente da grande imprensa, imagino que o leitor é ouvido.

  • Fenômeno

    Ainda teve o Fenômeno da descentralização no governo FHC, serviços públicos são financiados pelo Governo Federal e passarem a ser implementadas pelos Estados e Prefeituras

    Alguns Estados melhoraram outros regrediram nesse quesito, só por exemplo...

    O SUS, modelo padrão mundial de serviço em saúde pública, com a descentralização ficou mais ágil, mas ainda hoje depende da honestidade e da correta aplicabilidade de seus recursos, assim como a educação, cujos recursos são o primeiro alvo de prefeitos desonestos...

  • Realmente uma praga! Vem um
    Realmente uma praga! Vem um faz, vem outro quebra pra fazer de novo! Um pé no saco, um custo absurdo pro País. É urgentíssimo que se estabeleçam contrôles, pra que se acabe essa descontinuidade. Não sei se existe algum Orgão cuidando do assunto. Se não existe deveria existir. Dinheiro de impôsto não é capim.

  • Conta outra

    As agencias reguladoras foram aparelhadas por Lula, antes eram maravilhosas e atraves de suas regulações tinhamos serviços excelentes de 1 mundo.   Eu lembro.

  • Institucionalização

    Transformar políticas de governo em políticas de Estado.

    Comentei esse assunto em 2014: https://jornalggn.com.br/noticia/obstaculos-para-a-conducao-eficiente-das-politicas-publicas

  • "Aparelhamento".

    Acho engraçadíssima essa expressão "aparelhou". Quando o cara é de um lado é "técnico", quando é de outro é "aparelhamento". Queria o quê, que o Lula nomeasse só demotucanos, só demotucanos? Os governos do PT foram os que mais nomearam gente "do outro lado" (a lista é interminável), será que nem isso dá pra reconhecer?

    É o mesmo disscurso de quem quer tudo. Lembra a atitude de quem enxerga uma "ameaça comunista" por parte do PT, do PT, do PT sendo que o Partido dos Trabalhadores jamais teve sequer 1/6 do Congresso - e se somarem a toda a bancada "de esquerda" mesmo pelo critério mais elástico ainda assim não chega a 1/3 - e conta com todo aparato de comunicação contra ele.

    O termo mais exato é que os governos do PT "reaparelharam" o estado brasileiro depois do desmanche inspirado em ideologias antissociais; operado por agentess públicos que odeiam tudo que é publico.

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