Marcando com veemência o posicionamento de seu grupo fundamentalista, o excelentíssimo presidente Jair encerrou o seu discurso de abertura da 75º Assembleia Geral da ONU. Discurso marcado pela negação ostensiva de problemas e de realidades, pelo ataque a inimigos imaginários, pela exaltação à “verdade” e pela exaltação à religião e ao conservadorismo.

Jair negou ostensivamente suas responsabilidades em relação à Covid, dizendo que, por decisão judicial, as medidas de restrição foram delegadas aos governadores. Jair também atacou a imprensa, acusando-a de “politizar o vírus” e de “disseminar o pânico entre a população”. Colocou-se, dessa forma, contra as medidas preconizadas pela OMS, e de quebra defendeu a hidroxicloroquina ao afirmar que estimulou “tratamento precoce da doença”.

Afirmou também que o insumo de produção da hidroxicloroquina sofreu aumento de 500% durante a pandemia.

Fez propaganda do auxílio emergencial e citou números mirabolantes de investimento do governo no combate à Covid no Brasil: 400 milhões de dólares para pesquisa e 100 bilhões para a saúde!  E citou auxílio a mais de 200 mil famílias indígenas.

Tentou puxar o saco do agronegócio, dizendo, entre outras coisas, que o Brasil “contribuiu para que o mundo continuasse alimentado”. E dizendo que o agronegócio “possui e respeita a melhor legislação ambiental do planeta”.

Negou com veemência o caos no meio ambiente. E afirmou, na maior desfaçatez, que o Brasil é vítima de brutal campanha de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal, citando “instituições internacionais” que apoiam essa campanha e se “unem a associações brasileiras aproveitadoras e impatrióticas com o objetivo de ‘projudicar’ (sic) o governo e o próprio Brasil”.

Na linha da negação, disse que o país é líder em conservação de florestas tropicais.

Pra confirmar o “cuidado” com o meio ambiente, disse que o país garante “segurança alimentar a um sexto da população mundial mantendo 66% de vegetação nativa e usando apenas 27% do território para a agricultura e a pecuária”.

Na linha da negação ostensiva, reverteu as acusações dizendo que o país é vítima da campanha de desinformação porque o Brasil é o maior produtor de alimentos do mundo. E disse  o mundo “depende do Brasil para se alimentar”. É uma fala perigosa de negação da realidade num momento em que a imagem do Brasil no exterior é péssima – ele diz que não há devastação ambiental e veladamente ameaça quem importa alimentos do país.

Negou sistematicamente os incêndios, dizendo que a floresta é úmida e que, por isso, não permite fogo em seu interior, portanto, esses incêndios acontecem nos mesmos lugares, no entorno, em áreas já desmatadas porque índios e caboclos limpam pra plantar. Sobre o Pantanal, disse que é o mesmo caso da Califórnia e que os incêndios são em decorrência das altas temperaturas locais e  da massa orgânica em decomposição.

Falou muito em ações militares e elogiou Trump, obviamente.

Numa fala doméstica, abordou a questão das reformas, como se estivesse entregando um relatório, assunto que interessa apenas ao país. E pediu à comunidade internacional apoio para o combate à tal cristofobia.

Resumindo, um show de mediocridade embalado no conservadorismo fundamentalista já conhecido. Uma desgraça para o Brasil.