Eleições municipais: a história quando se repete é farsa, por Marcelo Auler

Do blog de Marcelo Auler
Marcelo Auler
A 24 horas das eleições municipais, olhando o quadro nas duas principais cidades do país – Rio e São Paulo – recordei o que vivenciamos no Rio de Janeiro, em 1989, na primeira eleição direta para a presidência da República depois da ditadura militar.

Naquela disputa, principalmente no Rio de Janeiro, onde Leonel Brizola tinha força, a esquerda se deu ao direito de se dividir no primeiro turno. Era algo até normal, depois do longo período de ressaca, sem eleições diretas, imposto pelo golpe civil-militar de 1964.

Nas vésperas do primeiro turno, quem entrasse no Restaurante Lamas, no bairro do Flamengo, encontraria seus clientes divididos fisicamente em fileiras de mesas. De um lado, os brizolistas. Do outro, os lulistas. Praticamente todos se conheciam, afinal, lutaram juntos contra a ditadura, cada um em sua trincheira. Eram torcidas barulhentas. Cada qual gritando suas palavras de ordem e tentando superar a dos “adversários”. Foi uma bonita festa. Assim como foi acirrada a disputa entre os dois, voto a voto, até se delinear que Lula representaria a esquerda no segundo turno, contra o novato Fernando Collor de Mello, do então PRN.

Em 1989, toda a acirrada disputa do primeiro turno entre Lula e Brizola, não impediu que a esquerda, unida – na foto também Mario Covas – unida enfrentasse o segundo turno.Na eleição deste domingo (02/10/2016, ) a situação é diferente.

O segundo turno foi uma luta desigual, tal como ocorreu agora com o golpe contra Dilma Rousseff, que feriu o Estado Democrático de Direito. A grande mídia apoiou e sustentou o chamado “caçador de marajás”. Era, segundo esta mídia tradicional e conservadora, o “salvador da pátria”, após o final desastroso do governo de José Sarney (PMDB). Recorde-se às gerações mais novas que estávamos distantes dos tempos de internet, face book e redes sociais. O forte na campanha era a televisão, tanto assim que a TV Globo, na véspera do pleito, apresentou uma reportagem toda manipulada sobre o debate dos dois candidatos, o que prejudicou ainda mais a Lula.

Ao contrário de 1989, na eleição de domingo, 02/10, há o risco de candidatos à esquerda ficarem fora do segundo turno. Ou apostamos na possibilidade de Fernando Haddad (SP) e Marcelo Freixo (RJ) chegarem ao segundo turno ou estaremos entregando as prefeituras das duas principais cidades a aliados do golpe do impeachment já no primeiro turno.
Mas, ao contrário do que ocorre hoje, no primeiro turno daquele pleito, não só por conta do exagerado número de candidatos – 22 – como pelo sentimento de oposição, após anos de ditadura militar, as chances de a esquerda ficar fora do segundo turno eram pequenas. Afinal, até os conservadores de hoje, como Roberto Freire (PPS), o próprio Fernando Henrique Cardoso (PSDB) – que só não apoiou Collor de Mello por conta das posições firmes de Mario Covas – apresentavam-se como tal, isto é de esquerda. Eram mínimos os riscos das chamadas “forças progressistas” não serem representadas no segundo turno.
Esta é a principal diferença das eleições deste domingo, dia 2/10, quando estarão em jogo prefeituras de cidades importantes. Vivemos um período totalmente distinto em que setores da esquerda – o PT, principalmente – foram demonizados pela mídia, com ou sem razão. Além disso, partidos que eram ideologicamente “progressistas”, como o PDT de Brizola, hoje se juntaram a políticos que não se preocupam com qualquer posição ideológica.
Quem poderia imaginar Cidinha Campos (PDT), a deputada que nunca fugiu de uma briga, apresentar-se como candidata a vice de Pedro Paulo o candidato de Eduardo Paes, Jorge Picciani, Pezão e todos os golpistas do PMDB que desrespeitaram os 54 milhões de votos dados a Dilma Rousseff? Alguém é capaz de definir a posição ideológica do candidato? Não duvido que, apesar de cassado com a ajuda de seu antigo aliado, Eduardo Cunha continue o apoiando. Menos ainda que, em vida, Brizola e Darcy Ribeiro não permitiriam aliança com políticos que apoiaram o golpe do impeachment e com isso feriram a democracia que eles ajudaram a reconquistar, inclusive com sacrifícios pessoais.
Redação

Redação

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  • Eleições municipais: a história se repete

    Não há dúvida que os interesses menores de cada candidato e/ou seu partido tem feito um mal enorme ao movimento esquerdista no país.

    E apontar esse ou aquele partido é mero joguinho político a caracterizar ainda mais a melancólica incapacidade de as esquerdas se unirem em torno de agenda comum.

    Todos antepõe sua agenda a qualquer negociação, se é que chega a existir. Uns paridos de outros, movimentos sociais que se organizam em partidos, lideranças que se sentem negligenciadas e por aí vão as motivações que fragilizam o campo popular.

    Assim, como bando esparsos no espaço político, são presas fáceis das manipulações constantes da direita e seus mandaletes.

    Somos e seremos um país fragilizado pelas questiúnculas de cada agrupamento até que ergam os olhos para os interesses nacionais, infinitamente maiores do que as conjunturas de cada um.

    No vale tudo da atuação política atual, no abandono de condições mínimas de dignidade, respeito, coerência, na validação de alianças ocasionais sem qualquer objetivo que não a captura do voto desavisado, o que fica é a imagem de oportunistas a procura de vantagens pessoais.

    Chega a ser temerário - ! - afirmar que tais lideranças são esquerdistas.

    Na busca do voto a esquerda entregou a alma e vilipendiou o corpo.

    Virou um simulacro ideológico a cooptar Deus e o Diabo na Terra do Sol.

    E depois querem que o povo se una  . . .

  • Quem poderia imaginar Cidinha Campos (PDT)?

    Em verdade, o único que fala em aproximação do PDT com a esquerda é o Ciro Gomes, cuja credibilidade está abaixo de zero, não apenas com esta atitude da Cidinha, mas olhando para os 5 deputados do PDT e todos os três senadores daquele partido apoiando o impeachment.

    Que acontece com o PDT? E o Lupi?

  • Há muita história se repetindo como farsa

    A Lava Jato repete a "Mani Pulite" como FARSA

    "Moro pede que lições da Mãos Limpas não sejam esquecidas"

    Moro quer nos fazer crer que há paralelismo entre o que aconteceu na Itália e o que ele faz aqui. NÃO HÁ. Vamos às lições.

    A Lava Jato repete a "Mani Pulite" como FARSA.

    "Na Itália, a 'Mani Pulite' visava esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990 (no período de 1992 a 1996) na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano em 1982, que implicava a Máfia, o Banco do Vaticano e a loja maçônica P2."

    Observou bem?

    A "Mani Pulite" não estava a caça de trabalhadores nem dos representantes políticos dos trabalhadores e membros de um governo que teve ao seu final a melhor avaliação que um governo brasileiro já teve, como está aqui a Lava Jato. A "Mani Pulite" estava atrás de maçons, banqueiros e cardeais católicos. Aqui, ao contrário, maçons (e evangélicos!) manejam a Lava Jato! Que farsa! Seria cômico, se não fosse trágico.

    Dallagnol, evangélico fanático é muito diferente de Antonio Di Pietro; Moro nada tem a ver com Giovanni Falcone. Aliás, Falcone foi assassinado pelo crime organizado, pagou pela audácia e coragem de atuar contra o crime de verdade [aqui, a turma de São Paulo, por exemplo, ao se confrontar com quadrilha e crime organizado, põe o "galho dentro" e "compõe" com o PCC].

    Ah, sim, há semelhanças entre a "Mani Pulite" e a Lava Jato: na Itália, como desdobramento da "Mani Pulite", ascendeu ao poder Sílvio Berlusconi, um crápula notório e reconhecido como tal internacionalmente. Aqui, como desdobramento da Lava Jato, Michel Temer, na crista de um golpe que está a corromper as instituições, especialmente o judiciário, usurpou o poder depondo uma presidenta eleita legal e legitimamente.

    Apesar dos esforços de toda a trupe acusatória estatal da Lava Jato e dos repetidos crimes cometidos por Moro contra acusados na condução da malfadada Lava Jato, nada se provou até agora contra Lula. Desesperado, Moro tenta agora imputar crime a Lula por causa de presentes que recebeu quando era presidente da república! Tenta criminalizar as remunerações que Lula recebeu depois de ter deixado a presidência!

    A Lava Jato é contraparte da "Mani Pulite", pois a favor de maçons, banqueiros e cardeais (especialmente evangélicos).

    A Lava Jato repete a "Mani Pulite" como FARSA.

    • Nestes tempos de ignorância

      Nestes tempos de ignorância grassando; maçons, banqueiros e cardeais (todos), são uma coisa medonha só.

      Excelente sua análise.

  • O Psol,  no Rio,  recusou um

    O Psol,  no Rio,  recusou um pacto de não agressão no primeiro turno e a chapa única em caso de uma das candidaturas  se descolar muito das outras. E a união no segundo turno.

      Dá na vista o empenho d mídia podre para que  Freixo, o opositor "ideal" ( para eles) chegue ao segundo turno.

     As pesquisas manipuladas, tão desmoralizadas nas últimas eleições,  passaram a ter um valor quase científico,  hehe.

       Tristes tempos.

       Torço para que Hadad, Jandira, João Paulo, Luizianne, Pont e outros  desmintam as "previsões ".

      

    • Sou Jandira e votarei Freixo.

      Sou Jandira e votarei no Freixo, porque é o que tem mais chances de ir ao 2o. turno.

      Chega dessa mania da esquerda discutir a relação quando a gente está sofrendo um golpe atrás do outro. Uma ova que a mídia apoia Freixo no Rio. Apoia Pedro Paulo (PMDB) e correndo por fora Indio da Costa (PSD).

      E é claro que Freixo vai se compor com Jandira e Molon no segundo turno.

      • Não, voc~e não é jandira, nem

        Não, voc~e não é jandira, nem PT, nem Lula, nem Dilma.  Vo^simplesmente não quer perder a eleição. Mas vai perder,  porque o Datafolha e o Ibope vão manipular as prévias também no segundo turno e vai convencer boa parcela do eleitorado que não há mais nada a fazer , apenas aceitar a derrota. E mais uma vez,  vão acreditar neles..

  • união das esquerdas

    querido colunista,acredito que se a  esquerda não se unir estará se enfraquecendo,causando desesperança naqueles que ainda acreditam na possibilidade de resistir à escalada do conservadorismo facista que se instalou no poder ilegitimamente

  • Falemos de São Paulo.  Marta,

    Falemos de São Paulo.  Marta, que se julgava prima-dona do PT, foi desbancada por Dilma, a quem nunca engoliu, e tornou-se peemedebista, apoiou o golpe (que festejou com flores), sonhando ser prefeita paulistana, mas foi traída por Temer. E agora vai pra onde? Pros braços do Bolsonaro? Sei lá. ..Sei apenas, parodiando o adágio,  que "agora Inês é Marta". Aliás, minha bisavó costumava aconselhar: "Desconfie sempre de quem renega o próprio sobrenome..."

     

     

     

  • Estamos passando por uma

    Estamos passando por uma época de trevas. Os ladrões do mundo nos invejaram, e agora, através de 'brasileiros podres e também ladrões, nos agridem.

     

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