Eleições

Há coisas mais urgentes do que debater o vice de Lula, por Gilberto Maringoni

Há coisas mais urgentes do que debater o vice de Lula

por Gilberto Maringoni

1. FICO SINCERAMENTE COMOVIDO com o tempo e a energia gastos por militantes sérios para discutir a chapa de Lula à presidência a um ano das eleições. A possível indicação de Geraldo Alckmin apresenta vantagens e desvantagens, mas a escolha de vice nunca foi um drama para o PT. José de Alencar, atacado por ser empresário em 2002, tinha uma posição quilômetros à esquerda de Lula e da cúpula do PT – Dirceu, Palocci e outros – em política monetária. Por ele, jamais haveria aquela loucura da Selic a 26,5% ao ano, definida pelo Copom logo em fevereiro de 2003 (e o Banco Central não era independente!). Tampouco se pode afirmar que foi o canalha do Michel Temer quem indicou Joaquim Levy para comandar a Economia, em 2015.

2. ENQUANTO A ESQUERDA QUEIMA NEURÔNIOS nessa questão, Bolsonaro, a seu modo tosco, se mexe. Aprovou o Auxílio Brasil, através do qual milhões de pessoas da fila do osso receberão R$ 400 por mês até o final de 2022. A crítica a partir do nosso campo é enviesada: “medida eleitoreira”, “milhões outros ficarão de fora”, “destrói políticas anteriores” etc. etc. Sejamos práticos: quem receber ficará muito grato e poderá até votar no boçal. Medida eleitoreira? Acaso o bolsa-família não visava também ampliar o potencial eleitoral do PT? Examinando o mérito, vale dizer que nenhum dos programas distribui renda. Fazem parte do arsenal de medidas compensatórias recomendadas pelo Banco Mundial e não tocam em nenhum ponto nevrálgico da ordem neoliberal. Podemos conversar sobre a efetividade de cada uma, mas até aqui, as acusações feitas não causam preocupação ao genocida. O mesmo vale para o novo ProUni.

3. PAGAMOS O PREÇO de não termos conseguido colocar no centro da pauta da esquerda desde o ano passado questões da vida concreta do povo, transformando-as em propostas legislativas. É verdade que muitos parlamentares tentaram e o próprio Lula se coloca com grande competência nessa seara. As dificuldades aumentam por não termos meios de comunicação a nosso favor. Mas não ter dado centralidade a esse assunto agora nos cria dificuldades. (Em 2020, os R$ 600 de Auxílio Emergencial existiram por obra da esquerda).

4. NO CONGRESSO DA FORÇA SINDICAL, Lula foi ao ponto sobre o que deve ser denunciado: o desemprego e a fome. Junto a ambos, há os temas da desindustrialização e da necessidade de se mudar a política do teto de gastos e de preços da Petrobrás. Pronto, temos um esboço de programa para 2022. Essa é a boa formulação para hoje.

5. ALCKMIN É UM PROBLEMA? É. Mas não maior do que a companhia de Palocci, Meirelles, Levy, Michel Temer, Geddel, Moreira Franco, Marcelo Neri, Marcos Lisboa, Crivella e outros ao longo de 13 anos, nos quais muita coisa foi feita, mas nenhuma mudança estrutural no Estado brasileiro foi realizada. Sequer as leis sociais foram constitucionalizadas, como vários setores progressistas demandavam, por volta de 2008.

6. O APOIO A LULA EM 2022 pode vir cercado de controvérsias. Mas em nenhum momento deve estar condicionado à conformação da chapa. Sem contar que há coisas muito mais urgentes a serem tratadas. Aliás, vale a pena olhar as últimas pesquisas:  Bolsonaro tem uma leve melhora diante da opinião pública. Isso deve acender a luz amarela em quem luta para acabar com a barbárie.

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

View Comments

  • Urgente é a esquerda aprender a vencer.
    Para vencer, a esquerda precisa tratar de resolver com urgência as questões ANTES que elas cresçam a ponto da esquerda achar que não vale mais a pena lutar por uma causa perdida.
    Portanto urge resolver as coisas enquanto elas são simples e não quando ficam complexas.
    É um velho ensinamento do Tao te Ching

    Wu wei

    #LulaSemChuchu

  • Típico de engenheiro de obras feitas, que tal em vez de ficar teorizando, com o fígado à frente ( incrível ver a dor de cotovelo nas entrelinhas) não se mete a fazer política e colocar em prática toda essa teoria?

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