Para Dilma, a reta final vem com intensa guerra psicológica

Leia aqui a primeira parte da entrevista

Aqui a segunda parte da entrevista de Dilma Rousseff, ontem, para um grupo de jornalistas – dentre os quais o GGN.

Não bate com a realidade a informação de que ela esteve atrapalhada. O que se viu foi uma presidente respondendo a todas as questões, não fugindo de nenhum tema e, inclusive, enfrentando cascas de banana.

Quando um dos entrevistadores lhe disse que um grupo de donos de shopping iria fechar os estabelecimentos, em favor do impeachment, e se os considerava golpistas. A resposta, na bucha:

– Claro que são. Todos os cidadãos são iguais. Seja empresário ou político, se defende impeachment sem motivo, é golpista.

O jornalista insistiu, querendo saber se os manifestantes na rua eram golpistas. E ouviu uma longa e bem dada aula sociológica sobre o comportamento das pessoas na massa e como agentes políticos.

A seguir, a segunda parte da entrevista

Sobre as eleições diretas como saída para a crise

Não vou ficar discutindo hipótese, que contraria o que acredito. Acredito que temos todas as condições de ganhar no Congresso Nacional. O resultado que obtivemos na Comissão, ao contrário do que foi cantado, é importante: 41 votos.Em projeção, dá 213. Ainda fica na faixa do conforto.

O governo vai lutar até o último minuto, por algo que acreditamos que seja factível, ganhar contra tentativa de golpe através de um relatório que é uma fraude, com momentos estarrecedores. José Eduardo Cardozo foi muito feliz ao dizer que a maior defesa a meu favor seja a má qualidade daquele relatório.

Em que pese que a Constituição diga o tamanho do meu mandato, respeito a proposta que contenha voto popular, respeito a visão diferente. O que não respeito e acho que nenhum de nós pode aceitar é com o impeachment sem base legal. Fere nossa democracia, é um atalho para o poder sem voto, dos que não vão se submeter a nenhuma eleição.

Sobre as projeções para domingo

Nessa reta final vamos sofrer uma guerra psicológica: eu tenho os votos, aquele não tem. O processo que tem um objetivo, de construir situação de efeito dominó.

É muito difícil neste momento chegar e dizer: um partido desembarcou do governo. Tem situações das mais variadas, de partidos que saem e as pessoas ficam. Tem variações, não tem relação linear entre líderes e liderados, característica do sistema político no Brasil, que torna extremamente complexa a análise da realidade e complexo o jogo político.

Judicialização do impeachment

Sabemos de todas as falhas do rito imposto pelo presidente da Câmara. O Ministro José Eduardo Cardozo fez uma fala muito clara sobre isso, na última vez que tivemos a oportunidade de nos manifestar.

Quando eu falo em honrar 54 milhões de votos, só uma parte da questão. Tem que honrar os dois votos, porque os dois participaram de um processo legítimo.

Sobre o estado de nervo

Durmo às 10 e meia e não tenho insônia e acordo com pique para andar de bicicleta.

Tenho grande competência quando aumenta a tensão. A minha fraqueza é quando relaxo, e aí fico muito normal. Para ser presidente, tem que ter dois degraus de tranquilidade a mais quando tensão aumenta. Quando relaxada, sou normal. Quando tensa, sou presidente da República. 

Sobre a guinada à esquerda proposta por Lula

Lula na presidência teve um comportamento, fora outro. Eu tenho que ter uma posição que diga respeito ao todo, não mais a mim. Lula não é mais presidente, pode falar tudo o que ele pensa. Eu não posso colocar todas as posições pessoais minhas. Não posso ter posição que sei que uma parte da população brasileira não endossa. Presidente não pode estimular divisões.

Na crise econômica acirra disputas distributivistas. Entendo que as pessoas queiram mais. Mas quando cai a arrecadação não tem como dar mais.

Mas temos como estabilizar a país, tirar da crise, ampliar as políticas sociais.

O ajuste do Brasil foi diferenciado em relação a outras economias, especialmente as europeias. Ajustamos mas preservamos as políticas sociais.

Sobre o impeachment

Ao contrário dele (Eduardo Cunha), não tenho conta no exterior e nenhuma das acusações que recaem sobre ele. O que acho mais grave não é que ele presida o impeachment, mas que a proposta que está na mesa tenha ele como vice. Ele será o vice-presidente da República e tem com o atual vice uma relação de profunda sociedade política.

Sistema político brasileiro hoje se mostra muito receptivo a expedientes golpistas institucionais porque é frágil. Precisamos de reforma política que defina em que condições se aceitará a formação dos partidos, o modelo de voto, como se dará a relação parlamento-executivo.

Logo após as manifestações de junho de 2013 acreditei que haveria condições de convocar uma assembleia para discutir a questão política.

O modelo político está perdendo cada vez mais a capacidade de não ser permeável a esse tipo de crise. Todos os que sentarem nessa cadeira enfrentarão isso em maior ou menor grau, porque não é algo que alguém consiga modificar.

A versão de que a política é ruim e suja não contribui, só estimula o apoliticismo que serve a interesses políticos pavorosos. Uma das características estarrecedoras da manifestação de 13 de março foi a rejeição da política. Essa característica nunca levou a nada de bom.

Historicamente essa posição levou a regimes de exceção. Faz parte do processo a despolitização, a rejeição da atividade político o surgimento de salvadores da pátria.

Sobre reforma fiscal

É muito recessiva a redução do gasto do governo. Então não sai da crise sem alguma recomposição da receita. Não dá para botar um lado só pagando o pato. Os que falam em pagar o pato são aqueles que têm na arrecadação do sistema S uma das fontes de seu financiamento.

Temos tido com a CNI uma das melhores relações, porque tem transformado a arrecadação do sistema S em três coisas fundamentais: educação técnica, pesquisa tecnológica e Instituto de inovação

Não estou pensando em aumentar investimentos do governo, mas não pará-los. Pedimos ao Congresso que certos investimentos não parem, porque os custos para o país são enormes.

KC 390, se vendermos, entrada de US$ 1,1 BI anual. Estou na fase final. Passo a não ter recursos para completar. É a poupança burra. Como isso tem vários outros processos em recursos.

Tenho restos a pagar empenhados e medidos, que tem que ser pagos.

Nós fizemos corte brutal, R$ 120 BI de despesas discricionárias e não discricionárias. De discricionárias 105 e 25 de obrigatórias

Não discuto desvinculação das receitas orçamentárias

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • A presidenta Dilma tem

    A presidenta Dilma tem mantido a serenidadde durante todo este período turbulento de quase 17 meses de intensos ataques dos golpistas deste país.

    Só por isto a passagem dela pela presidência será motivo de orgulho para o povo brasileiro. É o comportamento que um estadista deve ter. em momento algum,mesmo sendo alvo das mais descabidas ações dos grupos golpistas (mídia porca,judiário,ministério público e polícia política),em momento algum a presidenta deixo-se levar para uma atitude diferente da esperada de um presidente da república.

    É por essas e outras que os golpistas estão desesperados e,assim como aconteceu na apuração das eleições,começarão sorrindo e terminarão chorando,inclusive o estafeta da emissora golpista.

    • nao só concordo com voce,

      nao só concordo com voce, vladimiri, como exalto aqui  a coragem e o posionamenrto sempre racional dos nossos comentaristas...

      e as belíssimas manifestações dos movimentos sociais e sindicais

      e dos artistas e amplos segmentos da população, que reagiram ao golpe

      com razão e coração, sentimentos comuns que exltam a vida, a solidariedade,

      jamais o ódio e destruição, como querem alguins golpístas infames...  

  • Oportunidade única pro país

    Oportunidade única pro país com o desembarque dos partidos sanguessugas do governo.

    Não seria o caso da Presidenta chamar gente qualificada, professores universitários com disposição e juristas de renome para compor seu novos Ministérios?

    Colocando as pessoas certas no poder não seria uma oportunidade de se livrar o governo e o país desses carreiristas e aproveitadores?

    Uma sugestão: Luís Nassif como Secretário de comunicação...

    • Não se trata de vingança,

      Não se trata de vingança, trata-se de fazer justiça para inibir que isto se repita no futuro.

      • Foda-se a justiça.
        Neste país

        Foda-se a justiça.

        Neste país Justiça é coisa rara.

        A vingança, porém, pode ser garantida.

  • "O que não respeito e acho

    "O que não respeito e acho que nenhum de nós pode aceitar é com o impeachment sem base legal."

    Se ela mesma admite que é golpe e ilegal, por que não recorre ao STF imediatamente. Onde está o AGU?

    Não estou mais entendendo nada. Reclama que é ilegal, mas não recorre contra a ilegalidade. Como se chama isso?

    • Voce acredita mesmo nessas

      Voce acredita mesmo nessas instituições? O processo do Cunha esta desde 2015 no STF com todas as provas pra ser julgado e ele ta ai liderando o golpe ...

  • O sistema político do seu

    O sistema político do seu país não é apenas "frágil", ele é na verdade uma completa piada de mau gosto. Somente em um sistema político sem pé nem cabeça um parlamentar como Cunha consegue ter mais poder do que o próprio presidente e pode ignorar todas as leis que regem o cargo dele sem acabar preso ou deposto, e só em um sistema sem pé nem cabeça pode-se abertamente conspirar para derrubar o governo de forma tão explícita sem ninguém acabar pendurado pelo pescoço (uma traição dessas contra o país é um crime grave na maior parte do mundo).

    Nos EUA o presidente já teria ordenado a prisão imediata de pessoas como Cunha.

  •  
    Domingo à noite os

     

    Domingo à noite os brasileiros saberão quantos Cunhas há na Câmara Federal.

     

    Beira o inacreditável o que estamos assistindo nesse país.

     

     

     

     

  • A Dilma real e aquela vendida

    A Dilma real e aquela vendida pela mídia não 'batem'. Pena que nem Lula, nem Ela fizeram um governo mais à esquerda. Perdemos uma chance grande de debater e tentar promover mudanças estruturais no Brasil. O que justifica a taxa SELIC em mais de 10%? Não houve espaço para uma discussão sobre a importância de diminuir as despesas com juros da dívida, por exemplo?

    Espero que o governo vença no domingo por todos os problemas que processo em andamento contra a Presidenta apresenta. E porque o Brasil não pode ser governado por quem não ganhou nas urnas. Muito menos ter um vice com o Eduardo Cunha, cuja esposa e filha não passam pelas canetadas do Moro.

  • Caso aconteça o golpe (não vai acontecer)

    Irreparável tragédia grega

    Caso o golpe aconteça (não vai acontecer), apeando Dilma/PT do Poder sem comprovado crime, além do que, indevidamente capitaneado por elementos da pior espécie, como Eduardo Cunha, então estaria confirmado o magnífico poder da turma de preto, maior do que se supunha, acima do Executivo, Legislativo e Judiciário, inclusive, da própria ABIN.

    Daí em diante, muita coisa seria afetada. Abaixo, algumas das possibilidades, em maior ou menor grau:

    Após a deposição de Dilma/PT, a grande mídia deixaria de divulgar seguidas notícias ruins, principalmente, envolvendo corrupções, Lava Jato e Eduardo Cunha. No meio desse silêncio, na calada da noite, muitos seriam libertados;A democracia e as liberdades individuais de algum modo ficariam comprometidas; O Congresso, Judiciário e Executivo passariam a ter maiores influências da turma de preto;Todos os partidos políticos seriam bem afetados pela nova ordem;Início de novas privatizações, começando pela estratégica Petrobras e as bilionárias reservas de petróleo e gás existentes no Pré Sal. Tudo, a preços de bananas, como no governo FHC/PSDB;Todo o comércio, indústria, serviços, bancos e financeiras, seriam enquadrados na nova ordem;Caso necessário, objetivando o manter o controle em situações de tumultos e revoltas, o Congresso rapidamente aprovaria medias de exceção, com o comprometimento das liberdades individuais;A turma de preto passaria a ter mais controle sobre a mídia;Todas as atividades culturais, peças de teatro, filmes, reuniões, palestras, de algum modo, passaria por aprovação da turma de preto;Todas as universidades passariam a ter maior presença e influência da turma de preto;Dependendo dos acontecimentos na área econômica, o comércio com a América Latina ficaria bem comprometido;Toda a área de comunicação e informática passaria a ter maior presença e controle da turma de preto;Outras mais.

    • Pode até ser, não duvido. Mas

      Pode até ser, não duvido. Mas não é misticismo não. A luz vence porque ilumina a escuridão. É fato, é físico. Os de preto não passarão.

  • Divulgação de video declarativo dos votos contra o Golpe

    Nassif,

    O Governo tem que divulgar na internet um video, imediatamente, no qual conste a declaração e a justificativa de todos os parlamenatares que são contra o golpe, assim, essa terror midiático a favor do golpe se arrefece.  Por que não o faz?

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