Política

Lula consterna familiares de vítimas da ditadura ao ignorar aniversário do golpe, diz The Guardian

O jornal britânico The Guardian publicou nesta sexta-feira, 29, antevéspera do aniversário do golpe militar de 1964, uma matéria afirmando que o presidente Lula deixou familiares de vítimas do regime de exceção “consternados” com a decisão de impedir atos oficiais para lembrar os 60 anos do golpe.

“A decisão de Lula e essa declaração [dizendo que o golpe deve ficar no passado] horrorizaram aqueles cujos entes queridos morreram nas mãos da ditadura apoiada pelos EUA”, escreveu o jornal.

Segundo o diário, Lula proibiu eventos sobre o golpe de 1964 “possivelmente para evitar irritar os militares.”

“A decisão aparentemente teve como objetivo evitar irritar os chefes militares num momento em que vários militares de alto escalão enfrentam a prisão por supostamente conspirarem para impedir que Lula assumisse o poder após sua eleição em 2022. Essa suposta conspiração culminou no levante fracassado de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram o palácio presidencial, o Congresso e o Supremo Tribunal em Brasília”, pontuou.

The Guardian destacou que ativistas esperavam que o governo Lula marcasse o aniversário do golpe com uma série de memoriais em homenagem às milhares de pessoas que foram mortas, desaparecidas ou torturadas pelo regime militar de 1964 a 1985.

Lula, por sua vez, disse numa entrevista recente que está mais preocupado com o golpe atual e ainda acrescentou que o golpe de 1964 “pertence à história”. “Já causou o sofrimento que causou. O povo conquistou o direito de democratizar o país, e os generais que hoje estão no poder eram crianças naquela época.”

The Guardian ouviu familiares de vítimas da ditadura e historiadores que criticaram e se mostraram decepcionados e indignados com a decisão de Lula.

“Como chefe de Estado é dever [de Lula] assumir a responsabilidade de investigar crimes cometidos pelo Estado. Não se pode simplesmente apagar tudo como se nada tivesse acontecido”, disse Suzana Lisboa, cujo companheiro, Luiz Eurico Tejera Lisboa, desapareceu em 1972, aos 24 anos, e teria sido torturado até a morte.

Para além de cancelar os atos em memória dos 60 anos do golpe militar, o governo Lula ainda não deslanchou outros projetos esperados por seus eleitores à esquerda, como a reativação da comissão especial sobre mortos e desaparecidos políticos.

“Nos sentimos um tanto traídos”, disse Marcelo Rubens Paiva ao The Guardian. Filho do político Rubens Paiva, sequestrado e desaparecido pela ditadura em 1971, Marcelo e demais familiares só conseguiram confirmar o assassinato em 2014.

Ao jornal britânico, o historiador João Roberto Martins Filho disse que Lula causou “insatisfação unânime” nos meios acadêmicos. “Não há ninguém que concorde com a afirmação de Lula de que o golpe de 1964 e o regime militar pertencem ao passado e devem permanecer lá.”

Leia a matéria completa aqui.

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Redação

Redação

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  • Percebo que o apagão pela comoção e pelo sentido da razão que praticou contra aposentados, através da RVT, e contra as famílias de brasileiros e brasileiras, perseguidos, torturados e assassinados pela Ditadura Militar, está apagando a antes brilhante história de Lula, por conta das horríveis manchas que ficam cada vez mais visíveis neste seu segundo ano do terceiro mandato. Avalio que por conta da grande mentira usada como arma para tentar camuflar a imensa traição sobre os direitos de aposentados, no julgamento da Revisão da Vida Toda, e pela ultrajante falta de coragem para autorizar a realização dos atos em memória dos 60 anos do fatídico golpe militar, que instaurou a Ditadura em 1964.
    Por mais que se esforce para tentar se recuperar dessas decepções, que já estão enraizadas no eleitorado que sempre lhe foi fiel, não mais conseguirá evitar a grande perda política que poderá ser também potencialmente desastrosa também para o Partido dos Trabalhadores, que vinha mostrando uma acelerada recuperação sobre a também covarde perseguição criminosa pela Operação Lava Jato e Sérgio Moro.
    Em pouco tempo do ano de 2024, essas duas bolas fora já derrubou quase tudo de bom que Lula produziu neste terceiro mandato.

  • O enquadramento definitivo das FFAA em seu (importante) papel de DEFESA e assimilação clara de que não é nem pode ser parte ativa da política é uma oportunidade histórica neste momento onde oficiais generais finalmente estão sendo tratados como cidadãos "não especiais" pelo poder civil. Esta oportunidade deve ser contínua e firme até 100%> esta inoportuna conciliação de Lula (com seu suspeito ministro da defesa?) deprecia esta chance de ouro de por uma vez por todas consolidar este essencial entendimento. Enfim, apesar deste gesto, que está brasa perto de ser apagada definitivamente nunca mais se acenda...

  • Fez o certo, as FFAA deveriam fazer o mesmo, reconhecer isso, já não é mais problema de governo, é problema de justiça, elementos para trancafiar torturadores e locupletas da democracia há demais, os governos não podem ficarem reféns de vingança, porém as FFAA poderiam reconhecer o erro profissionalmente, e seguir ajudando o país a desenvolver, ficar negando o erro, é mais que um erro, é uma mesquinhez, é falta de compromisso com a verdade. Já é de conhecimento público essa excrescência ditatorial de violência e descaminho.

    • Não filho, isso é problema de Estado, de Estado Democrático de Direito.

      E essa é a sutil diferença entre governantes e estadistas.

      Então, dentre todos os países que superaram e curaram as feridas, mantendo as cicatrizes, Lula, ou lulu das FFAA, é o único que achou a fórmula mágica da paz.

      Sem curar 37, vieram 45, 54 e 58.
      Sem curar 58, vieram 64, 2016, 2024.

      Crimes de estado não se punem apenas com aparato jurídico, o STF não é nosso poder moderador.

      Aliás, isso não deveria existir nas chamadas democracias.

  • Nassif, faz uma analogia ao crime da atualidade o da Mariele, Eu tinha um tio que era até sindicalista à época, na Siderúrgica Nacional, morávamos no interior de Minas Gerais com a nossa Tia Antônia mãe do que nos chamávamos de Tio Querubim, quando ele vinha trazia presentes e rumo para o nosso desenvolvimento, nunca enterramos seu corpo ou soubemos o que aconteceu, minha tia morreu com esse vácuo de amor e compaixão, só depois de muito tempo soubemos de incinerações nos auto formos por motivação política, porque fiz analogia com o crime da Mariele, porque na época da ditadura, ou você aceitava ou morria, o crime organizado era quem era pago pelo estado, pensar diferente e buscar direitos, era crime, porém defendo o LULA agora, isso não é mais problema de governo, é problema da justiça, há elementos suficientes para prender o que resta de torturadores, as nossa FFAA tem que profissionalizar e reconhecer o erro, ninguém é contra as nossa defesas, porém reconhecer o erro, é parte para que prossigamos, quem cometeu crime que pague, como é para qualquer cidadão.

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