O perfil ideal do novo presidente da Petrobras, por Cesar Monatti

Em meados da década de 80 do século passado, com a gradativa distensão política do país que desembocaria na retomada da democracia plena ao final daquele período, uma discussão sobre gestão começou a tomar corpo no âmbito das estatais federais.

A influência da política partidária, em especial de oligarcas provincianos nela cativos, na indicação de quadros dirigentes das empresas públicas alcançava níveis de intensidade até então desconhecidos e muito baixos na hierarquia daquelas instituições.

As motivações do debate de então, proposto por forças sociais tão díspares quanto os sindicatos de trabalhadores e defensores das futuras privatizações, poderiam ser resumidas, de forma deliberadamente simplista para possibilitar a sequência de argumentos, de um lado como ingenuidade política dos sindicalistas, e de outro, como falso moralismo pelos lobistas do setor privado.

Desse caldo emergia a bandeira da nomeação de empregados “de carreira” para a alta administração e corpo gerencial das empresas estatais como alternativa às indicações “políticas” que se exacerbavam à época. Como se percebe, a chave da “solução” do problema era singela e dicotômica como a escolha de Cecília: “ou isto ou aquilo”.

Eis que, dado um salto de três décadas na linha do tempo, em pleno período de consolidação da democracia brasileira, ressurge o tema da indicação de dirigentes de estatais, depois da experiência da nomeação e anunciada demissão de uma empregada “de carreira” para a presidência da maior empresa do estado brasileiro, cuja definição formal é “sociedade anônima de capital aberto, cujo acionista majoritário é a União Federal (representada pela Secretaria do Tesouro Nacional)”.

O que chama a atenção na conjuntura destes dias, quando cotejada com a situação dos anos oitenta, é que surgiu “no ar” um novo perfil elegível, e ubíquo nos múltiplos e amplos espaços da grande mídia familiar-corporativa, para a presidência da empresa: o “nome do mercado”.

Uma primeira questão que aflora desta “proposta” é: se uma “indicação política” têm maiores compromissos com os políticos que a indicaram e uma “indicação de carreira” com a corporação na qual esta foi desenvolvida, com quem serão os de uma “indicação de mercado”?

A resposta óbvia por demais e simplista por exagero é que os maiores compromissos do novo presidente seriam com o “mercado”! A dificuldade lógica é que essa é uma entidade coletiva e muito abstrata, embora de interesses comuns e conhecidos, para que se possa conjecturar sobre como atuaria o novo (ou novos, se incluídos diretores) gestor.

Felizmente, nos socorrem os exemplos da história contemporânea.

É por demais conhecido o fato de que os “altos executivos” se tornaram no capitalismo recente quase uma nova “classe social” que, mesmo que trabalhando para o capital, não se identificam obrigatoriamente com todos os interesses dos proprietários e/ou acionistas. As críticas, que incluíram o presidente dos EUA, sobre os bônus pagos aos altos executivos das grandes corporações depois da crise financeira de 2008 são uma das notórias evidências dessa condição. Em resumo, os executivos, embora não ganhassem mais na rubrica “remuneração variável”, ainda que seu entorno estivesse se desfazendo em milhões de pedaços, não perderam remuneração básica naqueles tempos ruins.

Com isso, a resposta ao questionamento anterior começa a se desvelar. Auxiliados, por exemplo, pela notícia (ou balão de ensaio) de que, entre os possíveis candidatos a substituto da presidente demissionária está um ex-empregado da própria empresa, ex-presidente de uma concorrente que quebrou tempos depois de sua saída e, em seguida, investidor do mesmo setor, chega-se a uma provável solução para a charada proposta acima: os maiores compromissos de um presidente por “indicação do mercado” é com sua própria carreira.

Ocorre que, na manifestação (geo)politicamente correta de Mauro Santayana, “A Petrobras não é apenas uma empresa. Ela é uma Nação. Um conceito. Uma bandeira.”

Por isso, o futuro presidente ideal precisará ter, neste momento, algo em torno de um terço das características de cada um dos perfis descritos: ser “de carreira” (nesse sentido, pode ser um aposentado…), ter consistente indicação política e ter compromisso com seu próprio currículo profissional. Neste último tópico, com uma diferença significativa em relação aos executivos de mercado: compromisso com sua carreira no serviço público/estatal.

De todo modo, transformados esses terços ideais em percentuais, é muito desejável também que a diferença entre a dízima do seu somatório – 99,9999999…% – e os cem por cento do perfil completo seja preenchida por uma qualidade noutro sentido imponderável: a boa sorte.

Redação

Redação

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  • Não pode ser petista (pois os
    Não pode ser petista (pois os tucanos não querem), não pode ser tucano (pois não existe tucano honesto) e não pode ser gringo. Portanto, Dilma deve nomear um jovem oficial patriota do Exercito, da Marinha ou da Aeronáutica para comandar a empresa que garante o abastecimento das Forças Armadas em caso de guerra. E ele pode até trabalhar com uma pistola na cinta, para enfiar na cara dos ladrões que ousarem roubar os brasileiros novamente.

    • É o que  tenho afirmado todos

      É o que  tenho afirmado todos os dias nesse blog.

      Sinalizaria para os inimigos nacionais e estrangeiros da Petrobras que o pais a ve como elemento estrategico para a nação.

      Seria o que faria um Juscelino, um Getulio esses genios da politica que não existem mais.

      Se a Dilma colocar alguem do "mercado", caira em poucos meses.

      Toda a esquerda a abandonara. 

      Ficara sem nenhum apoio, sozinha no palacio.

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