Pedro Parente trabalha para tornar a Petrobras irrelevante, por Luis Nassif

Acompanhei o trabalho de Pedro Parente como Chefe da Casa Civil no apagão e durante quase todo o governo FHC. Sempre o tive em alta conta, como um funcionário público exemplar. E estava esperando baixar a espuma para avaliar melhor seu trabalho à frente da Petrobras. Até que ponto a venda de ativos buscaria uma melhora no perfil de endividamento da Petrobras ou um enfraquecimento mortal.

Nessas discussões políticas, evito julgamentos morais baseados em pressupostos ideológicos: o que pode ser erro para uns, pode ser acerto para outros, desde que ambos procurem o melhor para o país.

Hoje, à luz de tudo o que tem feito, não tenho mais dúvidas de que Pedro Parente trabalha deliberadamente para tornar a Petrobras uma empresa irrelevante.

Entenda a lógica do setor, para analisar o trabalho de Parente.

Todas as grandes petroleiras têm seus modelos de negócio fortemente amparados na integração total das atividade, do poço ao posto, como se diz na linguagem petroleira.

É possível comprar ações da Exxon, da Shell e da BP nas grandes bolsas mundiais. Mas todas as ações são de empresas consolidadas, Não existe uma Shell Distribuidora acionariamente separada da Shell transportes etc.

A razão é simples.

A atividade petrolífera é cíclica. Há momentos em que os preços do petróleo disparam, e outros em que permanece no fundo do poço. Como a demanda final sempre é a mesma, a sustentabilidade financeira da atividade reside na sua integração.

Durante a guerra do Golfo, em 1967, o custo do frete era três vezes acima do preço do petróleo: um dólar o litro de petróleo contra 3 dólares o frete. A petroleira perdia no petróleo e ganhava no frete. Uma viagem de navio dava um lucro praticamente correspondente ao preço do navio.

O preço do petróleo muda diariamente. Assim como em qualquer ramo de commodities, a existência de estoques é essencial, assim como a existência de refinarias.

Não se pode analisar a vida de uma empresa de petróleo por uma gestão. É uma atividade secular, na qual todos os casos bem sucedidos se basearam em um modelo de integração. E Parente está se desfazendo das empresas mais lucrativas da Petrobras.

Tome-se o caso das refinarias.

O Brasil tem capacidade de refino instalada de 2,5 milhões de barris dia. Possui algumas das refinarias mais modernas do mundo. Como historicamente o país era grande importador de petróleo e, por questão de preço, comprava petróleo meio pesado e pesado, as refinarias tinham papel estratégico. Não só as mais simples (para petróleo leve), como as modernas, supersofisticadas, de refino a vácuo, craqueamento catalítico, que permitem tirar derivados do petróleo que fica no fundo da tubulação das refinarias comuns..

A gestão atual, de Pedro Parente, tomou a decisão de refinar menos. Chegou a refinar menos 500 mil barris dia. Tendo capacidade, custo fixo do capital, custo de manutenção e mão de obra disponível, optou por reduzir o refino.

Dia desses houve uma reunião-almoço reunindo funcionários históricos da Petrobras, que serviram a vários governos desde os anos 70. Nenhum dos presentes conseguiu entender a lógica da redução do refino.

A opinião unânime é que Parente está trabalhando para tornar a Petrobras irrelevante.

Há dúvidas apenas sobre a motivação.

Há uma tradição do PSDB de ter nas multinacionais fontes de financiamento eleitoral. Basta analisar as liberações de financiamento do Banco Mundial, quando Pedro Malan ocupava alto cargo na instituição. Ou o caso da norueguesa Nordisk, em uma licitação escandalosa para a compra de insulina perpetrada por José Serra no Ministério da Saúde. Ou ainda, as conversas de Serra com a Shell, divulgadas pelos documentos da Wikileaks.

Seja qual for o motivo, a imagem do brasileiro exemplar, no caso de Parente, é um retrato mofando no sótão da memória.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Prezado Nassif
    Como você

    Prezado Nassif

    Como você disse em um post há uns 50 dias, realmente PP é um grande quadro...um grande quadro da Shell no comando da Petrobrás

    • "O que o pessoal de Wall Street vai dizer"

      Esse foi o pronunciamento do então Chefe da Casa Civil do governo FHC quando o STF declarou inconstitucional uma MP que promovia um brutal desconto nos salários de servidores públicos para cobrir o alegado rombo na previdência do setor público.  Tal manifestação foi até duramente criticada por Élio Gaspari em sua coluna na FSP.  O "grande quadro", ao meu ver, faz parte do time de demolição a serviço dos chamados donos do mundo. Alguns até recusaram o convite do Temer para compor sua equipe, alegando que as medidas "necessárias" (a rigor, encomendadas) deveriam partir de um goveno legitimado pelo voto.

      Brasileiro exemplar? Acho que não existe essa foto.

       

  • Prezado Nassif
    Como você

    Prezado Nassif

    Como você disse em um post há uns 50 dias, realmente PP é um grande quadro...um grande quadro da Shell no comando da Petrobrás

  • Nassif, no apagão ele fez um

    Nassif, no apagão ele fez um bom trabalho.

    Agora, ele quer é ganhar dinheiro.

    É só verificar no pós Petrobrás, para onde ele irá, para quem dará consultoria, etc.

     

  • Aqui na África, parafraseando

    Aqui na África, parafraseando uma música bem popular:

    "... você sabe o que é Petrobrás? Nunca mais vi, nem há, só ouço falar, você sabe o que foi a Petrobrás?"

     

    Prezado senhor, NADA! Tudo VENDIDO ou simplesmente abandonado. "Você sabe o que outrora foi a Petrobrás?"

    Ao menos no golfo da Guiné, sinônimo de eficiência e flexibilidade de operação.

    Já escrevi aqui em outras oportunidades, brasileiros de Petrobrás, Odebrecht, CC sairam, ora postos para fora, ora "vendidos" para chineses e franceses. Quando não expatriados.

     

    O atual modelo da companhia, que diz buscar "a maxíma lógica da tal eficiência de mercado", deveria observar como as ineficientes TOTAL , para não dizer a Sinopec operam...

    Ou...

  • A base contextual da gestão

    A base contextual da gestão Parente foi montada sob uma premissa que foi vendida à midia e por esta recebida de forma acritica, sem qualquer analise realista. A primeira premissa falsa é:

    1.A PETROBRAS está quebrada e é preciso vender ativos para pagar as dividas. É FALSA porque uma companhia quebrada não tem crédito e a PETROBRAS nunca teve problemas para obter creditos comerciais para compra de petroleo e equipamentos ou financeiros, para colocação de bonus. Nos ultimos dois anos a PETROBRAS fez varias emissões de bonus

    de divida a juros normais de mercado internacional e a emissãoteve DEMANDA de compradores varias vezes superior a oferta. A PETROBRAS tem um ativo que a torna financeiramente imbativel, o monopolio de importação e refino para um

    do maiores mercados de petroleo do mundo, o valor desse monopolio é incalculavel.

    Uma emissão de 2016 de US$4 bilhões em bonus teve compradores para US$20 bilhões, o que denota uma empresa sem nenhum problema financeiro, tem demanda altissima para seus titulos no mercado internacional, dizer que estava quebrada é um MITO jogado para o publico leigo e usado pela midia neoliberal como material de propaganda do atual modelo.

    2.A segunda premissa é que a PETROBRAS deve estar apenas no "core" business de exploração de petroleo e deixar o "downstream" para operadores privados. É FALSO. Todas as grandes petroleiras do mundo estão fazendo movimentos

    exatamente CONTRARIOS, integrando cad vez mais distribuição, petroquimica, transporte e até energias renovaveis,

    a EXXON mudou seus estatutos e não se considera mais uma companhia de petroleo e sim de energia e produtos.

    É um ABSURDO a PETROBRAS querer se desfazer de sua rede de distribuição BR, de seus oleodutos e gasodutos, de suas termo eletricas, de seus navios e já cogita vender suas refinarias.

     

    A gestão PARENTE atende exclusivamente a uma visão neoliberal anacronica, desde 1980 as PETROLEIRAS ESTATAIS

    cresceram muito mais que a petroleiras privadas, hoje a maior petroleira do mundo é a PETROCHINA, com valor de mercado de US$1 trilhão, é a MIOR COMPANHIA DO MUNDO EM VALOR DE BOLSA,  a segunda é a SAUDI ARAMCO, amabas estatais,  as petroleiras estatais tem hoje, de acordo com a Cambridge Energy Associates, maior consultoria de petroleo do mundo(agora mudou de nome), 91% das reservas comprovadas de petroleo.

    Parente é intelectualmente um privatista, ligado ao grupo de privatistas tucanos da Era FHC, só não fala em vender a PETROBRAS,  porque sabe que é politicamente dificil, mas isso não o impede de executar velozmente uma ""PRIVATIZAÇÃO BRANCA", desossando a Petrobras e a vendendo em pedaços, no fim ficará só o predio da Avenida Chile.

     

     

    • Comentário de André Araújo ao texto de Nassif

      O comentário de André Araújo enriquece o artigo de Nassif e avança em um ponto que Nassif não quis adentrar: a questão ideológica. Esse ponto me parece o central. Para além de existir ou não má fe, para além de os golpistas terem prometido mundos e fundos para perpetrarem o golpe, existe uma questão ideológica embutida, cuja síntese pode ser extraída do último parágrafo de André Araújo:

      "Parente é intelectualmente um privatista, ligado ao grupo de privatistas tucanos da Era FHC, só não fala em vender a PETROBRAS,  porque sabe que é politicamente dificil, mas isso não o impede de executar velozmente uma 'PRIVATIZAÇÃO BRANCA', desossando a Petrobras e a vendendo em pedaços, no fim ficará só o predio da Avenida Chile."

  • Uma tristeza enorme.


    Nassif, sou funcionário da empresa e concordo contigo. Ocorre que esse caminho começou com o Bendine, portanto, com a Dilma. É de chorar ver o que está acontecendo com essa empresa e o que ela era há poucos anos. Dá uma tristeza enorme!

  • Promessas do Serra...

    As promessas do Serra, segundo o Wikileaks, foram para a Chevron (embora, não se possa assegurar que não tenha feito também promesssas à Shell, algo lógico e previsível).

    Com o "sucesso" da Chevron, no último leilão da ANP, comprando o entorno da acumulação de Caracará, parece claro que a promessa de Serra estaria se materializando.

    Além disso, segundo noticias ainda pouco divulgadas, a Chevron teria comprado, depois do leilão, parte dos direitos da Statoil em Carcará, adquiridos por esta Empresa à Petrobrás.

    A se confirmar esta notícia, a promessa de Serra, a partir de uma triangulação ANP-Statoil-Chevron, estaria escandalosamente cumprida. Lembrar que, além das aquisições, a Chevron, como as demais petroleiras multinacionais, ganharam trilionária renúncia fiscal do "governo" Temer.

    Por óbvio que, por mais repugnante que seja o papel do Parente, ele não está só nesta "parada".  

    .    .     

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