Porque o tal do mercado não despreza Bolsonaro, por Luis Nassif

O namoro do tal do mercado com Bolsonaro obedece à palavra mágica: business.

Há tempos, o mercado se deu conta de que figuras histriônicas, acidentes da política, se prestam a grandes jogadas de negócio.

É o que explica o apoio a figuras desprezíveis, como Michel Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco.

É o caso do Credit Suisse na Rússia. Recentemente, publicou um relatório sobre o problema da desigualdade na Rússia.

Mas quando se desmanchou a ex-URSS e teve início o desmonte perpetrado por Boris Yeltsin, o Credit Suisse foi o grande beneficiário.

Em 19923 criou o Credit Suisse da Rússia liderado por um jovem banqueiro americano, Boris Jordan, neto de russos brancos, que imigraram no início do século 20.

Jordan mantinha relacionamento estreito com os responsáveis pelas privatizações da ex-URSS. Na primeira onda de privatizações, foram distribuídos vouchers, para serem transformados em ações das empresas recém-privatizadas. Apenas o Credit Suisse de Jordan adquiriu 17 milhões de vouchers, ou 10% do total.

As duas conexões de Jordan, com apoio dos EUA, foram o primeiro-ministro Yegor Gaidar e Anatoly Chibais, cérebro do programa de terapia de choque que desorganizou a economia russa e criou a nova classe dos oligarcas e levou ao empobrecimento da população russa.

Em entrevistas concedida anos depois, Jordan admite que a criação dos vouchers visou garantir que o parlamento da Rússia não iria impedir as privatizações.

Houve todo tipo de jogada com os vouchers. A mais conhecida foi dos irmãos Chandler, atraindo vouchers para empresas russas super-avaliadas, diluindo assim o valor dos vouchers, e revendendo suas participações com grandes lucros.

Os irmãos Chandlers bancam o Instituto Legatum, um grupo de neocons com sede em Dubai, que se vale das redes sociais para uma guerrilha de informação contra o governo russo.

Essa terapia de choque, de 1992, resultou em 1998 na corrida contra o rublo que desorganizou mais ainda a economia russa. Acabou confiscando as economias das classes média e baixa, gerando um processo agudo de concentração de renda.

Segundo o Blog The Exilated, que publica análise sobre a economia russa, em 1994, Jordan concendeu uma entrevista à Forbes sobre um esquema que tentava emplacar junto a Yeltsin. Era o “empréstimos por ações”, considerado o maior saque da história contra a economia russa. As principais empresas russas, óleo, gás, recursos naturais telecomunicações, bancos estaduais foram entregues a um grupo reduzido de banqueiro.

No final de 1995, Yeltsin anunciou leilões através dos quais os banqueiros emprestariam dinheiro ao governo em troca do controle “temporário” sobre os fluxos de receita das mais valiosas empresas russas.

Cada leilão foi manipulado pelo banco vencedor, que passou quase nada pelo controle. E ainda tiveram o benefício de passar a gerir folhas de salários e outros fundos públicos. Houve atrasos de salários por meses ou mesmo anos, quando se valiam dos fundos para especular ou para comprar ativos em leilões manipulados.

Quando os empréstimos por ações foram implementados, no final de 1995, Boris Jordan associou-se a um dos oligarcas, Vladimir Potanin, criando o seu próprio banco de investimentos, o Renaissance Capital. Criaram o primeiro fundo de private equity, a Sputnik Capital, tendo como investidores George Soros e a Universidade de Harvard.

Segundo o Blog, essa terapia de choque teve um custo imenso para a Rússia. Nos primeiros dois anos de terapia de choque e privatização de vouchers a inflação foi de 1.354% em 1992 e 896% em 1993, enquanto os rendimentos reais caíram 42% apenas em 1992. Os salários reais em 1995 foram reduzidos à metade do valor de 1990. E as pensões foram reduzidas a 25%.

Os investimentos em bens de capital cairam 85% na década. A produção de alimentos domésticos desabou para metade dos níveis durante a perestroika. Em 1999, metade dos russos se alimentavam em alimentos cultivados em seus próprios jardim, retornando à agricultura de subsistência.

A expectativa de vida masculina russa caiu de 68 anos durante a era soviética tardia, para 56 em meados da década de 1990, mesmo índice dos tempos do czar. E a taxa de mortalidade infantil bateu recordes mundiais. Mais de 6 milhões de russos morreram prematuramente durante as reformas de mercado.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

    • aproveito e deixo uma chamada para estudo...

      sobre o que poderá acontecer com os fundos de pensão brasileiros, principalmente estatais, após todo este entreguismo e tantas bolsas temer...............................

      galera da Eletrobras já está às voltas com quebras de contrato, certa de que vai perder quando reclamar na justiça

      todos tendo que contribuir novamente, forçados, para garantir a completação de aposentadoria contratada há 20, 30, 40 anos atrás

  • Difícil é achar um bom adestrador de burros.

    Esse é o único problema do mercado com Bolsonaro. Por mais que tentem, o burro não consegue ser adestrado para não distribuir coices nos eleitores.

  • Fascio

    Por essas e outras que o Mino Carta diz que neoliberalismo é ideologia de extrema-direita na Europa.

    O mercado flerta com o fascismo desde sempre e prefere patetas estúpidos que possam ser manipulados. Desde que declarou na TV que não entende nada de economia, o sr. B. vem sendo adulado pelo mercado.

    Ontem levou uma escorraçada das boas no Estádio do Palmeiras. Como disse um palmerense presente: o candidato nacionalista e xenófobo foi fazer campanha num clube de imigrantes.

    O elemento - e sua assessoria - é incapaz de perceber esse tipo de nuance. Imaginem como presidente, tendo que negociar com Rússia, China, Índia, Alemanha. Vai ser comido antes de abrir a boca.

     

  • Por que o Mercado não

    Por que o Mercado não despreza Bolsonaro?Aos meu olhos que um dia a terra há de comer,não saberia informar de local mais adequado para a proliferação de camundongos.No sentido mais amplo,geral e irrestrito que sua pergunta possa comportar,como disse Petronio Portela respondendo como seria a abertura politica do governo Geisel.

    • Porque o tal do mercado não despreza Bolsonaro

      " Estão a ver que eu sou o cão mordendo manga nas minhas previsões.O Procurador Catapilão da Lava a Jato saiu em defesa do casal Tico Teco de Curitiba,partiu para cima do Dr.Kakay,e mandou o causídico tomar vergonha na cara.A caipira tem razão.Aí tem coisa.É só futucar."

      Junior 5 Estrelas - 28/08/2017

      na citação acima, minha homenagem ao comentarista mais hiperestrelado do Blog. contudo, devo  ressalvar que ao menos uma das estrelas estará reservada a um certo Generalíssimo, atual Chefe da Divisão de Extermínio do desGoverno usurpador. não por coincidência, justo a estrela ninja.

      neste sentido, peço sua compreensão. ainda lhe restarão quatro, ao menos. o suficiente para os argonautos daqui continuarem morrendo de inveja.

      a respeito deste post sobre a Rússia pós esfacelamento da URSS, o Moreno de Poços descreve um dos futuros mais prováveis do ex Solo Consolidado Pátrio.

      na mesma linha, é aconselhável avançar na roda do tempo para analisar como Putin em menos de uma década conseguiu reverter a situação. arrancando a Rússia de um status neocolonial para novamente se tornar um dos protagonistas na geopolítica global.

      quanto ao mercado e BolsoNazi, o fascismo voltou a andar com as próprias pernas, fazendo do Dr. StrangeLove de Kubrik um inofensivo maluco de praça.

      p.s: a entrevista com o Almte. Othon é para deixar qualquer brasileiro puto da vida!

      vídeo: ENTREVISTA COM O ALMIRANTE OTHON

      [video: https://www.youtube.com/watch?v=VMBcfZk4rd8%5D

      .

      • Se ligue arkx.Que confusão
        Se ligue arkx.Que confusão desgraçada é essa que você fez?Confundiu Ze Carroceiro com Zeca Roceiro,Nabucodonosor com uma pornofonia,assim não dá.Tá de baratino meu.

      • Ia me esquecendo.Você está
        Ia me esquecendo.Você está convidado para a festa da entrega do Troféu Bandolim de Ouro que realiza-se-á no dia 02 de dezembro do andante,às 20 horas,no Bar do Alemão,ao comentarista revelação do ano do Blog do Nassif.A eleição está acirradissima.Acho que depois do depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran no dia 30/11,a CPI da JBS teremos a definição do ganhador.

  • Porque o tal do mercado não despreza bolsonaro
    Esse é o mundinho maravilhoso da livre iniciativa e do livre mercado. Livres apenas para um punhado de mega capitalistas que usam de seus truquezinhos sujos cooptando politicos para espoliar nações inteiras.

  • Wladimir Pomar

    Tenho um livrinho escrito por W Pomar que fala da transição do socialismo para o capitalismo.Vai ao encontro do descrito no post.

    Miragem do Mercado, editora Brasil Urgente. 

     

  • A Rússia foi fundamental pra

    A Rússia foi fundamental pra vencer a máquina de destruição nazista, mas não conseguiu sair ilesa frente ao deus mercado. Por aí se vê a praga de ganhafotos que essa entidade é. A verdade é que a Rússia, se não fosse a potêncial militar e atômica que é e dona de um solo privilegiado em termos de recursos naturais, hoje seria um peso mortal no xadrez mundial - o destino que o Brasil está indo a passos largos. 

     

     

  • Anos 90 - outro caso de controvérsia no uso de vouchers

    O mecanismo de voucher (https://www.macmillandictionary.com/dictionary/british/voucher) também foi usado em outro episódio controverso dos anos 90: o programa Petróleo-por-Alimentos das Nações Unidas para o Iraque (1996 - The UN Oil-for-Foods Programme). À época, foi considerado o maior compromisso humanitário da história das Nações Unidas e, em grande medida, foi por meio desse programa que se garantiu uma maior estabilidade na seguranca alimentar deste país, ao permitir que o Iraque pudesse exportar os seus barris de petróleo em troca de recursos para a aquisição de alimentos e de remédios do exterior. Imporante salientar que o país estava sob severa sanções comerciais do pós-Guerra do Golfo.

    A supervisão da ONU, no entanto, não imiscuía na escolha, pelos iraquianos, dos partícipes, isto é, dos parceiros comerciais (importadores e exportadores) do programa. Essa pequena abertura possibilitou que o regime de Saddam usasse as concessões de seus campos petrolíferos como forma de barganhar algum tipo de fortalecimento de suas relações com o exterior, seja pelo estreitamento com outros governos, organizações internacionais,  grandes empresas privadas, seja por meio do aumento de sua influência. E o óleo que lubrificava essa correira era a proprina estampada por meio de vouchers lastreados em barris de petróleos, emitidos pelo Iraque, em favor de inúmeros poíticos europeus e altos funcionários da ONU. 

    Em 2005, no primeiro report da comissão independente instaurada para investigar esse caso dentro das Nações Unidas (Comitê Volcker) concluiu que o pagamento de comissões chegava nos calcanhares do chefe do programa, o diplomata cipriota Benon Sevan, tendo em tela a descoberta de um estreito relacionamento entre este e executivos de uma trading africana de petróleo.

    https://en.wikipedia.org/wiki/Oil-for-Food_Programme

    http://www.economist.com/node/4267109

     

     

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