Os ‘bixos’ e os animais
Especialistas defendem a abolição completa do trote nas universidade
17/02/2011 22h00Avalie esta notícia »
DA REDAÇÃO
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A Câmara Municipal de Belo Horizonte se antecipou em relação ao Congresso Nacional e aprovou, em segundo turno esta semana, um projeto de lei que proíbe trotes violentos nas faculdades e universidades da capital. A violência, porém, em suas diversas formas, já é proibida no país. Cortar o cabelo de uma pessoa contra sua vontade pode ser caracterizado como crime de lesão corporal, previsto no artigo 129 do Código Penal. Obrigar o calouro a ingerir bebida alcoólica é chamado de constrangimento ilegal pela Justiça. Ridicularizar uma estudante, pintando seu corpo ou fazendo com ela lamba uma linguiça com leite condensado, é injúria e discriminação contra mulher, respectivamente.
Polêmico trote em que alunas foram obrigadas a simular sexo oral em uma linguiça com leite condensado na Faculdade de Agronomia e Veterinária da Universidade de Brasília.
“A lei já proíbe lesão corporal, o homicídio ou qualquer exagero praticado no trote. O que precisamos é de conscientização, uma nova cultura que não aceite tragédias como brincadeiras”, defende o advogado Fábio Romeu Canton Filho, coordenador da campanha contra trotes violentos da OAB- SP (Ordem dos Advogados do Brasil)
Esse jeito duvidoso de dar boas vindas surgiu quase que simultaneamente ao aparecimento das primeiras universidades na Idade Média. Há registro de trotes na França, no século 14. Na Alemanha, na Universidade de Heidelberg , a partir de 1491, os novos alunos eram obrigados a andar nus e ingerir fezes de animais. Ao fim do trote, comprometiam-se a repetir, no ano seguinte, a dose de violência contra seus calouros. Foi o início da perpetuação do sadismo. Há uma série de explicações históricas para essa prática, segundo Antônio Álvaro Soares Zuin, psicólogo e professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Admite-se, em uma delas, que os alunos chegavam das áreas rurais para estudar nos centros urbanos. Por isso, deveriam ser domesticados. Mas para o especialista, o trote é a vingança dos veteranos a uma postura autoritária do professor.
“Penso que os veteranos querem descontar o sofrimento a que são submetidos com alguns professores. Como não podem se vingar diretamente, fazem isso com os calouros”, explica Antônio Zuin, que define o trote como uma relação entre sadomasoquismo e soberba intelectual. “Soberba no sentido de querer domesticar o outro”, define o professor, também autor do livro “O trote na universidade: Passagens de um rito de iniciação”.
http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=110929
Polêmico trote em que alunas foram obrigadas a simular sexo oral em uma linguiça com leite condensado na Faculdade de Agronomia e Veterinária da Universidade de Brasília.
Após trote polêmico, alunos da UnB fazem recepção ‘humana’ a calouros
Os 1.466 estudantes aprovados pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB) foram recebidos com festa, ovos e farinhas pelos veteranos na tarde de segunda-feira (31). Com cartazes com dizeres “Somos veteranos e não damos trote” e “recepção sem humilhação”, os alunos mais velhos integrantes do Diretório Central dos Estudantes receberam os novatos com o objetivo de mudar a imagem deixada pelo episódio envolvendo estudantes do curso de agronomia da UnB, no qual alunas tiveram de participar de uma brincadeira na qual tinha de lamber uma linguiça com leite condensado.
O caso da agronomia foi parar no governo federal (veja vídeo ao lado). O trote sofrido por calouros levou a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República a encaminhar um pedido de esclarecimentos à reitoria da universidade.
O reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Junior, defini uma comissão formada por um membro da Faculdade de Agronomia e Veterniária, uma representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres e um integrante da Faculdade de Direito. para apurar a denúncia de discriminação contra mulheres.
O Centro Acadêmico do curso de agronomia, por meio de nota do seu presidente Caio Batista, se comprometeu a excluir do trote brincadeiras que gerem interpretação de abusos à dignidade da muilher – apesar de, segundo o estudante, a brincadeira ser uma tradição entre os alunos.
Batista esclarece ainda, na nota, que só participou do trote quem quis que “Ao serem questionados sobre a suposta humilhação perante os demais colegas de curso, todos negaram tal sentimento. Os participantes demonstraram contentamento em relação ao trote, que imaginavam ser desgastante, e também não entenderam os reais motivos para a repercussão negativa por parte da imprensa e SPM/PR.”
http://www.youtube.com/watch?v=YMFGlV4B3K4
Festa na divulgação de vestibular da UnB termina em confusão
Integrantes do Diretório Central dos Estudantes tentaram proteger calouros de trote e terminaram brigando com colegas
Um momento de festa e alegria para milhares de estudantes e seus familiares terminou de forma nada agradável: a divulgação dos aprovados no vestibular da Universidade de Brasília terminou em brigas e com uma aluna hospitalizada. Nesta sexta-feira, centenas de candidatos compareceram à universidade para conferir a lista de aprovados afixada nos corredores. Mais uma vez, os trotes dados por veteranos nos calouros foram o motivo da confusão.
Há algumas semanas, estudantes do curso de agronomia foram criticados pelas “brincadeiras” que fizeram com os colegas aprovados no último semestre. Além da tradicional sujeira de tinta, farinha e ovos, os calouros tiveram de lamber uma lingiuiça coberta de leite condensado. O trote, condenado internamente pela universidade, foi alvo de representação do Ministério Público Federal e da Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Depois da polêmica, estudantes que fazem parte do movimento estudantil na UnB, do Diretório Central dos Estudantes, decidiram iniciar campanhas contra os ritos sujos e violentos desde a aprovação. No dia 31 de janeiro, durante a divulgação dos resultados do Programa de Avaliação Seriada (PAS) – seleção destinada só aos alunos do ensino médio, que fazem provas nas três séries – eles tentaram proteger os aprovados dos ovos e da tinta. Nesta sexta-feira, fizeram a mesma coisa com os selecionados pelo vestibular. Sem sucesso nas duas tentativas.
Os veteranos que se prepararam para receber os novos calouros – que optaram por conferir os resultados na própria UnB e não em casa – com ovos, tinta, bebida alcoólica e farinha não gostaram nada do “bloqueio” feito pelos integrantes do DCE. Munidos de guarda-chuvas, eles tentaram criar uma parede para proteger os candidatos do vestibular, o que não foi visto pelos colegas com bons olhos. No fim, veteranos agrediram-se. Os integrantes do DCE viraram alvo dos ovos e de palavrões. Calouros ficaram assustados.
O estudante de artes visuais Augusto Botelho, 19 anos, tentou pedir calma aos colegas veteranos e ganhou um soco na boca. Ele era um dos integrantes que protestava contra os trotes sujos durante a divulgação dos resultados. Uma outra aluna – que não era caloura – recebeu uma jorrada de vinagre de um veterano. Indignada, deu um tapa no rosto do rapaz. Além das agressões e discussões, uma caloura do curso de estatística precisou ser socorrida, após passar mal por excesso de bebida alcoólica.
Foto: UnB Agência/Divulgação – Estudante Augusto Botelho protestava contra o trote sujo e violento quando levou um soco na boca
Providências
Com a polêmica e a cobrança de explicações após o trote da agronomia, o reitor José Geraldo de Sousa Júnior formou uma comissão de professores e uma ouvidora da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres para apurar o ocorrido. Na próxima semana, o grupo iniciará os trabalhos. Em 30 dias, eles terão de identificar agressores, ouvi-los e determinar punições. O julgamento será feito de acordo com regimentos da instituição, que prevêem de advertência à expulsão, dependendo do caso.
O reitor da UnB disse ao iG que a intenção da universidade sempre foi promover campanhas educativas em relação ao tema. Porém, ele acredita que os estudantes precisam entender que “há limites” para as práticas, que não podem violar a dignidade das pessoas ou incorrer em delitos. Ele acredita que as polêmicas se estabeleceram na UnB porque esse tipo de situação – os trotes sujos e até violentos, que sempre existiram – estão sendo mostrados.
“Estamos liderando um grande debate sobre as atitudes universitárias. O núcleo desse confronto de ontem (sexta-feira) mostra que a posição do DCE e de grande parte da comunidade vai contra um núcleo resistente em mudar as práticas”, afirmou. Para ele, é importante ver que o movimento estudantil organizado possui a ideia de que o acolhimento dos calouros tem de ser feito de maneiras mais festivas e lúdicas, sem humilhação. Para José Geraldo, o episódio mostra que “o movimento mais civilizatório está prevalecendo”.
Polícia e universidade investigam trote violento no Paraná
Três alunos passaram mal e foram levados para pronto-atendimento após terem ingerido bebida alcoólica
Luciana Cristo, iG Paraná
Trote na Universidade Federal em PE com fezes e urina de animais em calouros.
TROTE: vídeo mostra estudantes dos cursos de veterinária e zootecnia da Univasf jogando baldes com fezes e urina de animais em calouros
No último vídeo, o advogado Fábio Romeu Canton Filho conta quais seriam os limites para os trotes universitários. O especialista admite que essa fronteira entre a brincadeira de recepção e a de mau gosto é difícil de estipular. Mas ele deixa claro: nada pode ser feito contra a vontade do calouro. Na semana passada, dois trotes ficaram em evidência: a recepção da agronomia da UnB (universidade de Brasília) aplicou uma brincadeira em que as calouras deviam simular sexo oral em uma linguiça e a comemoração da UFG (Universidade Federal de Goiás) em que calouros foram agredidos. Fonte: www.uol.com.br Convento do Carmo, São Paulo, SP. 09 de fevereiro-2011.
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