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A “inteligência policial”

Há duas informações preciosas na reportagem de Marcelo Godoy, no “Estadão” (clique aqui) de domingo, com o novo Secretário de Administração Penitenciária Antonio Ferreira Pinto.

A primeira, a de que encontrou um “grampo” na Secretaria de Administração Penitenciária, e que a maior probabilidade é que seja fruto das disputas com a Secretaria de Segurança. Note-se que o novo Secretário é aliado de Saulo Abreu, o Secretário de Segurança e, segundo o repórter, passou a infoirmação sem sequer se dar conta dda gravidade do que estava dizendo.

O governador Cláudio Lembo certamente pedirá que afastem dele esse cálice. Mas, se confirmado, como ignorar crime dessa gravidade, de uma autoridade estadual contra outra?

A segunda informação é a de que o novo Secretário pretende restabelecer o “princípio da autoridade” nos presídios, a maneira mais rápida de restabelecer a panela de pressão. Assim como o massacre dos 13 integrantes do PCC em São Bernardo, passa a falsa impressão de eficiência, atende aos anseios de vingança. Como estratégia de combate ao crime organizado, é ineficaz. Mostra apenas que a polícia tem autorização para matar: o que não a faz mais eficiente; apenas, tão selvagem quanto os criminosos.

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Por essas e outras, há quem questione o termo “inteligência policial” para qualificar as ações que vêm sendo tomadas contra o crime organizado.

Recebo e-mail de leitor chamando a atenção para a página 17 do “Globo” de 14 de junho passado. Para investigar uma quadrilha de motoqueiros, a própria polícia informa que “podem ser usados policiais disfarçados de motoboys no meio dos bandidos”. Dizem isso em jornal de grande circulação, isto é, avisam os bandidos como eles serão espionados.

No dia seguinte à chacina dos 13 supostos membros do PCC em São Bernardo, o “Globo” informava -com base em fontes da própria polícia— que as ações foram possíveis “pela delação de presos que são oposição ao PCC nos presídios”. Só faltou o nome, a alcunha e o RG. Para todos os efeitos decretou sentença de morte para todos aqueles de quem o PCC desconfiar.

Como falar em inteligência policial se se divulgam táticas, ações de infiltração, quem delata, modus operandi da investigação, isto todo o dia nos jornais? Parece que o objetivo é mostrar à população o serviço que a policia vai fazer, e não alcançar resultados.

Lembra o Serviço Secreto português das piadas, onde os agentes usam uniforme.

Luis Nassif

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