Categories: Sem categoria

A nota de Ali Kamel

Quanto à segunda nota oficial de Ali Kamel sobre a edição do Jornal Nacional que deu a foto do dinheiro do dossiê, e não deu nada sobre o acidente da Gol, estranho que me inclua entre os que criticaram a cobertura da Globo nas Diretas. Nunca escrevi sobre isso, não me lembro como foi. Lembro-me apenas que os carros da Globo eram hostilizados por militantes das diretas.

Devido ao horário, complicado para mim, o pouco que assisti do “Jornal Nacional” nessas eleições foi pela Internet. Nem teria condições de analisar seu comportamento na campanha.

Tudo o que escrevi foi sobre a decisão editorial de não dar a nota sobre o acidente da Gol à luz das informações que chegaram – a matéria do Raimundo Pereira, as alegações do Kamel e as informações adicionais do Ricardo Boechat, de que a Band tinha dado a notícia antes do final do Jornal Nacional. Essa é a questão central: a decisão editorial. O restante é tergiversação.

Não sei se a decisão foi de Kamel. Se foi, ele deveria se limitar a chamar a si a responsabilidade e proceder à defesa de SEU ato. O que me parece é que está partindo para um jogo em que, para se defender (se a decisão foi dele), expõe cada vez mais a emissora – tentando caracterizar toda crítica jornalística como se fosse uma campanha contra a Globo, o que implica em dizer que toda decisão editorial, ainda que individual, é de responsabilidade e conhecimento da Globo.

Sabemos que no dia a dia não é assim.

Não tem razão envolver os jornalistas da Globo naquele abaixo assinado. Eles podem apenas atestar se foram ou não convocados para apurar o episódio. Mas a decisão de dar a matéria é individual, ou, no máximo, de um grupo muito restrito de pessoas. Os 150 jornalistas (foi esse o número dos que assinaram?) saberiam dizer de que informações Kamel dispunha quando tomou a decisão de não dar a nota? O que se pretendeu com o abaixo-assinado não foi o aval dos jornalistas à emissora, mas a uma decisão individual da chefia.

O que aconteceu, concretamente:

1. O maior veículo foi furado na notícia mais importante do ano, no justo dia em que seu repórter articulava com um delegado da PF a divulgação de fotos de dinheiro – que, segundo a crença geral, poderia influir no resultado das eleições.

2. Um concorrente já havia divulgado a nota vários minutos antes do final do JN. Por ser o maior, o mais influente e com maior estrutura, as notícias chegam à Globo com muito maior velocidade do que para qualquer outro órgão da mídia. Uma nota desse teor pode ser confirmada com um telefonema.

Não dar a nota pode ter sido fruto de um acúmulo de coincidências, quase tão trágicas quanto as que levaram ao acidente com o Boeing da Gol. Pode ser que não. Mas toda a discussão é em torno de uma decisão editorial que, pelo adiantado da hora, foi compartilhada com poucos.

Luis Nassif

Luis Nassif

Published by
Luis Nassif

Recent Posts

Choques políticos em série refletem bagunça institucional, por Antonio Machado

O chamado ativismo judicial provoca rusgas institucionais desde o tempo do mensalão, antecedendo os ataques…

14 horas ago

Lei de Alienação Parental: revogar ou não revogar, eis a questão

Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…

14 horas ago

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…

17 horas ago

Exposição à poluição aumenta o risco de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…

18 horas ago

Vídeo mostra a ação da polícia durante abordagem de Tiago Batan

Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…

18 horas ago

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…

19 horas ago