Categories: Sem categoria

Uma guerra paulista

Coluna Econômica – 12/9/2006
A carta que Fernando Henrique Cardoso divulgou no site do PSDB, tentando declarar guerra ao governo Lula, é reflexo de uma guerra exclusivamente paulista. A carta foi divulgada no momento em que FHC participava de um encontro em Bariloche, promovido pelo empresário João Dória Júnior. É um encontro ao qual só comparecem CEOs que se valem dos recursos das empresas para montar redes de relacionamentos e promoção pessoal.

Os dois grandes símbolos de deslumbramento recentes da sociedade brasileira eram a Daslu e os encontros de Dória. No início da sua campanha de candidato a candidato a presidente, Alckmin se deixou fotografar na Daslu e transformou Doria em porta-voz. Não foi de graça que grande maioria dos leitores passou a considerá-lo como descompromissado com o povo.

É nesse no trafega FHC e onde o sentimento anti-Lula ganhou tons de guerra. Não é mais no ambiente partidário, nem no intelectual. O exército de FHC se limita aos executivos de grandes corporações, a um grupo restrito de amigos intelectuais tucanos -que travam guerra ideológica mortal contra o patrulhamento petista nas Universidades–, e ao espaço que lhe concede parte mais radical da mídia.

É evidente que a sucessão de escândalos que assolou o governo provoca indignação nos adversários de Lula. Assim como provoca indignação no PT todas as ficções que se tentaram somar aos fatos reais, na campanha anti-Lula.

Quando se confere essa dupla indignação, se entra em um terreno previsível. Nenhum adversário de Lula será eleito propondo a guerra. No momento, há dois candidatos à presidência em 2010: Aécio Neves e José Serra. Aécio montou um arco de aliança invejável em Minas Gerais. Tem baixíssima resistência não apenas no PMDB ou PFL como no próprio PT. É exemplar seu relacionamento com o prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel.

De seu lado, Serra tem um amplo leque de aliados em todos os partidos que cultivou ao longo de sua vida política. É um grupo de amigos que vai de César Maia, governador do Rio a Jarbas Vasconcellos, de Pernambuco; do deputado verde Eduardo Jorge, em São Paulo, a Márcio Fortes, no Rio; de industriais paulistas a sindicalistas; de intelectuais a funcionários públicos.

Seu leque alianças é muito mais amplo do que FHC, sua trajetória de vida muito mais coerente, seu sentimento de lealdade muito mais concreto. Só que Serra não consegue se desvencilhar de FHC. A relação entre os dois amigos um dia ainda será tema de alguma tese sobre confronto de personalidades na vida pública.

Eleito presidente, FHC tratou de manter o amigo perto o suficiente para que não explicitasse as críticas contra sua política econômica; longe o suficiente para que não participasse do processo de decisão. Agora, garante a Serra espaço em alguns setores que o viam com desconfiança. Mas a que preço? O de levar a desconfiança em setores que sempre admiraram sua coerência?

Enquanto não conseguir se libertar do fernandismo e passar a assumir o serrismo, Serra não conseguirá acompanhar os passos rápidos de Aécio, que está crescendo em cima de duas bandeiras objetivas: gestão e pacificação.

Luis Nassif

Luis Nassif

Published by
Luis Nassif

Recent Posts

Roberto Jefferson deve voltar à prisão após informe de hospital

Internado desde 2023, o ex-deputado apresenta quadro estável para receber alta; Alexandre de Moraes manteve…

10 horas ago

Lula lembra trabalho da Embrapa na luta contra a fome

Presidente esteve em evento que marcou aniversário de 51 anos de fundação da empresa de…

10 horas ago

Embrapa celebra aniversário fechando acordos estratégicos

Termos de cooperação englobam participação de ministérios e instituições para desenvolver projetos em torno do…

11 horas ago

O legado de 50 anos da Revolução dos Cravos que o partido Chega quer enterrar em Portugal

Arcary explica a "embriaguez social e política que deixa o mundo completamente fascinado" trazida pela…

12 horas ago

Análise: Pagamento de dividendos da Petrobras é vitória do mercado

Valor distribuído pela estatal só não é maior do que o montante pago durante o…

12 horas ago

Reforma tributária: governo define alíquotas e propõe cashback para mais pobres

Fazenda prevê IVA de 26,5% sobre produtos e serviços, exceto os alimentos da cesta básica;…

12 horas ago