Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Conheça as dez maiores teorias da conspiração no cinema

Estariam as estrelas de Hollywood sendo assassinadas em série por um sinistro grupo oculto? Alguns filmes foram de fato amaldiçoados por forças malignas de outro mundo? Ou trazem mensagens cifradas sobre comandos de controle da mente ou desafios diretos ao Illuminatis? Kubrick teria dirigido o filme “O Iluminado” para espalhar pistas sobre o falso pouso da Apolo 11 na Lua que ele próprio teria ajudado a produzir? Esse é o estranho mundo das mais bem elaboradas e paranoicas teorias da conspiração envolvendo o cinema. Para seus autores, ir ao cinema é uma perigosa aventura onde o espectador desatento poderá ser programado por mensagens ocultas. Por que tantas conspirações cinemáticas? Talvez porque um produto cultural que atinge tão diretamente nossos corações e mentes seja, afinal, produzido por uma indústria de entretenimento anônima e corporativa.

10. A conspiração dos “Hollywood Star Whackers”

Os Hollywood Star Whackers são perigosos assassinos que estão agindo no centro da indústria do cinema norte-americano. Pelo menos é o que afirma o ator vencedor do Globo de Ouro Randy Quaid e sua mulher Evi. Quaid afirma que os Whackers assassinaram Michael Jackson, David Carradine, Heath Ledger e Chris Penn. E eles ainda teriam na mira Mel Gibson e Robert Blake. Em seguida viriam Britney Spears e Lindsay Lohan. E os Quaids seriam os próximos. Os produtores de Hollywood estariam cansados de pagar somas exorbitantes a seus atores e, então, teriam contratados os Whackers para remover os VIPs. Assim, eles ficariam incógnitos e não teriam mais que desembolsar milhões de dólares.

O buraco mais perceptível nessa teoria da conspiração é que Randy Quaid nunca foi o que poderia se chamar de “estrela”. Além disso, segundo o procurador do distrito de Santa Bárbara na Califórnia, essa história seria uma invenção de Quaid para escapar de graves encargos legais: os Quaids foram presos várias vezes por roubos, invasão de domicílio e danos materiais. Para evitar as cobranças legais, os Quaids partiram para o Canadá alegando fugirem dos Whackers. Nesse momento, os Quaids enfrentam problemas no pedido de estadia permanente no Canadá, provavelmente porque este país não deseja lidar com sua loucura… ou se meter com os “Hollywood Star Whackers”.

9 – A conspiração da “Bruxa de Blair”

Em 1999, o filme A Bruxa de Blair tornou-se uma sensação de bilheteria de milhões de dólares. Grande parte deste sucesso devido a um esquema de marketing inteligente centrado em torno de um site, blairwitch.com.

A premissa do site (e do filme) foi que em 1994 três estudantes de cinema desapareceram na floresta perto Burkitsville, Maryland, enquanto filmavam um documentário sobre a lenda local da Bruxa de Blair. Supostamente a Bruxa de Blair era Elly Kedward, uma mulher que havia sido acusada de bruxaria e assassinato de crianças por volta de 1785 e que tinha sido banida da cidade, deixada para morrer de frio na floresta. Muitos acreditavam que seu espírito ainda assombrava a área.

Visitantes blairwitch.com poderiam ver informações históricas detalhadas sobre a lenda da Bruxa de Blair, incluindo fotografias antigas, relatórios policiais, cartas e entrevistas com funcionários. Era tudo tão convincente que muitas pessoas foram enganadas em acreditar que Elly Kedward foi uma figura histórica real, e que realmente havia uma lenda de uma bruxa de Blair.

Por muito tempo grupos de jovens fizeram expedições a essa localidade de Maryland em busca de vestígios do grupo desaparecido. Para eles, o próprio filme teria sido parte de uma conspiração de Hollywood para encobrir a verdade.

O site revolucionou marketing na internet. Os estúdios de cinema começaram a produzir sites hoax para acompanhar seus filmes, na esperança de gerar o mesmo tipo de lenda urbana que a Bruxa de Blair. Mas nenhum desses esforços ainda se equipara ao sucesso de BlairWitch.com.

8 – A maldição de “O Exorcista”

Aqui não temos uma conspiração da elite de Hollywood, mas uma conspiração de forças das trevas! “O Exorcista” (1973) é um dos mais famosos filmes de terror de todos os tempos. O filme fez o nome da atriz Linda Blair e tem sido elogiado pela crítica por muitos anos. Muitos contos e lendas urbanas têm circulado ao longo dos anos sobre esse filme. Algumas são verdadeiras.

Houve uma série de incêndios nos estúdios durante a filmagem. Num deles, a maior parte do conjunto que formava a casa do personagem McNeal incendiou e o mais bizarro é que somente o quarto da possuída Regan manteve-se intacto.

Devido à tensão reinante entre técnicos e atores nos estúdios, o diretor William Friedkim teria arrumado um padre para performar um ritual de exorcismo para todos se sentirem melhor. O padre recusou fazer um exorcismo e se limitou a abençoar a todos com porções de água benta.

Outra lenda que circula sobre o filme relata nove mortes que envolveram a equipe de produção, incluindo um bebê de um assistente de câmera, um vigia noturno e a atriz que fez o papel da mãe do padre Karras. As outras mortes aconteceram depois que o filme foi lançado.

Isso sem falar em um sério acidente que provocou uma lesão medular na atriz Ellen Burstyn. Em uma cena em que era jogada longe pela filha possuída, o equipamento empurrou-a de forma mais violenta do que o previsto. O grito de dor que o personagem dá no filme foi realmente produzido pelo acidente. Burstyn afirma que até hoje tem problemas nas costas por causa dessa cena.

7 – A Operação Clark Gable

Durante os anos 1930 e 1940, Clark Gable era o Rei de Hollywood e o principal ator da MGM (Metro Goldwin Mayer). Gable ganhou um Oscar por seu desempenho em “Aconteceu Naquela Noite” e alcançou a imortalidade em “E o Vento Levou”. No entanto, apesar de seu sucesso Gable era alcoólatra. Depois de uma noite regada a muita bebida em 1942, ele envolveu-se em um acidente ao bater seu carro em uma árvore na Sunset Boulevard.

Felizmente para Gable, representantes MGM apareceram a tempo e diante dos repórteres disseram que Gable havia sido fechado por outro carro. Ninguém acreditou neles, e as pessoas começaram a sussurrar sobre o que realmente aconteceu naquela noite. A teoria mais louca era que o bêbado Gable teria atropelado uma infeliz mulher. Obviamente, a MGM não queria que sua grande estrela fosse para a prisão por homicídio culposo. Para evitar isso, o chefe do estúdio, Louis B. Mayer, fez um acordo com um executivo da MGM de nível inferior. Se o executivo assumisse a morte da mulher, ele teria um emprego na MGM para o resto de sua vida e obteria um bom aumento. Segundo a história, o executivo ficou um ano atrás das grades, e Gable seguiu sua vida profissional na MGM.

 

6 – A animação “Branca de Neve” é sobre cocaína

A Walt Disney tem sido o centro de inúmeras teorias da conspiração, a maioria deles sobre mensagens subliminares de sexo para crianças. No entanto, alguns afirmam que o tio Walt também queria introduzir as crianças a outros vícios, e que tinha a intenção de que Branca de Neve e os Sete Anões se tornasse um clássico atemporal sobre a cocaína. O maior “evidência” apoiando esta teoria seriam os nomes dos personagens: “Branca de Neve” é uma gíria para cocaína, e os nomes dos anões representariam as diferentes fases do vício. Em primeiro lugar, os usuários estão felizes (Feliz), e então eles começam a espirrar (Espirro). Eventualmente, eles ficam com sono (Soneca), e, em seguida, eles vão se sentir deprimidos (Zangado) ou tímidos (Dengoso). Em seguida, os usuários vão agir como Dunga e, eventualmente, eles precisam ver um doutor (Mestre).

Não surpreendentemente, não há nenhuma prova real para apoiar estas alegações. Walt Disney nunca afirmou que usava drogas ou que incentivasse seus empregados a usar drogas recreativas. “Branca de Neve” foi lançado em 1937 e a grande droga dos anos 30 era o álcool, não cocaína.

5 – Bruce e Brandon Lee foram assassinados

Bruce Lee, o artista mais icônico na história do cinema, morreu de um edema cerebral, quando ele tinha 32 anos. Em uma triste ironia do destino, ele faleceu logo antes de seu filme “Operação Dragão” (1973) se tornar um sucesso internacional. Vinte anos mais tarde, seu filho Brandon morreu durante as filmagens de “The Crow” (1994).

Ocorreram vários incidentes na filmagem. Logo no início, um dos carpinteiros responsáveis por todo o cenário, sofreu queimaduras durante o trabalho. Um assessor de imprensa se metera em acidente de carro e parte dos cenários havia sido destruída por um trator fora de controle.

O trágico incidente de Brandon aconteceu enquanto filmava uma cena na qual era baleado. A arma era para ser carregada com festim, porém o projétil verdadeiro foi disparado em Lee e se instalou em sua espinha depois de perfurar o seu abdômen.

São fatos perfeitos para uma teoria da conspiração: pai e filho, eles eram jovens, e morreram antes dos lançamentos de seus filmes mais populares. Há duas teorias principais sobre a forma como os Lee morreram. A primeira é que a máfia chinesa matou Bruce por compartilhar segredos das artes marciais para o mundo. Após a morte de Bruce, Brandon pegou o manto de seu pai e teve que ser eliminado segundo outra teoria que envolve os “Triads”, um grupo de gangsters associados com a indústria cinematográfica chinesa. Supostamente, os Triads queria Bruce para estrelar em alguns de seus filmes. Quando Bruce virou as costas para eles, o acertaram. E porque gangsters guardam rancor, mataram Brandon também.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

4 Comentários

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  1. Por que  perco meu tempo

    Por que  perco meu tempo lendo essas sandices?

    Os EUA  representam  permanente conspiração contra o planeta e  tudo o que vive sobre ele.Isso  já é mais do que  suficiente.

    1. Mas as conspirações dos EUA

      Mas as conspirações dos EUA somente são “azeitadas” com essas teorias da conspiração ficcionais.

      Pense no paradoxo do Arquivo X que o agente Fox Mulder descreveu certa vez: por que o cinema faz tanto filme sobre ETs e invasões de extraterrestres? Para quando notícias sobre esses fatos serem reveladas, ninguém acreditar por acharem que é “coisa de cinema”.

      O mesmo ocorre com essa bizarras teorias conspiratórias. A cada notícia de escândalos sobre a política externa norte-americana, a opinião pública associará às teorias da conspiração cinematográficas.

      Esse bizarro mundo das conspirações (geralmente habitado por ativistas conservadores e de direita) precisa ser melhor compreendido, pois faz parte de uma ideologia invertida do mundo real, tal qual um espelho. 

      1. Os EUA puderam engendrar a

        Os EUA puderam engendrar a guerra contra o Iraque por intermédio de uma mentira, ou seja, os iraquianos possuíam armas químicas e biológicas. Atualmente, outra mentira foi criada para justificar uma possível invasão a Síria. Os argumentos do Wilson Ferreira são convincentes, na medida em que se percebe que os EUA sempre procuram mascarar a realidade. A invasão de privacidade, algo de uma vileza impressionante, faz parte dessa estratégia para criar mentiras que se aproximam indiretamente da realidade. Uma terceira guerra mundial pode ser deflagrada por um grupo pequeno de pessoas que, segundo suponho, está concentrado nos EUA. Quem são esses homens? Será possível saber quem são?

  2.   No filme o Ilusionista a

      No filme o Ilusionista a laranja mecânica é o destaque.

    Aqui também.

    Do mesmo site do Wilsom, mas que têm tudo a ver com o post.

    O Olhar Gnóstico de Kubrick

      terça-feira, dezembro 13, 2011  Wilson Roberto Vieira Ferreira  6 comments 

     

    Recluso e avesso a jornalistas, o cineasta Stanley Kubrick revela em uma das suas poucas entrevistas um olhar bem particular para a vida: para ele, vivemos em um Universo indiferente e sem sentido que corrói a nossa vontade de viver. Nossa única saída seria desafiar essa indiferença ao suprir de Luz a “vasta escuridão” da existência. Esse olhar gnóstico pode ser a chave de compreensão da obra de Kubrick, principalmente da chamada “Trilogia Star Child”: “Dr. Fantástico”, “2001” e “Laranja Mecânica”.

    Semana passada li o livro “Stanley Kubrick Interviews”. O diretor de clássicos como “Laranja Mecânica”, “O Iluminado” e “Barry Lyndon” era avesso a entrevistas: preferia que os filmes falassem por ele. Esse livro reúne as poucas entrevistas do recluso cineasta falecido em 1999, abrangendo o período que vai de 1959 a 1987, revelando diversos interesses de Kubrick tais como a exploração espacial, psicanálise, efeitos da violência e religião. O destaque é uma entrevista concedida a Eric Nordern para a revista “Playboy” em 1968. Na oportunidade Kubrick revelou uma surpreendente visão gnóstica da existência cuja convicção pode ser a chave de entendimento na análise dos filmes do diretor, principalmente das produções da trilogia dessa época iniciada com “Dr. Fantástico” em 1964 e encerrada com “Laranja Mecânica” em 1971, a chamada trilogia “Star Child”, como veremos abaixo. Primeiro, vejamos esse trecho da entrevista de Kubrick a Eric Norden onde discute uma especial forma de niilismo diante da existência: a maneira de lidar com um Universo indiferente e sem sentido a partir do resgate do “imaculado sentido de admiração das coisas simples” da infância, esquecido por nós na medida em que desenvolvemos a consciência da morte na vida adulta:
    Playboy: Se a vida é tão sem propósito, você sente que a sua vida vale a pena? 
    Kubrick: Sim, para aqueles que conseguem de alguma forma lidar com a nossa mortalidade. A falta de sentido da vida força o homem a criar o seu próprio significado. As crianças, é claro, começam a vida com um imaculado sentido de admiração, uma capacidade de sentir alegria total em algo tão simples como o verde de uma folha, mas à medida que envelhecem a consciência da morte e da decadência começa a colidir com a sua consciência e sutilmente corrói sua joie de vivre (a alegre fruição da vida), seu idealismo – e sua suposta imortalidade.  Na medida em que a criança amadurece começa a ver a morte e dor em todos os lugares, e começa a perder a fé na bondade suprema do homem. Mas se é razoavelmente forte – e se tiver sorte – ele poderá emergir desse crepúsculo da alma e fazer renascer o élan pela vida. Tanto por causa e apesar da sua consciência da falta de sentido da vida, ele pode forjar um novo senso de propósito e afirmação. Ele pode não recuperar o mesmo sentido puro de admiração com o qual nasceu, mas pode moldar algo muito mais duradouro e sustentável. O fato mais terrível sobre o universo não é que é hostil, mas que é indiferente. Se pudermos entrar em acordo com esta indiferença e aceitar os desafios da vida dentro dos limites de morte – limites que o homem pode tornar mutáveis – a nossa existência como espécie pode ter significado genuíno e realização. Diante da vasta escuridão, precisamos suprir com nossa própria luz. (Stanley Kubrick , em entrevista para a Playboy, Kubrick Interviews , University Press of Mississippi, 2001, p.73).O mito gnóstico da QuedaVer o universo físico como uma “vasta escuridão” que somente pode ser iluminada pela nossa própria luz interior (a “joie de vivre”) é uma afirmação com um nítido tom gnóstico. Só para relembrarmos, o Gnosticismo (termo usado para designar todo um conjunto de seitas sincréticas de religiões iniciatórias e escolas de conhecimento nos primeiros séculos da era cristã) parte de uma concepção totalmente herética do Gênesis bíblico ao ver a Criação, na verdade, como uma Queda: a criação de um cosmos falso ou mal na sua essência porque criado por um Demiurgo que, inebriado de poder, acredita ser o único Deus. O Demiurgo tenta reproduzir um cosmos semelhante ao da Plenitude (o Pleroma), mas tudo o que consegue é criar formas etéreas vazias que, para serem animadas, é necessário aprisionar o ser humano na teia das sucessivas encarnações para extrair dele a Luz que anime um universo inautêntico, hostil, sem sentido e caótico. Porque o Mal está inscrito na própria Criação e não no homem. Kubrick parece partilhar desse niilismo gnóstico: discutir o “sentido da vida” ou um “propósito para a existência” é vazio, pois o universo é totalmente indiferente (Mal) em relação ao ser humano. Como diria o filósofo alemão Theodor Adorno em uma sensacional tirada gnóstica no seu livro “A Dialética Negativa”: “se a vida tivesse sentido não estaríamos fazendo essa pergunta”. Além disso, Kubrick reafirma o mito gnóstico da Queda ao ver na trajetória da existência do indivíduo uma repetição, em escala micro, do drama da Queda na Criação: nascemos com um “sentido imaculado de admiração” pela existência (alegria, boa-fé, disposição, brilho, vitalidade, confiança etc.) que começa a ser corroído ao vermos “a morte e a dor em todos os lugares”. A vida não opera com soma, mas por subtração, retirando o que há de melhor em todos nós. Mais ainda, Kubrick propõe a sua gnose: aceitarmos o desafio dessa indiferença da existência e a humanidade propor um sentido para a existência, iluminando com a nossa Luz interior as trevas da Criação. A gnose de Kubrick é a radical inversão Gnóstica: tudo o que precisamos já está dentro de nós. Nada existe fora da consciência humana. A Trilogia “Star Child” “Dr. Fantástico” (1964)A descoberta do olhar gnóstico de Kubrick ajuda bastante no entendimento do conjunto da obra do cineasta, principalmente da sua enigmática trilogia “Star Child”, como chama o escritor e cineasta canadense J. F. Martel no seu texto “The Kubrick Gaze” Em “2001: uma Odisséia no Espaço” há um evidente insight gnóstico ao mostrar o duelo entre a tripulação da nave Discovery e o supercomputador HAL: a representação de Deus como uma entidade alienígena, um Demiurgo. O Deus/Demiurgo, tal como apresentado pelos gnósticos, é verdadeiramente, uma espécie de supercomputador alienígena que tenta aprisionar o homem. Como afirma John Singh, “talvez seja uma oportuna coincidência que a palavra copta [dos textos apócrifos gnósticos] para designar a ideia de ‘simulação’ é hal, lembrando o rebelde computador HAL em 2001 de Kubrick”(veja “Gnostic Insight on God as na Alien Supercomputer”). O “Star Child” do filme “2001”Tal como o computador HAL, o universo dirigido por um Deus alienígena é totalmente irracional, não apenas pelas religiões que o promove, mas na própria existência física ou cósmica. O filme “Dr Fantástico” inicia a chamada trilogia “Star Child” que vai desenvolver esse tema ao mostrar através do humor negro o mundo acabando em um cogumelo nuclear como resultado da absurda lógica do complexo governamental e militar. Os patéticos personagens da narrativa nada podem fazer diante de uma máquina que enlouqueceu e se tornou autônoma. É como se tudo devesse ser destruído para se tornar possível uma nova humanidade. Os primeiros planos do filme “2001” será a continuidade do final de “Dr Fantástico”: a jornada do homem primitivo da África pré-histórica ao novo homem que surgirá em uma das luas de Júpiter. Os demônios mostrados em “Dr. Fantástico” somente podem ser confrontados retornando às nossas origens para, mais uma vez, lutar com o Demiurgo enlouquecido (dessa vez, o supercomputador HAL) para surgir, ao final a redenção através do transdimensional “Star Child” com o olhar fixo para o planeta Terra. Alex de “Laranja Mecânica”Esse mesmo olhar fixo será o do primeiro plano do filme “Laranja Mecânica”: o “Star Child” agora é Alex que deve ser integrado a uma sociedade cujo sistema é tão enlouquecido e fora do controle como o HAL de 2001 e o sistema militarizado da guerra fria no filme “Dr. Fantástico”:“Alex é o ‘Star Child’, o super-homem nietzschiano que veio à Terra para expor a hipocrisia da sociedade enraizada através de uma rejeição de valores obsoletos. Seu amor pela música, seu uso da linguagem dramática, seus trajes e postura fazem dele uma espécie de artista, um malandro mercurial dançando sobre as ruínas da história. Sua cobra de estimação – um símbolo clássico xamânico – e sua capacidade de transe para receber visões de violência fazem dele um xamã. Mas este é o xamã como feiticeiro, em vez de curandeiro.”(MARTEL, J. F. “The Kubrick Gaze” disponível emhttp://www.realitysandwich.com/kubrick_gaze)Agora o “Star Child” é um feiticeiro, tão enlouquecido quanto o sistema. Ele não vem trazer a cura, mas a destruição ao transformar-se numa máquina tão descontrolada (uma “laranja mecânica”) quanto o sistema que tenta integrá-lo.

     

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