A delação de Pessoa e o fogo amigo de Aécio, por Janio de Freitas

Da Folha

Fogo amigo e outros fogos

Janio de Freitas

A mais recente acusação de Aécio Neves a Dilma Rousseff, segundo a qual a presidente estaria pressionando o Tribunal Superior Eleitoral, tem sequer indício de realidade, mas fornece uma prova cômica da alienação que aciona o ataque incessante do senador à sua vencedora adversária eleitoral.

 
O TSE deverá ouvir Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC/Constran. Conforme um dos vazamentos da delação premiada que está sob alegado segredo de Justiça, o empreiteiro afirmou que a campanha de Dilma recebeu doação proveniente da corrupção na Petrobras. Não deu comprovação, mas os oposicionistas consideraram a afirmação suficiente para pedir ao TSE a cassação do mandato de Dilma.
 
As boas almas podem entender que Aécio Neves é ingrato. Pode-se achar que são outras as carências que o levaram à ação na Justiça Eleitoral. O certo é que, a haver pressão de Dilma contra a aceitação de Ricardo Pessoa como declarante veraz, Aécio Neves deveria ser o primeiro a manifestar gratidão à presidente.
 
A fonte e a espécie de dinheiro que favoreceram a campanha de Dilma foram as mesmas, no dizer do delator premiado, que favoreceram as campanhas de Aécio Neves à Presidência e de Aloysio Nunes Ferreira ao Senado. Na perturbação das ideias, Aécio e suas forças imitam os militares americanos, craques no que chamam, para abrandar ao menos nas palavras, de “fogo amigo”.
 
No caso de Aécio e do PSDB, porém, o fogo é ainda mais consequente: é fogo suicida. Aécio Neves não se deu conta de que, se Dilma perdesse o mandato por consequência da afirmação de Ricardo Pessoa, no mesmo dia poderia dar entrada em um pedido de cassação dos mandatos dos senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes Ferreira, para obter a sentença de efeitos judiciais idênticos em fatos iguais.
 
Também na política, e sobretudo na democracia, não se deve brincar com fogo.
 
A CPI da Petrobras faz o mesmo. Criada com o fim óbvio de gerar embaraços para Dilma, para o governo e para a empresa, a CPI vai ouvir o ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, sobre uma escuta ilegal dentro da Polícia Federal em Curitiba. Ocorre que o grampo na cela de Alberto Youssef, ainda no início da Lava Jato, foi posto e já confessado por agentes da polícia. Sob ordem, disseram, do principal delegado que integra o grupo da Lava Jato.
 
A PF está mal nessa história. Mas não está sozinha, nem na pior situação. Há notícia de que foram identificados sinais do uso, em inquirições, de falas captadas pelo grampo. Se a escuta ilegal já era um procedimento inadmissível, o seu uso em interrogatório compromete o inquérito. E refuta as acusações dos procuradores aos advogados que apontam práticas ilícitas na Lava Jato.
 
A CPI de apoio à Lava Jato resulta em puro fogo amigo.
 
O que nos acena com a salvação, sob os fogos que se cruzam, é a sabedoria do FMI. Dessa vez expressa por seu economista-chefe, Olivier Blanchard, que, apesar do nome apropriado para enriquecer no Brasil com enfeites em umas comidas mínimas e bobas, ganha do mesmo jeito em outra área. Este ano vai ser “duro” para os brasileiros, adivinha ele no relatório do FMI, mas a política correta fará a economia voltar a crescer já no ano que vem.
 
Quase no mesmo dia, a economista Laura Carvalho estreou coluna na Folha. Um aperitivo: “No jogo das projeções econômicas, achar erros ficou fácil demais. Basta dar uma olhadinha, por exemplo, no crescimento projetado pelos relatórios do FMI para a economia grega desde 2008”. Gentil, a professora os diz “excessivamente otimistas”. Estavam mesmo era arrogantemente errados, apregoando êxito nas imposições do FMI que levaram a Grécia ao naufrágio. O FMI é fogo inimigo.
 
Laura Carvalho faz uma pergunta: “Mas por que os economistas erram tanto as suas projeções?”. Essa pergunta é fogo. É melhor lembrar de velho bordão: cala-te, boca. 
Redação

9 Comentários

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  1. Acho que o foco agora será a

    Acho que o foco agora será a elevação de tom acerca do ipeachment visto que começam a aparecer dados que podem demolir a lava jato. 

    Eleva-se o ódio agora, anula-se a lava jato proximo as manifestaçõs de agosto e joga-se gasolina na fogueira.

  2. E o dinheiro da empreiteiras também não é o mesmo

    que bancou a candidatura do Alckmin e do Serra em São Paulo?

    Que tal cassar esses 2 mandatos também?

    É por isso que depois de um tempo  , quando tudo isso acabar , todo mundo vai se dar conta da barbaridade e da seletividade hipócrita que aconteceu.

  3. Ingenuidade

    O autor acredita que as instituições primam pela coerência…

    Ledo engano!

    Para a turma encastela nos TSE’s e TCU’s da vida, não lhes importa adotar um padrão para a campanha de Dilma e simplesmente descartar tal padrão para a campanha dos tucanos. Essa gente não brinca com fogo, sabem muito bem o que estão fazendo.

  4. Quem disse que o pau que bate

    Quem disse que o pau que bate em Chico bate também em Francisco?

    Embora a pergunta retórica acima seja quase que um postulado, em se tratando de “Vaza a Jato” e “judiciário” do Brasil, vale a pena que tais “incoerências” (para não empregar adjetivos mais chulos) sejam apontadas.

    Parabéns ao Jânio, esse quase estranho no ninho da “Falha”.

  5. Ah, até o Janio de

    Ah, até o Janio de Freitas….

    Os golpistas foram capazes de declarar o cargo de presidente vago com o mesmo estando em solo nacional, qual o problema pra eles em dizer que os fundos de campanha deles são para o bem e o dos adversários servem a um sinistro “projeto de poder”? Golpista é golpista.

    Já passaram do ponto de retorno há muito. Todos sabem (quer dizer, poucos sabem) o que eles fizeram nos verões passados. Não é sequer necessário que eles acreditem no que falam (os atos falhos não são gratuitos). O importante é que se mantenha a manada de teleguiados também em estado de golpe.

    .. E continuo achando que foram receber ordens no último convescote nos EEUU…

  6. Quanto Ricardo Pessoa lucrou ilicitamente com o esquema?

    Precisamos fazer as contas e saber se tirou do próprio bolso para doar ao PSDB . Se o valor foi superior às doações  ao PT ou igual ou superior ao total de doações,  Aécio tem um problemão. Será por isso que – após o depoimento de Pessoa – Alckmim iniciou o desembarque do impeachment, secundados por Globo e Veja?

  7. Erro crasso do articulista

    O FMI errou as projeções porque as contas da Grécia foram maquiadas para entrar no Euro (ajudados pela Goldman Sachs). O FMI se baseou em dados falsos portanto, não haveria como acertar. MESMO ASSIM a Grécia crescia razoavelmente até 2010.

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