A política externa entre a ideologia e o pragmatismo, por Wagner Iglecias

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Coluna Painel, da Folha de São Paulo, traz na edição de hoje a informação de que se Aécio Neves tivesse sido eleito seu chanceler seria ninguém menos que FHC. Segundo o texto, o ex-presidente “queria ampliar o peso do país na política externa” e “provavelmente, buscaria uma aproximação maior com os Estados Unidos e outros países desenvolvidos”. Ideologia pura, pra variar, como sempre ocorreu com a direita brasileira a achar que o alinhamento automático com Washington seria o melhor caminho para o país. E, consequentemente, um equívoco, já que em política externa o que vale é o realismo.

Oras, ampliar o peso do país na política externa é ser pragmático, como o Brasil tem sido nos últimos anos, ao aproximar-se dos pólos emergentes da economia mundial, como China e Índia, do país mais estratégico de todos em termos geopolíticos, a Rússia, e de regiões do mundo onde podemos ampliar nossa influência política e nossas interesses econômicos, como a África, o Oriente Médio, a América Latina e o Caribe. E tudo isso sem abrir mão das relações com USA e Europa, obviamente. E apostando, além disso, na integração sul-americana, cuja condução é compartilhada entre os países membros mas cujo protagonismo, por motivos óbvios (econômicos, demográficos e territoriais) flui em boa medida para Brasília.

Já o modelo de inserção internacional do país defendido pela direita brasileira desde os anos 1990 tem sido a Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA), uma espécie de NAFTA ampliado no qual a América Latina inteira se abriria sem salvaguardas às exportações dos USA. Se alguém quer entender o que tem sido o NAFTA, acordo de livre-comércio do México com USA e Canadá, vinte anos após ter entrado em vigor, que procure saber a quantas anda o país hoje em dia: mais de 80% de suas receitas de exportações dependentes dos USA e mais de 50% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, impacto inevitável da abertura acentuada de sua economia a um competidor imensamente mais forte. Concentração da propriedade da terra, êxodo rural, favelização das grandes cidades, desemprego e emprego precário, aumento explosivo da violência e da criminalidade e imigração de milhões de pessoas buscando melhores oportunidades de vida no exterior têm sido algumas das conseqüências da escolha mexicana. É este o modelo que se quer para o Brasil?

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da USP. 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. FHC já faz política externa

    FHC já faz política externa morando em Paris e deixando o Brasil e os brasileiros em paz. Ha, ha, ha…

  2. Não adianta, esse pessoal que

    Não adianta, esse pessoal que está hoje na oposiçao só tem uma coisa na cabeça: ou você está com os EEUU ou está contra ele; não enxergam mais nada além do alinhamento automático. Basta dar uma olhada no que os “meninos do william waack” falam pra ter uma ideia.

  3. FHC e o entreguismo

    Ainda bem que Dilma se reelegeu! Ver esse FHC entregar o nosso país aos norte americanos seria um desastre e reduziria meus poucos anos de vida.

  4. Não tem nada a ver com

    Não tem nada a ver com alinhamento automatico que nunca foi a regra da  politica externa brasileira, tivemos alguns breves periodos de alinhamento (Governo Dutra) MAS com grandes periodos de politica independente  NÃO idiota como é hoje, quando o Brasil se alinha com o bolivarianismo de forma automatica e acritica, perdendo o bonde da Historia.

    Um registro: a UNASUL teve quatro Secretarios-Gerias e cinco Presidentes, NENHUM BRASILEIRO e somos o maior pais da America do Sul, o que mostra nossa fraqueza e insignificancia na AMERICA DO SUL. O Site Oficial da UNASUL é só em espanho, não tem versão em Português, mesmo sendo site pequeno, curto, qualquer secretaria poderia fazer a versão em português, vai ver que não tem ninguem que fale português na imponente sede da UNASUL em Quito. Já o site da OEA em Washington sempre teve uma versão em Português, é uma entidade séria e não um palanque como é a UNASUL.

    Estamos completamente alijados dos grandes temas e organismos internacionias, somos o porteiro da UNASUL, poderiamos ser um dos sete grandes do mundo, não estamos nem entre os 50 primeiros em papel diplomatico.

     

  5. Assis: essa é a foto para

    Assis: essa é a foto para entrar na história de um presidente que nenhum país, que se respeita, gostaria de ver. O fhc nasceu deslunbrado e vai morrer deslumbrado, mas, ainda bem, a história não perdoa. Está entrando nela em companhia do fujimori, do menén e de outros paus mandados pelo USA para permitir a AL sempre colônia. Está já escrito como um dos piores presidente da AL. E mole?  

  6. boa síntese do iglesias.

    boa síntese do iglesias.

    já somos colonizados culuralmente pelos eua há décadas –

     

    quem não nasceu sob um herói-signo cultural americano?

     

    é hora de pluralidade.

    chega de fundamnetalismos toscos.

  7. E, POR FALAR EM

    E, POR FALAR EM BOLIVARIANISMO, VIVA SIMÓN BOLÍVAR !

    Os brasileiros que tem orgulho de aqui terem nascido, não mais permitirão que estes capachos e quinta-colunas, retornem a dirigir os destinos do povo brasileiro. Nunca mais. Quanto ao playboyzinho desocupado que chegou a pensar em desgovernar, entregando nossa soberania de quatro, a este apátrida subserviente FHC, lascaram-se.

    Não vai ser possível para o safado repassar de mão beijada aos interesses de Washington, o que prometeram. Podem relinchar à vontade, não voltarão jamais, nem mesmo, cavalgando um golpezinho paraguaio.

    Orlando

     

  8. Estão se rasgando………….

    “Oras, ampliar o peso do país na política externa é ser pragmático, como o Brasil tem sido nos últimos anos, ao aproximar-se dos pólos emergentes da economia mundial, como China e Índia, do país mais estratégico de todos em termos geopolíticos, a Rússia, e de regiões do mundo onde podemos ampliar nossa influência política e nossas interesses econômicos, como a África, o Oriente Médio, a América Latina e o Caribe. E tudo isso sem abrir mão das relações com USA e Europa, obviamente.”

    E assim, os apátridas que vivem de quatro para o Império, agora se rasgam com a politica praticada pelo Itamarati!

    Os EUA reatando os laços diplomaticos com Cuba, o que dirá os AA e cumplices ?
     

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