A UFABC tem grande futuro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Daniel Klein

Em 2004, quando Tarso Genro era titular do MEC, o governo deu início à REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades. No mesmo ano, a Academia Brasileira de Ciências criou um grupo de trabalho para analisar a reestruturação. O resultado foi o documento Subsídios Para a Reforma do Ensino Superior, bastante crítico de toda a nossa estrutura universitária, na qual o aluno tem de fazer a opção por um curso já no concurso de ingresso, no qual recebe formação excessivamente especializada numa grade curricular muito rígida. O projeto acadêmico proposto era semelhante ao criado na UFABC. Tarso Genro foi à Academia e declarou que aquele era o projeto dos seus sonhos, mas era politicamente inviável. A resistência, ficou claro, vinha de dois setores: a) estrutura burocrática já instituída nas universidades federais, partilhada em departamentos e dominada pelas escolas de prestígio, que são Medicina, Engenharia e Direito; b) a ideologia antimeritocrática do PT e dos sindicatos que dominavam o movimento docente. Era patético verificar que o ministro, que revelou boa visão e compreensão dos problemas, era refém dos oponentes da reforma necessária.

Em 2005 Haddad assumiu o MEC. Lula encomendou-lhe a criação da UFABC e ele teve a coragem para por sob teste a estrutura inovadora proposta pela Academia. Convidou Luiz Bevilacqua, membro do grupo de trabalho da Academia, para criar e coordenar a equipe formuladora do projeto acadêmico da UFBAC. Fui membro tanto do grupo de trabalho da Academia quanto da equipe formada por Bevilacqua. As divergências sobre projetos acadêmicos universitários são naturais e saudáveis, e as discussões internas do grupo foram muito intensas e até acaloradas. No final saiu um projeto realmente inovador, diante do qual ninguém fica neutro e os posicionamentos das pessoas tendem a ser extremos: alguns o amam, outros o odeiam. As pessoas menos inspiradas tendem a taxar como utópico tudo o que sai fora da sua própria experiência e isso determina a reação das pessoas diante da UFABC.

Estava claro desde o início que só o futuro diria quem estava certo, e também que a boa implementação do projeto era essencial para o seu eventual sucesso. Tivemos a sorte de ver o projeto sendo bem implementado. A UFABC ainda é pequena e não é bom que ela cresça açodadamente, por várias razões.  Uma delas é que muitos dos professores contratados na UFABC demoram a absorver a nova filosofia e a nova estrutura e tendem a repetir lá dentro as práticas de suas universidades de origem. Por isso, as bancas dos concursos têm de ser compostas de pessoas que entendem e aprovam o projeto da UFABC e devem avaliar a capacidade de adaptação dos candidatos ao projeto e à estrutura. Os dirigentes se saíram muito bem em toda a empreitada. O atual reitor, Prof. Capelli, é extremamente qualificado e tem sido, desde seu ingresso na UFABC, um veemente advogado da estrutura. Ótimo cientista e ótimo gestor, convicto dos seus objetivos.

Além de méritos de caráter acadêmico, a UFABC tem perseguido com sucesso o uso compartilhado e por isso muito mais intenso dos equipamentos de pesquisa de maior porte, o que gera redução de custos. Os estudantes, logo adquirem espírito de trabalho em grupo e capacidade para colaborar em grupos multidisciplinares, o que tem sido muito apreciado pelas empresas que os contratam. O sucesso profissional dessa turma ajudará a promover a sua universidade.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. Mas se o Aécio ganhar, serão

    Mas se o Aécio ganhar, serão 4 anos de salários congelados para professores e funcionários da UFABC, e nada de verbas para novas contratações. Sob FHC, só se  abria vaga para novo professor em Universidade Federal a cada duas aposentadorias de professores veteranos. Sabem como é o sistema tucano de gestão das coisas públicas: primeiro precariza e desmantela, depois privatiza.

  2. ANDES = Conlutas = PSTU

    “a ideologia antimeritocrática do PT e dos sindicatos que dominavam o movimento docente.”

    A última vez que eu chequei, o principal sindicato da categoria – ANDES-SN – fazia parte da Conlutas, ligada ao PSTU. Mas o anti-petismo está na moda e dá um certo “charme” falar bem de alguém do PT ao mesmo tempo em que se declara contrário ao partido como um todo. 

  3. “Por isso, as bancas dos

    “Por isso, as bancas dos concursos têm de ser compostas de pessoas que entendem e aprovam o projeto da UFABC e devem avaliar a capacidade de adaptação dos candidatos ao projeto e à estrutura.” Em outras palavras, os candidatos que não demonstrem aceitação pelo modelo adotado são prejudicados, em que pese o fato deles terem se saído melhor na prova escrita e didática? Da forma como foi escrito, tem-se a idéia clara que a banca é direcionada para aprovar candidatos que compartilhem do modelo adotado nesta Universidade. Algo perigoso, visto que as Universidades são justamente o espaço para a diversidade, para ps pensamentos contrários. 

    1. direcionamento técnico, não ideológico

      Jeferson,

      entendo sua preocupação, pois no passado houve muito direcionamento ideológico nas universidades públicas em concursos para economia, e ciêncis sociais. Isso é muito ruim. No caso da UFABC, tínhamos uma questão técnica. O projeto era muito diferente do praticado nos locais onde os candidatos haviam se formado, se não fosse filtrada a crença no novo projeto, tudo voltaria à estaca zero. 

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