As sementes para o novo nas bases das sociedades, por Assis Ribeiro

Por Assis Ribeiro

Comentário ao post “Xadrez do novo tempo do jogo

Os conceitos apresentados por Nassif, como sementes para germinar o novo, se encontram em estado latente na base da pirâmide sócio-econômica.

É da base das sociedades que saíram todas as revoluções e os grandes avanços da humanidade.

A Guerra de Secessão, a Revolução Francesa, e outras, ocorreram em situação de extrema usurpação dos direitos da classe menos favorecida, que transborda e atinge a classe média.

O mesmo ocorreu, de certa forma, com as transformações provocadas pelos distúrbios das décadas de 60/70.

É a tal da corda que de tanto retesada irá romper, ou por pactos, ou por fórceps.

Os dois primeiros eventos citados para fins de ilustração trouxeram avanços retirados à força de parte da sociedade, no terceiro, soube o “sistema” afrouxar a corda e devolver os direitos usurpados, dos negros , mulheres, pobres, e fazer refluir a violência expressada na guerra da Vietnam.

Os estudos do saudoso pensador Milton Santos apontam, com riqueza de detalhes, de onde e como surgirá essa nova transformação da sociedade, diz ele:

“Quem pensa o novo são os homens do povo e seus filósofos, que são os músicos, cantores, poetas, os grandes artistas e alguns intelectuais.

Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes obesas; que o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único.”

“Os pobres não se entregam e descobrem a cada dia formas inéditas de trabalho e de luta; a semente do entendimento já está plantada e o passo seguinte é o seu florescimento em atitudes de inconformidade e, talvez, rebeldia.”

http://assisprocura.blogspot.com.br/2012/07/milton-santos_09.html?m=1

Como se pode notar, dos conflitos anotados acima e da situação atual, podemos resumir em uma palavra: concentração.

O belo texto de Nassif aponta para a necessidade da desconcentração do poder e das demais relações, que passariam a ser exercidos de forma horizontal e fracionada, com introdução da base nas decisões dos destinos do país.

Como desconcentração, o livro ” O Capital no século XXI”, de Thomas Piketty aponta os caminhos para a economia alavancar.

A própria insatisfação da população expressada nos movimentos de rua, no aumento da solidão e depressão, a violência, toda ela, demonstram que as pessoas não se sentem representadas, com a sensação de não pertencimento, de estarem dentro de um vazio.

Um novo surgirá daí, dessa insatisfação provacada pela usurpação da classe pobre, agora refluída para a classe média, pelo excesso de concentração.

O bolo cresceu e não repartiram.

O sistema irá ceder, e repartí-lo, ou povo resgatará seus direitos à fórceps?

Redação

5 Comentários

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  1. 2 cents

    “O sistema irá ceder, e repartí-lo, ou povo resgatará seus direitos à fórceps?”

    O sistema repartiu em algum momento do século passado por causa da guerra fria. Com o fim da guerra fria e a consolidação da Pax Americana, o povo podia ser novamente ignorado pelas classes dominantes e foi por décadas. A concentração de renda e poder retornou a níveis medievais. A criação de pobres vai à pleno vapor no primeiro mundo + Japão. A democracia europeia foi demolida pelos euro-tecnocratas/banqueiros e os EUA não tem democracia a muito tempo, somente votações com baixíssimo comparecimento.

    Ainda não chegamos no ponto em que o povo forçará o sistema a repartir o bolo. Nós, que acessamos a internet no meio do dia e pensamos em sociedade estamos no topo do da pirâmide. Ainda tem muita miséria, destruição e pobreza a ser criada antes de o povo agir.

    O Brasil está sempre 5 anos ou mais atrasado em relação ao resto do mundo. Então, devemos aguardar mais alguns anos de governos ultra liberais antes de vermos uma reação.

    Abs,

    Tio_Zé

  2. A revolução não será televisada

    Vejo a questão sob dois aspectos. 

    O primeiro foi como repentinamente os “indignados” passaram a exigir educação, saúde, infraestrutura etc. com uma fúria inédita, que quase me fez acreditar na sinceridade deles. Atualmente os “indignados” não dão um pio contra as medidas demolidoras do sistema público perpetradas pelo governo interino e usurpador. Cadê a coerência dos “indignados”. Será que foram uma mistura de inocentes úteis e Cabos Anselmos da era das mídias sociais? 

    O segundo é que a corda pode realmente arrebentar, mesmo com uma blindagem extrema da mídia hegemônica, que claramente está poupando o governo interino e usurpador do MT. Como a blindagem é muito forte, pode ser que as coisas tenham que piorar ainda mais para criar uma consciência coletiva do grau de injustiça social que vivemos. Se chegarmos nesse ponto, não recomendo à plutocracia ficar por perto.

  3. Os movimentos sociais são

    Os movimentos sociais são ativos, nunca deixaram de lutar. Os metalurgicos do ABC, o MST, o MTST e tantos outros, estão ativos. Esses gigantes não adormeceram, estão sempre em luta.

  4. as sementes da humanidade

    Todo nascimento do novo é gerado por explosões tais quais as que fizeram romper a crosta e permitiu o nascer dos continentes, os vulcões que formam novas ilhas, as sementes que se rompem para que surjam os frutos, o rompimento do ventre das nossas mães. (…) O novo se anuncia lentamente, mas nasce como uma avalanche, como um tsunami que o homem prevê, mas não consegue conter. (link)

    “E nunca houve, nunca houve a humanidade. só agora ela está surgindo. o que estamos fazendo, no presente, são os ensaios desta futura humanidade.”

    Mílton Santos, “Encontro com Milton Santos”, filme de Silvio Tendler (link 1:24)

    grande abraço

    [video:https://vimeo.com/170781698%5D

    .

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