Ciro Gomes e a Escola Austríaca de Economia, por Marcos Villas-Bôas

Por Marcos Villas-Bôas

Ciro Gomes e a Escola Austríaca de Economia

Ciro Gomes fez dura crítica, recentemente em uma palestra, à Escola Austríaca de Economia (EAE) e a seus defensores, como Rodrigo Constantino. Desde então, muitos deles têm gravado agressivos vídeos ou escrito textos em resposta, enquanto outros propõem um debate entre Ciro e algum especialista da escola.

Este texto tem o objetivo de analisar brevemente a EAE de forma a tentar ajudar aqueles que querem entender as suas ideias. Algumas delas são hoje adotadas pelo pensamento econômico prevalecente (mainstream) e uma parte é, de fato, interessante. É preciso conhecer cada uma para não aceitá-las ou rejeitá-las irrefletidamente.  

A EAE é, obviamente, uma defensora do sistema capitalista e crítica do socialista. Boa parte do seu sucesso se deve às fraquezas do socialismo, sobre as quais ela aproveitou para capitalizar. No momento em que se tira o socialismo da discussão, contudo, a EAE perde a sua força. É por isso que, de forma inconsciente ou ardilosa, os adeptos dessa escola procuram tentar caracterizar todos com visão mais à esquerda como socialistas, pois, assim, fica mais fácil atacá-los. Constantino é um mestre nisso.  

Seus principais expoentes, como Friedrich A. von Hayek, levantaram pontos negativos do socialismo que são pertinentes. Um dos principais é a falta de signos de preços de mercado, ou seja, sem mercado não há preços informativos definidos pelas relações econômicas, um elemento importante para a sociedade em diversos sentidos.

Uma das razões pelas quais há certo consenso no exterior entre economistas, mesmo de esquerda, no sentido de que, em regra, não se deve controlar preços ou reduzir tributação de apenas alguns produtos é evitar ineficiências geradas pelas distorções nos comportamentos e nos preços.

Se o objetivo é redistribuir, é mitigar a pobreza, é empoderar os menos favorecidos, o melhor mesmo é entregar dinheiro e deixá-los alocá-lo da forma que julgarem mais eficiente. Essa renda deve servir na tarefa de cobrir suas necessidades básicas e de equipá-los intelectual e tecnologicamente para o mercado competitivo.

A compreensão dos preços enquanto signos de conhecimento é um dos pontos centrais da EAE, e ele parece bem colocado. Os preços fixados no mercado são informações sobre o excesso ou a falta dos recursos e dos produtos, sobre como as relações estão acontecendo, sobre a oferta e a demanda.

Ao mesmo tempo, com a falta de um bem e o aumento do preço, ele passa a ser menos consumido, de modo que o mercado ajusta quase que automaticamente, apesar de nem sempre ser assim, a escassez ou o excesso de algo.

No caso do socialismo, sistema no qual a propriedade privada é controlada pelo Estado, este precisa definir incontáveis preços e controlar as quantidades de recursos e produtos, sendo gerada uma imensa ineficiência por conta disso.

Outras situações que afetam a eficiência e os preços são os monopólios, os cartéis e as especulações financeiras, de modo que todas precisam ser muito bem reguladas. É curioso como, apesar de saberem disso, os defensores da EAE são contrários à regulação acima de tudo.     

A EAE valoriza o mérito dos indivíduos em competição na sociedade, o que tem, de fato, grande relevância. A competição e a recompensa aos que têm mérito é mola propulsora de inovação, de esforço, de desenvolvimento e de crescimento. Numa sociedade onde os sujeitos já saibam mais ou menos quanto vão ganhar, independentemente do seu esforço e mérito, os resultados são muito mais tímidos, pois a motivação diminui consideravelmente.  

Essa ideia é importante mesmo numa sociedade capitalista, pois nos ensina a desenhar as políticas públicas, especialmente as sociais. É preciso criar políticas complexas, que igualem (ou ao menos aproximem) os pontos de partida dos desiguais, porém sem desestimular a dedicação, o esforço, a inovação, os comportamentos que levam a desenvolvimento e crescimento.

Um erro grave da EAE é focar demais na competição e esquecer da cooperação, típica consequência de quem assume o individualismo metodológico como premissa. De acordo com ela, importa sempre analisar as ações dos indivíduos singulares. Estado, empresa, família; todo tipo de organização coletiva é o resultado de decisões tomadas por individualidades.

Ludwig von Mises, um dos principais expoentes da EAE, cria, a partir daí, a sua noção de Praxeologia, segundo a qual seria possível chegar a respostas verdadeiras, a leis gerais da economia, a partir da análise das ações humanas.

A EAE chega ao absurdo de praticamente negar o empiricismo e o historicismo. Para ela, não é importante buscar confirmações na prática, em dados históricos, pois, a partir de uma análise das ações individuais humanas, seria possível traçar as leis naturais da economia.

Adeptos da Escola de Chicago, que é bastante empiricista, fazem essa crítica à EAE, alegando que ela defende teses nunca comprovadas na prática, como a de que o aumento do salário mínimo leva necessariamente a menos empregos.

Apesar de Hayek ter esboçado ideias evolucionistas e baseadas na teoria dos sistemas complexos, o seu pensamento, assim como o da EAE de um modo geral, é ainda bastante cartesiano, reducionista, mecanicista e determinista, pilares caracterizadores da vencida racionalidade prevalecente na Idade Moderna, que costumam explicar muito bem diversas teorias criadas entre os séculos XVII e XXI.

A noção de individualismo metodológico tem sua parcela de razão, mas desloca o pensamento para o indivíduo singular, deixando em segundo plano as relações e o todo.

É, portanto, uma compreensão reducionista do fenômeno econômico, que não ajuda a explicar, por exemplo, os comportamentos rebanho, manada e uma série de outras situações coletivas. O individual é completamente determinado pelo seu contexto e, portanto, muitas vezes age mais pela influência do coletivo do que por suas próprias convicções.

A melhor visão é a complexa, que dá o mesmo grau de relevância às partes e ao todo, mas principalmente às relações. Assim como o holismo metodológico é uma visão muito parcial, que foca apenas no todo e pensa ingenuamente compreendê-lo, o individualismo enxerga apenas as partes isoladas, não olhando adequadamente para as estruturas que se formam entre elas, talvez a parte mais importante de toda a existência humana.

As estruturas energéticas e de pensamento são ainda pouco conhecidas. As estruturas sociais, todavia, são exatamente as instituições, que os adeptos da EAE veem como algo pré-determinado, erro grave que será criticado adiante.

A noção de Praxeologia de Mises, então, é uma atrasada construção reducionista e baseada na visão lógico-dedutiva (cartesiana) que predominou nos últimos séculos por influência de Descartes, Newton e outros autores.

Desde o final do século XIX, o pensamento vem sendo modificado por noções como determinismo fraco; predominância de incertezas, contradições e paradoxos; transdimensionalidade; e caos. A visão de Hayek baseada no evolucionismo e nos sistemas complexos já é uma crítica em si à Praxeologia de Mises, porém ele não levou as suas próprias premissas às últimas consequências.

Um dos principais erros da EAE é a visão unidimensional da liberdade, que não a enxerga com diferentes graus ao longo da sociedade, procurando compreender as diferentes classes e suas relações. A sua visão de liberdade é simplista, busca deixar as relações correrem e evitar interferências do Estado.

Trata-se, na verdade, de pensamento bastante conservador, pois, onde se fala apenas em não interferir, a tendência é ficar como está e desacelerar o progresso. Apesar de a EAE ter sido criada e ser composta até hoje por pessoas preparadas, suas inadequadas escolhas metodológicas, filosóficas e ideológicas lhes fazem cair em frequentes enganos.

É curioso como, mesmo apesar de todas as evoluções econômicas e de uma ampla aceitação do trade-off entre liberdade (eficiência) e igualdade (equidade), muitos adeptos da EAE, como o próprio Constantino, insistem ainda, no ano de 2016, em falar apenas em liberdade e esquecer da igualdade ou deixá-la em segundo, terceiro plano.

Se o grau de desigualdade é muito grande, como no Brasil, a maioria da população não tem liberdade para crescer, para competir no mercado, para criar uma família e produzir. Que sentido faz, então, falar num sistema libertário que não dá liberdade à maioria?

É por isso que a EAE acerta mais em uma pequena parte das suas premissas técnicas econômicas do que em seus princípios e conclusões, o que se deve em muito a suas visões parciais e, portanto, falaciosas dos fenômenos.

O capitalismo leva a mais conhecimento, inovação e riqueza. É difícil de negar isso. No entanto, os seus defensores apaixonados esquecem de outros aspectos. O ser humano está com a moral cada vez mais degradada pela sede de capital e pelo consumismo, que culminam, frequentemente, na corrupção e na violência. A desigualdade deixa a maioria sem condições de produzir e destrói a eficiência.

É possível manter o sistema capitalista, porém redesenhado com novas instituições, fazendo-o funcionar com os mesmos pontos positivos, porém com correções nos pontos negativos que acarretem redução de desigualdade (e, portanto difusão da liberdade), aumento de cooperação, de respeito às regras, de senso social, mudanças que tendem a maximizar os próprios aspectos positivos do capitalismo antes mencionados.

A proteção da propriedade privada, uma ideia central do capitalismo e da própria EAE, é importante para que sejam garantidos os preços como signos de conhecimento, os resultados do trabalho dos indivíduos e para que, assim, realmente os méritos produzidos na sociedade sejam recompensados em termos de capital. Deve ser estimulada, porém, a busca por recompensas que vão além do capital.

Se não há instituições inclusivas o bastante, a maioria das pessoas sequer tem propriedade privada e vivem na rua ou em barracos, passando fome ou tendo muito pouco o que comer. Como essas pessoas irão adquirir conhecimento, como irão competir com as demais que tiveram todo o necessário desde o berço?

Sem uma difusão da liberdade e da propriedade privada não há meritocracia, pois alguns partirão, na corrida competitiva, de posições bem desfavoráveis. A EAE preocupa-se muito pouco com essas questões, pois é uma linha de pensamento míope, unidimensionalizada por uma ideia falaciosa de liberdade e por um individualismo excessivo que beira o egoísmo.

Ligado ao pilar do individualismo está o subjetivismo metodológico. Continuando a visão do ser humano como um indivíduo singular, com interesses próprios, quase sempre egoístas, a EAE prega uma compreensão da economia baseada em ações de sujeitos interessados.

Ela foca muito na ideia de que nós nos relacionamos economicamente por vontade de ter os melhores retornos possíveis. As vontades interessadas movem os indivíduos, uma ideia bastante parcial, que desconsidera inúmeros outros fins dos seres humanos para além do acúmulo de capital ou do consumo de bens e serviços.

Vários indivíduos, sobretudo na medida em que eles evoluem intelectual e moralmente, agem simplesmente na busca de sucesso profissional, que não necessariamente é individualista, como, também, podem agir com o objetivo maior de ajudar outros seres humanos.

A visão de que o homem é essencialmente um ser auto interessado é limitada, apesar de ter sua parcela de razão, e ainda pior é a crença de que o progresso moral humano não pode ser acelerado por melhores incentivos, inclusive econômicos.

Há indivíduos tão egoístas que, por ter essa visão exclusivamente auto interessada, a projetam em todos os demais da sociedade, o que é muito comum. Em regra, uma pessoa traidora projeta em todos os demais a falsidade e a infidelidade; o egoísta, então, acha que ninguém age, de fato, por pura solidariedade; e assim por diante.  

O subjetivismo metodológico leva a entendermos o custo e a utilidade como algo subjetivo. É o sujeito quem determina quanto vale cada bem em termos de quanto custa e de quanto lhe beneficia. Deste modo, é preciso compreender como os indivíduos pensam. Essa visão tem aspectos positivos e abre espaço para a Behavioral Economics.

A EAE teve como um dos seus méritos a difusão da ideia de “custo de oportunidade”, que significa o custo de cada escolha, de cada caminho. Toda decisão leva à preterição de outras, à perda de outras oportunidades. Assim, ao se comprar uma matéria-prima e utilizá-la, pode-se deixar de obter melhores ganhos com outra de maior qualidade. Ao se escolher pelo lazer, deixa-se de trabalhar, e vice-versa.

O último pilar da EAE aqui analisado, e talvez o mais fraco, é a visão mecanicista e determinista da sociedade enquanto uma ordem de dificílima alteração, algo pré-determinado para evoluir num determinado sentido, que vai completamente contra a ideia hoje crescente nos redutos mais avançados de conhecimento de que as instituições são moldadas pelos seres humanos, de modo que até mesmo o mercado pode ser redesenhado para que lhes dê resultados melhores.   

Do exposto nestas brevíssimas linhas, nota-se que a EAE tem adeptos inteligentes e estudiosos, que fazem boas críticas ao socialismo e ajudam a compreender melhor o capitalismo, porém pecam na falta de empatia, na sustentação de ideologia precária como vetor das suas teorias e no uso de premissas metodológicas atrasadas, que não ajudam ao aprofundamento dessas teorias e permitem o predomínio da ideologia.

Na Política, na Economia, no Direito e em qualquer área, o primeiro diferencial entre os pensadores é pensar em todos, sobretudo nos mais fracos, independentemente da sua origem, das suas ideias etc. Isso falta à EAE, típica escola de direita mais conservadora, menos progressista.

Há também ideologias esquerdistas de certa forma conservadoras, como a que quer apenas garantir empregos e uma eterna redistribuição de renda ou como a que se traveste de revolucionária para instalar sistemas até então pouco progressistas, como socialismo e comunismo.  

O segundo diferencial do bom pensador, consequência do primeiro, é pensar complexamente, aceitando dizer sim e não para a mesma ideia, aceitando a sua diversidade e a convivência entre elas, aceitando a contradição e a paradoxalidade, tornando possível enxergar os fenômenos em suas múltiplas dimensões, algo imprescindível para compreender onde estão os problemas e, por fim, solucioná-los.

A EAE não tem esses diferenciais, pois prega a conservação da ordem por meio do máximo de liberdade. Ela é a negação da política e do direito progressistas em prol de uma visão econômica essencialmente conservadora, individualista e, sobretudo hoje, financeira.

Não se pode, no entanto, deixar de conhecê-la, nem se esquecer dos seus méritos. A crítica de Ciro Gomes a ela deve se focar nos seus aspectos negativos, mas sem esquecer de ressaltar os seus pontos positivos, não correndo, assim, o risco de cair em “ideologismos”, que ele mesmo combate com sua força e inteligência.    

Marcos Villas-Bôas é doutor em Direito Tributário pela PUC-SP, mestre em Direito pela UFBA, Advogado, atualmente faz pesquisas independentes na Harvard University e no MIT – Massachusetts Institute of Technology.

 

Redação

23 Comentários

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  1. Candidatura do Ciro

    “Marcos Villas-Bôas é doutor em Direito Tributário pela PUC-SP, mestre em Direito pela UFBA, Advogado, atualmente faz pesquisas independentes na Harvard University e no MIT – Massachusetts Institute of Technology.”

    O mesmo local onde frequenta o Mangabeira Unger, o Guru do Ciro.

    Vale a tentativa do Villas-Boas de levantar a peteca do Ciro, com ventos acadêmicos e de alto nivel. Ciro tem direito a insistir na sua candidatura, embora dentro de um partido dividido em relação ao golpe contra Dilma.

      1. Não aqui

        Tenho me debruçado sobre esse tema em diversos post, inclusive hoje mesmo.

        Agora, dar espaço para candidatura fora de hora eu não faço!

    1. Claro que Ciro…

      Claro que Ciro já estudou todos o pontos da Escola, só lembrando que ele foi aos EUA para estudar economia.

      Mas o pessoal continua achando que está falando com alguém despreparado.

    2. Definição econômica

      Tem razão quanto ao partido, mas o Ciro sempre foi (e continua sendo) contra o golpe desde o primeiro instante. Poucas vozes foram mais insistentes e incisivas que a dele. Por outro lado, Lula teria a obrigação de, a esta altura, ir explicitando por meio dos seus “Vilas-Boas” qual seria a visão de política econômica que orientaria um eventual governo em 2018. Estilo “azedinho-doce” – Meirelles com Bolsa Família – novamente? Mantega sem Eike Batista, nem desonerações? Ou algo ainda incerto e não sabido? Quem tiver notícias a respeito, que as dê.

    3. Preto ou branco

      Alexis,

      mas a analise que faz Marcos Villas-Bôas sobre a Escola Austriaca de Economia, que eu conhço quase nada, parece-me muito acertada. Ele não a desmerece totalmente, elogia seu acertos e destrincha seus pontos fracos. Concordo com ele em sua analise, que vai de encontro com as criticas de Ciro Gomes à EAE.

      1. Veja o quanto concordo com as ideias

        Idealistas contra meritocráticos – o novo xadrez

        Neste xadrez o Nassif soltou um monte de situações e tentou coloca-las dentro de algum contexto que pareça lógico, mas não conseguiu muito bem, a meu ver, e devo discordar com vários dos seus argumentos.

        Dilma

        Nassif erra duplamente na sua avaliação. Dilma não possui perfil de quem tenta salvar biografia, mas sim age como pessoa honesta e injustiçada. Dilma sempre reconhece ser “filha” do Lula e o seu legado para o futuro ficou na sua tortura, anos atrás. Não é de Dilma a proposta de plebiscito, mas sim do Requião e de alguns senadores que conseguiram fazer disso uma pauta, aceita com ressalvas pela Dilma, desde que aconteça primeiro a reversão do golpe.

        Golpe

        O golpe só seria irreversível se a gente deixa de lutar, mesmo com Dilma impichada. O povo é inocente disso tudo e atua com a inocência de quem se sabe inocente. Sobe a este palco tranquilamente a Dilma e muitos representantes da esquerda, sem nenhum constrangimento, mas, há outros que se omitem ou andam de cabeça baixa, justamente por conta da sua eventual participação neste esquema de fundos de campanha com caixa 2. O PT está um pouco freado por causa de alguns que temem as investigações.

        Transição?

        Não há transição alguma, mas apenas a morte de uma classe política que se perpetua desde 1986, e que acabou vitimando a constituição e os sonhos de democracia. O PMDB teve total maioria no congresso em 1986 (ambas as casas) e todos os governadores de estado, com exceção de Pernambuco, e nada fez. Os tucanos receberam de mão beijada o governo, depois de a mídia jogar Collor fora e, junto com medidas pertinentes à sua particular visão do país (uma planilha de dados que devia seguir normas fiscais), dilapidou o patrimônio público com base na privatização de empresas estratégicas. O povo não perdoa e não volta a eleger – pelo voto – este tipo de proposta. Lula e o PT mudaram radicalmente o país, para bem, mas, são condenados hoje pelo que não fizeram ou deixaram de fazer: mudar as práticas políticas.

        Todos os grupos citados: Temer, Lula, tucanos do Sul (PSDB), tucanos do nordeste (PSB)  e outros (PP, PTB, etc.), serão extintos e novas correntes irão surgir, depois da lava-jato completa (incluindo a delação do Cunha, que sepultará centenas de congressistas)

        O retorno para as verdadeiras correntes que se digladiam no Brasil: a) Desenvolvimentismo nacional com viés social; ou b) entrada total ao mundo global e neoliberal demorarão ainda em voltar a ser protagonistas. Viveremos um tempo de meia tigela, com política tupiniquim com base em bancadas evangélicas ou outras mais específicas ainda.

        Lava Jato

        Concluirá o seu papel, depois que Cunha abra o bico. Acredito que até membros de tribunais superiores de justiça poderão cair numa delação completa. O estrondo será bem maior que aquele que hoje sentimos. A tentativa política de acabar com Lula talvez seja bem sucedida, mas não sem antes acabar com todos os políticos tradicionais, incluindo tucanos. Será o fim do xadrez, com uma vitória política “à Pirro”, derrubando o nosso Rei Lula, mas morrendo todas as peças do outro lado.

        A saída

        De todo este caos surge Dilma como figura confiável e honesta. A volta da democracia deve ser feita com a sua volta ao poder e, aí sim, deve ser chamado o povo para a discussão, com novos movimentos e tendências, rompendo a agenda de políticos tradicionais, grande parte deles envolvidos na lava-jato. A juventude precisa de alguém que consiga subir ao palco e poder dizer “sou honesta” sem ruborizar. Hoje são poucos os que conseguem fazer isso e, embora inocente no plano pessoal, o Lula sente que houve erros políticos sob o seu comando e companheiros envolvidos, de modo que não fica muito à vontade naquele palco hipotético.

        Idealistas vs Meritocráticos – O novo xadrez

        A nova política será feita com jovens e minorias, numa luta entre idealistas e meritocráticos. Essa será o novo xadrez

        Os idealistas surgirão dos movimentos de esquerda, apontando para o país nação, desenvolvimentista e com viés social. Dilma poderá ser sim uma líder, pois sairá forte da lava-jato, mesmo impichada. Devemos urgentemente ganhar as ruas e trazer o sonho de volta.

        Os meritocráticos são exatamente com Nassif define, ou seja: O mérito é considerado como algo pessoal, assim como o seu particular sonho de futuro, que passa pela ascensão social, metas de consumo e aposentadoria integral em Miami. O Brasil não é do meritocrático, mas apenas constitui o campo onde ele consegue sobressair e logo fugir. Brasil – e a responsabilidade de administrar – é dos outros, que aqui ficam, vivem e morrem.

        Na década de 70 eram os “Chicago boys” que traziam a novidade neoliberal. Foram adotados pelos tucanos, não sem antes receber o Green Card de aprovação dos EUA. Hoje são os meritocráticos tupiniquins, aqueles poucos que saem do Brejo da Cruz e outros já nascidos em berço de ouro, que com base no seu mérito pessoal adquirem o direito de materializar apenas o seu próprio sonho, e não o sonho coletivo da nação.

        Apenas os idealistas fazem a sua luta no campo das ideias e da política. Os meritocráticos não precisam disso e, pelo contrário, desaprovam este caminho. O povo, depois de tomar o licor do Lula, não quer nunca mais, pelo voto, aprovar uma agenda tucana para o Brasil. Tentarão então evitar a politização na cultura, na educação (nos colégios e escolas) e em qualquer campo onde o seu próprio egoísmo pudesse ficar exposto. Onde não há discussão política é que surge o coxinha e o meritocrático; e destes, o neoliberalismo gratuito, sem balas e sem voto, tudo direitinho para o mundo global.

        O risco para o futuro

        Que a política seja criminalizada com a lava-jato, e não apenas os corruptos. Que a política seja mal vista pela juventude. Que a meritocracia converta o Brasil num campo de concorrência em que apenas os com mais recursos e apoio possam surgir e, mais adiante, migrar para o exterior, sugando o que conseguiram tirar daqui. O risco é de abdicar da política como luta de ideias e entrar apenas no plano pessoal e egoísta do mérito. Nesse caos, haverá espaço para bancadas específicas, que desviará a política para jogo de bancadas parlamentares e muito longe de propostas para o Brasil como nação, no executivo.

    4. Ciro Gomes

       É  preciso ter mais respeito com Ciro Gomes,  quem tem guru não fala, não escreve, simplismente reproduz. É preciso ter respeito com quem passou por HARWARD   a convite, ple a ONU como  consultor. por fim, Mangabeira unger dispensa comentários. è melhor apresentar suas referênciais para contraditar Ciro e Unger.

      James

      1. Não há contradição em relação ao post

        Muitos aqui pensamos o mesmo em relação ao tema. Eu mesmo coloquei um comentário extenso.

        Aqui estou colocando a oportunidade de apresentação do Ciro como Candidato, antes do tempo e, ainda sem resolver questões presentes, como o fato do seu partido PDT, ter rachado no golpe.

        Nem falar da sua época tucana, onde teve greencard para passear por Harvard e outras, assim como o seu amigo (da época) o Serra, também o fez.

        Então, James, tens aí as minhas referencias, com varios anos de participação neste blog, embora eu não sou candidato a nada e estou no meu direito de opinar.

    5. O que vale é se comprometer com auditoria da dívida e Selic baix

      O resto é perfumaria que todos estamos carecas de saber.

      Grana na mão é furacão!

  2. Ressalvas Acadêmicas

    Peço licença ao Doutor Marcos Villas-Boas para divergir em alguns pontos deste brilhantes texto. O muro de Berlim caiu, mas a ciência política não acabou porque decorre da alma humana, do intelecto dos homens livres (no sentido da capacidade de enchergar o mundo por si, sem intérpretes) e a utopia (um mendo melhor para si e para sua comunidade) são eternas. O conceito de “socialismo” lançado no texto ( “No caso do socialismo, sistema no qual a propriedade privada é controlada pelo Estado, este precisa definir incontáveis preços e controlar as quantidades de recursos e produtos” – §9º) tem controversia nos pensadores pós queda do muro. A título de exemplo, Antônio Houaiss, em seu Dicionário assim o conceitua: “conjunto de doutrinas de fundo humanitário que visam reformar a sociedade capitalista pera diminuir um pouco de suas desigualdades; conjunto de partidos não de esquerda e não liberais”. No parágrafo seguinte o artigo contem uma contradição e confirmação, se me permite esta contradição. É que reconhece que o mercado necessita de alguma regulamentação (“Outras situações que afetam a eficiência e os preços são o monopólio, os cartéis e as especulações financeiras, de modo que todas precisam ser muito bem reguladas” – §10º), embora incompatível com o pensamento capitalista puro. O que com este modesto comentário proponho é uma discussão necessária e dentro do conceito contemporâneo de socialismo como o enunciado pelo Antonio Houaiis: socialismo só visa o controle da propriedade privada ou é compatível com a economia de mercado, desde que seja observado regras que inibem o monopólio, cartéis e especulações financeiras?

  3. Freud analisa Hitler.

    Escola Austríaca de economia? 

    Escola psicológica?

    Menger e cia?  Salamanca?

    A propósito, Salamanca tem a ver com a OAB atual? ( o advogado doutor pode nos responder? rsrsrs)

    Tem outro austríaco mais ilustre para tratar do tema: Freud.

    De quando em vez, entro no lá sítio dessa escola( seita) para me divertir um pouco.   Gosto de provocá-los para receber em troca, imediatamente, a raiva, isto é, a “ação humana”. kkkkk

    Coisa de austríaco? Talvez.

    A  propósito,   Freud “analisou” Hitler? Alguém sabe me dizer? rsrsrs

    ——–

    Em suma, esse papo furado de escola econômica só pega ainda os desavisados.

    Essa escola austríaca, por exemplo, é perfeita…só que  dentro de um laboratório.

    Fora do “laboratório” é coeteris paribus…kkkkk

     

    Ciro Gomes já percebeu isso.

     

     

     

     

     

     

    1. isso mesmo

      Os austríacos eles reduzem toscamente a realidade do mundo dentro de modelos simplistas pra justificar a ideologia deles “cientificamente” e sempre usam essa muleta desonesta do “coeteris paribus”. Um físico por exemplo pode até usar esse artifício do coeteris paribus para uma abstração teórica. Mas quando é pra fazer um teste prático ele não pode fazer isso, ele deve considerar tudo por mais complexo que deixe o experimento. Os austríacos fazem as abstrações forçadas e cheias de considerações subjetivas/especulativas (como a do homo economicus) o que não cabe numa ciência natural por exemplo, para propor uma hipótese, e depois defendem que essa hipótese seja aplicada na sociedade acriticamente. 

  4. O debate sobre o pensamento

    O debate sobre o pensamento economico atual é bem mais complexo do que sobre duas escolas historicas.

    O eixo do debate é sobre as vantagens e desvantagens da globalização, tema que torna o debate anterior sobre ortodoxos e keynesianos superado pela evolução do mundo real.

    Como a globalização impacta nos diversos paises e quais são os seus reultados positivos e passivos é hoje a grande discussão, muito alem da Escola Austriaca.

    A saida do Reino Unido da União Europeia está dentro do debate de globalização x Estado nacional, da mesma a existencia de uma candidaturas fora do mainstream , como Sanders e Trump, se insere nesse debate sobre a globalização.

     

  5. Ouro X fiat money

    Minha perrenga com a escola Austríaca é que eles não acreditam na força evolutiva que está no dinheiro fiduciário e assim, pregam a volta do padrão ouro.

    Na minha modesta opinião, o dinheiro fiduciário é um grande vetor de desenvolvimento, pois inibe o entesouramento e trás sangue ao espírito animal que corre nas veias dos empreendedores.

    O resto da discussão é consequência disto.

  6. Globalização

    Nunca me esqueço da última visita do John Kenneth Galbraith ao Brasil. A Folha o entrevistou (não consegui achar o link) mas talvez em função de suas idéias, escondeu a entrevista lá no meio do caderno. Na ocosião ele repetiu sua frase, quando indagado sobre o que achava da globalização: “Globalização não é um conceito sério. Nós, americanos, a inventamos para dissimular nossa política de entrada econômica nos outros países”.

  7. Quanto ao aspecto econômico do liberalismo muito se fala, porém

    Quanto ao aspecto econômico do liberalismo muito se fala, porém eu insisto que mais do que um calcanhar de aquiles dos liberalismo está na sua ética perversa e totalmente inumana.

    Ninguém discute isto (salvo agora o Papa Francisco!!!), mas acho que o mais importante era se discutir a origem, que é a total falta de ética deste movimento que pretende ser não só econômico mas como moral.

    Eu insisto que as pessoas deveriam ler um pouco um dos autores básicos desta teoria liberal, que se chama Murray N. Rothbard que escreveu “A ética da liberdade”, para não perderem muito tempo e certificaram que o livro deveria ter o nome de “A falta de ética dos liberais” sugiro que comecem pelo capítulo 14 “As crianças e seus direitos“, se tiverem estômago para seguir adiante que sigam.

    O mais interessante que nossos amigos liberais, ainda traduzem e põe a leitura de todos algo que eu teria vergonha de mostrar em público.

    Porém esperar ética de liberais é algo extremamente naïf, pois se voltarmos a origem de toda a teoria liberal, que começa junto com Adam Smith junto com Thomas Malthus, neste segundo ao se ler o primeiro volume da sua obra considerada um dos pilares do liberalismo, se vê realmente a origem (a)ética do liberalismo.

    Poucas pessoas se dão o trabalho de olhar o primeiro volume do “An Essay on the Principle of Population” de Malthus (originalmente o trabalho estava em dois volumes e posteriormente foi unificado em um) que compreende do capítulo 1 ao 14, se vê primeiro porque Malthus publicou de forma anonima a primeira edição de seu livro (em 1798 – certamente por vergonha).

    A leitura desta primeira parte é evitada pela maioria das pessoas pois o que mais interessa em termos de ciência é o que ele publica na segunda parte, a famosa teoria  “lei de população” que vaticina a morte qualquer aumento de população que passasse de um determinado valor.

    É interessante este primeiro volume pois nele Malthus mostra que todo o seu discurso era voltado contra as chamadas “poor laws”, as primeiras leis sociais da história do mundo ocidental que começa entre 1587-1598, ou seja, a bolsa família Inglesa criada ainda pela dinastia Tudor na Idade Média tardia. Neste primeiro volume além de descrições fajutas, preconceituosas e totalmente erradas sobre populações fora da Europa, Malthus faz uma verdadeira apologia da morte pela fome como uma forma de incentivo ao desenvolvimento das nações (no caso a Inglaterra).

    Ler do capítulo 2 ao capítulo 8, faz pensar que deus que um clérigo inglês, como Malthus, orava, pois este estava completamente longe de qualquer palavra do novo testamento!

    Logo, o liberalismo além de ser atacado por seus erros na parte de economia deveria ser intensamente atacado na sua ética de morte, miséria e iniquidade, que para eles é o único remédio para os pobres trabalharem.

    Temos que desmistificar o liberalismo em sua base ética, que não existe, pois nela já não se sustenta nada, e nada se pode levar aí por diante.

    1. Rothbard e o aborto

      Rothbard não fala por todos os liberais nessa questão. Aliás, ele é da ala radical dos austríacos, os chamados libertários. Dentro da EAE existem muitos que não comungam das ideias dele. Cito por exemplo um dos mais influentes austríacos americanos o Ron Paul que é um ferrenho defensor da vida. 
      E a EAE também não é a única escola liberal como teu comentário parece sugerir…

  8. O paradoxo brasileiro

    Ja tinha lido bastante coisa a respeito da “escola austríaca” numa página de direita relativamente inteligente chamada “Irracionalismo Moderno”. A conclusão a qual havia chegado era a mesma, isto é, de que tudo funciona perfeitamente no Excel, mas na prática fracassa – e especialmente no Brasil, onde o nível de indiossincracias torna qualquer teorização uma aventura pelo campo minado. 

    Contudo, o texto faz bem ao não isentar o mecanismo de regulação socialista, que geralmente fracassa mais ainda por depender de espólios que na primeira crise vão embora. É natural que toda economia robusta vá pender pro socialismo sem populismo (um dos traços fundamentais do “fim de história” como escrevia Hegel). Os welfare-states da Europa por exemplo sempre dependeram dessa virtual soberania propagada pelos governos liberais. Contudo, hoje todo mundo sabe que essa soberania relativa também depende tanto da manutenção de um banco de commodities quanto da larga importação de bens de consumo das economias periféricas, o que eventualmente gera fuga de capital (mesmo que, em muitos casos, essa indústria de bens seja meramente uma terceirização de coorporações da própria Europa).

    Em suma, nos pontos em que estas economias dependem da manutenção de algum sistema proto-imperialista, como na relação Europa x Africa, EUA x America latina etc, pra um lado da gangorra se manter em cima, é preciso algo que sustente o outro em baixo. Como o Brasil em muitos aspectos está no lado de baixo da gangorra, mas em outros está absolutamente em cima, fica difícil falar tanto em liberalismo como política de Estado quanto em welfare-state sem que haja um governo populista. Esse é o nosso paradoxo que Ciro tenta colocar pro mundo, mas tem de enfrentar uma avalanche de bosta como a desses guris da escola austríaca.

  9. Seria muito bom esse debate

    Seria muito bom esse debate sugerido no começo da matéria entre Ciro Gómes e algúm especialista da EAE, mas tem que procurar alguém com nível de conhecimentos à altura do Ciro porque esse Rodrigo Constantino coitado deu pena encarando o Ciro Gómes.

  10. Só rindo

    Li essa matéria e vi muita baboseira. Os países mais ricos desenvolvidos com alto idh são liberalistas. Enquanto isso brzinho comunistinha que pega sobras do pt quer dar pitacos escabrosos! Gostaria de ver o Ciro Gomes ou qualquer outro discutir com um moleque simples como KIM KATAGUIRI.

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