Em busca da reconstrução da superestrutura política, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

Em busca da reconstrução da superestrutura política

por J. Carlos de Assis

A única estrutura de relacionamento entre cidadãos que ainda existe hoje no Brasil é a própria sociedade civil, em suas raízes mais genuínas. Acima dela, todas as instituições do Estado faliram. Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público, todos eles, por diferentes razões, seja diretamente por corrupção, seja por invasão de competência uns dos outros, seja por inércia e compactuação com o crime, perderam credibilidade junto à população. Somos uma sociedade sem superestrutura. Isso, como advertiu numa entrevista recente o senador Roberto Requião, pode levar a uma ruptura social, uma guerra civil.

Não estou sendo dramático. Se olharmos a própria sociedade civil em si, veremos que também ela sofreu as consequência do derretimento acima dela. Quem tem memória lembra-se das três grandes instituições da sociedade civil no tempo das diretas já. O processo político avançou em grande parte por conta da atuação gloriosa da OAB, ABI e CNBB. Hoje, das três, resta apenas a CNBB. A OAB optou pelo golpismo. E a ABI é um departamento ideológico do Sistema Globo. A pergunta óbvia é: Quem salvará a República? Claro que não serão essas instituições derretidas, pois ninguém pode se erguer puxado pelo próprio cabelo.

Foi em razão da angústia diante desse quadro político que estamos reunindo um grupo de cidadãos de notória credibilidade em torno do Movimento Brasil Agora. Estamos desenhando uma estratégia de regeneração. Nossa convicção é que, na sociedade civil, sobraram uma e parte de outra instituição com real credibilidade. A primeira é a universidade. A segunda é o sindicalismo autêntico. A universidade, mesmo semi-estrangulada financeiramente, vem sobrevivendo bem à crise, retendo o respeito das famílias e do conjunto da sociedade. O sindicalismo autêntico cresce na razão mesma de suas adversidades.

Nossa estratégia, apelando a esses dois esteios e aos movimentos sociais, é conciliar o enfrentamento dos ataques contra os direitos sociais, empreendidos pelo atual governo com cobertura da Câmara dos Deputados, com um programa mais vasto, visando as eleições de 2018. A curto prazo, na Câmara, perderemos quase todos os embates. Contudo, no Senado, com uma devida articulação, poderemos pelo menos bloquear emendas constitucionais mais extravagantes, como é o caso, por exemplo, da PEC-241. Faremos isso mediante a organização de seminários em todo o país, cujas conclusões serão levadas aos senadores.

A esse ciclo de seminários, tipicamente defensivo, se seguirá um segundo ciclo, propositivo. Aí, com as mesmas bases, percorremos de novo o país inteiro apresentando as propostas da sociedade civil para as eleições de 2018. Mas qual será o o candidato presidencial?, perguntarão logo. E nossa resposta é: Sairá do movimento. Não cometeremos a imprudência de colocarmos um candidato presidencial, que dificilmente evitaria uma postura messiânica, antes de resolver o problema maior: Como será o Congresso eleito de 2018? Diante desse enigma, nossa resposta é: Vamos espalhar pelo país inteiro cursos de formação política para estimular uma renovação completa do Congresso Nacional a partir, como disse acima, da sociedade civil.

Essa estratégia começará a ser implementada na próxima semana, dia 26, no IFICS, Rio (Largo do São Francisco), com um seminário a partir de 18h contra a privatização fatiada da Petrobrás, um crime contra a economia brasileira que está sendo cometido ao total arrepio da sociedade, e que não pode ser combatido apenas pelos petroleiros, pois uma empresa forte interessa a todos No dia 3, o seminário será em Brasília, na UnB, para uma avaliação aprofundada da PEC-241. Outros seminários ocorrerão sucessivamente em outras capitais, até completar todas. Para cada uma, faremos uma síntese a fim de leva-la aos senadores, confiando em que, ao menos em alguns casos, consigamos maioria nessa Casa.

J. Carlos de Assis – Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política brasileira.

 

Redação

6 Comentários

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  1. Rumo, Norte e Estrela

    Assis, o Brasil precisa de Rumo, Norte e Estrela.

    Seus seminários sequer tocam neste ponto.

    Penso que serão um tiro na água.

  2. Acadenia em ação

    A iniciativa é válida para esclarecer a população que ignora como as coisas nos poderes funcionam, mas para influir em eleições tenho dúvidas. A sociedade civil sozinha não modifica estruturas. De qualquer forma, a academia está mostrando para que serve, portanto, parabéns Assis.

  3. em busca….

    O primeiro passo para a solução de um problema é ter consciência dele: “…é a própria sociedade civil. Acima dela, todas instituições do Estado faliram.” Que Estado? Que ABI? Que OAB? Que CNBB? Parasitas com a mesma fome de vampirizar o corpo que os nutre. Não importa a mão suja que os alimenta, desde que se protejam mutuamente. A CNBB ainda não explicou a fortuna destinada pelo dep. Gim Argelo a uma determinada Diocese. Hipócritas e canalhas não tem mais onde esconder seus discursos e desculpas. A miséria nacional, quase como patrimônio imateral tombado pela Unesco, sustenta as capitanias hereditárias, seus feudos dentro do orçamento publico. Asseclas e cúmplices, idem. Salvemos o país. O país somos nós. Do povo, para o povo, pelo povo. Fora disto, as prostitutas se vendem por qualquer trocado.    

  4. DEBATE AMPLO PARA RESGATAR E RECONSTRUIR

    Correta a avaliação expendida no artigo acima.

    A cada dia fica mais evidente a assombrosa usurpação do Estado Democrático de Direito e da superestrutura estatal.

    Não conheço maiores detalhes sobre a composição e as propostas concretas do mencionado Movimento Brasil Agora e, por esta razão, deixo de fincar aqui posição de apoio direto a tal iniciativa. Todavia, considero um dever expressar minha concordância para com o diagnóstico de degeneração das instituições estatais citadas no texto e de indicação do caminho de restauro da sanidade nacional através da realização de amplo  debate com as instâncias coerentes da sociedade.

    Vale acrescentar que é imprescindível debater estratégias para viabilizar o pleno resgate da legalidade constitucional, em paralelo à discussão dos tópicos citados no artigo em tela, relativos ao urgente desmascaramento do crime de lesa pátria representado pela PEC 241, e ao repúdio à desastrosa destruição da perspectiva de desenvolvimento sócio-econômico impulsionado pelo controle público da exploração do pré sal.

    O tempo urge, e a cidadania consciente não pode jamais se omitir diante dos descalabros evidenciados.

    Diálogo, perseverança e criatividade são os antídotos contra os golpes sucessivos.

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