Golpe no Brasil poderá servir de modelo e se repetir no mundo

“O golpe expôs a vulnerabilidade das instituições da República ante o poder das corporações”
 
 
Jornal GGN – No artigo à seguir, Laurez Cerqueira, chama a atenção para a estrutura por trás do golpe de estado no Brasil, formada por uma pequena burguesia e com grandes corporações multinacionais (principalmente estrangeiras). Avalia o impacto da saída forçada de um governo democraticamente eleito no Brasil em todo o mundo, buscando respostas nas raízes históricas de avaliações feitas pelo antropólogo Darcy Ribeiro. 
 
Por Laurez Cerqueira
 
O golpe no Brasil ameaça outras nações democráticas no mundo
 
O mundo assiste perplexo, e com muita atenção, aos desdobramentos do primeiro golpe de Estado, no Brasil, sem o uso de armas, operado por um sofisticado esquema, bem pensado e bem articulado entre setores das mais importantes instituições da República, em parceria com a mídia senhorial.
 
Universidades, fóruns de discussão, grandes redes de notícia internacionais, debatem o golpe de Estado no Brasil com bastante preocupação, tendo em vista a ameaça às democracias do mundo, desse inusitado modelo jurídico-político engendrado aqui, que pode vir a se proliferar por outras nações.
 
O Brasil está vivendo uma situação de desmanche institucional e de negligência à Constituição e às leis, por autoridades políticas e judiciárias, de forma inimaginável, com objetivo claro de favorecer negócios de grandes corporações com as maiores riquezas do país.
 
O que está acontecendo no Brasil é um precedente perigoso, de investida de poder de megacorporações empresariais, principalmente estrangeiras, com seus interesses econômicos e financeiros definidos. Corporações que se organizaram e se beneficiaram de ações de setores de instituições do Estado brasileiro na derrubada do governo.
 
O golpe expôs a vulnerabilidade das instituições da República ante o poder das corporações. Evidentemente não é a primeira vez que episódios dessa natureza ocorrem no país. Afinal, nossa história é feita de golpes desde a proclamação da República, mas é a primeira vez que a tomada do poder se dá de forma cirúrgica, sem as Forças Armadas, movida subterraneamente pela força do grandes negócios das corporações por dentro de instituições da República, tendo o petróleo como o centro dos motivos.
 
Nunca é  demasiado lembrar que o petróleo é a matéria prima que movimenta a maior cadeia produtiva do planeta. Não é mais apenas combustíveis. O petróleo está no tênis, nos móveis das casas, no batom, no brinco, no celular, na tinta, na roupa, está em todo o nosso redor. Por isso, a gana das grandes corporações pelo domínio da matéria prima. O Brasil  se tornou alvo de cobiça por ter entrado para a geopolítica do petróleo com as reservas do Pré-sal.
 
O uso, sem precedentes, da chamada “teoria do domínio do fato” como orientação jurídica, no Brasil, a pretexto do combate à corrupção, é outro fator que ganhou destaque no meio acadêmico e na imprensa estrangeira, por ter sido contestada por renomadas academias, grandes juristas de vários países, sobretudo condenada pelo próprio autor da teoria, o jurista alemão, Claus Roxin.
 
Claus Roxin, quando esteve no Brasil, em palestras nas universidades brasileiras, disse que a teoria foi instituída para fim específico de apuração de crimes de guerra, por ser a hierarquia militar uma estrutura extremamente rígida e de comandos muito bem definidos. Não poderia, portanto, ser utilizada para outros fins.
 
No Brasil, a tal teoria está sendo usada indiscriminadamente, por magistrados, com finalidade política, para incriminar pessoas previamente escolhidas. Escolhe-se o alvo, num processo de investigação qualquer, e em seguida criam-se as cadeias de justificação com falsos elementos, a fim de atingir pessoas e instituições, como está ocorrendo com o PT e com Lula, e assim impedi-lo de participar das eleições, em 2018.
 
O fato é que a arquitetura do golpe despertou apreensão mundo a fora e está sendo condenada por instituições internacionais, por fóruns acadêmicos de direito, e pelas mais importantes redes de notícias do planeta, devido às injustiças e violações de garantias universais previstas na Constituição e nas leis, às quais são submetidas pessoas inocentes. A Presidenta Dilma é o mais emblemático exemplo de injustiça, vítima de dois tribunais de exceção: Câmara e Senado, sendo que o tal crime de responsabilidade é falso.
 
Por detrás de um biombo de justificativas falsas, autoridades abrem espaços para gerentes de interesses de grandes corporações nacionais e internacionais. Basta ver o ministério Temer. São homens de negócios. Nenhum representante de segmentos da sociedade ou de movimentos sociais. Eles querem negócios na área de petróleo e gás, energia elétrica, bancos públicos e outras áreas. Não estão interessados nos problemas do povo. Tanto que extinguiram boa parte dos ministérios e órgãos da área social.
 
Organismos internacionais como a ONU, OEA, UNASUL, MERCOSUL e outras, já se posicionaram contra o golpe de Estado no Brasil e manifestaram preocupação com o rompimento da legalidade no país. É possível que nos próximos meses o governo provisório de Michel Temer encontre resistências, quanto ao reconhecimento de nações democráticas.
 
O golpe, coberto por falso manto de legalidade, urdido fora da lei, é filho do golpe original da proclamação da República e acalentado por sucessivos outros golpes de Estado ao longo da história do Brasil.
 
Nossa República, nascida do ventre do senhorio de escravos, originário de uma forte reação deles ao movimento abolicionista, não conseguiu até hoje se consolidar como uma República Democrática, perene. O senhorio e seus descendentes sequer admitem a cidadania do povo, os direitos humanos elementares e muito menos a democracia com distribuição da riqueza.
 
Nosso arremedo de República, com o Estado formado por autoridades e funcionários públicos, muitos deles ainda de posturas monárquicas, guardadas as devidas exceções, atuam na vida pública em defesa do status quo, não permitem a consolidação da democracia. É como se o país estivesse condenado a viver embaraçado no liame do passado colonial.
 
A socióloga Angela Alonso em seu primoroso livro “Flores, votos e balas”, sobre o movimento abolicionista (1886-1888), trás esclarecimentos preciosos sobre aquele período. Conta ela que, dias depois da sanção da Lei Áurea, as maiores províncias, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, passaram a exigir providências do governo central para garantir a ordem pública, prevenções contra as incertezas e a anarquia que, segundo os fazendeiros, se estabeleceria no país.
 
(*) A propósito, as províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais estão muito bem representadas no episódio do golpe de Estado no Brasil, por Michel Temer, Eduardo Cunha e Aécio Neves, respectivamente. Temer ganhou um governo provisório com fraude. Cunha foi o condutor da fraude. Aécio deu todo apoio à fraude. Aécio disse, no início da campanha eleitoral de 2014, que ele varreria o PT do Estado brasileiro. Uma ideia muito parecida com a dos fazendeiros da República da Espada.
 
Os fazendeiros, logo após a Lei Áurea, por meio de uma peça de teatro patrocinada por eles, chegaram a propor “uma colônia na província de Mato Grosso para onde fossem mandados todos os ex-escravos, a serem comandados pelos abolicionistas Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, proclamando-os rei ou imperador dos negros.
 
A agenda dos abolicionistas, que buscavam instituir direitos sociais, como, por exemplo, a Lei da Educação, da Instrução e elevação do nível cultural dos libertos, e a da democracia rural, colidiu com a agenda de reivindicações de indenização dos fazendeiros, sendo que, quem tem direito a indenização são as vítimas da escravidão e não os donos das terras e das minas.
 
Desde então, a República arrasta seu pecado original. A elite senhorial não admite a democracia, porque na democracia os pobres ganham e impactam a ordem social “causando anarquia.”
 
O antropólogo Darcy Ribeiro, numa entrevista a um programa de televisão, nos idos de 1980, foi contundente ao definir a República brasileira.
 
“Uma nação na qual a classe dominante é constituída de filhos e descendentes de senhores de escravos, leva na alma o pendor, o calejamento do senhor de escravos.
 
Quem é o senhor de escravos? É aquele que compra outro homem e que o negócio dele é tirar desse homem, com chicote, a renda que esse homem pode dar.
 
Enquanto o escravo está condenado a lutar pela sua liberdade e ir para seu quilombo, o senhor de escravos faz o contrário. Está condicionado a usar o escravo como carvão que se queima na produção, para obter mais lucro.
 
Uma classe dominante de senhores de escravos está marcada por essa natureza.
 
Quando, além do senhor de escravos, ela é representante de interesses ingleses, e, depois, de norteamericanos, quando ela não é mais proprietária, mas gerente de interesse estrangeiros, ela é uma classe dominante pervertida.”
Redação

15 Comentários

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  1. Até lá !!!

    No grande irmão do norte, como as instituições são mais respeitadas, o golpe está se dando pelo…..voto!

    Há um candidato que acredita que deve pleitear o céu, porque assim sempre se pode conseguir alguma coisa.

    O discuso progressista está sendo derrotado por um sujeito discricionário, xenófobo e temerário.

    Até o Papa está preocupado!

    O mundo se prepara para um salto para o passado.

  2. Pois eu penso o contrário,

    O golpe no Brasil é que seguiu modelos testados e aprovados em outros países, como San Salvador, Paraguay, Ucrânia, Líbia, Tunísia,  e outros.  Tentaram também fazer o mesmo em HongKong, mas diante da resistência deram uma boa recuada.  É só dar uma olhada na situação de outros países e pode-se ver este método em evolução.  Parece-me que isto está sendo implementado na Angola, um país que há vinte anos enfrentava uma guerrilha financiada pelas mesmas forças. 

  3. Eu vi como se deu o golpe de

    Eu vi como se deu o golpe de 1964. Não entendia quase nada de política, porém senti profundamente o desenrolar das atrocidades cometidas por milicos e civis que não aceitavam João Goulart por se um presidente progressista, empenhado em atender às demandas do povo. A guerra fria estava no auge, no Brasil se encontrava um emaixador indicado para culminar a tomada do poder. E tudo se fez com a ajuda financeira e estratégica dos Estados Unidos. Quem não rezasse na cartilha americana era comunista, e lugar de comunista era nos porões, onde já entrava nu para receber seus pimeiros “agrados” nele podendo morrer de tanto sfrer torturas, ou sair aos pedaços, alguns para morrer no meio do caminho, quando de noite Cid Moreira notificava a morte como tendo sido uma fatalidade, porque também já a Globo estava empenhada em fazer sangrar todos que os generais destinassem para o fundo da terra ou para o desaparecimento total.

    Em que americanos e brasileiros, unidos em 1964 para reprimir as ideias de tantos brasileiros, muitos ainda tão jovens, se inspiravam para tanto senão num regime nazi-fascista? Não foi assim que Hittler cuidou de varrer para as câmeras de gás os que não lhe eram simpáticos.

    O golpe de agora contém os coxinhas, que também estavam nas manifestações de 64; temos os órgãos de inteligência dos EUA em funcionamento, e em acordos espúreos com alguns parlamentares, sobretudo tucanos – vide Aloysio Nunes -, tivemos a OAB e o STF, que até o presente só se manifestou para dizer que o golpe não é bem um golpe, e, pra variar, contamos sobremaeira com a imprensa. Como os generais, mortos ou prestes a morrer, ocupam as bancadas da imprensa não mais Cid Moreira, mas seus substitutos, tão inteligentes para manipular o povo quando o foram naquels idos.

    O que propõe Michel Temer também não é diferente do que vios acontecer em 64. São os direitos do trabalhador novamente em jogo, e desta feita por um retrocesso, consderando que o momento é outro, na medida em que os governos petistas usaram de todas as estratégias possíveis no sentido de distribuir renda, de conseguir, inclusive, fazer pessoas alçarem a níveis impressionantes de riqueza, e de sabedoria, através dos mais variados progrmas implementados por Lula e Dilma, razão maior para que qualquer um pudesse golpear Dilma e obter aplausos. 

    Também temos assistido a cenas nazistas de primeira linha. Uma delas, muito emblemática, são aqueles dois bonecos, representando Lula e Dilma, como se enforcados em praça pública, pendurados num prédio da Paulista, enquanto os manifestantes coxinhas levavam seus pattinhos nas mãos. 

    É preciso resistir, dizem alguns, como Dilma, e acho que se não houver resistência, estaremos entregando de mão-beijada o nosso país a uma escória, e nada indica que não teremos que viver mais um bom tempo de sofrimento e repressão, porque as coisas não param por aí. Pra mim, com aquele ministro da Justiça, já empenhado em valorizar mais a PF, e dar mais poderes a Moro, a chance de contarmos mortos nas praças estão vivas.

  4. Se os coxinhas acham que vão

    Se os coxinhas acham que vão escapar dessa ilesos estão redondamente enganados. Mas pedir para essa gente pensar é querer demais.

  5. Por isso sou a favor de que

    Por isso sou a favor de que muitos países NÃO VENHAM A OLIMPÍADAS no Brasil

    como RETALIAÇÃO ao golpe e SOLIDARIEDADE ao povo e respeito à LEGALIDADE!

    OBS:moderação ggn é o terceiro comentário meu hj,se ñ postarem,entenderia, vaaleu!!

  6. Golpe no Brasil

    O objetivo das megacorporações internacionais é dominar economicamente o mundo através de sócios nacionais. Por isto não aceitam o Lula em um terceiro mandato de jeito nenhum. Trataram de evitar este grande empecilho para suas metas.

  7. Deve-se acrescentar o STF como o terceiro tribunal de exceção

    Deve-se acrescentar o STF como o terceiro tribunal de exceção

  8. Mas já não é o modelo do

    Mas já não é o modelo do golpe paraguaio no Lugo? Até a embaixadora americana é a mesma, Liliana Ayalde.

  9. Não reconhecer o “governo” de

    Não reconhecer o “governo” de restauração da velha república é uma atitude de defesa própria que os governos devem tomar.

  10. O golpe no Brasil atual é a

    O golpe no Brasil atual é a glorificação da CIA e das grandes corporações multinacionais.

    É o câncer metastaseando-se internacionalmente para uma era que ruma aceleradamente para uma nova catástrofe  mundial. A miséria generalizada da classe trabalhadora ou uma guerra internacional de proporções cataclismicas.

    Antes que isto aconteça, que venham as relibertações nacionais diante do novo neocolonialismo econômico.

  11. creio que os avanços da luta

    creio que os avanços da luta pela dmocracia pós greves do abc

    até hoje com os governo populares impregnaram de certa forma  a

    soceidade brasileira e, por isso, não será tão fácil de o governo golpidta conseguir  tudo o que quer….

  12. O golpe

    O gole ainda não se efetivou,temos 180 dias para mostrar para o interino qua aqui não é casa da mãe Joana.

    Meu medo é que o STF está devagar e dando tempo para os golpistas.

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